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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 24 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Os postes da CEMIG João Carlos Sobreira No inicio do século passado, Montes Claros era iluminada através da energia que vinha de um gerador instalado em um pequeno galpão (4 paredes caiadas em amarelo-ocre com telhado de 2 águas, será que ainda existe?) na beira do poço, abaixo da cachoeira do rio do Cedro, na fazenda da família Ribeiro Pires. Eu disse iluminada? Coloquei a dúvida porque era corrente na cidade uma piada que dizia ser necessário riscar um fósforo para saber se a luz estava acesa. Pode ser que logo que foi instalado, o gerador tivesse força bastante para acender todas as lâmpadas ligadas a ele. Com o crescimento da população e conseqüente construção de novas casas, sua pequena capacidade foi insuficiente para atender, a contento, a uma demanda maior. O serviço era conhecido como luz de D. Vidinha, assim chamada porque o fornecimento era controlado por ela, que enviava mensalmente a conta de luz para todos os usuários. Era assim que todos chamavam D. Maria Ribeiro Pires, mãe de, entre outros, Simeão Ribeiro Pires, ex-prefeito da nossa cidade. Só me lembro dela mais idosa. Ela era muito simpática e morava em um belo casarão, bem na frente da porta da antiga igrejinha do Rosário. O casarão ainda está lá na avenida Cel. Prates. A era da luz do Cedro terminou em 1944, quando começou a funcionar a Usina Santa Marta, no rio Ticororó, município de Grão Mogol, inicialmente, atendendo de maneira eficaz a todas as necessidades da urbes. Algum tempo depois, começaram a aparecer deficiência na iluminação e repetidos apagões. Novamente, o crescimento da cidade e a pequena capacidade de geração de energia, aliados à grande distancia da captação e da construção provavelmente mal feita e da má conservação da longa linha de transmissão, foram responsabilizados pelos apagões. A solução paliativa e de promessa para ser temporária foi a utilização de imensos geradores a óleo diesel, denominados “planta movIl”. Esses monstrengos barulhentos, do tamanho de uma locomotiva diesel das estradas de ferro, foram instalados no terreno vago onde hoje se encontra o prédio da CEMIG, infernizando a vida dos moradores vizinhos, já incomodados com a presença da zona boêmia nos arredores. Alguns dos freqüentadores dos lupanares se irritavam, reclamando que, além do barulho e da fumaça, a potência das máquinas estremecia tudo, chegando a balançar os leitos. Outros até gostavam dessa última parte! A notícia do início da construção, no rio São Francisco, da Barragem de Três Marias (que foi inaugurada em 1962), deu novo ânimo a todos os setores da cidade. Quando soube da construção da linha de transmissão com torres de estrutura metálica, o povo vibrou. Todos queriam saber, de quem vinha de Belo Horizonte pela rodovia (que nessa ocasião passava por Água Boa, Jequitaí, Várzea da Palma, Contria e Corinto), se o viajante tinha visto as torres e onde elas já estavam. Todos também falavam da construção da Estação Rebaixadora atrás do Seminário Diocesano, onde hoje funciona a UNIMONTES. Mas, o que causou mais reboliço foi quando a CEMIG deu início à retirada dos velhos postes de madeira pelos modernos, enormes e roliços postes de concreto armado. Eles vinham em carretas com carrocerias próprias para o transporte de postes, diretamente da fábrica localizada nas proximidades de Vespasiano. Os postes deixados no depósito eram transportados para o local da troca, em caminhões contendo um guindaste “Munck”, que servia para retirar o poste da carroceria e colocá-lo na guia da rua, junto ao meio fio. Enquanto isso, outra turma desembaraçava do poste de madeira os fios a ele amarrados e o guindaste do caminhão tratava de retirá-lo do chão puxando-o para cima. Na parte de trás da carroceria, o caminhão era equipado com uma furadeira, de dimensões o suficiente para comportar a base do poste de concreto e que alargava o buraco até a profundidade necessária para o poste ficar firme. Nos locais onde a marquise do prédio avançava no passeio até a prumada do meio fio, os funcionários cortavam-na em um semicírculo de modo a encaixar o poste, arrematando o local com massa de cimento. Tudo ia às mil maravilhas até que aconteceu um inusitado incidente. A Loja Imperial que pertencia ao casal Mercês Prates e Joaquim Correia, ficava na esquina da rua Camilo Prates com Presidente Vargas, tendo o prédio, até hoje, uma marquise nos moldes da última frase do parágrafo anterior. Ao avistar o funcionário da empreiteira subindo a escada com as ferramentas para cortar a marquise, seu Correia gritou, da porta da loja, com seu sotaque lusitano e com toda autoridade de proprietário contrariado: -“Oh, gajo! Desças já daí porque ninguém vai cortar minha marquise sem minha autorização, ora, pois, pois!” Pronto! Já estava criado o impasse. O pedreiro na escada respondeu com grosseria, o que foi o bastante para o dono da loja “virar bicho” e ficar espumando de raiva. Para agravar a situação, o fato se deu perto do meio dia, horário que a rua 15 (esse era o apelido da rua Presidente Vargas) parecia reviver o footing diário da noite: estava repleta de alunos de uniforme cáqui do Colégio Diocesano e alunas de boina e saia plissada azul marinho e blusa branca com distintivo do Colégio Imaculada, saídos da aula. Os meninos que viram o início da discussão formaram um bloquinho gritando e batendo palmas e mesmo sem intenção, alertaram os colegas que iam passando. Foi uma bagunça pacífica, logo dissolvida pela retirada do pessoal da obra e a entrada do proprietário para o interior da loja. Antes, o pessoal da CEMIG teve de improvisar uma gambiarra com uma vara de bambu, para levantar os fios, pois o poste de madeira retirado, já tinha ido para o depósito. As démarches para resolver o impasse demoraram alguns dias, terminando com seu Correia concordando no corte da marquise desde que fosse deixado o espaço de pelo menos um dedo entre ela e o poste. –“Já pensaram se vem um caminhão e tromba no poste derrubando-o. Se ele estiver grudado, derruba minha marquise também, opá!” disse ele. Enquanto durou o impasse, em todo término de aula, os estudantes faziam sempre uma grande algazarra. Um fato hilário aconteceu: como o poste passou várias noites deitado junto ao meio fio com o pé próximo ao buraco, um gaiato deixou perto do mesmo um saquinho de plástico contendo 8 pequís e um punhado de amendoim em casca, com um bilhete: Só mesmo os nossos afrodisíascos conseguirão fazer o poste ficar ereto!

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