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montesclaros.com - Ano 25 - quinta-feira, 2 de maio de 2024
 

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Mensagem: O artigo abaixo foi publicado numa revista de destino nacional. O escritor Manoel Hygino o leu. Viu que se trata de tema do horizonte montesclarino - (não este atual, mas o antigo) e, bom e cuidadoso, como sempre, imediatamente o redespachou para a província. Três personagens de Montes Claros comparecem aqui. O escritor Manoel Hygino, nossa voz mais alta, em pleno exercício de sua investidura alta, voluntária, imensa, benigna, desprendida. Monzeca, o que vai descrito, ícone imemorial, além do Tempo. E Santayana, discípulo de Monzeca, portanto montesclarense também, autor do artigo. Gaúcho de origem, mineiro por escolha, sobre ele deve-se acrescentar: é o ´ghost writer´, o escritor fantasma de muitos escritos de Tancredo Neves, inclusive o de sua posse na Presidência da República - que não houve. E que escreveu: ´Liberdade é o outro nome de Minas´ Agora, ao Monzeca. Irmão de João Chaves, sobrinho de Antônio Gonçalves Chaves, a quem Ruy Barbosa chamava de ´meu mestre´. O Monzeca homenageado em sua terra com nome dado a minúsculo, perdido beco da Praça da Matriz, recuerdo sem ênfase que o deixa feliz, pois foi entre modestos o mais modesto, e sua semeadura não é deste tempo, mas vem de outros tempos: NOS TEMPOS DE MONZECA Mauro Santayana Ele detestava o apelido que se incorporava à sua identidade. Hermenegildo Chaves tinha o saber dos autodidatas. Conhecia o idioma em suas nuances e era perito em regência verbal. Foi professor de jornalismo de Rubem Braga. E, para o meu orgulho, meu professor também. Conhecia a língua inglesa com apuro, mas seria incapaz de pronunciar um só vocábulo – seus olhos eram bons, mas seus ouvidos, não. Ajudou Abgar Renault a traduzir os Poemas Ingleses de Guerra, mas só contou isso a dois ou três amigos mais íntimos. Era sem dúvida um dos maiores articulistas do Brasil. Estando contra Getúlio, escreveu poderosos rodapés no “Diário de Minas”, durante a crise que o levaria ao suicídio. Morto Vargas, passou a defender sua memória com o mesmo talento, comparando seu drama às tragédias shakespearianas. Viveu e morreu sem ter feito uma só viagem aérea. Tinha pavor dos “aeroplanos”. No dia 25 de agosto de 1954, ao voltar do Rio, aonde fora cobrir a morte de Getúlio, redigi minha matéria e a coloquei em sua mesa. Depois de ler meu nome na linha de crédito, chamou-me às falas: “Embuste com os leitores, eu não permito. Como é que você pode estar no Rio e em Belo Horizonte ao mesmo tempo?”. “Vim de avião, respondi”. E ele: “Me desculpe. Esqueci que existia esse negócio”. Não bebia nada alcoólico. Contentava-se com água tônica e cafezinhos sucessivos. Naquele tempo, era desonroso levar um “furo”, e a disputa se fazia entre o “Diário de Minas” e o “Estado de Minas”. Eram raros os latrocínios e comum que inventássemos, para os novatos na reportagem policial, que havia ocorrido um homicídio. Foi assim que surgiu a figura do foca “ice cream”, de “há esse crime?”. Frequentávamos, noite após noite, o Pólo Norte, que jamais fechava suas portas. Em uma de suas mesas, certa noite embriagou-se Orson Welles, nos anos 40. O mais erudito de todos era Milton Amado, o melhor tradutor do Brasil e um dos maiores do mundo. Até hoje não sei quando trabalhava porque passava a noite inteira bebendo a pior bebida que existe – “traçado” de conhaque de alcatrão com vermute. Suas traduções de Dom Quixote e de O Corvo, de Edgar Allan Poe, são consideradas pelos críticos como das melhores já feitas em nossa língua. E havia o Marcelão, Marcelo Coimbra Tavares, com sua voz tonitruante e seu texto de realismo fantástico. Éramos até certo ponto ingênuos. E felizes. Em uma sexta-feira da paixão estávamos no Pólo Norte e inventei que uma seita de magia negra iria se reunir no cemitério. Propus que nos misturássemos a eles, compramos umas velas com o dono do bar, o Silveira, e seguimos para o Bonfim. O muro do lado que dá para a Rua Mariana tinha um buraco, que usamos para entrar. Só eu sabia que não havia ninguém, mas zanzamos por ali em busca dos adeptos de Satanás. Cansados de vagar, pulamos a mureta da frente com as velas acesas. Um bêbado que dormia por perto com sua garrafa de cachaça levantou-se em um salto e saiu correndo pela Rua Bom Fim abaixo. Alguém sugeriu que bebêssemos da aguardente, mas fui contra. Seria abusar da sorte.

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