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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 27 de outubro de 2024


Manoel Hygino    [email protected]
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Por Manoel Hygino - 23/10/2024 09:40:22
O Brasil, hoje

Manoel Hygino

Primeiramente foi o Helene, um furacão que inúmeros estragos causaram aos Estados Unidos. Depois, o mais recente, o Milton e tampouco deixou de provocar danos imensuráveis. O olho foi à costa Leste. Que ele não voltou para nós, que já sofremos enormemente neste 2024 –- com a devastadora destruição de imensas regiões gaúchas. Depois, o desastre interminável de incêndios e queimadas em extensas regiões – do Amazonas ademais biomas de enorme importância para o país.

Em seguida, as enchentes no interior dos estados, antes atingidos por chamas, fumaça intensa e calor acima dos níveis já elevados de anteriores anos. A natureza está revoltada, enfurecida. Tempestades mais? Simultaneamente, a guerra sem fim entre países do Oriente Médio, com intervenção de grupos terroristas e por quem precisa defender-se.

Mas quem se dá ao prazer ou luxo de acompanhar os acontecimentos no país pelos veículos de comunicação se assusta (ou não mais se assusta com a infinidade de pessoas e organizações que se esmeram em ações de dar prejuízos aos demais, usando artifícios e instrumentos de toda natureza). Nem falo do incerto, com extenso grupo de aventureiros e marginais que atuam no campo da exploração mineral, nas áreas de garimpo. Estou lendo que um grupo indígena de Nazaré, simplesmente assassinou mais quatro pessoas em sua área de ação criminosa, com 68 mil hectares. Todo o imenso território da Amazônia está infestado de bandidos que fazem papel de bons moços.

Nas cidades disseminadas pelas regiões da nação, surgem também os chamados influenciadores, cujo propósito é aproveitar-se da ingenuidade de muitos para se completarem. Sem esquecer os marmanjos, até com décadas de vida, que estão utilizando de toda espécie e até de religiões para praticarem o mal contra menores e mulheres, a despeito das medidas determinadas pelo poder público.

Haja cadeia! Porque se há de destinar mais espaço para prender criminosos de toda origem e com toda modalidade para crimes até hediondos.

Mas temos de concordar com Roberto Brant, com referência à hora difícil que vivemos e suas causas: “Desde 1980, o Brasil tem sido um país de crescimento medíocre e cada vez mais desigual. 45% de nossa população vivem com até dois salários mínimos e somente 22% vivem com renda superior a cinco salários mínimos. Sob qualquer perspectiva não somos um caso de sucesso. Nossa renda por habitante hoje é igual à que tínhamos em 2013. Não é preciso dizer muito mais”.


87177
Por Manoel Hygino - 22/10/2024 08:59:59
Em favor da criança

Manoel Hygino

A Santa Casa é tradicional no atendimento de casos raros de pediatria. Lembra-se o exemplo do sociólogo Betinho, que se descobriu portador de hemofilia, bem como o irmão, o celebrado cartunista Henfil, que vieram de Bocaiuva para Belo Horizonte em busca de solução do desafio à não coagulação de sangue, como o herdeiro do trono russo, Alexei.

Os tempos passaram, não os problemas. Pensando nisso, a instituição, líder no país, acaba de criar um serviço especializado em Hematologia Pediátrica e Transplante Pediátrico, destinado a pacientes infanto-juvenis. Até recentemente, uma equipe mista atendia adultos e crianças, mas agora há uma equipe exclusivamente composta por hematologistas pediátricos, permitindo transplantes no gênero, quando já se realizam cerca de 12 procedimentos por ano.

Os leitos do transplante pediátrico contam com ambiente lúdico, acolhedor e especialmente projetado para crianças, inspirado no “espaço sideral”, paredes decoradas com figuras de astronautas, planetas e estrelas, rompendo com o estereótipo hospitalar e ajudando a minimizar o impacto emocional da internação.

O provedor Roberto Otto Augusto de Lima assistiu ao ato inaugural e conduzido pelo assessor de Relações Institucionais Luiz Antunes, presentes os diretores da instituição, Cláudio Dornas e Carlos Renato Couto, além da superintendente de Relações Institucionais, Raquel Ratton; a gerente de Governança Clínica e Transplantes, Sonale Oliveira e Thaís Azevedo; além da coordenadora da Hematologia Pediátrica, Dra. Raquel Neves, e toda a equipe médica.

Destaque para a presença dos deputados federais, Diego Andrade e Mário Henrique Caixa, que desempenham papel fundamental como "Guardiões dos Transplantes" no projeto "Guardiões da Saúde" – iniciativa da Santa Casa BH que aproxima os parlamentares da instituição e assegura aperfeiçoamento e ampliação nos serviços.

No evento, a Dra. Raquel Neves destacou que, com a criação da nova equipe, a Santa Casa BH se torna o único hospital 100% SUS em Minas Gerais a ter uma equipe transplantadora composta exclusivamente por hematologistas pediátricos, assegurando um atendimento altamente especializado e humanizado para crianças e adolescentes.


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Por Manoel Hygino - 19/10/2024 07:12:12
Ainda obesidade

Manoel Hygino

Ninguém deseja ser barrigudo ou ter sobrepeso. A estética existe poderosa na cabeça do ser humano, não se pode negar. Por outro lado, é uma questão de saúde e a obesidade é causa de numerosos males que a Medicina busca eliminar. A questão, contudo, não é apenas dos médicos, que sempre procuram evitar consequências danosas.

O desafio dos pacientes que passam por cirurgia bariátrica é flagrante aos olhos e nas preocupações cotidianas. Realizado o procedimento, o cidadão começa a recuperar peso novamente. Acompanhando o fato, o cirurgião Bruno Cortes Gonçalves, aluno do curso de doutorado da Faculdade de Saúde Santa Casa BH, com colaboração dos demais médicos e equipe multidisciplinar do Ambulatório de Obesidade, projetou um inovador aplicativo, agora denominado Baritrip.

A proposta foi experimentada, deu certo plenamente, tendo o dr. Bruno Cortes Gonçalves recebido o Prêmio Dr. Thomaz de Aquino Borges Cordeiro, durante o XX Congresso Mineiro de Endocrinologia e Metabologia. Endocrinologista e coordenadora do Ambulatório de Obesidade Clínica da instituição, a médica Cláudia Maria Vieira, que participou do projeto, declara que o Baritrip já demonstrou o seu valor ao oferecer suporte contínuo tanto no pré quanto no pós-operatório.
“Em um cenário onde muitos aplicativos de saúde carecem de validação, o Baritrip se destaca por ter sido cuidadosamente desenvolvido e validado por especialistas e pelos próprios pacientes, avaliando e contribuindo para a construção da ferramenta, atingindo um Índice de Validade de Conteúdo (IVC) de 0,99 - índice que mede a concordância entre especialistas sobre a relevância de cada item. É calculado pela proporção de itens considerados relevantes pelos especialistas”.

O Baritrip reúne conteúdos clínicos e educativos de diversas áreas da saúde, promovendo um acompanhamento integral e personalizado aos pacientes. A funcionalidade e usabilidade do aplicativo chamaram a atenção no Congremem, sendo descrito como um marco importante no avanço da mHealth (saúde móvel) no Brasil.

Dr. Bruno Cortes Gonçalves, idealizador do projeto, destaca a importância do reconhecimento e os planos de expansão.

Para o professor da Faculdade de Saúde Santa Casa BH, Dr. Alexandre Moura, o desenvolvimento do aplicativo é fruto de um esforço coletivo. “Estou orgulhoso de ter orientado o Dr. Bruno neste projeto de doutorado. É gratificante ver o impacto positivo do uso do Baritrip pelos pacientes do nosso Ambulatório de Obesidade. O futuro é promissor, e continuaremos firmes no propósito de oferecer soluções que melhorem a qualidade de vida das pessoas”.

O Baritrip foi apresentado no 36º Congresso Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia – CBEM 2024, que ocorreu em Recife de 11 a 15 de outubro de 2024.


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Por Manoel Hygino - 16/10/2024 09:31:40
Um sólido sucesso

Manoel Hygino

Os que nos devotamos ao sagrado direito – e dever de escrever para a Imprensa - nos sentimos recompensados ou premiados quando constatamos o sucesso de iniciativas e projetos que aprovamos e resultam positivos. No mundo repleto de desacertos, incompreensões, inveja e rivalidades múltiplas, é comum e notório que mais se registrem os fracassos.

No entanto, desvanece e estimula verificar que conseguimos êxito em planos e empreendimentos pelos quais nos batemos ardorosa e confiantemente. Eis o que sentimos ao verificarmos o almeijado desenvolvimento que cerca e coroa planos longamente sonhados e arquitetados, sobretudo quando se trata de bem servir ao próximo, à comunidade a que nos achamos integrados.

Refiro-me ao CIEE/MG, cujas alicerces e construção acompanhamos, há anos, com o interesse dos pais com o futuro dos filhos. Naquele princípio não eram muitos os que devotavam amor à causa, até porque não suficientemente conhecida. Rapazes e moças se formavam, venciam um período valioso de suas existências em ofícios e habilitações. De uma hora para outra, constatavam que – concluído aquele período básico indispensável – quedavam sem maiores perspectivas de ingressar no mercado de trabalho. Nada pior para quem terminara um ciclo imprescindível ao exercício de um programa de vida.

O ideal de criação de uma entidade como o CIEE num primeiro instante parecera sonho, até porque o estado e a nação, os municípios, passavam por fases preliminares de evolução e afirmação. O Centro de Integração Empresa-Escola desembarcou em Minas Gerais sob os melhores e mais saudáveis auspícios. Aqui encontrou mais do que boa vontade e simpatia, porque se operava para deslanchar um processo que muito representaria para a sociedade, sobretudo num dos maiores estados do país, com alto potencial de matéria prima, com uma rede rodoviária de dimensões adequadas, com suporte favorável de energia, com um povo disposto ao trabalho e à produção.

O Centro de Integração Empresa-Escola de Minas Gerais surgiu exatamente na maior oportunidade ao desenvolvimento regional e nacional, contando com os mais jovens dispostos a dar contribuição ao progresso, evidentemente aliado à afirmação pessoal e profissional. O CIEE/MG demonstra, há bem tempo, a que veio e porque veio. Muito tem feito para consumação de seus projetos, a que nos integramos, desde um primeiro instante. E há muito mais a fazer, para satisfação e júbilo de todos nós, da primeira hora e minuto.


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Por Manoel Hygino - 12/10/2024 09:08:23
Seca no Sertão

Manoel Hygino

Eis outubro, extremamente quente, aguçando a necessidade de que a chuva, tão longamente esperada, não mais demore. Vivemos um dos anos de maior calor em dezenas de anos, no Norte de Minas, na região do Rio Verde Grande, no Noroeste, pelas bandas do Jequitinhonha. Os moradores das cidades e dos campos rezam e estendem olhos distantes à busca de um sinal de água que caia do céu.

José Ponciano Neto, homem de ontem, sertanejo de hoje, especialista em acompanhar mudanças climatológicas, recorda tempos semelhantes, idos e sofridos. Período que exigia fé, em Montes Claros, penitências e procissões que percorriam longas distâncias até o alto do morrinho, onde estão hoje as torres de transmissão das rádios do jornalista e advogado Paulo Narciso, que captam e ampliam a súplica para que o sertão não seja olvidado das benesses das chuvas.

Senhoras e mocinhas, idosos e rapazelhos, se juntavam em lugares predeterminados e sabidos para a caminhada até o pé do cruzeiro, no ponto mais elevado. Avultava o número de pessoas, gente humilde no decorrer do percurso, de terra aquecida pelo calor solar.

Os mais antigos contavam a guisa de estímulo que, depois dos difíceis períodos de estiagem dos anos 30 e 50 veio a temporada saudável das chuvas, que enchiam os reservatórios e de fé as boas almas que criam em Deus. As orações eram um coro, crianças à frente dos adultos. Muitas vezes, antes de completar-se a novena da fé, a chuva caía.

Os peregrinos, convictos fiéis, carregavam nas mãos, latas e potes de barro com água e flores, pedras na cabeça e ramos de mato e capim, e a imagem da padroeira do Brasil. Houve uma vez em que, alcançando o alto do morro e começando as cantigas, desencadeou-se a protofonia de trovões seguida de ventania, com ventos muito fortes e gelo, obrigando os crentes a se abrigar, em algum lugar e da melhor maneira possível. Estava iniciado o tempo das chuvas. Naquele ano, os produtores rurais rezaram em agradecimento pela fartura de milho, feijão, arroz das baixadas e bois gordos. Para muitos, a fé está acabando e há os profetas da seca, que torcem para não chover. E há chamas por todos os lados e criminosos incendiários. Até quando?

A igrejinha foi construída, com muito sacrifício, por Dona Germana, procedente de Minas Novas, falecida em 15 de janeiro de 1902, tempo de chuva e esperança.


87172
Por Manoel Hygino - 9/10/2024 08:39:45
Nossos magistrados

Manoel Hygino

A Amagis dá sequência a uma esplêndida iniciativa, com a publicação do Volume II, contendo o relicário da vida de 18 magistrados que deram ênfase e grandeza ao Poder Judiciário mineiro, em seus 150 anos. E dá destaque à participação feminina nesse afã, com o belo artigo da Dra. Daniela de Freitas Marques, juíza do TJMG e professora da UFMG. É uma reflexão que merece ser lida.

A capa contém foto de Cecília Pedersoli, do sobrado setecentista que inicialmente sediou o Tribunal de Justiça do estado e cuja pintura original é de autoria do desembargador José Marcos Rodrigues Vieira, da 16ª Câmara Civil Especializada, valendo o esforço da edição para responder pela relevância do poder em Minas. Tudo muito belo, correto e justo.

Exalta-se, em quase noventa páginas, bem ilustradas com as fotos dos homenageados, a figura e a personalidade de cidadãos que enalteceram a nobilíssima missão de julgar. São artigos assinados por sucessores não menos ilustres.

O mestre João Martins de Carvalho Mourão é focalizado por Rogério Medeiros Garcia de Lima; Alfredo de Araújo Lopes da Costa por Evandro Lopes da Costa Teixeira; Nísio Batista de Oliveira por Marcos Henrique Caldeira Brant; Nelson Hungria Guimarães Hoff Bauer por Hermes Vilchez Guerrero; Antônio Martins Vilas Boas por Alberto Vilas Boas e Luiz Gustavo Villas Boas; Antônio Carlos Lafayette de Andrada por Doorgal Borges de Andrada; José de Assis Santiago e Sérgio Lellis Santiago, uma história de família, por Alexandre Quintino Santiago.

E mais: Olavo Bilac Pereira Pinto por Olavo Bilac Pinto Neto; Edésio Fernandes, por Cândido Luiz de Lima Fernandes; Ruy Gouthier de Vilhena por Francisco Albuquerque; Adhemar Ferreira Maciel por Gláucio Gonçalves; Márcio Aristeu Monteiro de Barros por Itelmar Raydan Evangelista; José Guido de Andrade por José Tarcízio de Almeida Melo; José Arthur de Carvalho Pereira, por José Arthur de Carvalho Pereira Filho; Sálvio de Figueiredo Teixeira por Gustavo Cheik de Figueiredo Teixeira; Paulo Geraldo de Oliveira Medina por Joaquim Herculano Rodrigues; e Herbert José Almeida Carneiro por Thiago Pires Silva Carneiro.

Pelo que se constata, um time de dezoito players, que dignifica a magistratura. Ao final da redação preconizada, ter-se-á um compêndio, que muito retrata a Associação e os que produziram tão expressiva retrospectiva da magistratura em um estado que tem muito a contar nesse preciso rol.

De todos os que se foram, guardei o pensamento de um autor, com relação ao que já se despedira: “Sua partida representou a perda de um colega, de um amigo, mas, acima de tudo, de um Juiz que soube viver e honrar sua toga, deixando um inesquecível legado a nos servir de inspiração”. A publicação foi apresentada pelo JD Luiz Carlos Rezende e Santos, presidente da entidade.


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Por Manoel Hygino - 5/10/2024 07:06:45
A cabeça do herói

Manoel Hygino

Decidira a capital mineira erguer uma estátua em honra e louvor a Joaquim José da Silva Xavier, em local a se escolher que fizesse justiça ao protomártir. O tempo era curto e o prefeito, nascido em Divino de Carangola, na Zona da Mata, incumbiu o seu chefe de gabinete de adotar as medidas próprias. O titular do cargo era o signatário deste comentário e o então alcaide, o advogado Amintas de Barros, alvo de permanentes críticas.

Após consultas à vereança, definiu-se o local: avenida Afonso Pena com avenida Brasil, cruzamento de várias vias. Saiu-se em busca de um escultor que projetasse a estátua e, como Amintas tinha interesses junto aos sacerdotes do alto do Carlos Prates, vi-me na contingência de ouvir os sacerdotes da Igreja Padre Eustáquio, reverência compreensível. Indicou-se um artista de Mogi, SP, holandês é claro, com quem se fixaram pormenores sobre a missão.

