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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 23 de setembro de 2024
 

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Mensagem: Reminiscência Cine-Teatro Ruy Barbosa HAROLDO LÍVIO Em nosso tempo de menino, nas Contendas, conhecia cinema só quem já tivesse ido a Montes Claros, que chamávamos de “a cidade”, como se as demais não tivessem o grau citadino. Foi por aí, por volta de 1948/1949, que tivemos o primeiro contato com a Sétima Arte. Apareceu por lá um cinema ambulante, que se resumia na tela, armada no mercado municipal, e um projetor. Entrada franca, com o comparecimento maciço de adultos que ainda desconheciam o invento e da garotada que estreava como espectador. Recordo-me, mesmo passado tanto tempo, termos ficado maravilhados com o maior espetáculo da Terra, segundo nossa reação diante da novidade que a tecnologia abriu aos nossos olhos inocentes de criança. O filme era em preto e branco e mudo, mesmo assim ficamos encantados, deslumbrados com a magia do cinema, por causa das figuras que se movimentavam, ao contrário do que se via nas fotografias. Depois do teste satisfatório do cine ambulante, o vigário da paróquia (cônego Pedro Hendriks) comandou a iniciativa de dotar nossa cidade de uma sala de cinema permanente, que funcionaria na sede do nascente Grêmio Ruy Barbosa, usando o salão de baile. E assim se combinou e assim se fez. Inicialmente, teria de haver boa vontade do público, ou melhor, dos freqüentadores, porque os gastos com a compra do equipamento não permitiram a aquisição de cadeiras, que seria feita assim que possível. O público aderiu à proposta e cada espectador saía de casa levando a cadeira debaixo do braço, geralmente daquelas de abrir e fechar. Esse pormenor me emociona até hoje e destaca o espírito comunitário que identifica o brasilminense, sempre disposto a participar do trabalho pelo crescimento de nossa cidade. Numa segunda etapa, foram adquiridas as cadeiras e o Cine-Teatro Ruy Barbosa continuou funcionando e cumprindo seu papel de divertir e educar a população que lotava as sessões dominicais para conhecer os grandes filmes produzidos pela usina de sonhos de Hollywood. Filme europeu não chegava lá, queixavam-se as pessoas viajadas que freqüentavam cinemas das capitais. Para nós, meninos e iniciantes, estávamos, contudo, no melhor dos mundos possíveis, principalmente depois que chegaram os filmes coloridos. Estava tudo muito incrível, muito fantástico, muito além da imaginação, considerando que antes da primeira exibição, no mercado, nem sabíamos se o nome correto da novidade era cinema ou “cimema”. Agora, vivíamos a idade de ouro da vida social e cultural de nossa terra. Olha que os mais afoitos já ensaiavam as primeiras palavras em inglês. Enquanto o espectador, já acomodado, aguardava o prefixo, deliciava-se com a música da coleção de discos do cônego holandês. Ficava embevecido com os sucessos da bela música universal: o Bolero de Ravel, a orquestra de cordas de George Boulanger executando o tango “No Mar Negro”, Jealousie, La Paloma e outras doçuras sonoras. Acredito, hoje, que o saudoso Cine-Teatro Ruy Barbosa foi o único cinema do mundo que vendeu ingresso fiado. Isso mesmo, para primeiro ver o filme e depois pagar. Quem dá esta informação é o próprio autor destas linhas, que era freguês do cinema fiado. No meu caso, ao chegar à portaria, dizia ao simpático porteiro Neco Lopes para receber o pagamento de meu querido Pai. É que o porteiro era também o cacifeiro de uma mesa de pôquer que funcionava em uma sala atrás da sala de projeção e, ao cobrar o cacife do meu velho, que era o campeão do jogo, acrescentava o ingresso do menino. (Para Ursinho, o pastor belga que partiu deixando corações entristecidos, especialmente o coração de Luciana, sua dona, que chora de saudade.)

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