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Mensagem: Foi extraordinariamente bom que G. Magela Sena, neste Mural, tenha apanhado um fragmento do poema “Dia das Mães” para ilustrar suas belas palavras belas. Deu-me a oportunidade de evocar o poema inteiro, que todos os anos, no Dia das Mães, é lido alternadamente nas rádios 98 FM e 93 FM, de M. Claros. O poema é bom, alto, extraordinário. De uma atualidade cortante, que enternece e comove, e o seu autor - infelizmente hoje pouco conhecido - ainda há de remerecer um destaque que lhe faça justiça plena. Todos os que tiveram o privilégio de ouvir a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, nos anos 40, 50 e 60, a maior escola de jornalismo que este País já ouviu, terão neste nome uma referência segura, bem fixada na memória, e na gratidão, como eu quero dizer que tenho. Giuseppe Ghiaroni. Afinal, era dele - e de quem mais poderia ser? - a radiofonização da vida de Jesus Cristo, que literalmente parava o Brasil nas Sextas-feiras da Paixão. Naqueles dias (que sempre nos seguem, e nos seguirão sempre) apenas um soluço era capaz de escapar de nossas gargantas, no silêncio que ia atrás do lamento das matracas pelas ruas montesclarinas. Era ouvir o rádio em casa, correr para a Procissão do Encontro, para a Via-Sacra, para a Adoração da Cruz e os Lamentos de Jeremias; à noite, correr para ouvir o Canto de Verônica na Cerimônia do Descendimento do Senhor Morto, para Contemplar a Mater Dolorosa na redoma de vidro de padre Dudú e seguir a banda de música nada marcial atrás do Esquife Santo, e voltar correndo para casa, para o pé do rádio, a tempo de ouvir os últimos e lancinantes Açoites e as Quedas do Mestre na Escalada Dolorosa do Gólgota. Este Giuseppe Ghiaroni, volto a dizer, recordem comigo, era mineiro. Nasceu em Paraíba do Sul. Foi poeta e jornalista. Emigrou para o Rio. Trabalhou na redação do jornal A Noite. Seus poemas - lidos na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, nome que é preciso pronunciar sempre por inteiro – seus poemas e crônicas entraram para a história do Brasil! Dentre as Obras publicadas e mais conhecidas, estão O Dia da Existência, seu primeiro livro, de 1941, A Graça de Deus, de 1945, e a Canção do Vagabundo, de 1948. Em 1997 publica A Máquina de Escrever, obra lançada no Programa do Jô! Antes de ser poeta, foi ferreiro, “office-boy”, caixeiro e redator do “Suplemento Juvenil”. Esteve conosco, bem perto de todos nós, até os 89 anos. Faleceu em 2008, no Rio, e muito tristemente lamento que os sinos não tenham dobrado em homenagem mais que merecida a este que nos faz levantar quando pronunciam o seu nome. Já nos dias conclusivos, anos 90, crepúsculo, foi redator da Globo. Estou convencido de que não foram das suas melhores horas de criação, pois que falava de uma altura que talvez a rede de TV não pudesse alcançar e sentir, para permitir que viajassem no éter (como nas três décadas mágicas do rádio brasileiro) para penetrar e persuadir mentes, corações e almas. No Rádio. No rádio, onde a imaginação é a força criadora, insuperável, como podemos testemunhar nós todos que fomos criados ouvindo Jerônimo, o Herói do Sertão, O Anjo, Balança mas não Cai, a Lira do Xopotó, Obrigado Doutor e novelas inapagáveis como O Direito de Nascer. (Pare. Ouça o rádio que toca dentro de você, que viveu naqueles dias de ouro). Convido. Querem ver o tamanho da poesia de Ghiaroni, que - como disse - ouço todos os anos nas ondas da 98 FM (que hoje completou 29 anos) e da 93 FM, por ocasião de todo Dia das Mães? Leiam abaixo. Guardem. Levem para a escola. Chorem. Chorem se as lágrimas subirem do e ao Coração. Dia das Mães Giuseppe Ghiaroni Mãe! eu volto a te ver na antiga sala onde uma noite te deixei sem fala dizendo adeus como quem vai morrer. E me viste sumir pela neblina, orque a sina das mães é esta sina: amar, cuidar, criar, depois... perder. Perder o filho é como achar a morte. Perder o filho quando, grande e forte, já podia ampará-la e compensá-la. Mas nesse instante uma mulher bonita, sorrindo, o rouba, e a avelha mãe aflita ainda se volta para abençoá-la Assim parti, e nos abençoaste. Fui esquecer o bem que me ensinaste, fui para o mundo me deseducar. E tu ficaste num silêncio frio, olhando o leito que eu deixei vazio, cantando uma cantiga de ninar. Hoje volto coberto de poeira e ten encontro quietinha na cadeira, a cabeça pendida sobre o peito. Quero beijar-te a fronte, e não me atrevo. Quero acordar-te, mas não sei se devo, não sinto que me caiba este direito. O direito de dar-te este desgosto, de te mostrar nas rugas do meu rosto toda a miséria que me aconteceu. E quando vires e expressão horrível da minha máscara irreconhecível, minha voz rouca murmurar:``Sou eu!´ Eu bebi na taberna dos cretinos, eu brandi o punhal dos assassinos, eu andei pelo braço dos canalhas. Eu fui jogral em todas as comédias, eu fui vilão em todas as tragédias, eu fui covarde em todas as batalhas. Eu te esqueci: as mães são esquecidas. Vivi a vida, vivi muitas vidas, e só agora, quando chego ao fim, traído pela última esperança, e só agora quando a dor me alcança lembro quem nunca se esqueceu de mim. Não! Eu devo voltar, ser esquecido. Mas que foi? De repente ouço um ruído; a cadeira rangeu; é tade agora! Minha mãe se levanta abrindo os braços e, me envolvendo num milhão de abraços, rendendo graçs, diz:´Meu filho!´, e chora. E chora e treme como fala e ri, e parece que Deus entrou aqui, em vez de o último dos condenados. E o seu pranto rolando em minha face quase é como se o Céu me perdoasse, me limpasse de todos os pecados. Mãe! Nos teus braços eu me tranfiguro. Lembro que fui criança, que fui puro. Sim, tenho mãe! E esta ventura é tanta que eu compreendo o que significa: o filho é pobre, mas a mãe é rica! O filho é homem, mas a mãe é santa! Santa que eu fiz envelhecer sofrendo, mas que me beija como agradecendo toda a dor que por mim lhe foi causada. Dos mundos onde andei nada te trouxe, mas tu me olhas num olhar tão doce que , nada tendo, não te falta nada. Dia das Mães! É o dia da bondade maior que todo o mal da humanidade purificada num amor fecundo. Por mais que o homem seja um mesquinho, enquanto a Mãe cantar junto a um bercinho cantará a esperança para o mundo!
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