Aí demos conta de que não bastava o corpo propriamente dito, porque era imprescindível construir a cabeça do herói. Em primeiro lugar, teria obrigatoriamente de ser consentânea, em termos de dimensões, com as demais peças de bronze. E mais: com barba ou sem barba?

Buscou-se um modelo, mas se sabia que a cabeça do herói, levada do Rio de Janeiro, no final do século XVIII, para a então Vila Rica e afixada num poste de praça, simplesmente desaparecera. Dever-se-ia apelar para outro meio. Um deles foi o protótipo existente em frente à Câmara dos Deputados na antiga capital. Assim se fez: enquanto se construía a base do monumento por aqui, o escultor desenvolvia o esboço da cabeça em São Paulo. Depois se uniram as partes, para se chegar ao que hoje está exposto em Beagá. O dever estava cumprido, mas se reconhecem as imensas dificuldades para se alcançar o objetivo.
Ao estudioso incansável do tema, Ricardo Giannetti, muito presentemente de crédito seu há a atribuir, porque a cabeça de Joaquim José está cercada de enigma. Um artista se destaca: Leopoldino de Faria, nascido em Campos, RJ. Giannetti registra que foi ele o artista que idealizou e compôs, pela primeira vez, a figura de Tiradentes, em pequeno estudo que figurou na Exposição Geral de Belas Artes, em 1876, no Rio, em pleno curso do Segundo Reinado. Leopoldo o anotou: “Foi muito difícil improvisar na minha palheta as tintas para patentear a vossos olhos a triste verdade histórica. Fiquem, pois, gravados em vossa memória os mártires de 1792, e transmita aos vindouros como dívida sagrada, que no pó dos anos existia olvidada”.

O mesmo dirá com relação a Ricardo Giannetti, que muito fez para recuperar a figura do herói, como nós vemos em praças, museus e exposições. A ele se atribuem outros importantes estudos.


87163
Por Manoel Hygino - 2/10/2024 08:50:30
Hora de transplante

Manoel Hygino

Está na manchete, em setembro, de um dos jornais diários de Belo Horizonte: “Aumentam os transplantes em Minas Gerais, mas ainda há 8 mil na fila”. Informações que alentam os enfermos que necessitam desse tipo de procedimento cirúrgico e, simultaneamente, atiram uma pá de cal sobre a expectativa, porque a demanda é, em realidade, grande.

No entanto, a extensão da fila constitui uma demonstração inequívoca da confiança que a população hoje deposita no sistema de saúde brasileiro, em competentes médicos e demais profissionais da área. Não estamos mais no tempo daquele cirurgião inglês que ganhou natural projeção internacional ao fazer um transplante de coração na África do Sul. Ainda bem.

O médico Omar Lopes Cançado, diretor do MG Transplantes, que pertence à Fhemig, esclareceu: “No ano passado, nós batemos o recorde histórico de Minas Gerais em termos de doação para transplante. Em 2024, continuamos melhorando, e a nossa expectativa é que cresça cerca de 15%. Mas ainda é um número abaixo do que a gente gostaria, uma vez que as filas de espera ainda são grandes, especialmente para rins e córneas. A única maneira de conseguirmos diminuir essa espera é aumentando o número de doadores, para que possamos salvar mais pessoas que estão esperando”, explica Omar Lopes Cançado, diretor do MG Transplantes, que pertence à Fhemig.

E a histórica Santa Casa, com sua conhecida e reconhecida competência e solidariedade, está de plantão, principalmente após o SUS, e afiança que fará mais desses procedimentos neste 2024.

Só a Santa Casa BH, hospital de alta complexidade 100% SUS, de janeiro a agosto deste ano foram realizados 233 transplantes – 41 de rim, 30 de fígado, 16 de coração, 91 de medula óssea e 55 de córneas.

O médico Pedro Augusto Macedo, nefrologista e superintendente de Governança Clínica da Santa Casa BH, percebe um aumento no número de procedimentos. Ele considera que é possível melhorar. “Se a gente for olhar os dados do Ministério da Saúde, sobre Minas, vemos que, em relação a 2023, o aumento foi de apenas 4% no primeiro semestre”.

A instituição belo-horizontina de saúde, a primeira da capital, está trabalhando, mantendo-se em plantão permanente. Tem-se de fazer incessantemente a busca ativa de potenciais doadores. Quanto mais rapidamente se vencer esta fase essencial para que os pacientes voltem à vida normal. A Santa Casa BH é o principal hospital transplantador de órgãos de Minas e um dos maiores do Brasil.


87162
Por Manoel Hygino - 1/10/2024 08:49:10
Só perguntando

Manoel Hygino

A Associação Nacional dos Escritores, sediada em Brasília, promove uma série de palestras em seu auditório, desde 2018, seguidas de edição dos textos em livro na série “Quintas Literárias”, que atrai número expressivo de leitores. Na publicação mais recente, referente a 2023, manifesta-se Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque, engenheiro que foi senador pelo Distrito Federal, que responde à pergunta: penaria Cabral sobre o território que descobriu, terminando com a voz de Caxias, Nabuco, Deodoro, Rio Branco, Ulysses e Lula. Termina assim: “O governo Lula tem dado provas de boas intenções em relação à proteção ambiental, mas poderia apresentar as metas e as estratégias de um plano de desenvolvimento sustentável: o sistema industrial sintonizado com as tecnologias digitais e com o aproveitamento econômico e social de nossa rica diversidade”.

Proteger as florestas da Amazônia é pagar dívida do passado, agora é preciso dizer como usá-la com respeito, responsabilidade e sustentabilidade para eleger o bem-estar da sociedade brasileira e do mundo.

Não deve ignorar os erros e equívocos de governantes do passado, mas precisa apontar para a unificação do Brasil, social e política, mesmo com desigualdade e discordâncias.

Quando vamos, além do pagamento de dívidas e correção de erros do passado, marchar para o futuro, integrados e como exemplo para o mundo? Como fazer e em que prazo para colocar o Brasil entre os países com eficiência econômica, justiça social, democracia, liberdade, desenvolvimento sustentável, estabilidade monetária, respeitando as regras democráticas?

E agora, qual o rumo para o futuro, em um mundo globalizado, ameaçado pela fragilidade da democracia, a catástrofe das mudanças climáticas, por armas de destruição em massa, pelos riscos das tecnologias sem controle ético, e pelo avanço econômico com tanta desigualdade e pobreza ao ponto de quebrar o sentimento de semelhança entre os seres humanos?

Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque sugere: “Grandes problemas atuais são planetários e exigem soluções planetárias, tais como: migração, meio ambiente, pobreza, crimes financeiros e fiscais, circulação de fake news, comércio de órgão e de drogas ilícitas, lavagem de dinheiro, impacto da inteligência artificial. Lidar com esses problemas e projetos não é questão apenas de acordos internacionais entre países, mas de propostas internacionais para o conjunto dos países. Por isto, as decisões de cada país devem considerar os interesses dos outros. A diplomacia que servia para defender os interesses do Brasil contra o resto do mundo, agora deve cuidar também dos desafios da atual civilização-comum, com seus problemas transnacionais”.


87159
Por Manoel Hygino - 28/9/2024 07:22:56
A serviço da lei

Manoel Hygino

O nome de Carlos Mário da Silva Velloso está inserido na história do sistema jurídico brasileiro. Nascido em Entre Rio de Minas, em 1936, fez o ginasial no Colégio Santo Antônio de São João del-Rei, transferindo-se para Belo Horizonte em 1953. Passou pelo vestibular de Filosofia, mas sentiu ou percebeu que seu caminho e destino eram pelo Direito. E tem sido assim ao longo do tempo.

Em 1967, foi nomeado juiz federal no Estado, com a idade mínima à época. Reconhece que a Constituição de 1988 trouxe avanços, fortalecendo o Poder Judiciário e o Ministério Público, graças ao que a Carta se tornou “a mais democrática das Constituições que tivemos”. Devendo ela completar 36 anos em 5 de outubro, constitui motivo de orgulho de todos os que se devotam à lei e à justiça. Ex-professor da PUC-Minas e da UnB, por mais de 30 anos, aposentou-se, Carlos Mário, com mais de três décadas, como titular da UnB.

Embora aposentado na cátedra, Carlos Mário da Silva Velloso permanece em plena atividade em seu escritório de advocacia, cuja atuação se estende a todos os estados, à mercê do prestígio pessoal e do bom nome de seus colegas. Ele não vê problema com a judicialização do Brasil, pois a existência de 80 mil processos demonstra que o cidadão confia na Justiça.

Tudo leva a crer que assim continuará, pois as novas gerações de profissionais estão inteiramente cônscias de sua responsabilidade. Se há tão elevado número de processos, o que se deve fazer é ampliar o número de juízes, de modo a corresponder à expectativa e à confiança.

Em sua opinião: “O Ministério Público, com a Polícia Federal e Receita Federal, enfrentaram e investigaram a maior corrupção na administração pública brasileira, resultando em condenações. Casos e mais casos, com confissões e delações de dirigentes de empresas estatais e de servidores públicos e autoridades, com devolução de dinheiro aos cofres públicos, isto é, às vítimas, foram noticiados pela imprensa. A sociedade não se esquece e não pode se esquecer de tudo isto. De modo que vejo na operação que acabou denominada de ‘Lava-jato’, porque se iniciou num posto de combustíveis, em Brasília, algo muito positivo”.

O ilustre jurista é membro da Academia Mineira de Letras, mas também da Academia Brasileira de Letras e da Academia Internacional de Direito e Economia. Para ele, é de se realçar o Brasil ter cerca de 1.300 faculdades de Direito, número maior que de todas as congêneres do mundo ocidental. E na Mineira de Letras, já estão o desembargador José Fernandes, filho, e o ex-ministro da Justiça, Ibrahim Abi-Ackel.


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Por Manoel Hygino - 25/9/2024 09:35:07
O pleito municipal

Manoel Hygino

No turbilhão de opiniões e frases de efeito que se ouvem neste ciclo eleitoral, em que também se manifestam candidatos dos partidos sobre as dificuldades e problemas que avassalam o país de ponta a ponta, movidos por interesses inúmeros e nem sempre confessáveis, é grato saber que nem tudo está irremediavelmente perdido, ao sentir o calor e a sinceridade de brasileiros alçados a posições relevantes.

É o que se pode avaliar das palavras da ministra Carmen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TRE), que tem a grave responsabilidade de comandar o pleito do mês que vem. Em palestra na Pontifícia Universidade Católica de Minas (PUC), ela teceu considerações valiosas sobre a hora que vivemos, quando atormentados pela inclemência do clima e pela insanidade de alguns homens por aqui nascidos e realizados.

Após analisar a situação da mulher, pobre e desamparada dos poderes públicos, durante decênios, ela lembra a proibição de estudar dessa parte da população, situação não completamente superada ou equacionada.

Observou: “as tecnologias propiciaram outra forma de algemar as liberdades, induzindo pessoas a pensar o que não pensaram por conta própria, através de mentiras e desinformações. Às vezes, sinto que estamos saindo da Idade Média para a Idade Mídia, com pouca liberdade sendo oferecida”. Para a ministra, este é o “desafio de nosso tempo”, gravíssimo.

Evocou o ministro Sepúlveda Pertence ao julgar que as “eleições gerais são um passado, porque o problema são as municipais”. E explicou porque: “Não se brigava, não se matava, não tinha inimizade por causa de um presidente da República, de um candidato; mas é comum na história brasileira, infelizmente, que haja muita agressão e até violência, como nós estamos vendo atualmente, por causa do vizinho, que é seu compadre, candidato a vereador, e agora estão falando mal dele”.

Pelo que se tem, visto e conferido, para isso estão aí as rádios e televisões, assim as acusações e diatribes não se resumem as palavras. Tem-se visto de norte a sul, nos lugarejos e capitais.


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Por Manoel Hygino - 21/9/2024 07:03:28
Evocando o Serro

Manoel Hygino

As primeiras vilas surgiram em 1711: do Ribeirão do Carmo, hoje Mariana, Vila Rica, hoje Ouro Preto; Vila Real de Sabará. Em 1713, Vila de São João del-Rei; em 1714, Vila da Rainha, hoje Caeté; Vila do Príncipe, hoje Serro. Este recebeu terras de Sabará, que compreendiam todo o Norte da Capitania de Minas e São Paulo, com sede na Vila do Ribeirão do Carmo, como reconhecida em 1720 pela metrópole.

Pois, foi lá, no Serro de vultos insignes de Minas, que nasceu o filho de um imigrante italiano Pignataro, que – tão logo pôde – mudou o nome para João Pinheiro, brasileiro como ele pretendia ser desde que a família para a nação sul-americana se transferira.

Inquieto, não se acomodou onde lhe serviu de berço. Escapou a São Paulo e lá se diplomou em Direito, em 1887, na mais celebrada faculdade brasileira, no largo de São Francisco. De volta a Minas, tornou-se o principal chefe da propaganda republicana. Fundou o Partido e dirigiu o jornal “O Movimento”.

Passou à frente. Após exercer a presidência interinamente e por curto período, elegeu-se deputado à Constituinte de 1890/1891, deixando a política em 1893 para se dedicar a atividades industriais. Em 1905, elegeu-se senador e, em seguida, presidente do Estado, em 1906, faleceu em meio ao mandato.

Aristóteles Ateniense, de saudosa memória, num 16 de novembro, data de aniversário de João Pinheiro, fez um discurso em sua homenagem, evocando a seguinte reflexão em uma das paredes do sóbrio gabinete do chefe do Executivo estadual: “Amo a luta com vertigem. Gosto das dificuldades que desafiam a minha atividade. Sou fanático dos grandes obstáculos que exigem esforços supremos. O imprevisto me deslumbra e a necessidade das grandes ocasiões me fascina”.

No programa de governo de João Pinheiro, contudo, há mais que vale ser lembrado: “A escrupulosa gestão dos dinheiros públicos, a interna obediência às leis, o máximo respeito às liberdades do cidadão, o acatamento aos reclamos da opinião pública, a livre manifestação das urnas - são os fatores saudáveis onde o coração republicano bebe força e alento, para ser digno dos princípios que professa do ideal que ama. Com eles e por eles, o mais obscuro filho da livre terra de Minas Gerais apresenta-se às urnas com a alma cheia dos santos pensamentos, de cujas tradições de seu país e de seu glorioso destino”.

Outubro se aproxima. O sentimento de João Pinheiro, mineiro do Serro é perfeitamente válido. Não podemos repetir uma nação ao Norte, sofrendo os males antidemocráticos e os vícios da usurpação do poder.


87153
Por Manoel Hygino - 18/9/2024 08:48:57
Preparando 2026

Manoel Hygino

Contam-se quase nos dedos os dias que faltam para chegar as eleições municipais. Há uma intensa rede de pesquisas patrocinadas pelos partidos e seus candidatos para se conhecer os problemas e solução de mais demandas. Enfim, é um meio para chegar a amplas parcelas da comunidade e auscultá-las sobre suas necessidades. No entanto, a resposta não é das mais difíceis. Ela está nos buracos nas vias públicas, na dor que invade os lares e exige que o sistema de Saúde a solucione em curto prazo, no transporte coletivo que é dos mais críticos pelos que precisam de locomoção em cidades que não param.

E nem falamos em educação e segurança. Mas, segundo o jornalista e professor Aylê-Salassié Filgueiras Quintão, Lula está atento às idades dos competidores

Até o fim de agosto, eram 20 candidatos a prefeito municipal com mais de 100 anos. Acima dos 80 anos, autodeclarados, estão registrados candidatos com 87, 88, 96, 98 e suspeitos de mais de 100 anos. D. Salomé (Podemos), uma vovó saudável distinta de 92 anos, é candidata à prefeitura de Santa Cruz de Palmeiras, em São Paulo. Ainda entre paulistas, no município de Tanabi, d. Zulmira Miziara (96) quer demonstrar suas qualidades políticas adquiridas na militância passada do PCdoB. Supostamente, as portas do TSE estarão abertas para Lula, em 2026, quando ele estará completando 80 anos. O grande impasse poderá vir das minorias ativas e conscientes que estão chegando lentamente lá.

Mas há um mundão de dinheiro em jogo e as pessoas se informam pelo noticiário político pensando no que sairá do bolso do cidadão para o pleito deste ano.

Somados, desde a última eleição municipal, chega a R$ 80 bilhões o montante destinado via emendas parlamentares para os prefeitos dos 5.560 municípios brasileiros, e que serviram para alavancar as pretensões de reeleição de 2.873 prefeitos em exercício, alguns dos quais com contas pendentes nos órgãos de fiscalização do Estado. Foram valores (R$ 83 milhões, R$ 25 milhões...) elevados e variáveis destinados a um ou outro município, expondo uma dosimetria assimétrica invisível no destino desses recursos.

Esse dinheiro é sacado do cofre do Tesouro, via no Orçamento da União, rubricado como “emenda parlamentar”- senador e deputado - cujos valores, em sua maior parte, é transferido aos municípios, consequentemente aos prefeitos, pelo modelo “PIX”, em que o político padrinho da remessa faz o saque e a envia pessoalmente, sem a necessidade de dar explicações sobre a sua utilização. O Supremo Tribunal Federal despertou para o processo, considerando-o de “baixa transparência”. Mas ele está ainda presente. É difícil passar por cima das maquininhas trituradoras do dinheiro público.


