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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 23 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Respondendo à Luiz Ortiga - msg de n°69594 “Reporto-me à mensagem nº 69562, da Sra. Márcia. É evidente que a posição da sra.é de total reacionarismo. Quer dizer que para se amar Montes Claros,para defendê-la conra os ataques gananciosos dos aproveitadores de plantão, os seus filhos normais ou adotivos tem que aí residir?Difícil para mim e para toda a minha geração. Não havia nem o segundo grau (curso científico), tampouco universidades.Tivemos quer sair em busca de mais estudos e escolas superiores que vieram muito depois. É evidente que muitos como eu, formamos uma estrutura sólida fora de Montes Claros o que nos fez fixar residência longe dos nossos pagos. É de uma maldade,de uma crueldade de sentimentos a sua posição de cobrança que acredito a sra. não seja de Montes Claros. Nós não pensamos assim.” 1-Sr. Luiz, acho que o senhor cometeu um pequeno equívoco ao usar o termo “reacionária”. Talvez quisesse dizer na verdade, “revolucionária”. Isso se aproxima um pouco mais do meu pensamento. Mas, reacionária ou revolucionária, respeito a sua decisão de optar por qualquer que seja a definição. Ela é sua, intransferível. Aceitar ou não os seus adjetivos, depende exclusivamente de mim. Ótimo que tenha uma definição a meu respeito, porque eu não saberia dizer exatamente quem eu sou, se me perguntasse. Encaixar-me em uma definição, significa limitar a minha capacidade de sentir, pensar, agir. - Ela é tão livre que um dia será presa. - Presa por quê? - Por excesso de liberdade. - Mas essa liberdade é inocente?- É. Até mesmo ingênua.- Então por que a prisão? - Porque a liberdade ofende.( Clarice Lispector) 2 - Longe de mim dizer que TODOS os que estão fora daqui perderam o amor por Montes Claros. Mas o que na minha ignorância, que nada tem de santa, eu concebo como amor, inclui um mínimo de sacrifício. As oportunidades existem sim e “o cavalo arriado muitas vezes não volta à mesma porta”. Sei que o ditado está errado. Eu mudei por conta própria, afinal, não posso dizer que “o cavalo arriado não passa duas vezes na mesma porta”, pois eu mesma já tive mais de uma oportunidade com a mesma situação. Muita gente decide pelo coração, outras, pela praticidade, razão. Acho ótimo que o senhor tenha aproveitado a sua oportunidade de rumar a Brasília, fazer o seu curso e viver as agruras e as alegrias de residir na Capital Federal. É uma cidade planejada, certinha do ponto de vista estético, e o senhor que milita nesta área certamente aprecia a arquitetura correta, limitada. Bem diferente de Montes Claros, que não foi planejada, mas existe. Como o filho que veio ao mundo a contragosto dos pais, mas que passa a ser amado como bênção divina. Ao crescer, não macula sua infância, não perde a memória. Sabendo que não mais se encaixa nas mesmas roupas e/ou espaços, vai buscar novos, que se adaptem ao seu corpo, muitas vezes, diferente do que ele programou. Assim é com as cidades. Aquelas que não foram rigorosamente planejadas como Brasília, mas existem, estão no mapa por diversos motivos (eu prefiro destacá-las pelos motivos bons, porque eles são predominantes), e precisam encontrar novas roupas, adaptáveis ao corpo agora inchado. Compreende? 3- Embora diga que eu não tenho o direito de julgar ou medir o seu amor pela cidade, o senhor demonstra que usa dois pesos e duas medidas, ou seja, julga o meu coração e se refere a “minha maldade, crueldade de sentimentos e cobrança”. Eu poderia me enfurecer e dizer que o senhor está blasfemando, mas ao reagir a sua fúria de maneira semelhante, estaria dando asas a sua imaginação, ratificando o seu pensamento desordenado e contrariando o meu coração. Prefiro corrigi-lo, com a lucidez que a minha mente permite.Tenho todos os sentimentos e emoções dentro de mim e livre arbítrio para exercê-los. Não mascaro nenhum deles, porque não tenho vergonha de sentir, falar, pensar. Amor, ódio, raiva, paixão, saudade, generosidade, egoísmo, altruísmo, epifania, possessividade, ansiedade, afetividade, esperança, angústia, tristeza, coragem, medo, alegria, prazer, soberba, piedade, melancolia, solidão, frustração, suavidade, entusiasmo, gratidão, euforia, etc. Estou