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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 22 de novembro de 2024
 

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Mensagem: BREJO DAS ALMAS ( Para Enoque Alves, da cidade de Francisco Sá, Minas Gerais) Suas lembranças do Brejo das Almas, singelas e bem escritas, me remetem - com prazer - a certas férias de julho ( duas , uma em 1956 e outra em 1957 ) e estou meio desconfiado que você era o arteiro e simpático menino que ficou nosso companheiro inseparável de mil e uma aventuras brejeiras. O outro mosqueteiro era Paulo Silveira ( dele você já era amigo desde criança ) , vulgo Paulo Batôco , querido amigo , colega de escola e ponta- esquerda dos bons do time de futebol do colégio. Eu era Center four.Dos mais ou menos.Meio barbantinho, senão todo. Rrs. Batôco era irmão dos saudosos Marquinhos e Roberto Silveira, que moraram numa feliz M.Claros de outras épocas e deixaram muitas amizades e saudades . Hospedei-me no Brejo naquela casa de esquina da rua Cônego Augusto, de “Seu” Luís Silveira e D.Menininha, pais deles. Mês de julho era lord, bárbaro, o máximo, era daqui ó, da ponta da orelha. Tem gente que nem sabe o que isto significa... Bom, nem tudo é perfeito! Meio diferente de hoje, que a garotada esnoba mar, praias ou cidade do interior e atravessa o Atlântico para ir ver aquelas caras e inócuas fantasias infantis de Walt Disney. A gente conhecia também a turma Disney toda , baratinho e semanalmente nas revistinhas em quadrinhos ou num filme maravilhoso chamado “Você já foi à Bahia”. Não sei se antigamente era ruim ou bom , ou se agora é melhor ou pior ( quem sou eu pra julgar ) , devo esclarecer aos mais críticos e contemporâneos , embora , devo confessar, do filme tenha gostado demais e dele nunca me esqueci. Carmem Miranda, Zé Carioca e Pato Donald com aquela voz de taquara rachada, bom demais. Enfim , tudo vale- como diz o outro - se existe emoção... E você, naquela época, aos onze anos como nós, sabia tudo de beira de rio, poços profundos dos piaus verdadeiros e curimatãs (as inconfundíveis zulêgas, como as chamávamos), que a gente matava de estilingue quando subiam à tona para pitar.Traduzindo: respirar, se é que peixe respira , não tenho a menor idéia. (Engraçado, a mesma coisa que os fumantes fazem hoje : têm que sair à rua para pitar um cigarrinho.Sorte que não tem gente com atiradeira esperando). Cinquenta e cinco anos . Pode-se dizer que tem um tempo bom aí , não é Enoque? Pra não ter de entregar o ouro e confessar um irreversível (porém bem vivido) meio-século na cacunda. Não me lembro de muitas outras coisas. Mas não esqueço do sítio de Seu França, onde, muito tempo depois, retirei personagens para um livro que adorei escrever e gostaria que você lesse .E, neste sítio de todas as frutas que existiam, junto com vocês, roubei e comi muitas e deliciosas mangas, goiabas , araçá, jambos e bacos-pari. (Será que está certo este plural , P.Narciso? Porque aí então seria Baco-Paris, que poderia sugerir até outras coisas. E boas! E do velho cinema de bancos de madeira, onde vi “Guerra dos Mundos” pela primeira e única vez; da pracinha da igreja onde as moças apareciam de noite e a gente ainda não sabia o que fazer com elas ; dos banhos de rio no poço da Provisória e incrivelmente , para registro dos historiadores de plantão, da loja de secos e molhados de Seu Olinto Silveira, na Praça do Mercado, que vendia de tudo e mais um pouco.Seu Olinto, com o maior carinho, sempre nos atendia com um sorriso ensinando-nos qual o melhor dos anzóis e pra qual peixe servia. Anos mais tarde, quando eu iniciava nessa sofrida e difícil arte, deu-me seu belo livro de poesias (Cantos e Desencantos), que guardo ( e leio sempre!) até hoje. Logo depois, ele e D.Ivone mudaram-se pra Montes Claros onde nos agraciaram , ambos num mesmo alto nível, anos a fio , com muita cultura e sabedoria. Enfim, Enoque, gostaria de dizer que v. possui a mesma esperteza ( no bom sentido), para escrever. É o que acho ( ...posso não ser tudo, mas também não sou nada, já dizia um filho de um amigo meu) e é de coração. V. tem a manha! Continue. Um abraço. Flavio Pinto

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