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Por Manoel Hygino - 14/9/2024 07:09:21
Olhando o cérebro

Manoel Hygino

Belo Horizonte sediará, neste setembro, o XXXV Congresso Brasileiro de Neurocirurgia, o que constitui marco expressivo para a medicina. Em registro histórico, a escolha se fez por ser a Santa Casa BH o maior hospital do país em número de internações, o que lhe concedeu a oportunidade de ser a primeira instituição no gênero a utilizar o revolucionário microscópio cirúrgico digital Aesculap Aeos, tecnologia de ponta destinada a transformar a neurocirurgia, elevando ao máximo o padrão de excelência em atendimento.

O equipamento, que chegou à Santa Casa BH - hospital de alta complexidade 100% SUS - no mês passado, foi utilizado durante agosto permitindo a equipe médica da instituição realizar procedimentos pioneiros com a tecnologia inovadora. O Aesculap Aeos substitui a óptica tradicional do microscópio, em que o cirurgião precisa olhar diretamente pela lente, por exibição 3D em telão. Essa exoscopia, como é chamada pela fabricante, revoluciona a forma como as neurocirurgias são realizadas. Proporciona-se uma visualização detalhada e precisa do campo operatório, o que resulta em mais segurança e eficácia nos procedimentos.

Além disso, o microscópio proporciona mais conforto para o cirurgião, que não precisa manter cabeça e pescoço tensos no intuito de permitir a visão binocular e, principalmente, exibe uma visão de cada passo do procedimento cirúrgico. Este é exposto para toda a equipe na sala de cirurgia, tornando consequentemente, o equipamento de magnificação óptica ideal, segundo a gerente de produtos Neurocirurgia Aesculap da B. Braun, Aline Yoritomi.

A Santa Casa BH foi escolhida como pioneira no uso da tecnologia devido à excelência e relevância como uma das instituições de saúde mais importantes do país. Além disso, a parceria com os renomados neurocirurgiões da instituição, Dr. Bruno Costa, que presidirá o congresso, e Dr. Marcos Dellaretti que reforçou essa decisão. “O objetivo é permitir que os médicos da Santa Casa BH realizem procedimentos com essa nova tecnologia antes do grande lançamento, apresentando-a em primeira mão".

O Dr. Marcos Dellaretti relata que o treinamento para utilização do equipamento foi muito tranquilo. “A adaptação da equipe da Santa Casa BH ao microscópio foi rápida e intuitiva. Utilizamos o microscópio Aesculap Aeos em 16 procedimentos, e a expectativa é de que, até final do mês, realizamos entre 20 e 30 cirurgias com essa nova tecnologia. O equipamento se mostrou eficaz especialmente em microcirurgias, o que amplia consideravelmente nossas possibilidades de tratamento", ressalta o neurocirurgião.


87149
Por Manoel Hygino - 11/9/2024 07:57:31
Firme hora de agir

Manoel Hygino

É comovente a disposição de milhares de candidatos a prefeito e vereadores no pleito do mês que vem, desdobrando-se por meios múltiplos a contribuir ou resolver os problemas inúmeros, às vezes dificílimos, de seus municípios. No último 16 de agosto, começou oficialmente a campanha eleitoral, embora ponderável parcela se esforçasse, subreticiamente ou não, para conquistar votos em outubro, antes do período legal.

Já extinguira um valor destinado a colimado fim. Eram R$ 2 bilhões, formando o Fundo Especial de Financiamento de Campanha, instituído por força de lei. Aylê-Salassié Figueiras Quintão, jornalista e professor em Brasília observou que esse montante, se aplicado em Saúde, seria suficiente para construir 200 hospitais. É incontestavelmente, um valor expressivo, sobretudo quando estamos com um mundão de outros problemas a resolver e de saldos negativos a pagar.

Wilson Campos, advogado especializado com atuação em direito tributário, trabalhista, cível e ambiental, comentou: “A dívida pública brasileira chega a R$ 7,7 trilhões e deve aumentar até o fim de 2024. O governo federal gasta muito e gasta demais: a dívida do setor público, que engloba governo federal, estaduais e municipais e empresas públicas, já atingiu R$ 8,5 trilhões. Isso significa parcela do Produto Interno Bruto. A continuar assim, a dívida significativa e se torna impagável e o país vai quebrar. Enquanto isso, placidamente nos deparamos com um país inteiro de cócoras, com o queixo nos joelhos.

O próprio causídico considera que já está passando da hora de se adotar uma posição séria diante de uma situação séria, grave e agravante. Para ele, diante do preocupante cenário, “resta exigir que o país inteiro saia da posição de cócoras, levante-se e reaja, retorne o crescimento, cuide do meio ambiente, reduza a desigualdade, realize com justiça as reformas tributária e administrativa, tire o SUS da UTI financeira, incentive o agronegócio, invista em infraestrutura, reduza o déficit educacional, acabe com a queda de braços entre Executivo, Legislativo e Judiciário e reequilibre os Poderes da República, como cada um na sua respectiva função”.



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Por Manoel Hygino - 4/9/2024 09:05:02
Um aviso apocalíptico

Manoel Hygino

Os que viverem depois de agosto não esquecerão os incêndios que dominaram grande parte do território de vários estados no oitavo mês do ano de 2024. A propagação das chamas no período terá - as estatísticas oficiais confirmarão - alcançado os mais longos períodos e as maiores extensões de nossa história.

Não se tem, por motivos óbvios, uma ideia segura dos grandes prejuízos causados a nossa reserva natural, nem à fauna, em limites possivelmente jamais calculáveis. Se autoridades já medem, sim, os danos à produção agropecuária, inúmeros são os cultivadores da terra que sofrerão, e sofrendo já estão, com a destruição de suas áreas de produção.

Cidades de maior expressão populacional foram atingidas ou ameaçadas, os riscos e danos chegaram às capitais, numa inequívoca demonstração do mal a que estão sujeitas as metrópoles, a despeito de disporem de melhores condições de defesa do patrimônio público ou privado. Uma lástima!

No entanto, outra ameaça ronda o planeta e a humanidade, com o aumento do nível dos oceanos, impulsionado pelo o aquecimento em seu ritmo cada vez mais acelerado. O aumento das águas já se sente e se teme, com números e novas informações de entidades técnicas de prestígio e competência indiscutíveis.

A própria ONU se sentiu no dever de alertar as populações nacionais para os riscos que se avultam. Eles conduziram ao alerta do secretário-geral da ONU, António Guterres, que adverte para “um SOS para o aumento do nível do mar”. No aviso prévio, incluem-se os estados –membros do G20, integrado pelas vinte maiores economias do mundo.

A organização internacional chama a atenção que a ameaça se estende a quase 11 por cento da população mundial, cerca de 900 milhões de pessoas, número projetado para superar um bilhão até 2050.

Está em jogo o futuro da humanidade.

As tragédias anunciadas não constituem um jogo de palavras e de ideias mal concatenadas. Os incêndios desastrosos e o crescimento do volume das águas oceânicas são uma cruel realidade indispensável, porém, é a demonstração sobre o panorama- que se adjetivou de apocalíptico - abrangendo o planeta e as gerações que se estão formando.


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Por Manoel Hygino - 28/8/2024 09:50:25
A dívida de Minas

Manoel Hygino

É manchete quase todos os dias na imprensa de Minas Gerais: A dívida do estado chegou a R$ 165 bilhões e tem exigido esforços inauditos de todos os segmentos sérios da administração pública. Avultam as perguntas, a primeira das quais – como pagar?

Em julho, o estado entrou com medida no Supremo Tribunal Federal para assegurar prorrogação do prazo de homologação do seu Regime de Recuperação Fiscal, aliás deferido pelo ministro Nunes Marques. O novo prazo ficou estabelecido para 28 de agosto. Entretanto, o caso mudou novamente. O senado aprovou, por 70 votos a dois, o projeto de Lei Complementar 121/2024, do senador Rodrigo Pacheco, que cria um novo programa de renegociação de dívidas entre estados, Distrito Federal e União. O Propag - Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados.

À primeira vista, algo de bom: os estados poderão quitar as dívidas e somam mais de R$765 bilhões em até 30 anos, com juros reduzidos e transferindo ativos para a União, como forma de pagamento. A bola foi transferida à Câmara dos Deputados. No entanto, restam sempre indagações pertinentes, mais uma vez. A principal, que sempre intrigou os brasileiros de todos os estados, é a que a economista Eulália Alvarenga, especialista em dívida e gestão pública, tem formulado, sem nenhuma explicação ou argumento válido contrário: “Por que a União cobra juros, e elevados, dos estados, se ela não é banco? ”.

Minas é um dos entes mais endividados devido às desonerações da Lei Kandir, aprovada em 1996, que impôs aos estados, principalmente aos exportadores de produtos primários e semielaborados (minérios e agropecuária), a desoneração do ICMS as exportações de tais produtos para resolver um problema conjuntural (balança comercial e câmbio) do país, com a promessa de ressarcir futuramente os estados pela perda. “Mas esse ressarcimento não veio, o que impactou negativamente as contas e impediu a amortização da dívida”.

Segundo ela, até 2015, Minas perdeu R$135 bilhões com a Lei Kandir, valor próximo da dívida atual divulgada pelo estado. Poderia, segundo ela, ter sido feito um acerto de contas dessas dívidas, mas o estado assinou em 2020 um acordo com a União para pôr fim à disputa judicial em torno da Lei Kandir em troca de receber R$8,7 bilhões até 2037. Em resumo: “Essa dívida nem poderia existir. Ela já foi paga há muito tempo”.


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Por Manoel Hygino - 21/8/2024 09:14:19
Manoel Hygino:

Greta Garbo

Enganam-se, ou pecam por má fé, ou desconhecimento da realidade os que subestimam a importância dos grandes cronistas que produzem hoje para veículos de comunicação. O século XX e o que ora vivemos têm sido pródigos em valores que não se pode desprezar. Em verdade, o surgimento de novos instrumentos para tornar publicas ideias, pensamentos, juízos e sentimentos causou novas maneiras de expressão e novos contingentes de leitores ou interessados no que acontece se dizem atentos aos fatos e consequências. O mundo mudou muitíssimo nessa área de convivência humana. Novos autores entraram em cena e ganharam lugar ao sol.

Sempre se lembra de Machado, que permanece atual em opiniões e considerações. Mas, no século do fundador da Academia existiram numerosos autores que merecem distinção e atenção. Foram também bons e suscitam interesse que se deram ao cuidado e prazer da leitura de seus textos, dignos de aplausos da população que surgiu após seu tempo.

Neste vigésimo-quarto ano do século que caminha para sua metade posso afiançar que, entre os cronistas maiores do Brasil, presentemente, estão dois que escolheram a capital federal para residir. Ambos não nasceram ali. Um é de Minas Gerais, tendo berço da primeira vila, cidade e capital dos montanheses. Foi em Mariana que ingressou na vida, Danilo Gomes, cavalheiro que ama o Brasil e os brasileiros, jornalista que pertenceu ao Palácio do Catete e se transferiu para Brasília, quando JK a inventou; e Edmilson Caminha, cearense de Fortaleza e que acaba de lançar pela Vitalia Editores, “Greta Garbo”, quem diria, não morreu em Araxá”, com recentes artigos e crônicas.

São 30 temas formando a publicação com que se assinala o quadragésimo aniversário do primeiro artigo de Edmilson Caminha, quando tinga 12 anos, fazia a primeira série do ensino médio do Ginásio 7 de Setembro, em sua cidade natal. Escrevera-o a mão, em folha de caderno, pedindo ao pai para entregar na portaria do jornal.

Hoje, consagrado nacionalmente, como Danilo, Edmilson passou pelos três maiores meios de comunicação modernos, se fascina com a máquina de escrever e o desafio do texto, excelente como os deste volume, confirmador de elogios que a crítica, feito por outras obras. Vale a pena ler e conhecer o “Greta Garbo”!


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Por Manoel Hygino - 14/8/2024 08:49:40
Na América Central

Manoel Hygino

Com menos de 1 milhão de metros quadrados e mais de 30 milhões de habitantes, a Venezuela se torna a bola da vez das preocupações neste pedaço de tempo em que as nações latino-americanas entram em conflito interno em busca de solução para problemas que não são de hoje. Ademais, a briga pelo poder na América Central ganha atenção do mundo, dizendo que a questão da paz e da guerra não se cinge ao Oriente ou aos embates históricos da Rússia com seus vizinhos.

Na Venezuela, após a eleição de julho, Maduro - que poderia já ter caído da árvore nacional pelos quase 12 anos de regime imposto à população - persiste na sua voracidade por mais meia dúzia em novo mandato. Não importa que a oposição tenha outra versão. É indispensável manter a cadeira presidencial - com fins perfeitamente conhecidos da comunidade internacional.

Agora é a vez da Nicarágua, o maior país da América Central, com seus menos de 132 mil quilômetros, esforça-se, por um regime não democrático que se estende por dezenas de anos. A despeito da vontade popular, a nação permanece em ebulição, depois de 30 anos de gestão de Anastasio Somoza, substituído em família - de sangue e interesses escusos. Assassinatos se sucedem, o povo sofre e a luta interna não impede que os sandinistas façam intervenções em El Salvador.

O presidente, em nome de uma suposta paz regional, entra em cena, em meio aos percalços de intermediação no caso venezuelano. O presidente Daniel Ortega decidiu expulsar o embaixador brasileiro em Manágua, por não ter comparecido a comemorações da Revolução Sandinista na qual ele foi guerrilheiro.

A coisa não andava boa desde que as relações entre Brasília e Manágua entraram em colapso, em 2022, quando da prisão de bispos, e padres católicos pelo regime, o que levara ao congelamento das relações diplomáticas. O não comparecimento do diplomata Breno Souza da Costa, representante brasileiro na Nicarágua, foi considerado ato hostil.

O assunto não morreu aí. O Brasil, a sua vez, de expulsar a embaixadora nicaraguense Fulvia Patrícia Castro, que imediatamente arrumou as malas e regressou a Manágua. O governo brasileiro resolveu interromper as relações por um ano. Nos próximos dias, mais capítulos da novela serão mundialmente conhecidos. Quando do episódio envolvendo membros do clero católico, Brasília aceitou intermediar uma solução, mas Ortega se negou até a atender um telefonema de Lula, quando procurou este reforçar um pedido do próprio Pontífice, visando libertação dos presos.


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Por Manoel Hygino - 7/8/2024 09:35:02
Atentado à democracia

Manoel Hygino

O que escrevemos, principalmente para os periódicos do dia seguinte, enfrentamos dificuldades notórias para manter atualizadas as informações destinadas ao público, como no atual caso da Venezuela. Os acontecimentos evoluem em alta velocidade, enfrentando óbices de toda natureza para que conduzam a verdade. É a pior vantagem de que gozam os veículos eletrônicos que conquistaram milhões de pessoas em todo o planeta, acompanhando em tempo real os fatos.

No caso específico, o que se pode afirmar é que aquela nação vem enfrentando manifestações em todo seu território contra Maduro e seu governo, há anos, como se sabe, em que a oposição consiga vencer os obstáculos transmitidos por rádio, televisão, internet e redes sociais.

Desde Hugo Chávez, antecessor de Maduro, a situação luta pela aprovação de emenda constitucional que possibilitaria eleições sem limites de tempo para presidente, governador e prefeitos, tese muito conveniente para quem já ocupa a cadeira.

Como nos períodos pré-eleitorais anteriores, a oposição se ergue contra desde 2009. Os integrantes desse grupo, embora não muito coeso, estão dispostos a enfrentar a máquina governamental, principalmente representada pelas forças armadas e, milicianos em longa escala. O presidente chegou a admitir um banho de sangue nas ruas das principais cidades e nos seus conglomerados pobres, o que mais atemoriza a população, a que quase tudo falta mesmo à sobrevivência.

O Maduro insiste em mais seis anos de mandato, já que o segundo, o atual, exauriu-se. O órgão eleitoral anuncia a maioria governamental em julho passado; a oposição contesta com oficial apoio de nações democráticas; a imprensa nacional silencia, porque está sob severa censura.

Meio mês transcorrido da eleição, desde o princípio estigmatizada por suspeita de se falsear a vontade popular, o problema permanece à espera da solução, visto que o governo estabelecido não abre mão de fixar-se no poder por mais seis anos, desaquecendo a esperança e o otimismo em torno do rumo democrático, impregnado pela cultura da liberdade, pela integração latino-americana, para servir bem à modernização e ao progresso com a geral pacificação do hemisfério.



87132
Por Manoel Hygino - 31/7/2024 09:39:14
Outra vez Venezuela

Manoel Hygino

Transcorridas as primeiras horas e os dias pós-eleições na Venezuela, ficaram as perguntas que naturalmente surgiriam, considerado o ambiente no país. Afinal, quem venceu e quem perdeu? O Conselho Nacional Eleitoral informava que Nicolás Maduro, presidente em exercício, alcançara 51,2% dos votos; Maria Corina Machado, líder da oposição (que não chegara sequer a ser candidata), dava sua versão: Edmundo González, do outro lado do pódio obtivera 70%.