viva e isso também ofende a quem em vida, já morreu. Não digo que é o seu caso, é apenas um registro. À docilidade com que refuto as suas afirmações, não reaja com fúria, pois embora aparentemente a suavidade seja usada como arma, ela e todas as outras emoções, só existem em mim, quando brotam com naturalidade.4- Não sou psiquiatra, psicóloga ou coisa parecida, aliás, “não ser” é o meu maior deleite. Quanto ao pensar... Bem o pensamento, como tudo mais, é livre, não é? E o meu pensamento neste momento assume a seguinte direção: a fúria desmedida em torno de um assunto, o tratamento desrespeitoso em espaço público a pessoas que estão aptas a tomar decisões, a revolta egoísta que usa o véu do coletivo em nome de lembranças particulares, indica dificuldade em lidar com as próprias emoções, não? E quem não as tem (dificuldades e emoções), afinal? Talvez seja a hora de reavaliar seus posicionamentos/sentimentos e descobrir a verdadeira razão da revolta. Ser acusado do não amor, quando se tem a “certeza” de amar em demasia, provoca uma reação e duas vertentes: dúvida e fúria ou dúvida e auto-exame. O senhor pode escolher o que fazer com a sua dúvida. No momento em que me escolheu como bode expiatório encontrou uma Márcia com a mente sã, tranqüila, convicta da direção que tomou. Se sirvo ao exercício do seu pensamento, isso não me agride. Pode usar-me como bode expiatório, caso isso o torne melhor. De minha parte, sou muito grata a todos que me fazem pensar. É por meio deles que me torno um ser mais humano e decente. Quando contrariam as minhas “certezas, convicções”, busco lá no íntimo o que motivou a minha insatisfação. E não paro de procurar respostas, pois estou em constante mutação, como tudo neste mundo. Quando receio mudanças, ouso enfrentá-las. Pra mim, é uma opção melhor, mais consciente, do que refugiar-me em uma casca e procurar culpados para as minhas limitações/frustrações. Os monstros tomam forma dentro de nós, quando damos a ele o poder de dirigir nossas vidas.“Estive esses dias na Europa e a seguir a sua linha de pensamento, aquelas maravilhas preservadas por aquela povo culto, não mais estariam a disposição das gerações atuais, justo para dar lugar á ganância dos que quisessem lotear o Coliseu, a praça Verona, a fontana de Trevi, Firtenze, com as maravilhas de Miguel Angelo, Verona, o Domus de Milão, tudo tremeria a sua sanha de dar lugar ao progresso. Olha, a memória de um povo não tem preço. O fato de estarmos fora de Montes Claros nos faz ficar mais próximos a cada dia, pois, os ensinamentosz dos nossos pais naquela época nos fizeram a aprender amar a cidade que sempre teve os braços e o coração abertos para todos. Só para seu conhecimento: não havia rodoviária em Montes Claros na década de 40. Na rua em morávamos, rua Padre Teixeira, na Montes Claros de baixo, era comum chegarem caminhões com famílias inteiras e o procedimento da minha mãe, da D. Lica de ´seu´Olimpio de Abreu, d.Conceição de ´seu´ Valeriano Lopes e outras senhoras daquela rua, era procurar as familias que chegavam e oferecer um banho quente para as crianças, alimentos, mamadeiras., essas coisas. Da parte dos homens era perguntar se o chegante precisava de alguma coisa, se tinha dinheiro, emprego. Quantos comerciantes em Montes Claros vi crescer e eu fazia a comparação com aquele dia em que chegaram com grande interrogação no rosto. Havia por parte dos montesclarenses um coração aberto. Com a abertura da UnB por um filho de Montes Claros, não perdi a chance e vim para Brasília/DF. Aqui fiquei e temos uma colônia de Montes Claros respeitável. Duvido que você goste de Montes Claros mais que nós.Por favor, defenda a nossa Praça de Esportes. Lute para que ela volte a acolher a juventude como antes, juventude que hoje está longe dos esportes e perto das drogas. É isto.” 5-Linha de pensamento? Ora, mas o meu pensamento não é tão linear quanto julga. Não uso régua e compasso na mente. Como já disse, estou em constante mutação e a única linha que sigo é a do coração. Ela não é reta como a dos arquitetos. É mais difícil, tem obstáculos. Mas nenhum é tão intransponível a ponto de não se tentar vencê-los ou torná-los amenos. Quando os