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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 23 de setembro de 2024
 

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Mensagem: “Problema social” em reprise

Waldyr Senna Batista

Latente há muito tempo, eclodiu agora de vez a manifestação de desagrado dos vendedores ambulantes por estarem impedidos de atuar no centro da cidade, com carrinhos de mão e bancas sobre os passeios estreitos, que mal suportam a movimentação de pedestres.
É a história se repetindo com os mesmos personagens, sob os piores augúrios.
Deve estar viva na memória da população a vergonhosa situação que predominou por quase vinte anos na praça Dr. Carlos e no entorno do antigo mercado, na rua Cel. Joaquim Costa. Essas áreas foram conflagradas por camelôs, numa aglomeração que depunha contra os alegados foros de civilização da cidade.
Esse espetáculo degradante surgiu no início da década de 1980, quando se instalaram na praça as primeiras bancas. Na verdade, a horda avassaladora começou com um carrinho de madeira transformado em vitrine, em que se vendiam guloseimas em frente ao local onde está hoje a sede da Copasa, ponto no qual o comerciante Geraldo Clemente Moreira estava estabelecido com uma lanchonete. Ele se incomodou com a presença do concorrente praticamente à sua porta e se dirigiu à redação do “O Jornal de Montes Claros”, nas proximidades, para registrar reclamação. Não foi atendido pela prefeitura e voltou ao jornal várias vezes para renovar seu queixume. Em vão. Depois de certo tempo, em vez de um carrinho, já havia ali mais de uma dezena deles, num crescendo que já preocupava.
Um repórter do jornal, aproveitando entrevista coletiva que o então prefeito Luiz Tadeu Leite concedia em seu gabinete, semanalmente, interpelou-o sobre a questão, que contrariava as posturas municipais. E ele respondeu que nada faria para erradicar a prática, que, no seu entendimento, era fruto do desemprego, pelo que coibi-la seria “criar um problema social”.
O tempo passou, os prefeitos se sucederam, o empresário Geraldo Clemente Moreira fechou sua lanchonete e mudou-se de Montes Claros, enquanto a ocupação da praça Dr. Carlos alcançava proporções catastróficas. A área virou um pardieiro,transformando-se, de fato, em problema social gravíssimo. Não para os camelôs, que continuaram multiplicando-se como formigas, mas para a cidade, que se privava do seu espaço mais nobre. Não havia perspectiva de solução.
Mas ela veio na administração do prefeito Jairo Ataíde, que construiu o prédio do “shopping popular” no chamado “cimentão”, vizinho à praça, e para ali transferiu os camelôs, que passaram a ter condições dignas para trabalhar. Além disso, em uma das laterais da praça de esportes foram construídos quiosques para acolher os camelôs que interrompiam a rua Cel. Joaquim Costa. Tudo sem conflitos. Com esses empreendimentos e a reconstrução da praça Dr. Carlos , o problema de saneamento do centro da cidade foi solucionado: “Camelôs, nunca mais” – foi o título de texto publicado nesta coluna para comemorar o acontecimento.
Porém, a realidade seria outra, pelo que se tem visto ultimamente, em manifestações de protesto de grupos de vendedores “ambulantes”, que cobram do (de novo )prefeito Luiz Tadeu Leite o cumprimento de promessa eleitoral para lhes abrir espaços no centro da cidade. As manifestações estão centradas especialmente na repressão exercida pela fiscalização da prefeitura, que, acertadamente, não permite a fixação dos vendedores de frutas na área central. Eles têm de se locomover, ambulantes que são.
Ninguém da prefeitura , até agora, veio a público para formalmente desmentir que tenha havido a alegada promessa eleitoral. E só a hipótese de ela ter sido feita indica que pode estar em curso nova temporada de ocupação desvairada para tumultuar o já desorganizado centro da cidade. O que se tem é declaração divulgada na imprensa local, atribuída ao secretário de serviços urbanos, João Ferro, dando conta de que ele estaria propenso a definir área, não se sabe ainda onde, para nela concentrar os vendedores de frutas. Uma medida que se supunha adequada ao mercado municipal, construído com essa ( entre outras ) finalidade.
Se verdadeira a espantosa ameaça, fica o registro de que a tragédia começa a ser reescrita, e o final dela todo mundo sabe. Inclusive o (de novo) prefeito, de quem se espera que não venha a alegar ameaça de “problema social”. Desta vez a cidade não pode transigir.

(Waldyr Senna é o mais antigo e categorizado analista de política em Montes Claros. Durante décadas, assinou a ´Coluna do Secretário´, n ´O Jornal de M. Claros´, publicação antológica que editava na companhia de Oswaldo Antunes. É mestre reverenciado de uma geração de jornalistas mineiros, com vasto conhecimento de política e da história política contemporânea do Brasil).

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