Corina Machado não titubeou: afirmou possuir informações e atas que comprovam a vitória de González, mas o resultado oficial impõe a recondução de Maduro para mais seis anos de mandato, de janeiro de 2025 a janeiro de 2031, ainda que em meio a críticas internacionais sobre a legitimidade do processo.

O mundo, que observa a situação na Venezuela desde a época de Hugo Chavez de antemão achava que o pleito era jogo de cartas marcadas. Mas há muitos e muitos anos, vinha sendo assim e se admitia, quem sabe? – que desta vez, a situação seria outra e a oposição poderia achar caminho.

Aliado, o presidente da Bolívia, Luis Arce, parabenizou Maduro e celebrou a “vontade do povo”. O ministro das Relações Exteriores da Colômbia, Luis Gilberto Murillo, pediu uma auditoria dos resultados. O presidente do Chile, Gabriel Boric, declarou que seu país não reconhecerá resultados não verificáveis; a China, como se esperava, felicitou Maduro e destacou a parceria estratégica.

Costa Rica e Estados Unidos expressaram preocupações sobre a transparência do processo eleitoral e o secretário de Estado do Tio Sam enfatizou a necessidade de uma contagem honesta e transparente de votos.

Curiosa a posição do Chile, cujo presidente é socialista: “É difícil crer nos números anunciados por Caracas”. Ele exige transparência no processo de apuração dos votos e a participação de observadores internacionais “não comprometidos com o governo”, terminando por afirmar que seu país “não reconhecerá resultados não verificáveis”.

Venezuelanos em Brasília manifestaram desejo de mudança com as eleições. Entre eles, o jornalista Manuel Quilarque, que viajou de São Paulo à capital federal, para depositar seu voto. Declarou: “Estamos muito esperançosos para recuperar a liberdade em nosso país”.

No Brasil, onde vivem cerca de 500 mil venezuelanos, apenas 1.059 conseguiram registro. A advogada Paula Marcondes não depositou seu voto em urna e sonhou: “A minha expectativa é que, finalmente, depois de 24 anos, a gente consiga mudar alguma coisa para melhor”. Mas tudo ainda é duvidoso e tenso.



87128
Por Manoel Hygino - 27/7/2024 08:00:10
Fim do tempo

Manoel Hygino

Falam mal da Imprensa. Mas se não fosse ela, estaríamos muito pior sob múltiplos aspectos, seja na convenção partidária na Venezuela, por exemplo, seja na movimentação política visando ao pleito municipal de outubro no Brasil, em qualquer parte do mundo, e em todas as conjunturas. Sem ela, democracia não existe, o tão comentado estado democrático de Direito não passaria de uma frase... ou de um sonho e esperança.

Faço a observação por ter nascida este ano a Revista da Academia Urucuiana de Letras, sob presidência do advogado e escritor Napoleão Valadares, sempre atento a bem servir aos municípios banhados pelo rio Urucuia, em Minas Gerais, como “um monumento às gerações extintas, uma página sempre aberta de um poema que não foi escrito, mas que referve na mente de cada um dos filhos desta terra”, como registrou Afonso Arinos em escrita imperecível.

Ainda sem chuvas praticamente no ano, amplia-se e se aprofunda o medo de um período triste e mais pobre, como em tempos pretéritos e não esquecidos. Jornal de Belo Horizonte, com reportagens em série, evocando o verbo e a frase perene de Guimarães Rosa, conta a epopeia da resistência da terra e do homem à inclemência da natureza e de desvairada devastação de veredas e campos, antes férteis de riquezas e bondades.

Os repórteres viveram e ouviram sobre a mata e os campos que viraram cinza e ameaçam miséria pelos lados de Paracatu, do Urucuia, do rio das Velhas, do próprio São Francisco, que perde santidade diante de descalabro. Toda a região periga, a todos ameaça e, mais do que tudo, põe em perigo o que sustentou gerações, até a água que menos flui pelos córregos e demais correntes.

O Rio das Velhas, e dos Velhos conheço-o um pouco, e sem suas águas a capital mineira não chegaria ao que chegou e a região metropolitana seria menor e passaria sede, das maiores. O São Francisco, idos períodos, já os vapores encalhavam porque a areia parecia subir do fundo das águas, diminuídas a cada ano e entulhadas de tudo de sujo que vinha das margens, despejo dos que não medem consequências.

O rio maior escorrendo em busca do Atlântico, seus afluentes estão minguados. Corremos riscos a olhos vistos. Tudo padece. Se o poder público não acordar e agir, o porvir será desastroso, pois, até a água agora carrega veneno. Está provado.


87127
Por Manoel Hygino - 23/7/2024 09:39:30
Tempo de governo

Manoel Hygino

Em minha terra natal, aprendi ainda criança que “quem fala demais dá bom dia a cavalo”. É assim, algo essencial em todo ser humano saber a hora de falar... e a hora de parar. O hoje presidente da República não aprendeu a lição de minha cidade, embora sua primeira esposa lá tenha nascido, para falecer num episódio pouco explorado pelos jornalistas de plantão. O caso caiu no olvido.

O jornalista Acílio Lara Resende, de notório prestígio entre companheiros de profissão e da classe política, entra em cena com outra frase muito útil e oportuna: “O peixe morre é pela boca”, que corresponde à primeira assertiva. Há algum tempo, referi-me aqui à lição inolvidável de história do Brasil como apregoada pelo presidente a respeito da duração de governos brasileiros, não restrito ao do regime instalado em 15 de novembro de 1889.

Para justificar-se ou explicar-se, S. Exa. ensinou “que ninguém esteve mais tempo à frente do Executivo do que ele em seus três mandatos. Observou à nação que o exercício de suas gestões é superior às de Pedro II e Getúlio Vargas”.Ocorre, no entanto, que nosso segundo imperador esteve no trono durante 49 anos, até o fim da monarquia. Quanto a Getúlio, presidiu o Brasil desde 1930, após a Revolução, pois, e até o fim do Estado Novo, quando foi despedido do poder pelos militares, isto é, em 1945; e, eleito pelo voto, assumiu o Catete novamente em 1950 para deixá-lo em 24 de agosto de 1954, após dar fim à vida com um tiro no peito.

É uma simples questão de aritmética, que se aprende ainda no curso primário.

Meses depois de sua declaração primeira, Luiz Inácio Lula da Silva deu uma entrevista exclusiva à TV Record em que mantém sua versão sobre tempo de governo e reitera os números de sua fala anterior.

Ninguém deve tê-lo advertido do engano ou equívoco, ou ele fez ouvido de mercador, cometendo a gafe novamente.

Antigamente se dizia que “o pior cego é o que não quer ver”. Assim, com a audição. Quem não deseja ouvir - tapa as orelhas com as mãos.


87125
Por Manoel Hygino - 20/7/2024 07:41:24
O labor literário

Manoel Hygino

O autor é Francisco Chagas Lima e Silva e o livro se publicou no ocaso de 2023. Não obstante, o escritor tem outros trabalhos editados e bem recebidos. Com o texto “Caminhos da Memória”, a presidente emérita da Academia Mineira de Letras Elizabeth Rennó, prefacia o trabalho, a que Jair Leopoldo Raso, da Academia Mineira de Medicina, acrescenta seu justo beneplácito.

A primeira diz que seu preâmbulo é apenas uma síntese sobre o romance, comprovando a excelência do autor, O Buabo, representa o homem e o escritor, pela linguagem, autenticidade, desenvolvimento e humanismo. O segundo observa que, em algum lugar desse complexo Universo, o autor Francisco Chagas Lima e Silva se encontrou com Heráclito de Êfeso e lhe disse que não se banha duas vezes na mesma “Lagoa do velho cercado”.

Mas acontece que o personagem central da história, o dr. Florindo José da Silva, é o alter ego do autor, presente em todas as páginas desde menino e, depois, colando grau em medicina; para honra e glória pessoal, de todos seus familiares e para os moradores do vilarejo distante e desconhecido em que nasceu e ganhou estatura e educação.

Em torno da formatura se desenrola a simples, humana e louvável solenidade em lugar muito próprio, com o diplomando envergando a beca de seda preta da cerimônia. À noite, o baile de sua juventude, já enfeitado com um paletó de linho bege, reformado sob medida pelo alfaiate. Tudo muito simples, mas muito relevante para o diplomando e para os moradores do local.

Francisco Chagas escreve exemplarmente em termos de vernáculo. O vocabulário, amplo e excelentemente eleito, ajuda a construir uma história – ou estória – que dá alegria percorrer nas muitas páginas do romance. O fio da meada conduz à trajetória de um menino do interior que consegue vencer empecilhos e dificuldades e, finalmente, formado em medicina, volta à origem para reencontrar-se. É quando Floriano, o personagem central medita: - Lamento ter perdido um pé de sapato novo, aos quatro anos de idade, no fundo da lagoa.

Como Floriano, Francisco Chagas é médico. Mas se dedica também à pesquisa científica. Ao longo da carreira, tornou-se escritor. E bom.


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Por Manoel Hygino - 17/7/2024 08:39:18
Crueldade flagrante

Manoel Hygino

Formam-se comissões e se promovem reuniões no âmbito legislativo e executivo para conter o desvario, mas permanece a crueldade sobre jovens negras e pardas no Brasil, impactadas pela violência de gênero. Os números que aparecem na Imprensa comumente dando ciência da evolução positiva desse grupo de cidadãos não correspondem à verdadeira situação.

Artistas pardas e negras conseguem alguma situação privilegiada em espetáculos públicos ou em televisão e rádio. Percebem cachês elevados, recebem aplausos em suas apresentações, tornam-se estrelas. Mas são exceções no universo de dificuldades, de até humilhações, para conseguirem um lugar ao sol, no rol das atividades comuns.

No Brasil, as mulheres sofrem toda sorte de infortúnios e são conduzidas a um somatório conhecido de dores para uma sobrevivência, até muitas vezes ainda subumana. As mulheres negras padecem mais duramente, ignominiosamente, se escurece a tez do rosto.

A vulnerabilidade socioeconômica contribui enormemente para submeter esse grupo da espécie humana a toda sorte de padecimento. São pessoas que nascem estigmatizadas, com imensas dificuldades para ingressar no mercado de trabalho, recebendo salários menores e, em consequência, com maior dependência em relação aos parceiros e concorrentes.

Em nosso país, em que tanto já se exaltou a igualdade de direito, sente-se de perto, além de tudo, a influência criminosa do racismo, que não diminui a despeito de tentativas sucessivas nas casas dos três poderes. De modo que não causa surpresa o fato de crianças e adolescentes negras serem vítimas registradas por estupro, totalizando em torno de 40% de pessoas em tais condições, e correspondendo ao dobro da incidência comparativamente às meninas brancas. Não são informações desprovidas de consistência. O quadro integra um painel elaborado pelo Núcleo de Estudos Raciais do Insper, com base nos dados do Sistema Nacional de Atendimento Médico do Ministério da Saúde.

O levantamento aponta que seis de cada dez registros de estupro no país envolvem meninas com menos de 18 anos e com predomínio de mulheres negras e pardas de todas as faixas etárias vítimas desse tipo de ignomínia. Mais grave ainda: o índice de casos registrados só vem crescendo nos últimos anos.

Como um grande orador romano, pergunta-se: até quando se abusará de nossa paciência ou de nossa indisfarçada omissão?


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Por Manoel Hygino - 13/7/2024 07:01:42
Hamlet entre nós

Manoel Hygino

Em 1965, foi editado em Belo Horizonte um dos meus primeiros livros. Refiro-me a “Considerações sobre Hamlet”, resultado de anos de estudo e pesquisa da obra de Shakespeare e de seu célebre personagem. Inspirara-se o dramaturgo inglês na vida de um príncipe nórdico, cujo pai fora morto pelo próprio irmão, a fim de assumir o trono e o império: como resgatado nas páginas da história por um religioso – Saxo Grammaticus, no século XII.

Se meu trabalho desapareceu na memória dos que o leram, não aconteceu com todo o público. Tanto que ilustre estudioso do assunto, catedrático de universidade no Nordeste do país, recentemente publicou excelente estudo, inspirado em meu livro, sobre uma personalidade marcante da peça do dramaturgo de Stratford.

Não só isso: Hamlet, originalmente encenada em Londres a partir do ocaso do século XIX (em torno de 1596), ainda é uma das peças de teatro mais levadas à cena em palcos de todo o mundo. Tanto que, no finalzinho de junho deste 2024, ela desembarcou em Belo Horizonte com montagem audaciosa, segundo jornal local.

A folha anunciou que “Rodrigo Simas, um rosto conhecido da televisão brasileira, chegava a Belo Horizonte com o monólogo “Prazer, Hamlet”, espetáculo escrito e dirigido por Ciro Barcelos”. Explica-se: “A peça é uma adaptação contemporânea do clássico de William Shakespeare, que mergulha nos dilemas e prazeres ocultos do personagem Hamlet”. Não assisti à peça no Sesc Palladium, nos dois últimos dias do sexto mês, ainda que se anunciasse a peça, “com sua abordagem inovadora e subversiva”, prometendo ressoar com dramaturgos, estudantes de teatro e sociologia”, oferecendo uma experiência teatral única e provocativa, embora o simples fato de ser um “Shakespeare” já fosse um convite no mínimo razoável”.

Simplesmente por ser algo da criação genial do dramaturgo inglês, constituiria um acontecimento para a capital bem mais “novinha” do que a Londres em que a peça se encenara pela primeira vez. E também por se tratar de um personagem novo, imaginado pelo autor Ciro Barcelos para interpretação de Rodrigo Simas.

De todo modo, uma bela oportunidade para a capital mineira ingressar ou enaltecer uma das mais comoventes tragédias do gênio de Stratford, que forneceu à língua inglesa o maior número de expressões de uso comum e inspirou várias dezenas de títulos e temas não propriamente ligados ao conteúdo da peça, como disse o escritor José Guimarães Alves, apresentador de meu livro.

Conclui-se, com orgulho, Hamlet permanece vivo e poderoso depois de 400 anos de sua estreia. A capital de Minas substitui a dos ingleses.


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Por Manoel Hygino - 6/7/2024 07:17:02
Adélia soma prêmios

Manoel Hygino

Nome, Divinópolis. O topônimo significa cidade do Divino e recebeu o nome atual em 1912. Mas é um núcleo dos mais importantes de Minas: de centro ferroviário, sede de indústrias, de comércio forte, de muito que é bom existente em Minas. A hidrelétrica de Gafanhoto, instalada no Governo de Valadares, rica por lá, um ambiente paradisíaco.

Mas José Luciano Pereira, nascido lá, empresário, autor de dois livros de crônicas, que me fez a doação de um exemplar com a obra completa da Adélia Prado, comenta que, no auge do rock`n roll, nem tudo que aparecia lá era bem aceito imediatamente. “Nossa Divinópolis, apesar de cidade progressista, sempre guardou para si a tradição das famílias, quanto aos bons costumes, muitas vezes arraigados em preconceitos”.

Adélia recebeu, faz pouco, o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, a mais importante honraria da instituição. Estava festejando, à altura de seus 88 anos, a distinção, quando se soube vencedora do Prêmio Camões, 1924, o que equivale a 100 mil euros, segundo o Ministério de Cultura de Portugal.

É a primeira mineira a vencer a fascinante premiação, já que os anteriores eram homens: Autran Dourado, Rubem Fonseca e Salviano Santiago. Professora, filósofa, romancista, Adélia é autora de uma obra muito original ao longo de décadas e sua poesia, na apreciação de Marcos Luchesi, presidente da Fundação Biblioteca Nacional, é lírica, metafísica, amorosa e existencial, antiga e moderna, um dos nomes mais importantes da língua portuguesa”.

Em “Bagagem”, a escritora confessa: “Não sou matrona, mãe dos Gracos, Cornélia, sou é mulher do povo, mãe de filhos, Adélia”. O estilo é inconfundível, alerta Augusto Massi.

E pergunta: “A sexualidade, debatida nos divãs dos psicanalistas ou em programas de televisão, pode correr solta pela carne e pela imaginação de uma mineira casada, quarentona, mãe de cinco filhos”?

O catolicismo também gerava certo incômodo e era visto com desconfiança por quem havia mergulhado de cabeça na militância dos anos rebeldes, mas Adélia Prado desarmou a todos. A própria escritora revela que a sua primeira aproximação da experiência poética se deu quando descobriu que São Francisco de Assis escrevia, cantava e tocava banjo. “Mas é este santo que eu quero”, desabafou.

Ex-presidente da Academia Mineira de Letras, Rogério Faria Tavares não deixa passar oportunidade e não emudeceu: “Ela é irmã do primeiro frade franciscano de Divinópolis, Frei Antônio do Prado. Ela integrou a Ordem Terceira de São Francisco na cidade e Adélia assinava publicações com pseudônimo de Franciscana”.


