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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 24 de setembro de 2024
 

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Mensagem: Velhice não é doença

Ruth Tupinambá Graça

O velho não é um doente, nem sempre um esclerosado.
Com os cabelos grisalhos, as alvas barbas e, sob sua pele enrugada e muitas vezes encarquilhada, existe um coração que palpita cheio de vida, e uma alma transbordando de sensibilidade e experiência.
O velho é geralmente triste e solitário, traz a alma cheia de recordações de um passado longínquo e de uma felicidade perdida nas brumas do passado.
O velho é muitas vezes desiludido com a desigualdade social e injustiças que os anos lhe deram oportunidade de presenciar e julgar.
Quantas vezes o velho é ignorado e simplesmente esquecido dentro do seu próprio lar?
Quantos se sentem frustrados, por não serem compreendidos, e são considerados um estorvo, um obstáculo por sua própria família?
Quantos acabam seus dias num asilo qualquer, longe do convívio dos seus, angustiados pela saudade dos netinhos, sonhando tê-los ao colo, acaricia-los, ouvir sua tagarelice, sentir a carícia de suas mãozinhas frágeis e delicadas, percorrendo seu rosto envelhecido, alisando-lhe os cabelos brancos...
Quantas vezes, acusados, injustamente, por estragar os netinhos, só por amá-los demais e tolerarem pacientemente suas peraltices, sempre considerados os responsáveis pelas traquinagens e birra dos netos, por mimá-los excessivamente?
Quanta injustiça comete a família e, numa análise fria, chega a conclusão de que o netinho deverá se separar da vovozinha. Ambos sentem-se chocados com a separação e mais ainda a vovó porque nessa fase, os filhos se vão um a um, seguindo seu destino, o seu amor. Para sublimar esta ausência, os velhos se apegam aos netinhos...
Ninguém poderá viver sem um afeto.
Façamos um exame de consciência:
Será que, absorvido com o conforto, o aconchego da família, passeios e mordomias, você não estará cometendo uma injustiça, esquecendo-se daquele que, em outras épocas, lhe deu tudo, talvez o melhor de sua própria vida?
Que por você sacrificou uma existência inteira e ainda hoje o faria, se lhe fosse possível?
Será que, por desencargo da consciência, você não o jogou num asilo qualquer, negando-lhe sua assistência e o seu convívio no lar?
Isto seria uma crueldade; uma violência seria negar-lhe tudo.
O velho geralmente se conforma em ser um rejeitado, um marginalizado e se deprime, sentindo que realmente não serve mais para nada, nem mesmo para um conselho, uma opinião.
Mas não devemos pensar assim, eles valem muito, não só pela experiência que transmitem, de um passado bem vivido, como pelo conforto de sua companhia.
Nesta semana, em que homenageamos o idoso, pensemos um pouco, não só nos nossos velhinhos, mas também naqueles que estão perambulando pelas ruas, infelizes ou deitados nas calçadas sujas e frias, à mercê da caridade humana, ou espalhados pelas favelas, num desconforto total, doentes e famintos, numa repugnante promiscuidade!
Que esta bem lembrada homenagem não fique só nos jornais, mas que chegue até o coração da comunidade, conscientizando-a para que cada um de nós sinta necessidade, não só de amparar o idoso, mas amá-lo e respeita-lo, proporcionando-lhe uma vida melhor, digna, uma vida tranqüila, enfim, uma vida feliz!

(N. da Redação: Ruth Tupinambá Graça, de 94 anos, é atualmente a mais importante memorialista de M. Claros. Nasceu aqui, viveu aqui, e conta as histórias da cidade com uma leveza que a distingue de todos, ao mesmo tempo em que é reconhecida pelo rigor e pela qualidade da sua memória. Mantém-se extraordinariamente ativa, viajando por toda parte, cuidando de filhos, netos e bisnetos, sem descuidar dos escritos que invariavelmente contemplam a sua cidade de criança, um burgo de não mais que 3 mil habitantes, no início do século passado. É merecidamente reverenciada por muitos como a Cora Coralina de Montes Claros, pelo alto, limpo e espontâneo lirismo de suas narrativas).

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