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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 23 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Coçando o coração do Zé Alberto Sena Em linguagem jornalística, quando um repórter publica, sozinho, uma notícia ou reportagem relevante, costumam-se dizer que deu um ‘furo’. Pois é, Augusto Vieira, apelido ‘Bala-Doce’, que por mera questão de ordem alfabética figura na lista de cronistas deste montesclaros.com abaixo de mim, deu-me um senhor ‘furo’, não de reportagem, mas nesta saborosa tarefa de “cronicar” a vida vivida nesses montes, hoje nem tão alvos como nos primórdios, quando se amarravam cachorro com linguiça. Andei adiando um texto sobre José Mário de Araújo, mais conhecido por Zé Amaro, e nesta quinta-feira, 22, ao clicar no nome de Augusto Vieira para saber se ele havia postado algum texto novo, eis que me deparo com o ‘furo’, o único, posso dizer, sofrido em todos esses anos em que me debruço no parapeito da janela para ver a vida e as pessoas passarem. Mas tudo bem, não dá para me estressar por isso. O que vale é a experiência de cada um. E a minha experiência em relação ao Zé Amaro é totalmente diferente da do nobre amigo, em companhia de quem, recentemente, me fartei, no restaurante ‘Casa Cheia’, lá no Mercado Central de Beagá, durante o ‘I Almoço Curraleiro’ promovido aqui, nestes píncaros poluídos, pelo extraordinário e, se me permitem dizer, extravagante Rapfael Reys, que figura abaixo de mim e Bala-Doce por causa também da já exposta questão de ordem alfabética. Morei durante uns 12 anos na Rua Corrêa Machado, 238, em frente à entrada do antigo campo do clube de futebol União, do qual nasceu o Casimiro de Abreu. Na Rua Dr. Veloso, próximo do Asilo São Vicente de Paulo, perto lá de casa, morava quem? Zé Amaro. Baixinho, gordinho, barrigudinho, como descreveu Bala-Doce, com jeito característico de pronunciar as palavras, sempre engolindo letras. Morávamos tão próximos um do outro que, posso dizer: éramos vizinhos. Não sei quantas vezes por dia, obrigatoriamente, eu passava na porta da casa de Zé Amaro, indo ou vindo do centro da cidade. E de tanto passar na porta da casa dele, acabei amigo de alguns dos seus filhos. Com o mais velho, Paulo, eu não tinha tanta intimidade, mas com Zé Francisco, Marcos e Beto, o relacionamento de amizade começou por causa de uma mesa de pingue-pongue. Viciado com eu era nesse esporte, andava quase sempre armado com uma bolinha de pingue-pongue no bolso, pois de um momento para outro, do dia ou da noite, podia ser desafiado para um duelo com alguém, seja na União Operária, na Rua Bocaiúva; no Sesc, na Rua Padre Augusto; ou na Praça de Esportes. Num belo dia, ao passar na porta da casa de Zé Amaro, ouvi o ruído de bolinha de pingue-pongue, e a partir de então comecei a conviver com Zé Francisco (ele tinha uma pinta bem na ponta do nariz), Marcos e Beto. Passei a frequentar a casa e ficava encabulado com a filharada dele. Se não me engano, eram dez, todos do sexo masculino. Muito tempo depois, já longe desse arraial, do qual alimento saudades tantas, eu soube que, de tanto tentar, ele conseguira uma tão sonhada filha, mas não tive a oportunidade de conhecê-la. Armazeno grande estoque de lembranças daqueles anos, ali na casa de Zé Amaro, e deste ponto em diante me detenho na figura dele. Noutra ocasião narrarei peripécias vividas com a mencionada trinca de filhos dele. O Zé tinha fama de sovina, como disse Bala-Doce, mas era de coração enorme, maior que a barriga. Volta e meia quem passava na porta da casa dele testemunhava as suas boas ações. Ele ajudava, sem distinção de sexo, pessoas necessitadas, que o procuravam em busca de esmolas, porções de arroz, feijão e coisas do gênero. Mas ninguém saía da casa do Zé Amaro, impunemente: antes, tinha que coçar as solas dos seus pés. Era comum, então, à noitinha, observar o Zé no alpendre da casa sentado numa cadeira de lona, do tipo espreguiçadeira, com os pés sobre as pernas de alguém que ali fora buscar auxílio, os olhos fechados, se deliciando com as cosquinhas de unhas e dedos nas solas dos pés. Quem passava na porta da casa dele quase sempre via um coçador e então se sabia: estava retribuindo a caridade do Zé que, sem dúvida alguma foi, senão o primeiro, um dos precursores do comércio atacadista de Montes Claros. Era cômica a cena. Mas, ao coçarem a sola dos pés, aquelas pessoas simples massageavam o coração do Zé.

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