87113
Por Manoel Hygino - 4/7/2024 09:37:13
À beira do fogo

Manoel Hygino

Nova estação do ano chegou. Desta vez, praticamente todos os países se preocupam com o que virá. Vivemos tempos difíceis e o noticiário de toda a imprensa mundial cuida de divulgar e esclarecer causas da hora presente, como a população deve agir para evitar o agravamento da situação. Jornal de Belo Horizonte estampa a manchete: “Maior parte da área atingida por queimadas era de vegetação nativa do Cerrado e da Amazônia”.

Imagem de satélites permitem análise do padrão histórico das ocorrências, mas se aduz que quase ¼ do país pegou fogo ao menos uma vez em 39 anos. Em nosso caso específico, Minas Gerais é o 9º estado em registro de casos. Informação atormentante, mas a que devem dar especial cuidado não só os prefeitos de agora e seus sucessores, mas todo o contingente humano. Todos temos responsabilidade no processo.

O conceituado jornalista Luiz Carlos Azedo titula seu artigo: “Caixa-d’água do Brasil está pegando fogo”. Eis um parágrafo: “O governo foi pego de surpresa em relação às queimadas, mas não foi por falta de advertência das instituições responsáveis pelo monitoramento do clima nem da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva”. “Depois das enchentes no Rio Grande do Sul, que se enquadram na categoria dos eventos externos, os incêndios do Pantanal e do Cerrado estão só começando e já são avassaladores”.
Minas tem intensa responsabilidade em tudo. É um dos maiores, tem a maior rede rodoviária, tem enorme população, envolve um complexo avantajado de cerrado e sofre influência climática de outras unidades federativas que podem ampliar seu potencial de destruição pelo fogo. O Mato Grosso e o Mato Grosso do Sul estão perto e há condições favoráveis à propagação das chamas, sem lembrar que o território é uma espécie de caixa d’água do Sudeste, podendo aliviar ou ampliar a gravidade da situação atual.

Sem pretender atirar culpa e responsabilidade a quem quer que seja, o quadro de Minas é delicado. Os heróis de Guimarães Rosa, ele próprio nascido e criado, na beira do cerrado, devem estar inseguros e inquietos. Li numa folha: “O cerrado perdeu 1,11 milhões de Hectares de vegetação nativa em 2023, um aumento de 67,7% em relação a 2022 (662.186 hectares), conforme o Relatório Anual do Desmatamento no Brasil, divulgado pelo MapBiomas”.

O veterano Luiz Carlos completou o raciocínio: “O Cerrado abriga nascentes de nove das 12 principais bacias hidrográficas do país e que contribuem para cursos hídricos de países vizinhos, como Rio do Prata, e essenciais ao agronegócio e à vida humana. A supressão da vegetação compromete a perenidade dessas fontes de água potável, dos rios e dos lagos”.


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Por Manoel Hygino - 2/7/2024 08:37:26
O Ministério Público

Manoel Hygino

A palavra é repetida, inúmeras vezes, nos tribunais, nas manifestações de rua, em todos os lugares do país, como um apelo de salvação: Justiça, Justiça, Justiça. Grande parte do noticiário pelos meios de comunicação repete o substantivo e páginas inteiras das informações e das entrevistas, dos artigos de fundo – como se dizia antigamente a reitera. Mas, via de regra, só se apela quando algo está falhando.

Aliás, é o que se deduz do discurso do novo procurador-geral de Justiça de Minas, Jarbas Soares Júnior, ao empossar-se na presidência do Conselho Nacional dos Procuradores Gerais, CNPG. Com sua autoridade, o chefe do Ministério Público mineiro fez uma advertência: a instituição precisa repensar e buscar novas formas de atuar, objetivando “mais resultados do que processos”.

Na solenidade estavam presentes o presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, e o procurador-geral da República, Paulo Gonet, que devem ter sentido a amplidão da lição, válida para todo o poder. Mas Jarbas foi claro e candente, sem ferir. Registrou, em boa hora, que o Ministério Público deve aprender com erros e acertos, que o modus operandi do “prendo e arrebento” ficou para trás, na Operação Lava-Jato em seu apogeu.
Ter-se-á de atuar com “consenso e consciência coletiva”, alertou, pensando no futuro e diferentemente de como se vinha agindo. Acrescentou em seu discurso, ouvido com especial atenção por todos os presentes: “Não pode nos interessar a destruição de biografias, a interferência indevida em processos que não nos dizem respeito, para no final pedir desculpas ou terceirizar nossos fracassos. Neste contexto, não podemos jamais criminalizar a política, ela é matéria de primeira necessidade, como nos ensina o professor Luís Roberto Barroso, ainda mais nesse ambiente de extremos em que vivemos”.

O procurador-geral ressaltou que os “erros” da Lava Jato acenderam no Ministério Público a “necessidade de mudanças de rumo”, e uma grande reflexão sobre o papel da instituição. Jarbas também defendeu a atividade empresarial, respeito ao Congresso Nacional, e destacou que um membro do MP “não pode ser um justiceiro”.

“A inviolabilidade da sua consciência e autonomia, garantidas pela constituição, impõe o dever de ser o primeiro juiz da causa para formar a sua convicção. (...) Este Ministério Público mais lúcido, experiente, maduro, menos impulsivo, mais inteligente, coeso, mais consciente do seu papel no xadrez institucional pensado pelos constituintes, é o que o CNPG buscará consolidar”.


87109
Por Manoel Hygino - 29/6/2024 07:25:15
Conselho de Lincoln

Manoel Hygino

Laudívio Carvalho, norte-mineiro de nascimento e formação, homem de Imprensa e ex-deputado federal, em certo dia publicou em jornal diário de Belo Horizonte uma carta dirigida ao magistério de sua pátria por um presidente da República. A assinatura é de Abraham Lincoln, que governou os EUA entre 1861 e 1866. Nesta hora de gerações nem-nem, de milhares que não trabalham, nem estudam, a lição do líder do país do Norte é muito válida. Leiam comigo:

“Caro professor, o jovem terá de aprender que nem todos os homens são justos, nem todos são verdadeiros, mas por favor diga-lhe que, para cada vilão há um herói, para cada egoísta, há um líder dedicado.

Ensine-lhe, por favor, que para cada inimigo haverá também um amigo, ensine-o que mais vale uma moeda ganha que uma moeda encontrada.

Ensine-o a perder, mas também a saber gozar da vitória, afaste-o da inveja e dê-lhe a conhecer a alegria profunda do sorriso silencioso.
Faça-o maravilhar-se com os livros, mas deixe-o também perder-se com os pássaros no céu, as flores no campo, os montes e os vales.

Nas brincadeiras com os amigos, explique-lhe que a derrota honrosa vale mais que a vitória vergonhosa, ensine-o a acreditar em si, mesmo se sozinho contra todos.

Ensine-o a ser gentil com os gentis, e duro com os duros, ensine-o a nunca entrar no comboio simplesmente porque os outros também entraram. Ensine-o a ouvir todos, mas, na hora da verdade, a decidir sozinho.

Ensine-o a rir quando estiver triste e explique-lhe que por vezes os homens também choram.
Ensine-o a ignorar as multidões que reclamam sangue e a lutar só contra todos, se ele achar que tem razão.

Trate-o bem, mas não o mime, pois só o teste do fogo faz o verdadeiro aço. Deixe-o ter a coragem de ser impaciente e a paciência de ser corajoso.

Transmita-lhe uma fé sublime no Criador e fé também em si, pois só assim poderá ter fé nos homens.
Eu sei que estou a pedir muito, mas veja o que pode fazer, caro professor”.

A lição é válida por todo tempo. Lincoln, décimo-sexto presidente dos Estados Unidos, nasceu em Kentucky, em 1809. Morreu assassinado em Washington, em 1865. Era filho de um carpinteiro e agricultor, tendo recebido, em pequena fraquíssima educação escolar, mas era um leitor infatigável, o que muito o ajudou na juventude. Viajando incessantemente pela pátria, conhece bem o problema da escravidão e da escravatura, pondo-se a serviço da luta contra a insidiosa injustiça social e humana.


87107
Por Manoel Hygino - 27/6/2024 08:43:56
Tempos de governo

Manoel Hygino

Luís Inácio Lula da Silva, o presidente da República em que nascemos e habitamos, no dia 6 de junho, em sua quarta viagem ao Rio Grande do Sul após a tragédia das chuvas, enchentes e destruição, cometeu equívocos históricos. Só não os identificou os que tampouco conhecem fatos e datas.

S. Exa. declarou peremptoriamente e à Imprensa, que não dá sossego: “Possivelmente, muita gente me olha e fala: ‘O Lula nem diploma universitário tem’. Só tem três pessoas que têm mais experiência que eu neste país. Dom Pedro, que governou durante 70 anos, até a Proclamação da República. Getúlio Vargas, que fez a Revolução de 1930, ficou até 1945 e depois foi eleito em 1954. Depois dos dois, só eu. Ninguém tem a quantidade de experiência que eu tenho de viver problemas neste país”.

Pedro II esteve à frente dos destinos da nação por exatamente 49 anos, não dos quase 70 mencionados. Estou seguro de que ele gostaria de aproximar-se das sete décadas, o que não lhe foi permitido. A República foi proclamada em 15 de novembro de 1889 e a monarquia passou a referência.

A princesa Isabel partiu para a Europa com a família real, para exílio na França, onde montou uma embaixada informal no castelo em que morava na Normandia. Ela foi a primeira chefe de Estado das Américas, uma das nove mulheres a governar uma nação durante boa parte do século XIX. Substituiu o pai, Pedro II, três vezes, quando ele se ausentou por motivo de viagens. Foi também a primeira senadora do Brasil, cargo a que tinha direito como herdeira do trono a partir de 25 anos de idade, segundo a Constituição do Império, de 1824.

Getúlio se fez presidente em outubro de 1930, quando foi deflagrada a revolução. Em seu diário anotou: “Que nos reservará o futuro incerto neste lance aventuroso?” Mas aquela primeira série de fatos estava vencida. Veio o Estado Novo: 15 anos, até 1945, quando deposto. Anos após, a nova aventura: vencer as forças armadas, muito estimuladas por Lacerda, desta vez pelas urnas. A eleição foi em 1950.

A despedida do governo e da vida se deu em 24 de agosto de 1954, depois de uma última reunião na sala de refeições dos barões de Friburgo, primeiros donos do Catete, transformado em sede da Presidência poucos anos após a Implantação da República. Anos transcorridos depois da implantação da República, Getúlio usava, naquela manhã, terno azul-cinza e olhava cada participante com o tradicional ar enigmático.


87105
Por Manoel Hygino - 22/6/2024 07:37:17
Nava diplomado

Manoel Hygino

Estou escrevendo sobre Pedro Nava, após 13 de maio, que assinalou 40 anos da morte do escritor e médico, no Rio de Janeiro, num banco de rua da Glória, em bairro de mesmo nome. Na Faculdade de Medicina, iniciativa de profissionais interessados numa escola para formação de médicos, a instituição foi inicialmente à Universidade de Minas Gerais, e ela formou Nava numa turma brilhante. Nela, estavam Juscelino, Odilon Berhens, José Maria Figueiró, Pedro Salles, Flávio Marques Lisboa e poucos mais. O grupo, pequeno, dos menores que se formaram no século. E era 1927.

Ingressar na faculdade era difícil, os preparatórios eram longos, exigia-se muito dos candidatos. Um deles foi exatamente Pedro da Silva Nava, nascido em Juiz de Fora, em 5 de junho de 1903, um ano após JK. Foi com muito esforço e sacrifício da mãe, pois o pai falecera quando ele era menino. Custou o juiz-forano ingressar na faculdade, sonho pessoal e de toda a família.

Gosto de referir-me ao assunto. O plano e vontade geral da família era arrumar um meio de chegar à Santa Casa, único hospital na capital jovenzinha. A faculdade assinara um contrato com a filantrópica para os universitários usarem as instalações da casa de saúde.

Juscelino, como Behrens e Pedro Nava, adentrou as enfermarias do estabelecimento. Um projeto realizado, uma glória. Nava muitos anos após, registrou:

“Bom dia, Irmã Madalena. Bom dia! Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo. Para sempre seja louvado tão bom Senhor”.

Nunca nos momentos de maior êxito de minha vida de médico – conquista de várias chefias de serviços, livre docência, duas cátedras, professorado emérito e honoris causa, três academias, sociedades estrangeiras, presidência da sociedade Continental – nunca na minha vida de médico tive a estasia, o orgulho, uma sensação de plenitude que sentia naquele 1926. Quintanista de Medicina! Interno residente da Santa Casa”.

Nava contou o sucesso à mãe doente, acamada. Depois, ela disse: “faço questão de pôr no seu dedo o anel de seu Pai. E ali ela me casou com a profissão e enfiou no anular a aliança cujo aro pertencera ao velho “Doutor Meton, cuja esmeralda fora de meu tio-avô Leonel Jaquaribe e cujos brilhantes seu Pai comprara completando a joia familiar”.



87103
Por Manoel Hygino - 19/6/2024 08:31:43
Vida pela arte

Manoel Hygino

Não sei se os 94 anos de idade me permitirão ir à Academia Mineira de Letras, no número 1.466 da rua da Bahia, para a posse de Ricardo Aleixo, membro da entidade da cadeira 31, cujo antecessor foi o mui caro e respeitável escritor Rui Mourão, que veio ao mundo um ano antes de mim. Estarei presente em espírito e coração.

Sobre o novo acadêmico já se manifestara Jacyntho Lins Brandão, além de um belo número de autores outros. Declarou o presidente da AML: “Ricardo Aleixo é, sem dúvida, uma das vozes mais potentes e originais da poesia contemporânea. Ao aliar o ritmo do corpo ao da fala, obtém resultados de um rigor poético destacável, o que se mostra presente também em sua prosa. Seu ingresso na Academia é por nós todos com alegria celebrado”.

Mas o confrade não estava só. A escritora e acadêmica Maria Esther Maciel estendeu o raciocínio: “Ricardo Aleixo é um dos poetas brasileiros mais inventivos e multidisciplinares da atualidade, com uma obra de notável consciência reconhecida no Brasil e no exterior. Literatura, música, dança, artes visuais e performáticas mesclam-se no rico repertório de práticas criativas do poeta mineiro, potencializadas pelas suas instigantes pesquisas e reflexões sobre as culturas afro-brasileiras e as questões raciais. Ele sabe, como poucos, conjugar estética e política, imaginação e lucidez crítica. Além disso, é professor emérito de universidades brasileiras, com uma bagagem intelectual admirável. Sua eleição para a AML é um grande presente para nós, integrantes da Casa, e para as Letras de Minas Gerais”.

Mas Ricardo Aleixo já viajara para os Estados Unidos a cumprir programa na Universidade de Nova York. Antes de fazê-lo, contou para quem quis saber suas atividades na prosa ficcional, filosofia, antropologia, história, música, radioarte, artes visuais, vídeo, dança, teatro, performance e estudos urbanos.

Ainda na infância, Aleixo iniciou sua formação artística como músico. Aos 17 anos, começou a compor, o que marcou seu primeiro contato com a poesia. O livro de estreia, “Festim, um desconcerto de música plástica”, foi publicado em 1992.

Produtor cultural, foi um dos criadores do Festival de Arte Negra (FAM), em 1995, espaço importante voltado para a promoção da diversidade da herança cultural africana.

Ricardo Aleixo lançou 20 livros. Com Modelos Vivos (2010) foi finalista dos prêmios Portugal Telecom e Jabuti. Com “Antiboi” (2017), ficou entre os finalistas do Prêmio Oceano.

Em 2021, escritor recebeu da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) o título de Notório Saber. Professor visitante da Universidade da Bahia (UFBA), é casado com a pesquisadora Natália Alves, vive atualmente em trânsito entre Salvador e Belo Horizonte.


87102
Por Manoel Hygino - 18/6/2024 07:42:44
Um dia glorioso

Manoel Hygino

Os veículos de comunicação, isto é, a imprensa não falhou em 6 de junho deste ano quando se relembrou o Dia D, o de invasão da França ocupada pelos alemães de Hitler, na II Grande Guerra Mundial. Seria, como foi, o de libertação da Europa do jugo nazifascista. O Dia D é um símbolo da derrota das ideias de Hitler e Mussolini, seu aliado no conflito.

A Segunda Grande Guerra, desde setembro de 1939, com todo o seu cortejo de horrores destruindo Nações e deprimindo o mundo civilizado ainda não engajado na fogueira a guerra, era mundial, mas o Brasil só se declararia contra o Eixo em 22 de agosto de 1942, não se julgando então viável sua cooperação militar a não ser mediante policiamento de nossas costas marítimas ou nas escoltas a comboios no Atlântico Sul.

A participação brasileira só se efetivou em 18 de abril de 1943, sem se ouvir o Parlamento. Até então, o Brasil não era uma nação que entraria em guerra, pois apenas um reforço integrado a Tio Sam, colocando-se deliberadamente sob tutela dos EUA. Os franceses estavam praticamente inexistentes até aquela hora, embora lutassem desesperadamente para ter expressão e os soviéticos fugiam à tutela americana.