argumentos são convincentes, é possível que eu ceda à razão. No caso específico, da Pc de Esportes, eu estou convencida de que a alteração no espaço (não é extinção, é alteração) é o melhor pra Montes Claros. Já os seus argumentos não me convenceram, porque são egoístas. Não é no coletivo que o senhor está pensando. É nas suas lembranças. Gostaria muito de ter vivido a década de 40. Os meus pais não podiam adivinhar, é claro, e me conceberam muito depois. Mas eu vivo décadas que não a minha, mesmo assim. Por meio das músicas, filmes, livros. Eu tive infância e mesmo sendo de uma época diferente, também conheci a Pc de Esportes, suas quadras e piscinas, que com a mudança, continuarão lá. Tenho recordações, saudade. Mas o que treino todo dia é a bondade - o que não me custa nada, porque a minha tendência natural é esta e ela é dominante na minha personalidade - mas como disse Cora Coralina: “eu me esforço pra ser melhor a cada dia. Bondade também se aprende”. Quando abro mão de uma recordação, de uma saudade, de um sentimento, em favor de alguém ou de um bem maior, estou exercitando a bondade, sendo menos egoísta, aprendendo a viver e conviver. 6- Conhecemos as pessoas muitas vezes pelos seus alvos de admiração. Obviamente, admiro monumentos não politicamente corretos, mas o senhor deve saber que o Coliseu, primeira das maravilhas citadas na mesma mensagem em que aponta em mim um sentimento de crueldade, nasceu deformado. O Coliseu, que o senhor tanto admira e defende, servia à execuções e já na sua cerimônia de inauguração, aconteceu a matança de 5 mil animais. Isso sim, é o que se pode chamar de sanha. Nem mesmo a Fontana de Trevi, lindamente imortalizada no filme La Dolce Vita, de Fellini, brotou sem polêmica. Também passou por alterações e foi reposicionada. Mas é claro que o senhor tem conhecimento disso.7- No finalzinho da sua mensagem, o senhor pede - e diferentemente do início e meio, em que se posiciona de maneira agressiva, chega a ser dócil - que eu defenda a Pc de Esportes. É o que estou fazendo Sr. Luiz. Defendendo aquilo que chamamos de nosso, não por ser possessiva, mas por ter carinho e querer bem. Defendendo as gerações que estão aí, as que virão e que precisam viver dignamente, como o senhor viveu, na década de 40, aqui mesmo em Montes Claros. O senhor não pode acusá-los de desregrados, nem tampouco negar-lhes o direito de viver. É verdade que os costumes mudaram e muitas vezes não nos adaptamos a eles, mas muitos jovens que conheço dedicam-se ao esporte, ao contrário do que o senhor diz. Outros, às artes. Claro que alguns estão perdidos, mas em todas as gerações, até mesmo da década de 40, existiram os perdidos e os não perdidos. Os que tem valores e os que não os preservam. Muitos dos perdidos são frutos de pais relapsos e/ou autoritários, furiosos, que confundem firmeza com brutalidade e inconformados com as transformações do mundo, necessárias, tentam impor a sua vontade travestida de contribuição. Já ouviu dizer que todo liberal é na verdade um conservador? Pois então. Até mesmo pra ser uma coisa, precisamos nos permitir ser uma outra. Isso inclui entender as idéias, apreciá-las e não recusá-las de imediato, ou tirar conclusões e atirar pedras, sem exigir de nós mesmos, a capacidade máxima de entendimento, de interpretação. Um outro exercício muito bom, é assumir por instantes o lugar do outro. Tomar decisões é difícil. Tomar decisões que contrariem um ou outro, igualmente. Mas ninguém agrada a todos o tempo inteiro. Unanimidade além de burra, como disse Nelson Rodrigues, é impossível e de nada serve. Ninguém cresce sem desafios. E para os desafios, existem os líderes, os que sabem fazer, decidir, ousar. É preciso que alguém faça o que deve ser feito, que aja. E será preciso, depois de feito, que os resistentes aplaudam ou que os incentivadores peçam desculpas. Eu boto fé na primeira opção. Márcia Vieira Cidadã montesclarense, de corpo, alma e coração. Residente desde sempre, no bairro São José, admiradora incondicional de Montes Claros, sua história, sua gente e seus costumes. Apoiadora de causas justas, de artistas locais e suas criações, de produto interno bruto, de idéias e aperfeiçoamento.

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