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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 24 de setembro de 2024
 

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Mensagem: Era feliz e sabia Alberto Sena* Houve um tempo em que eu encontrava comigo mesmo em todas as esquinas de Montes Claros. Não sou saudosista, aviso logo. Simplesmente, vivi aquela época, década de 1960, e era feliz. Era feliz e sabia. A Rua Doutor Santos era a principal da cidade. Nela ficava (ficava) uma casa antiga sede da redação do “O Jornal de Montes Claros”. Comecei a trabalhar no jornal dirigido por Oswaldo Antunes e Waldyr Senna, que, não por acaso, é meu irmão; dos homens, o primeiro. Mas ele nada teve a ver com a minha ida para o jornal. Aliás, para ele foi surpresa. Para mim, muita emoção. Se me dão licença, conto como foi em rápidas pinceladas, como diria o genial Pablo Picasso. Contei no texto anterior que a sapataria de Tião Boi, na Rua Presidente Vargas (e não Rua Benedito Valadares – obrigado Augusto Vieira pela correção), era o centro do universo. Um dia, cheguei lá, de manhã, para assinar o ponto e eis que encontro Geraldo Gomes (por onde será que ele anda hoje?), repórter do Mais Lido, alcunha do “O Jornal de Montes Claros”, cobrindo o setor de Esportes. O Gomes disse-me que estava me esperando, tinha as malas prontas, ia se mudar para Belo Horizonte e precisava arranjar substituto no jornal. “Conversando com Tião Boi, ele sugeriu você para me substituir” – disse-me Gomes. Fiquei estupefato, mas sem deixar transparecer ao amigo. “Vamos ao jornal que vou apresentá-lo ao Waldyr”, convidou-me, de certo modo, gracejando. Fomos. Lá chegando, naquela casa velha que, se não me engano, era propriedade de Luiz de Paula Ferreira, Gomes me recomendou ficar na ante-sala, enquanto ia avisar ao Waldyr: “Trouxe o meu substituto”, disse ele. E Waldyr respondeu: “Então mand’ele entrar”. Entrei. “Você?!”, ele ficou deveras surpreso. Não imaginava que eu, aos 17 anos, estivesse ali para seguir as pegadas dele no jornalismo. Feitas as apresentações de praxe, Geraldo Gomes me deu a primeira orientação que sigo até hoje: “Você joga futebol (jogava no “time de Bonga”, o famoso juvenil do Casimiro de Abreu com um ‘s’), então faça o seguinte: pegue caneta e papel, anota os lances mais importantes do jogo, e logo que a partida acabar, você sai fazendo a matéria na cabeça; quando chegar à redação do jornal é só escrever”. Por ali, por aquela casa antiga, em cuja garagem morou o ex-escravo Tuia, numa casinha azul de madeira feita especialmente para ele, vários aprendizes, hoje grandes profissionais, passaram. A maioria ainda vive: Lazinho Pimenta, Theodomiro Paulino, Haroldo Lívio, Flávio Pinto, Robson Costa, Carlos Lindenberg, Robério Antunes, Humberto e Adalberto Versiani, Paulo Narciso, Adroaldo,Waldemar Brandão, Itamaury Telles, Reginauro Silva, entre outros. “O Jornal de Montes Claros”, que ainda continua vivo na lembrança, com o tempo sedimentou a fama de “escola de jornalismo”, nas redações dos grandes jornais, principalmente no “Estado de Minas”, onde por vários anos trabalhamos juntos: Robson Costa, Carlos Lindenberg, Fernando Zuba e Paulo Narciso. Naquela época, diria sobre Montes Claros, Robson Costa, se vivo fosse: “a cidade era bem mais tranquila”. Responsável pelo noticiário de polícia do Mais Lido, Robson diria, certamente: “ladrão era amigo do alheio e fugia em desabalada carreira”. O jornal era, enfim, uma espécie de trincheira, sem dúvida, responsável por induzir grande parte do progresso que a cidade alcançou. Exercia forte influência política. Lutou pela Sudene, pelo Distrito Industrial, pela Barragem do Gurutuba, pelo Projeto Jaíba, pela educação etc. Cumpriu o papel de praticar o bom jornalismo. A Rua Doutor Santos era uma espécie de passarela de jovens bonitas. Da porta da casa velha onde funcionou a redação flertávamos moiçolas, cada uma fazendo mais questão do que a outra de esbanjar beleza e charme, vestindo shorts ou minissaias tão em voga naqueles tempos. Tempos em que as desavenças eram resolvidas, senão pelo diálogo, no máximo, no tapa. Só de vez em quando tombava alguém, quando a família dos Mió resolvia dar cabo de um dos parentes. Então o cadáver era levado para o necrotério de Leonel Beirão, onde “dr. Lessa”, que fazia vezes de médico legista, realizava a necropsia. Para lembrar o quanto era interessante viver em Montes Claros daquela época, o mais excitante, o mais emocionante, era quando corria o burburinho pela cidade que naquela noite haveria refrega entre as turmas de “Gerinha Português” e “Gêra do Morro”. O “’Português”, tal e qual galinho Garnisé, era o terror. O outro carregava fama de capoeirista. Essas refregas eram notícia de jornal. De vez em quando pipocavam tiros para o alto, mas ninguém saía ferido. Não era como as brigas atuais, quando Montes Claros quase todo dia lamenta o assassinato de alguém. E no caso dos ladrões, os de hoje não fogem em “desabalada carreira”, mas em alta velocidade, de motocicletas, com a cara escondida dentro do capacete. * Jornalista

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