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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 22 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Amanhã, 31 de março, é uma data da história de M. Claros. Aos que a comemoram, e são cada vez menos, marcou a ´redentora´, a história daquilo que já foi chamado de ´Revolução de 64´, ´movimento militar de 64´. Outros, outros dirão apenas que ´foi um golpe´. Não quero estar entre uns e outros, pois tudo é muita simplificação e passei desse tempo. Quero apenas recordar. Naqueles dias de março, de calças curtas, menino, passei pela Praça da Estação, ali defronte à estação do trem. O quartel da PM era ao lado, de frente para a Avenida Ovídio de Abreu, contra-esquina do posto de gasolina da Coopagro. Era noite. O quartel estava iluminado, como numa festa de São João, e apinhado de soldados, com suas ´cuias´, o capacete bélico cujo uso é dispensável em tempos de calmaria. No dia seguinte, soube, soubemos: estourara a ´revolução´. O então comandante da Pm local, coronel Georgino Jorge (sem dúvida um personagem da cidade, homem respeitável, de família respeitável, mais de uma vez presente na história de Minas) requisitou carros do Dnocs, recebeu ordens e marchou para Brasília. A tropa embalada - eram assim que se dizia. Foi a primeira a entrar na novíssima capital federal, deixada às moscas pelas tropas legalistas. Chegou lá sem disparar um tiro de mosquetão, muito embora tenha encontrado, no caminho, um efetivo federal deslocado exatamente para fazê-la recuar para a divisa de Minas. De um lado e outro do rio da divisa, soube, houve uma negociação, e a guerra do fim do mundo foi evitada. Recordo isso para lembrar e advertir de que as paixões são passageiras, e ficam apenas como pedaços e retalhos da história, tão recente, onde ninguém a rigor ganha e perde. Talvez, não precisasse existir nada disto. Lembro-me ainda que, com o deslocamento de toda a polícia da cidade, as ruas de M. Claros, com seus 50 mil habitantes, se tanto, as ruas passaram a ser patrulhadas pelos atiradores do TG 87, tudo gente amiga, que aí está. Zé, de Casa Alves, Lindemberg, do jornal Hoje em Dia, e tantos mais, em pleno viço. Os ´atiradores´ (sem ter dado um tiro na vida) haviam sido incorporados recentemente e sequer tinham fardamento militar. A solução foi colocar a ´cuia´ na cabeça, improvisada, colocar um cinturão e cassetete na cintura, e sair às ruas em patrulhas ´Cosme e Damião´, com as mãos para trás e algum siso de poder, mas de roupas civis, com as quais também namoravam, iam à missa, às aulas etc. Vejo agora, relembro: foi tudo muito divertido, e muito pouco bélico. O duro, depois, foi agüentar o ufanismo da redentora por tantos e tantos anos, mandando fazer o que não queríamos fazer. Demos trabalho, eu sei, pois somos teimosos, herdeiros de jagunços. A ´revolução´ mesmo, a noite negra veio em dezembro de 1968, com o Ato Institucional nº5, o famigerado AI 5, numa noite em que atravessava a doce e amorável Praça da Matriz, já com mais espinhas na cara, e no coração. Aí, sim, a noite ditatorial baixou de vez sobre nós, sobre nossas costas, sobre nossas vidas moças, com torturas e muito mais. Relembrar ainda que foi um descendente montesclarense, o deputado Márcio Moreira Alves, o Mazito da família de Honorato Alves e João Alves (e de Dr. Maurício) que com um discurso tido como ofensivo às forças armadas serviu de pretexto para o fechamento do congresso, a censura a imprensa, a caça às bruxas.... Foram 20 anos de dias sombrios. (Mesmo que os atuais não sejam exatamente de santa claridade. Não, não são). Mas, deixemos isto para a história, principalmente deixemos isto para o relato dos heróis tardios, muitos apenas faroleiros de costume). Fiquemos com as recordações, sobre as quais é possível, agora, distrai-las com um sorriso da humana condição, e um desdém, pois assim caminha a humanidade, entre a comédia e a tragédia, ato repetido de folhetim de segunda. Burlesco. Mas, no meio de tudo, passou a vida. Esta, sim, a pedir letras maiúsculas. Vida, que não se detém - nem é detida - nos repetidos 31 de março.

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