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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 24 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Lembranças de uma infância... Observando, num dias desses a violenta guerra do trânsito que vivemos em Montes Claros, lembrei-me de um fato pitoresco e singelo que me ocorreu nos idos de 1973, aqui em nossa cidade. Havíamos acabado de chegar a Montes Claros, vindos com saudades de São Francisco. Morávamos em uma casa modesta na Av. Ovídio de Abreu, 351, próximo ao antigo “Cine Lafetá”, vez que chegávamos para recomeçar a vida na promissora cidade dos Montes Claros. Como conta o romance, éramos seis: meu pai, mãe, e os três outros irmãos. Em 1974 fui matriculado na pioneira Escola Polivalente Professor Alcides Carvalho, no nascente bairro Jardim São Luiz. Quem conhece Montes Claros sabe muito bem que a ponta da Avenida Ovídio de Abreu, já quase no Santa Rita, e o Polivalente estavam e estão ainda hoje completamente opostos. Logo no primeiro dia de aula questionei meus pais: - Para chegarmos às sete horas da manhã, a que horas deverei sair de casa para não encontrar o portão fechado?. Lembro-me bem, como se fosse hoje, da resposta da minha mãe Glorinha: - Se você for à pé, deverá sair às seis e quinze da manhã. Segue toda a Avenida, passa com muito cuidado pela rodoviária, desce a Rua Barão do Rio Branco até a Avenida Mestra Fininha. Chegando à Mestra Fininha, você sobe até a Escola Normal, vira à direita, desce quatro quarteirões, vira novamente, só que à esquerda, e, exatamente às sete horas, você estará na porta da Escola. Nunca fui anjo, nem pretendo ser, mas o certo é que, salvo dois ou três dias de garganta inflamada e febre,neste ano de 1974 nunca cheguei atrasado ao Polivalente. E minha mãe prosseguiu na resposta: - Se você for de bicicleta (tínhamos uma antiga MonarK, barra circular verde), poderá sair às seis e meia. Por fim concluiu: - Se o seu pai não estiver viajando para São Francisco, ele poderá te levar de carro e, nesse caso, vocês podem sair às seis e cinqüenta. Nessa época meu pai ainda mantinha seu escritório de advocacia em São Francisco e sempre ia para lá na terça-feira, retornando na sexta. O certo é que, nesse primeiro ano me acostumei a ir à escola a pé ou de bicicleta. No ano seguinte, meu irmão, Leopoldo, também passou a estudar no Polivalente e coube a mim a responsabilidade de transportá-lo na garupa da prestimosa barra circular verde. Quando chegamos em 1976, minhas responsabilidades aumentaram: já teria também que transportar a minha irmã Cristina. Íamos na bicicleta barra circular verde eu, Leopoldo e Cristina. Retorno à minha infância com o intuito de fazer um contraponto com os dias de hoje. Já não se pode deixar que nossos filhos se dirijam à escola de bicicleta. Pelo menos até à quinta série, ou eles têm de ir de carro (os pais levando) ou de ônibus escolar. Não é só o trânsito agitado que preocupa. A violência do dia-a-dia, o estresse, as balas perdidas. Fico a meditar, com a tamanha devoção que meus pais tinham e têm por seus filhos, como seria aquela resposta a mim dada nos dias de hoje. Com certeza eles teriam que nos acompanhar até a escola todos os dias: de carro, de ônibus, ou a pé. Recentemente foi proferida uma palestra pelo filósofo e professor Paulo Volker, em que ele relata a importância do vínculo familiar e do diálogo no processo de proteção dos filhos. Ele relata que os filhos são como plantinhas que não podem se expor muito ao sol e à luz, pois acabam morrendo. A criança precisa de sua privacidade, do seu aconchego e também do abraço afetuoso de seus pais. Conclui a palestra afirmando que, se abraçássemos mais nossos filhos, conheceríamos mais seu cheiro próprio. E poderíamos distinguir outros cheiros, como o do cigarro e outras coisitas mas, por exemplo. Da narrativa acima, retira-se também outra lição. Os pais devem repassar aos filhos o senso de responsabilidade. Minha cota, por exemplo, era transportar meus irmãos, o que procurei realizar da melhor maneira possível. Isso tudo nos mostra também como são importantes as dificuldades que enfrentamos em nossa vida. E entender que, com paciência, tudo se resolve. Hoje eu agradeço a Deus pelas limitações que me foram impostas pelas circunstâncias e pela decisão de meus pais. Não somos uma família perfeita, se é que existe alguma. Mas acreditamos que a vida sempre vence a morte. Que a luz sempre vence as trevas, que a paz é o veneno da guerra e que o amor será uma dia a única língua dos homens. Paz... Paz...Paz... Gustavo Mameluque- Jornalista, Bacharel em Direito e Crítico de Artes.

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