Os fatos se precipitavam, enquanto as dificuldades se tornavam crescentes na Normandia. Os diversos teatros de operação em que os americanos operavam com uma mobilização superior a 11 milhões de combatentes começavam a dar sinais de esgotamento dos mananciais humanos, quando a mão-de-obra da indústria comprometida com a guerra e o povo norte-americano já se apresentava extremamente sobrecarregado.

De todo modo, havia absoluta certeza de que os Aliados tinham de enfrentar as forças alemãs concentradas na Normandia. E eram efetivos substanciais: 50 mil homens do 7º Exército da linha de frente, com 40 mil nas praias. Mas a ordem era libertar aquele pedaço da Europa na França em momento dramático: 140 mil homens das Forças Aliadas entraram em ação, com 1.200 navios de guerra, 4 mil lanchas de desembarque, mais 1.800 barcos diversos. Os aliados perderam 10.800 vidas, feridos e desaparecidos, enquanto seus 3 mil canhões entraram em cena, além de 27 mil paraquedistas.

Houve o desembarque glorioso como os cinemas e telas de TV de todo o mundo mostraram. Assegurava-se o triunfo sobre os nazistas, possibilitando a vitória final.


87101
Por Manoel Hygino - 15/6/2024 07:06:46
O cão presidencial

Manoel Hygino

José Mário Pereira assina a última capa do novo livro de Pedro Rogério Moreira, mineiro de quatro costados, mas que mora em outros lugares do país há dezenas de anos, presentemente em Brasília, para onde se transferiu desde que ela é capital. Pois na capa da nova publicação da Thesaurus Editora, José Mario Pereira afirma: “O que vale mesmo na vida política é a dimensão humana. Só ela redime o governante das misérias que comece contra o povo. A dimensão humana vale mais do que uma hidrelétrica, mais do que uma rodovia”.

Pois no seu novo livro, Pedro Rogério Moreira explora exatamente a dimensão humana de ilustres brasileiros - ou não - que habitam a metrópole sonhada por JK, tornada terra para gente morar, tanto pobres e humildes, tanto ricos e portentosos. Com o sobejo conhecimento que angariou da cidade-monumento, o autor conquista mais luz solar para sua já extensa produção: agora com “A vida misteriosa dos gatos”, é um exemplo.

Ele lembra que, quando Dilma se mudou, já presidente, para o palácio do Alvorada, levou consigo o cão Nego (com o som do e fechado). Não era novidade, observa Pedro Rogério, porque Lula também levara consigo à residência presidencial a cadela chamada Michele, cujo nome nada tem a ver com a mais recente ex-primeira- dama. O autor observa que não existe nenhum cachorro mais chamado Baleia, Rex, Plutão. Têm nome de gente. Mas a Michele da Dilma ganhou prestígio quando a Kombi da Presidência da República foi flagrada levando uma cachorrinha do Alvorada para a Granja do Torto, onde se encontravam Lula e Dona Maria Letícia numa reunião ministerial.

A mulher do presidente esclareceu que uma arrumadeira do Alvorada explicara que Michele chorava demais quando a sua dona se ausentava. A Imprensa gostou, foi um escândalo enorme. Os repórteres deploraram o transporte concedido à cadelinha. Pedro Rogério argumentou, então, que não é atentado à lei um presidente conviver com seu animal de estimação sob proteção do Estado. “O rigor dos costumes republicanos não pode chegar a tanto. Todos os presidentes dos Estados Unidos levam seus cães para a Casa Branca e eles até voam no Air Force One. O importante é preservar para a família presidencial as mesmas condições de felicidade doméstica desfrutada em sua casa particular. O buraco de onde se esvai o dinheiro do contribuinte é mais embaixo, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil”.

Lembrou-se: no Brasil o primeiro presidente a gostar de um animalzinho desses: o marechal Deodoro era devotado ao Tupi, que não levou para sua residência oficial, porque essa não existia. Deodoro morava numa casa modesta na rua Taylor, na Lapa, passando os últimos dias da vida acariciando o Tupi, a seus pés, sem palácio.


87100
Por Manoel Hygino - 12/6/2024 08:51:01
Fome no Rio

Manoel Hygino

O assassinato da vereadora Marielle passou a fazer parte do noticiário de todos os veículos de comunicação do país. Não poderia ser de outro jeito e maneira, se nossa Imprensa quiser manter credibilidade. Enfim, o óbito se deu faz anos e ficou por isso mesmo, por mais que se esmerassem as autoridades em apontar culpados. Novas frentes de investigação, não tão novas assim, indicam possíveis mandantes do crime no Rio de Janeiro, sempre preparados para festejos, principalmente os carnavalescos ou esportivos. Sem contar, obviamente, os que enchem os fins de semana na periferia, com muita música, som alto, e sexo, é claro.

Mas o Rio de Janeiro não está sozinho, nem no riso, na alegria, nas cores, porque todo o Brasil se tem deixado envolver pela saga da felicidade, embora efêmera e falsa. Exemplo é o próprio caso de Marielle, que – desde o princípio – traz no rol de suspeitos gente de toda respeitabilidade.

Há mais – apesar de tanto riso, tanta alegria, tanto álcool e droga, outros aspectos a se levar em consideração. Os jornais da semana que passou não deixaram de dar ênfase a outra face da vida carioca, além dos milicianos e invasores de terras públicas ou de terceiros. Quero dizer da fome que perpassa a vida carioca. A insegurança alimentar grave é realidade em 7,9% das casas na capital fluminense. Em números redondos, absolutos, são 489 mil pessoas que passam fome. Isto é, quase meio milhão, sem ter comida suficiente no prato.

Os dados são oficiais, inéditos, inseridos no inquérito sobre a Insegurança Alimentar no Município do Rio de Janeiro. A verdade verdadeira é que cerca de 2 milhões de cariocas com algum grau de insegurança alimentar, seja leve, moderada ou grave. O documento mostra a quem desejar que o percentual de fome no município é quase o dobro, se comparado com a informação nacional recém-divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, merecedor de todo respeito.

Segundo o IBGE, conforme pesquisa divulgada em abril, a fome esteve presente em 4,1% das casas brasileiras. No Rio de Janeiro, o percentual é de 3,1% no Estado, mas a situação na capital fluminense é aguda. Claro que varia muito num país desigual como o nosso.

Um detalhe: a fome é maior nos lares chefiados por pessoas negras (9,5%). E há mais: 8,3% das famílias comandadas por mulheres não têm o que comer.


87098
Por Manoel Hygino - 8/6/2024 07:39:32
Os perigos do poder

Manoel Hygino

Eleições cá e lá. Na África do Sul, o partido do grande Mandela perdeu pela primeira vez em trinta anos. Nos Estados Unidos, é extremamente difícil, ou impossível, prever quem será o futuro presidente. No Brasil, mais uma contenda municipal nas urnas em outubro próximo. Pelo voto no décimo mês do ano, poder-se-á adivinhar o nome do futuro chefe do governo, após o terceiro mandato de Luís Inácio. Ou será ele mesmo?

A luta pelo poder encontra raízes na própria história do homem. A geração atual pretende alcançar o poder por vias outras que não as adotadas até aqui? Afinal, o que é o poder? Como chegar a ele?

Há poucos dias, Dom Walmor de Oliveira Azevedo focalizou o tema com sabedoria. O arcebispo metropolitano alerta para problemas do aqui e agora. “O paradigma tecnocrático, fortalecido pela inteligência artificial e outros recentes avanços tecnológicos, vem alimentando a ilusória convicção de que não há limites para o ser humano. Esse paradigma alimenta-se monstruosamente de si próprio, conforme a indicação do Papa Francisco”.

O nosso prelado observa que “pensa-se que a tecnologia pode levar o ser humano ao impossível. Há, pois, uma ideologia na base desse entendimento equivocado quando se pretende aumentar o poder humano para além de tudo o que se possa imaginar”.

Aí, o engano. “Esse entendimento incapacita a humanidade para a indispensável compreensão de que tudo o que existe é uma dádiva que se deve apreciar, valorizar e cultivar, como aliás constitui o ensinamento do Pontífice, acrescentando que não se deve tornar escravo ou vítima dos caprichos da mente humana.

Traduzindo, o que se adverte é para a urgente necessidade de se repensar o modo como se utiliza e se exerce o poder. Quer-se dizer: Nem todo aumento de poder significa progresso para a humanidade, bastando verificar com tecnologias sofisticadas a serviço do extermínio de pessoas. Isso se constata, a cada dia, bastando apenas estar atento aos noticiários dos veículos de comunicação.

O progresso técnico é admirável, mas lastimavelmente carrega no seu reverso inúmeros horrores, pois não são acompanhados de uma irrenunciável responsabilidade. Esse detalhe se há de medir em caso de grandes conflitos ou de uma simples passagem aérea ou subterrânea nas vias públicas.


87096
Por Manoel Hygino - 5/6/2024 08:36:26
Chegando a hora

Manoel Hygino

Aproxima-se a hora de votar. Os candidatos às eleições deste ano ultimam entendimentos e acertos para o 6 de outubro, a data para os dedos apertarem as teclas. É um instante solene e de grande responsabilidade para os que esperam contribuir com sua escolha para seu município corrigir erros e equívocos dos pleitos anteriores.

O estardalhaço em torno dos concorrentes cresce e incomoda. Os eleitores diante da propaganda eleitoral ficam mais confusos e a confusão pode beneficiar alguns e prejudicar outros. Faz parte do jogo, nem sempre muito limpo.

Fiquemos atentos às normas, inclusive quanto à campanha propriamente. As convenções partidárias e registros de candidatura serão de 20 de julho a 5 de agosto, devendo o registro na Justiça Eleitoral ser feito no prazo fixado pelo Tribunal.

Outro problema é a propaganda. Há dez dias entre o registro da candidatura e o início da divulgação. Visa não só dar tempo à Justiça Eleitoral para confirmar, negar e resolver pendências de candidaturas. Mas, Propaganda Eleitoral tem início mesmo a 16 de agosto. Antes, qualquer publicidade ou manifestação com pedido explícito de voto pode ser considerada irregular e passível de multa. Pesquisas de opinião devem ser registradas no TSE até cinco dias antes da sua divulgação.

Apresentadores de rádio ou televisão pré-candidatos a cargos ficam impedidos de fazê-lo a partir de 30 de junho. A lei eleitoral mostra-se claudicante em relação à propaganda feita via redes sociais. Para muitas candidaturas elas são decisivas. Por outro lado, alguns candidatos não têm a elas qualquer acesso. A propaganda gratuita no rádio e na TV começará em 30 de agosto e se encerrará em 3 de outubro, considerado antevéspera do primeiro turno.

Depois de 6 de julho é vedado aos agentes públicos a realização de nomeações, exonerações e contratações, assim como participar de inauguração de obras públicas. Na legislação anterior esse prazo se estendia por seis meses após o pleito. Candidatos não poderão ser presos. Somente se pegos, pessoalmente, em alguma transgressão

A partir de 10 de outubro quem não pode ser preso são os eleitores: somente em caso de flagrante, ou em cumprimento de sentença judicial por crime inafiançável ou ainda em desrespeito a salvo-conduto. E, assim, deve-se esperar que teremos nossas eleições sempre competitivas, imparciais e democráticas. As eleições municipais são a base da futura eleição para Presidência da República no Brasil. Merece reflexão.


87095
Por Manoel Hygino - 4/6/2024 08:38:32
Hamas, e agora?

Manoel Hygino

A “briga” entre o atual presidente da República e seu antecessor não para, embora a campanha esteja encerrada, há bastante tempo, em âmbito político-eleitoral. Bolsonaro criticou Lula pela postura do petista diante do conflito entre Israel e Hamas. No dia 25 de maio, Luiz Inácio pediu solidariedade para as mulheres e crianças “que estão morrendo na região de Gaza por irresponsabilidade do governo de Israel”.

Por meio de sua conta no X, Bolsonaro acusou seu sucessor de ser amigo do grupo terrorista de Gaza e questionou o interesse do atual presidente e questionando seu empenho em libertar o brasileiro Michel Nisenbaum, sequestrado e morto pelo grupo e cujo corpo foi resgatado pelo Exército de Israel no dia 24 último, como divulgado pela imprensa cá de nossa terra.

Caminhando para um ano a ação terrorista do Hamas, já seria hora de saber o que acontece naquela belicista região do mundo. A causa palestina, que tem servido de motivo para movimentos em vários países da Europa e nos Estados Unidos, passou a plano inferior em meio a uma guerra a partir de outubro deflagrada. A antiga ação movida pela OLP foi chutada para escanteio, ela que defendia e controlava a Cisjordânia e assinara os Acordos de Oslo, que deveriam ter prevalecido.

O Hamas entrou em campo e zerou quase tudo na região, enquanto jovens em países civilizados, desconhecedores do caso e das causas, passaram a fazer balbúrdias nas portas das universidades e nas ruas das capitais, julgando-se em defesa de uma bela e justa causa.

O Hamas aproveitou-se da situação delicada e usou da força para o 7 de outubro, mas a verdade verdadeira é que agiu com apoio de países que têm interesse em dominar aquele pedaço de mundo, principalmente Irã, Rússia e Síria. Conseguiu agravar os problemas com influenciamento das nações compelidas a usar inclusive suas passagens em rotas comerciais e mesmo bélicas.

Márcio Coimbra, com muito senso de oportunidade e conhecimento de causa, julga que o Hamas cogitou usar o Irã, a Rússia e a Síria para estabelecer o predomínio de forças naquela encruzilhada. Nem tudo deu certo, porém se começou a guerra ainda sem fim. Ademais, agora que o Irã perdeu o seu presidente, o que acontecerá? Estamos, mais uma vez, em crise aguda sem saber o que há à frente.

Qual será a posição iraniana com o novo presidente? Sem ele, o Hamas perde muito de sua força.


87094
Por Manoel Hygino - 1/6/2024 07:37:42
Duplo adeus

Manoel Hygino

Perdemos, perdeu Minas Gerais, dois importantes e queridos brasileiros aqui nascidos. Ambos com 80 anos - um que teve berço em Lavras, no Sul de Minas, Aloísio Teixeira Garcia, membro da Academia Mineira de Letras, em que ocupava a cadeia 36, entidade da qual foi secretário geral, além de secretário de Estado da Educação e Secretário de Cultura, chefe de gabinete dos Ministérios da Cultura e dos Ministérios da Agricultura e da Indústria e Comércio, além de deputado; o segundo, Téo Azevedo, nascido no Norte do Estado, cantor, compositor, cordelista e escritor com liames na cultura popular, com mais de 25 mil músicas registradas, tido como o compositor brasileiro com maior quantidade no gênero gravadas no país, com berço e grande parte da existência no distrito de Alto Belo, município de Bocaiúva.

Téo nos deixou no dia 11 e Aloísio Teixeira Garcia no dia 19 de maio, mês em que já de nós se tinham despedido outras expressivas e prezadas personalidades da vida brasileira, deixando lacunas não preenchíveis. Aos que ficamos resta lamentar por terem dito adeus antes de nós e rogar para que se enxuguem as lágrimas dos seus familiares e amigos mais íntimos.

O primeiro, nosso confrade na Academia Mineira de Letras, deixou livros publicados e valiosa colaboração a veículos brasileiros de comunicação, mais especificamente na área econômica a que se devotou, com esmero e sucesso, em ponderável parte da existência; o segundo, Téo Azevedo, conforme a vocação da gente de sua região e sua destinação natural à música, mesmo lá no distante território do sertão mineiro em que nasceu, tornou-se conhecido sobretudo por sua produção artística, que lhe valeu prestígio que ultrapassou os limites de nossa terra.

Sobre o catrumano Téo, declarou o compositor Tino Gomes: “Partiu para os planos celestiais, no toque da viola, um dos maiores defensores da cultura popular deste país, ao qual nós todos devemos reverenciar. Téo foi um lutador pela nossa cultura, nosso povo catrumano. Um poeta e batalhador incansável da nossa cultura. Ela fica mais entristecida, mais pobre”.

Sobre Aloísio, expressou-se o presidente emérito da Academia Mineira de Letras, Rogério Faria Tavares: “Foi um educador comprometido com a causa do ensino de qualidade, tanto na iniciativa privada quanto na vida pública. Na literatura, produziu poesia de destaque. Vivia muito a vida da Academia”. E Jacyntho Lins Brandão, atual presidente, registrou: “Aloísio Garcia teve uma vida plena de realizações, em que se destacam as atividades na área educacional e cultural (...). Seu legado persistirá”.

É o que o signatário desse texto subscreve respeitosamente.


87091
Por Manoel Hygino - 28/5/2024 09:44:34
Saúde de ponta

Manoel Hygino

É um longo tempo – 125 anos, sobretudo quando se trata de uma instituição filantrópica, que passa invariavelmente por sucessivos e numerosos desafios para sobreviver e que sobrevivam seus pacientes, quando se trata de hospital ou assemelhado. Pois este tempo foi vencido e comemorado pela Santa Casa com celebração ecumênica em ação de graças no dia 21 de maio, no salão nobre do Hospital de Alta Complexidade 100% SUS, como agora identificado.

