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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 24 de setembro de 2024
 

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Mensagem: MEU TIO OLYNTHO Foi um privilégio conviver durante anos com meu querido tio Olyntho. Com ele aprendi muito e amei-o com toda minh’alma. Sei que a saudade vai doer bastante, mas só posso agradecer a Deus pela benção que foi em minha vida. Com ele aprendi muito. Lições de História, literatura, lições de vida. Quando eu dizia a meu pai da admiração que tinha por sua grande inteligência e cultura, ele sempre me respondia: “Qual o que, minha filha! Inteligente é o seu tio Olyntho! Faz versos como ninguém, aprendeu o francês sozinho e lê os clássicos na língua original.” Não sei se alguém o admirava mais que seu irmão Geraldo. Eles foram durante toda a vida amigos de verdade. Tenho guardadas cartas de um para outro quando viviam separados. E, na mesma cidade, nunca ficavam mais de um dia sem se verem. Foi com grande dificuldade que fui visitar meu tio, por ocasião de uma pneumonia, pouco depois da partida de meu pai. Isto porque os dois eram muito parecidos fisicamente e eu sabia que não havia como não falar em papai. Depois de tomar-lhe a benção, beijá-lo na testa, como era meu costume, ouvi-o dizer, com os olhos molhados: “Ah, filha, que saudade de Geraldo! Que falta ele me faz!” Eu não pude responder, pois me engasguei com as lágrimas e o aperto no peito... Foi tão difícil para nós dois que fizemos um longo silêncio, irmanados em nossa dor. Já na última visita que lhe fiz (sem jamais imaginar que seria a última, pois estava tão certa de que haveríamos de comemorar os seus cem anos...), mamãe e eu passamos um dia adorável com ele e tia Yvonne. Almoçamos, papeamos, ele contou mil e um “causos” e, por fim, pediu que repetíssemos sempre a dose. Foi tudo maravilhoso. Mas o que mais gostei foi a constatação de algo que tia Yvonne sempre me repetia. Ao beijá-lo, na chegada, ele me perguntou quem era (pois estava cego e muito surdo...) e eu respondi: “Sua sobrinha predileta.” Ele sorriu apertando-me a mão e disse: “Que alegria! Maria Luiza de Geraldo”. Lá no Brejo a gente sempre é de alguém... Como poderíamos imaginar que aquela era a última visita? Ele aprontou comigo! Aproveitou minha ausência para ir embora de mansinho. E, hoje, quando acontece a sua missa de sétimo dia, cá estou eu, a 400 quilômetros de Montes Claros, a chorar sozinha escrevendo essas lembranças. Ah, tio Olyntho, sinto-me tão só! Os homens de minha vida se foram todos... Um após o outro. Meus três maridos, meu pai, padre Murta e, agora, o senhor... A vida não tem misericórdia alguma com nossa dor, com nossa saudade. Ela continua inclemente, com suas exigências. E, mesmo com o coração partido, o peito oprimido, as lágrimas contidas ou não, a caminhada prossegue. E, dentro de nós, a esperança do futuro reencontro... O Outono chegou. Belo Horizonte está linda, o clima adorável e as folhas cobrindo as calçadas, com as árvores se despindo e preparando-se para, de novo, se vestirem de verde e, na primavera, se cobrirem de flores. Lembro-me de quantas vezes na vida assisti papai olhando as árvores e me dizendo: “Assim somos nós, minha filha! As folhas todas vão caindo, pouco a pouco, para que a árvore se revista de folhas novas.” E, hoje, eu penso: tio Olyntho se foi. A última das velhas folhas. Daqui a algum tempo iremos nós, e nossos filhos e netos serão as novas folhas. E a árvore continuará de pé, assim espero. Volta-me à lembrança uma noite, no Automóvel Clube, num jantar festivo da Academia, presentes tantos entes queridos que já se foram como papai, tio Olyntho, Dr. Mauricim, Ulhôa, Corby e outros tantos, quando eu falei esse meu pobre poema: “Almas amigas de minh’alma, Único alento de meu caminho, Sereis um dia fotos amarelecidas No álbum de minha vida. Sereis nada mais que sombras e pó E eu continuarei a caminhar só Até que um dia eu mesma vá Descansar no seio da mãe-terra Ou então ao vosso encontro Em dimensões ignotas Que talvez vivam somente Em minha esperança... “ A Academia Montesclarense de Letras e o Instituto Histórico e Geográfico estão de luto. A família também. Mas, como todos os grandes homens, tio Olyntho deixa na História da cidade e de Francisco Sá os rastros de sua Luz. Viverá para sempre e não apenas em seus versos, tão cheios de beleza e filosofia, como em tudo que realizou e foi deixa um exemplo de grandeza, decência e honradez. Até mais, tio querido! Maria Luiza Silveira Teles

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