Presidido o ato religioso pelo Capelão, padre Carlos Alberto Amaral, e pelo pastor presbiteriano, Jorge Eduardo Diniz, com participação do coral Voz e Coração, da instituição, viveu-se uma manhã de profunda emoção, quando se entregou a Medalha Dr. Aloysio Andrade de Faria, Benfeitor da entidade, “reconhecendo o trabalho de pessoas, entidades e empresas que prestam relevantes serviços à sociedade no campo assistencial, em todo o país”.

Receberam a honrosa distinção: o procurador do município, Hércules Guerra; o professor e pesquisador Marcus Vinícius Gomez; a médica oncologista clínica dra. Maria Nunes Álvares; o médico e ex-chefe do Serviço de Cirurgia Pediátrica da Santa Casa BH, Moacir Tibúrcio (homenagem póstuma em que foi representado por sua viúva Vera Lúcia Leonardi Tibúrcio e pelo filho Arthur Emílio Leonardi Tibúrcio); o médico e ex-secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde, Helvécio Magalhães Júnior; o empresário Pedro Lourenço de Oliveira, representado pela diretora de Marketing dos Supermercados BH, Kátia Andrade; e a voluntária e filantropa Maria Christina (Titita).

O provedor Roberto Otto Augusto de Lima, na oportunidade, destacou a evolução da Santa Casa BH em mais de um século de atuação, e enfatizou o trabalho da instituição nos seus 125 anos de vida, coincidindo com o lançamento de uma campanha publicitária reafirmando o compromisso com a cidade, o estado e o país, sob o mote “sonhos não envelhecem” e se mantendo o princípio de “uma grande ideia com a vontade desmedida de fazer bem ao próximo”.

Finalizou o provedor: “Chegamos a 2024 como o hospital que mais realiza internações no país. Além disso, recebemos pacientes de mais de 90% dos municípios mineiros, somando 3,4 milhões de atendimentos por ano e contamos com 1.153 leitos. Somos, ainda, reconhecidos pela excelência e por sermos referência nacional em alta complexidade, em Oncologia, Cirurgia Cardíaca, Neurocirurgia, partos de alto risco e transplantes”, entre outros.


87089
Por Manoel Hygino - 25/5/2024 07:12:41
Prevendo 2025

Manoel Hygino

Minas vai bem, obrigado? Ou vai mal? Não desejo fazer intervenção na situação econômica-financeira, que é problema de centenas de autoridades do alto nível da administração pública. Mas só a famosa dívida mineira junto à União já deixa certeza de que as coisas não andam tão bem como se desejaria.

Sabe-se que o Executivo faz das tripas o coração para ver se consegue equacionar os cerca de R$ 160 bilhões da dívida. E a União, como se sabe e se constata, não perdoa. Agora que se tomou conhecimento do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias, visando o exercício de 2025, também se vê que há muito ainda a pagar à frente.

O PLDO, encaminhado à Assembleia Legislativa, prevê um rombo menor do que o de 2024. É algo que merece ênfase. A redução se revela inferior à de 2024 em 53,7%. Algo expressivo, sem dúvida, mas que não diminui a angústia para o ano que vem. O governo, contudo, é objetivo e sincero ao declarar que a “situação fiscal é delicada”.

A dinheirama a ser utilizada vem dos impostos, é claro. É histórico e legal, embora a chiadeira generalizada, sobretudo dos que ganham pouco. O gasto previsto para 2025 é superior a R$ 133,2 bilhões, mostrando um de 8% em relação ao orçamento deste exercício. E não há como desviar dos compromissos.

As despesas obrigatórias são muitas e pesadas, a começar do pagamento de salários do funcionalismo o público e encargos sociais. Só estes exigem 82,9% do total e atingem, como estimado, R$ 78,6 bilhões.

Mas há mais: as despesas constitucionais, como pagamento dos pisos salariais da saúde e educação estão avaliados em R$ 12,9 bilhões. Tudo, tudo, tem de sair do bolso do cidadão. Falar em dívida pública no Brasil, em que as demandas são imensas e sempre crescentes, é algo que causa desgosto e inquietação.

O cenário do Regime de Recuperação Fiscal, já homologado, não permite sorrisos, mas se considerando a expectativa de diminuição da expectativa de pagamento do serviço relativo aos contratos administrados pela União, com quem o estado tem vultosa dívida de R$ 160 bilhões, para a qual não se chegou a um consenso.

Muita água vai passar debaixo da ponte ainda. O que se espera é que não se venha a sofrer como o Rio Grande do Sul. Lá, depois das enchentes e da destruição, há a sujeira, uma terrível ruína, que ainda resta a enfrentar.


87088
Por Manoel Hygino - 21/5/2024 09:02:03
Acontece por aqui

Manoel Hygino

Ouço incessantemente queixas contra ao serviço público de um modo geral, a ineficiência dos órgãos incumbidos de zelar pelo bem-estar e tranquilidade do cidadão e da população. Os mineiros protestam contra o que se deve fazer hoje e se deixa para amanhã. Os problemas, que são meros problemas, se tornam desafios aparentemente insolúveis.

A despeito das promessas, não se cumprem integralmente os compromissos assumidos pelas autoridades. Já nem se fala no pagamento dos juros da dívida de Minas com a União que fica para as calendas, embora os esforços dos que têm o dever de dar-lhe solução. Há o sentimento generalizado de que não se pode mais adiar, mas não se encontra solução adequada.

Os efetivos resultados dos trabalhos da CPI da Pampulha estão adiados e tampouco se sabe qual será o próximo passo. Enquanto isso, acumulam-se as reclamações e protestos pelo mau cheiro aos visitantes da região. Simultaneamente, ouvem-se comentários esplêndidos sobre o Conjunto Arquitetônico reconhecido mundialmente e motivo de orgulho dos mineiros.

Vamos levando.

Não podemos queixar-nos. Depois de 18 anos, o Brasil voltou a ter um caso de cólera confirmado. É uma doença bacteriana transmitida principalmente por água e alimentos contaminados pela bactéria Cholerae, causando sintomas como diarreia e vômito. Aconteceu na Bahia, em que choveu barbaridade no final de abril.
E houve mais. A Polícia Federal do Pará descobriu um banco utilizado para lavagem de dinheiro proveniente do tráfico internacional de drogas. Os donos do estabelecimento foram identificados como responsáveis por movimentações financeiras milionárias, envolvendo pessoas físicas e jurídicas, muitas delas laranjas e empresas de fachada.

Enquanto uma cantora de nome internacional, cujos méritos não se restringem à voz, conseguia levar mais de um milhão e meio de pessoas a sua apresentação em Copacabana, uma catástrofe no Sul brasileiro levou muitos outros milhares ao desespero, ao desamparo, às dores de falta de abrigo e alojamento, se bem que contando- felizmente- com milhões de conterrâneos solidários e dispostos a bem ajudar.

No Rio Grande, contudo, enquanto tantos se esforçam num mutirão sem fim em favor dos irmãos, muitos fora da lei continuam no seu afã criminoso de saquear, roubar, estuprar, ofendendo todos os que fazem parte desta sociedade. Ainda bem que ainda existem os bons e solidários.


87085
Por Manoel Hygino - 18/5/2024 07:45:20
Esperando o porvir

Manoel Hygino

Violentos tremores de terra na Turquia, tsunamis, no Japão, abalos na crosta da China, incêndios enormes na Austrália, erupções de vulcões na Europa, tempestades de neve no hemisfério Norte são manifestações da natureza que os brasileiros pensavam que só aconteceriam bem longe. Não é assim e a catástrofe, que atinge o Rio Grande do Sul, e diz alto que também estamos sujeitos aos caprichos geológicos. No estado sulino, grande produtor de bens que servem à mesa de nosso povo e engordam a nossa pauta de exportação agrícola, vive-se um período de calamidade, cujas repercussões se estenderão à economia e a toda a nação, não se sabe até quando e quanto.

Os dados fornecidos pelas autoridades sobre a catástrofe são alarmantes e ainda não são definitivos, mas alertam a população de que somos iguais aos demais países e agentes espalhados por imensos territórios.
Caminha-se para 150 pessoas mortas, de acordo com a Defesa Civil. E quando a somatória de caos chegará ao término? Ninguém poderia dizê-lo. Os desalojados totalizam mais de 340 mil, e 150 desaparecidos. As chuvas duram duas semanas e afetam quase dois milhões de irmãos gaúchos, em mais de 400 municípios.

Milhares já foram alvos, além de animais recolhidos a lugares protegidos, mas tudo isso é apenas um pouco da tragédia iniciada praticamente em setembro do ano passado e só temporariamente interrompida. Jamais, naquele território especialmente querido nos mais de 8 mil quilômetros quadrados, tantos sofrem e tanto sofrem.

Solidariedade não tem faltado, mas incomoda especialmente o imprevisível. Não se trata, ademais, de um problema simplesmente brasileiro. As gerações de agora reconhecem que as perspectivas são mais graves, o que se avaliará nos próximos dias, enquanto o sr. Putin ameaça o planeta com ferramentais bélicos nucleares.

Esperemos, ao contrário, que a catástrofe ao Sul e outras tragédias fecundem a solidariedade e aprendizagem de novas lições e práticas no horizonte. Como proclamou, há poucos dias, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, cardeal-arcebispo de Belo Horizonte: “A lição da catástrofe no Rio Grande, sem perder a referência amarga de tantas outras, é um convite urgente a renovar o diálogo, com inteligência e boa vontade para efetivar propostas do modo como se está construindo o futuro do planeta”.


87084
Por Manoel Hygino - 15/5/2024 08:52:13
A morte de Nava

Manoel Hygino

Completam-se 40 anos. Na noite de 13 de maio de 1984, no Rio de Janeiro, suicida-se o escritor Pedro da Silva Nava, com um tiro na cabeça após receber um misterioso telefonema.

Havia transcorrido menos de 30 anos do suicídio de Getúlio Vargas, que dera fim à vida mas com um tiro coração, na manhã de 24 de agosto de 1954, em seu dormitório no Palácio do Catete, após reunião com seus mais graduados auxiliares e no ápice de uma crise política.

Médico inovador, juiz-forano, Pedro Nava, memorialista dos maiores a que Minas serviu de berço, ele começa as mais de 5 mil páginas de obra jamais concluída, parafraseando Eça de Queiroz: “Eu sou um pobre homem do Caminho Novo das Minas dos Matos Gerais. Se não exatamente da picada de Garcia Rodrigues, ao menos da variante aberta pelo velho Halfeld e que, na sua travessia pelo arraial do Paraibuna, tomou o nome da Rua Principal e ficou sendo denominada a Rua Direita da Cidade de Juiz de Fora. Nasci nessa rua, número 179, em frente à Mechanica, no sobrado onde reinava minha avó materna. E nas duas direções apontadas por essa que é hoje a Avenida Rio Branco hesitou a minha vida”. A literatura brasileira perdeu naquela noite de domingo um de seus mais importantes nomes, o memorialista Pedro Nava. Ele foi encontrado morto com um tiro na cabeça, na rua da Glória, no Rio, perto de onde morava. Segundo a polícia, foi suicídio. Ele completaria 81 anos de idade em junho.

Mineiro, médico, companheiro de Carlos Drummond de Andrade na vanguarda modernista, amigo dos mais importantes personagens do mundo cultural do País, até 1972 Nava só havia publicado poemas esparsos. Naquele ano, editou seu primeiro livro ("Baú de Ossos"), ao qual se seguiram mais cinco. Sua sétima obra ("Cera das Almas") já estava praticamente concluída.

Foi possível recompor os últimos passos de Nava. Na noite de domingo, em seu apartamento na rua da Glória, ele terminou de escrever o discurso que deveria pronunciar na Assembleia Legislativa do Rio, no dia 23, quando receberia o título de Cidadão Fluminense. Mostrou o discurso à mulher, d. Antonieta, e jantou normalmente. Por volta das 20 horas, o telefone tocou e a esposa atendeu, uma voz de homem perguntava por Pedro Nava. Este ouviu em silêncio o que a voz lhe dizia e depois desligou. À mulher, ele informou apenas tratar-se de um trote de mau gosto. Às 22 horas, dona Antonieta foi ao banheiro. Nava então saiu, sem avisá-la (segundo a família, "fugiu"). Mais tarde, foi visto sentado à calçada, parecendo abatido em meio ao movimento de prostitutas e travestis. Às 23h30, o tiro, disparado de um velho revólver calibre 32, do próprio Nava.

Em entrevista concedida à "Folha" em junho anterior, em seu 80° aniversário, ele dissera “ter pensado várias vezes no suicídio, mas que o fato de ser médico o protegera, até ali, contra o ato”.


87082
Por Manoel Hygino - 14/5/2024 09:00:12
Rodas contra câncer

Manoel Hygino

Se há uma área médica a que Belo Horizonte e, por extensão, Minas Gerais dá especial atenção, é a do câncer. O que aqui se fez, desde as primeiras décadas do século passado no combate à doença, até hoje das que mais matam no mundo, é quase inacreditável, considerando que a capital fora inaugurada em dezembro de 1897.

Os profissionais vinham de fora, até porque aqui não havia faculdades de medicina, além de que especialização era coisa raríssima. Somente em 1919, o câncer passou a preocupar. Um grupo de profissionais começou a reunir-se na casa de Ezequiel Dias (ele era cunhado de Oswaldo Cruz) para tratar do assunto, e médicos de alta reputação compareciam para discutir o que se podia fazer. Entre eles, estava – por exemplo – Eduardo Borges da Costa, carioca com dois anos de formado e cheio de entusiasmo. Na noite em que aqui desembarcou, a cidade repleta, ele teve de dormir numa mesa de bilhar no Grande Hotel, porque não havia vaga nem em hospedarias.

No dia seguinte pela manhã, foi à Santa Casa, único lugar de assistência médica e ao provedor Júlio Veiga declarou que queria trabalhar e não ganhar nada. Imediatamente atendido, assumiu de pronto a chefia de Clínica Cirúrgica, onde permaneceu até o final da vida, gloriosa – posso afirmar. Foi importante sua atuação nos meios políticos, conseguindo a constituição de uma comissão para tratar do assunto junto ao presidente de Minas, Artur Bernardes. E mãos à obra.

Em 1922, o Instituto do Câncer foi inaugurado, com a capital e o Estado pioneiramente à frente de toda a América; um júbilo ainda hoje não comemorado com a merecida relevância. Aqui enfim, estava o Instituto, honrando nossa Medicina e a classe médica, o espírito público nas montanhas. Belo Horizonte se equiparava a Paris.


Em 2023, a filantrópica pôs também a serviço da população a Unidade Móvel de Saúde Oncológica SUS, com uma carreta que percorre as cidades de Minas Gerais para exames de mamografia, raio X e atendimentos multiprofissionais na área de câncer, focando ainda a educação, prevenção e identificação de casos de alta suspeição em crianças, adultos e idosos.

Roberto Otto Augusto de Lima, o provedor, no dia do início de trabalho da Unidade, afirmou: “Um marco simbólico para a Santa Casa BH, pois recentemente a gigante da saúde do estado passou por um reposicionamento institucional e tornou-se uma causa: saúde de ponta para todos, e essa causa não cabe mais dentro do prédio.

“Ela é maior do que a própria instituição. E, agora, mais do que nunca, não cabe no hospital, a Santa Casa BH ganhou rodas e vai para as estradas, levando saúde a quem precisa. Vamos levar prevenção e tratamento para toda Minas Gerais. É algo tangível nesta nossa causa”.


87080
Por Manoel Hygino - 11/5/2024 07:15:03
Drama no Sul

Manoel Hygino

A já longa tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul nos deixa a todos em sofrimento, se é que somos um povo efetivamente irmão e solidário. Procurei transmitir os sentimentos de que me achava possuído, e me lembrei do nome de um velho tango argentino: “Sin palavras”. Como definir numa palavra única a dor que desabou amplamente pelo nosso estado mais ao Sul?

Catástrofe talvez a mais indicada, porque corresponde a uma grande desgraça, lembrando que o profeta Jeremias expressou sua angústia com a destruição de Jerusalém pelo exército dos caldeus de Nabucodonosor, em 587 antes de Cristo.

A descrição nos leva a ver diante dos olhos extensas regiões de terras gaúchas nos dias de abril e maio. A rua entulhada de destroços do Templo, dos prédios públicos e casas particulares. E, quando Jerusalém ficou deserta, o profeta Jeremias assentou-se a chorar e lançar gritos de dor, as chamadas Lamentações.

O ministro Edson Fachin, gaúcho de nascimento, fez como Jeremias, expressando profunda preocupação com a situação catastrófica do estado, após visitar Porto Alegre e Canoas, ao lado de Lula e outras autoridades dos três poderes.

Vice-presidente do STF, Fachin comparou o impacto da tragédia a uma “Bomba atômica” da natureza, ressaltando que o estado enfrenta uma crise humanitária, social, econômica e ambiental sem precedentes. Ele enfatizou a importância da cooperação entre todas as esferas do Judiciário e dos poderes, incluindo União, Estado e Municípios para enfrentar a situação crítica. Finalmente, destacou a urgência de implementar um regime jurídico emergencial, similar à época da pandemia, para lidar com os desafios decorrentes da catástrofe.

Numerosas estradas estão fechadas ou interrompidas. O aeroporto Salgado Filho deve permanecer com atividades suspensas até o final de maio.

A Abear informou, também, que os aeroportos das cidades de Passo Fundo, Caxias do Sul, Pelotas e Santo Antônio ainda estão operando, mas podem ser impactados pelas condições meteorológicas no estado, onde chove há vários dias. “A Abear se solidariza com a população do Rio Grande do Sul e, junto com as suas associadas, se mantém à disposição para contribuir com ações de logística para viabilizar o transporte de doações”.

Mais de uma centena de mortos, o dobro de feridos e desaparecidos. As chuvas voltaram e o grande medo agora são dos que fazem saques e roubos nas áreas atingidas.


87078
Por Manoel Hygino - 8/5/2024 08:45:35
O apelo de Maduro

Manoel Hygino

Fica-se imaginando o que serão as eleições na Venezuela, sobretudo porque a hora se aproxima e ninguém segura o tempo. O pleito será no apagar das luzes de julho próximo e ninguém sabe o que a ditadura de Nicolás Maduro poderá tramar até lá. Esse “negócio” de ocupar altos cargos públicos deve ser bom para os candidatos, caso contrário ninguém estaria tão disposto a disputá-los.

No caso específico da Venezuela, a Coordenação Nacional, alinhada ao presidente, anunciou a inabilitação política de mais cinco opositores ao regime, o que dá ideia do tipo de democracia que se pratica no país ao Norte.

Ao longo dos mais recentes meses e anos, Nicolás Maduro vai afastando sistematicamente todos aqueles que querem apresentar-se como candidatos. Nenhum dos que manifestaram desejo e propósito do ilustre titular do palácio, sobrou. Caracas é uma cidade que já foi muito boa para nela se morar.

A lista já extensa de líderes que perderam o direito político antes do processo eleitoral vai-se avolumando e o nome de Maduro é o único intocável, por motivos óbvios. O episódio me desperta para o que aconteceu com Putin, o presidente da Rússia, que tem o mesmo desvelo pelos que pretendem o voto dos patrícios.

Na recente eleição no país do Norte, Vladimir Putin pediu aos compatriotas que votassem para demonstrar patriotismo. Disse com a maior caradura: “Peço que compareçam para votar e expressem a sua posição cívica e patriótica, que votem no candidato de sua escolha, pelo futuro da nossa amada Rússia”, disse Putin em um discurso exibido pela televisão pública russa.

“Participar nas eleições é demonstrar seus sentimentos patrióticos”, acrescentou Putin, candidato à reeleição. “Estou convencido de que compreendem o período difícil que o nosso país atravessa, os difíceis desafios que enfrentamos em praticamente todas as áreas”.

Como se tinha certeza, o eleitorado atendeu ao pedido do titular do Kremlin. Será mais um mandato para o camarada Vladimir, que já deve estar sonhando com mais um período de governo, quanto terminar o que ainda sequer começou.

Depreende-se que tanto no alto do mundo, bem no Norte, se tem igual voracidade de poder como no hemisfério Sul. O antecessor do atual mandatário venezuelano poderia melhor manifestar-se sobre o tema. Se não tivesse sido cerceado pelo câncer, que agora fere profundamente o Mujica no Uruguai, Hugo Chávez daria a resposta. Infelizmente, já partiu, há muito.


87077
Por Manoel Hygino - 7/5/2024 08:27:06
A hora de Mujica

Manoel Hygino

O Uruguai volta novamente, com destaque, aos principais jornais do Brasil... E do mundo. Desta vez, não para informar que políticos brasileiros ou de outras nações sul-americanas tivessem pedido asilo ou lá se refugiaram. Apesar do pequeno território – menos de 180 mil quilômetros quadrados– quando ditaduras no hemisfério sul apertavam, para lá fugiam os perseguidos. Basta se dar uma volta ao passado para confirmar.

Imprensado entre Brasil e Argentina, pressionado por ambos em momentos decisivos da história, lideranças de outros povos procuravam asilo nos pampas ao sul do arroio Chuí e de outras regiões limítrofes. Páginas heroicas do solo oriental foram escritas, de que muito se orgulham os poucos milhões de uruguaios, que sempre lutaram em defesa de seu território, de suas riquezas e da concretização de projetos e sonhos. Na monarquia ou na república brasileira, foi assim.

Até o século XVII, a região do atual Uruguai era habitada pelos índios charruas, chamaés e guaranis, cujas tribos também habitavam por aqui.

Em 1680, os portugueses criaram uma colônia em Sacramento, mas foram expulsos pelos espanhóis que, em 1726, fundaram São Felipe de Montevidéu.

Daí em diante, portugueses, espanhóis e uruguaios, estarão sempre em guerra para ver com quem ficaria o rico quinhão. Os blancos e colorados acirram o ambiente, do lado dos partidos nacionais. Entra a França na disputa. Em apoio ao caudilho colorado Venâncio Flores, o Brasil intervém enquanto o próprio Uruguai passa a integrar a Tríplice Aliança, ao lado do Brasil e Argentina, na Guerra do Paraguai. Complicado. Em determinado período, o território é anexado ao Brasil, numa espécie de estado, com o nome de Província Cisplatina. Era 1821.

José Mujica, ex-guerrilheiro que governou o país de 2010 a 2014, conquistou prestígio no continente. Agora está gravemente enfermo, de uma doença imunológica há mais de 20 anos e, desde o final de abril de 2024, com câncer complexo.

Há poucos dias, em seu gabinete em Montevidéu, foi claro e peremptório, falando aos jovens: “Vocês que a vida é bela e passa, vai embora, e o cerne da questão, ter sucesso na vida, é recomeçar toda vez que alguém cai. Se há raiva, que a transformem em esperança e lutem pelo amor, não se deixem enganar pelo ódio. Se as drogas os pegarem, não fiquem sozinhos, ninguém se salva sozinho. A única liberdade que existe está na cabeça e chama-se vontade, e se não a usarmos não somos livres. A vida é tão bonita que não faz sentido sacrificá-la pela estupidez”.


87075
Por Manoel Hygino - 4/5/2024 10:20:02
Acerto de conta

Manoel Hygino

Sem contar novidade, a recente afirmativa do presidente Marcelo Rebelo de Sousa, de Portugal, a jornalistas estrangeiros, foi clara, incisiva e incontestável. Na noite de quarta-feira, 24 de abril deste fluente ano de 2024, o chefe da nação lusa declarou peremptoriamente a correspondentes estrangeiros em Lisboa que “Portugal assumia total responsabilidade” pelos erros do passado e que os crimes incluem massacres, e tiveram “custos”. “Devemos arcar com os custos”, concluiu o raciocínio.

É alto de eminentemente sério, partindo de um chefe de Governo, mas não é a primeira vez que Rabelo de Sousa se manifesta sobre um tema tão candente, tão velho e, simultaneamente, tão atual. Em abril de 2023, ele já dissera que o país deveria desculpar-se e assumir sua responsabilidade pelo comércio transatlântico de escravizados. Por sinal, na época, ele foi o primeiro líder de uma nação do sul da Europa a sugerir tal atitude.

E avançou mais na exposição de seu ponto de vista: “pedir desculpas às vezes é a coisa mais fácil de fazer. Você pede desculpas, vira as costas e o trabalho está feito”, declarou então. Desta vez, foi mais longe e profundamente: mencionou o dever de uma reparação, repetindo que “pedir desculpas é a parte mais fácil”.

Afirmou de modo indiscutível: “Há ações que não foram punidas. E os responsáveis não foram presos? Há bens que foram saqueados e não devolvidos? Vamos ver como podemos reparar isso”. Vê-se que o presidente assume, neste ano que se aproxima da metade, um grande papel perante sua pátria, perante o Brasil e de relevância supranacional.

Os periódicos que cuidaram do assunto encontraram subsídios fartos, e obviamente o Brasil poderá muito explorá-lo.

Por mais de quatro séculos, milhões de africanos foram sequestrados, transportados à força em navios por comerciantes principalmente europeus e vendidos como escravos. Aqueles que sobreviveram à viagem acabavam trabalhando em plantações nas Américas, em especial no Brasil e no Caribe. Portugal teve um papel importante nesse sistema, já que traficou quase seis milhões de africanos, mais do que qualquer outra nação europeia. Até agora, porém, falhou em confrontar seu passado.

A própria declaração de Rebelo no ano passado foi marcada por uma ponderação contraditória que romantiza o modelo escravocrata. Na ocasião, o presidente português disse que a colonização do Brasil também teve fatores positivos, como a difusão da língua e da cultura portuguesa. “Mas, do lado ruim, a exploração dos povos indígenas, o sacrifício dos interesses do Brasil e dos brasileiros”, disse.


87073
Por Manoel Hygino - 1/5/2024 10:30:17
Bom para o Brasil

Manoel Hygino

Não é de hoje nem de ontem que temos advertido para os problemas que a siderurgia brasileira atravessava. Parece incrível que, tantas décadas após a nação ter criado e desenvolvido um setor econômico tão importante, enfrentando o desafio no mercado internacional, ainda estivéssemos a clamar para que a produção alcançasse os níveis desejados, necessários e indesviáveis.

Mais recentemente, o ingresso da China no mercado internacional resultou em abalo enorme nos preços, fazendo tremer nossas contas e perspectivas. Finalmente, transpôs-se a barreira e a situação começa a clarear. É uma bela hora, enfim. O Instituto Aço Brasil, que representa as siderúrgicas brasileiras, deu aval à medida providencial aprovada pela União.

Com aplauso, a entidade avalizou a decisão do governo federal de implantar uma cota para importação de produtos siderúrgicos e sobre- taxar em 25% o volume de compras externas que extrapolam o teto. Demorou, mas saiu. Na penúltima semana de abril, o Comitê Executivo da Câmara de Comércio Exterior, Camex, colegiado do governo federal, aprovou a medida. Finalmente.

A decisão ocorre depois que as empresas siderúrgicas nacionais protocolarem pedido para aumentar a alíquota do Imposto de Importação dos diversos produtos ligados ao aço para o percentual referido. Foi o período de uma gestação humana. Nove meses de negociação para resolver-se uma situação predatória para o aço aqui produzido, onde se extrai o minério. Quase a fórceps, mas enfim.

O setor se comprometeu a retomar investimentos previstos e manter os empregos nas siderúrgicas, que estavam ameaçados pelo aumento da importação de aço, principalmente da China. O setor aporta, em média, R$ 12 bilhões por ano no Brasil. Valores médios para manutenção das unidades fabris, mas que podem crescer de acordo com os novos projetos. Grandes empresas como Usiminas, Gerdau, Arcelor e Aperam têm planos de investimentos bilionários em curso, boa parte deles em Minas Gerais. Durante os nove meses de tratativas entre o setor e o governo federal para impor essa sobretaxa ao produto importado, esses investimentos foram colocados sob risco.

Agora se espera que a China não volte com novas propostas que comprometam tão valioso setor. Chegamos com algum atraso ao ponto atingido. Não é de bom alvitre nem sensato voltar no tempo, o que representaria uma grande perda em uma área da economia a que o Brasil se acha vocacionado historicamente.


87072
Por Manoel Hygino - 30/4/2024 08:35:14
Nova instituição

Manoel Hygino:

José Fernandes Filho atuou com admirável distinção nos altos cargos que exerceu na vida pública de Minas. No Executivo como secretário de Estado ou na magistratura, deixou lições e registros de dignidade em bem servir. É exemplo e lição de vida, que servem de rumo e caminho para os cidadãos que formam a sociedade mineira.

Integrando hoje a Academia Mineira de Letras, pela qual têm também passado homens ilustres e merecedores do respeito de seus cidadãos, publicou ele, há poucos dias, um depoimento pessoal que merece registro, como ora faço. José Fernandes Filho, meu confrade na Academia, relata que teve um sonho real, afetivo, induvidoso. Do qual acordara feliz, a compensá-lo dos pesadelos, que o acicatam. “Ao abrir-me uma janela ensolarada, quase redentora. Não grandioso tal o sonho de Luther King de acabar com a segregação social em seu país”. Conta:

“Sonhei, aos 94 anos com a criação de alguma instituição, cuja clientela fosse apenas e tão somente de carentes e necessitados. Pessoa jurídica, a prestar serviços gratuitos, integrada por seres humanos sedentos de um rumo para a vida. Instituição singular, fundamentada na firme convicção de que a vida só tem sentido quando a serviço dos outros”.

Adiante: “Do sonho à realidade: colegas com iguais preocupações, angustiados, prisioneiros da velhice, companheiros de caminhada. Convocados, refletimos, conversamos. Sabedoria, todos, de que a vida é o exercício do possível. Não fazemos o que deveríamos fazer nem o que gostaríamos de fazer, mas o que podemos fazer.

A despeito disso, a vida é bela. Basta adicionar-lhe uma pitada de sol, pessoal e intransferível, para espancar-lhe a escuridão”.

O ex-presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais afirma ter companheiros certos em seu projeto e cita alguns nomes dos que já estão a seu lado: “ Não por acaso vieram ao mundo Seabra Fagundes, Mandela e tantos outros, testemunhos vivos de que a vida merece ser vivida.

Arraigada crença na economia do bem, aqui estamos, eu, João Luiz, Gutemberg e João Baptista, embarcados na benfazeja nave da esperança. Visionários, ingênuos, inocentes?. O tempo responderá. Outros serão bem-vindos. O barco é espaçoso, capaz de a todos acolher. É conhecido, por isso, como nave-mãe.

Realistas, verazes, determinados, os quatro reiteram: conviver, viver com, é bênção e desafio. Aquela, fruto da confidencialidade, ínsita nas amizades duradouras. Este, a exigir dos confidentes total transparência, revelados como efetivamente são, na santa nudez da verdade”.


87071
Por Manoel Hygino - 29/4/2024 09:21:20
Joaquim Cardoso

Manoel Hygino

Mesmo expirando abril, mesmo olvidando Joaquim Cardozo, não se esquece Brasília, cujo aniversário de inauguração como capital nacional se festejou sem especiais festejos no dia 21 deste mês, em que honramos a memória e sacrifício de Joaquim José. Mesmo o Tiradentes, por motivos sabidos e compreensíveis, não recebeu a homenagem sempre merecida.

Ao lado de Niemeyer, por exemplo, esteve Lúcio Costa, arquiteto, que se encarregou do conceito urbanístico da cidade-parque, hoje plenamente consolidado. Competiu-lhe, também conforme Luiz Carlos Azevedo, projetar a Torre de TV e a Rodoviária do Plano Piloto, marco Zero da capital: É por ela que a vida dos moradores do Distrito Federal se conecta com a arquitetura monumental. “Brasília é fruto da imaginação diante das pranchetas e dos cálculos de engenheiros projetistas”.

Aí entra Cardozo, o grande calculista das principais obras da cidade e poeta que o Brasil praticamente desconhecia. Seu nome foi lembrado neste 2024, em versos de João Cabral de Melo Neto e na prosa de Imprensa: "O que seria da luz de Brasília sem seu traçado e o concreto armado, em meio ao cerrado? Sim, a luz de Cardozo veio do Recife e lembra Velásquez, mas encontrou seu espaço no cálculo dos grandes palácios que encantam o mundo e faz do Plano Piloto uma cidade única e até hoje futurista. São de Joaquim Cardoso os cálculos estruturais da maioria dos prédios icônicos da capital federal, que hoje completa 64 anos”.

Eleito governador de Minas, Israel Pinheiro, terminada a missão anterior de presidir a Comissão Construtora da nova capital nacional, ao aproximar-se o final do mandato, desejava também erguer no bairro Gameleira, em Belo Horizonte, um Pavilhão de Exposições. Mostrar-se-ia tudo o que o Estado produzia e o mais que pretendia. O projeto era de Niemeyer e os cálculos evidentemente de Joaquim Cardozo. Tudo se fazia como a legislação determinava e consoante as normas de engenharia, com cálculos de Cardozo, o maior do Brasil, o que tornara viável a metrópole mais moderna do planeta.

Tudo rigorosamente acompanhado pelo próprio governador, que pela manhã, dia a dia, auscultava o engenheiro responsável sobre a consecução do projeto.

Inesperadamente, o Pavilhão desabou. Sem explicações. No Palácio dos Despachos, na Praça da Liberdade, reuniões sucessivas, presentes diretores de construtoras se disponibilizando a qualquer colaboração. Muitos mortos, feridos. Joaquim Cardozo, respondeu à Imprensa. Nada a fazer. Não conteve as lágrimas. Poetas - além de fazer versos - choram.


87064
Por Manoel Hygino - 18/4/2024 09:05:50
Ainda sobre 1964

Manoel Hygino

Não se disse tudo sobre o golpe de 1964. Ou revolução, como preferem outros considerá-la. Inúmeros os mortos, feridos, expulsos do país, fugitivos. O ambiente se caracterizara pela intolerância, pela disposição de mudar um quadro muito anteriormente esboçado e preparado.

Quando finalmente se deu largada para a publicação de um livro revelador como “Memórias: A verdade de um revolucionário”, muitos anos tinham decorrido, como bem o sustenta o próprio autor, o general Olympio Mourão Filho, com apresentação e utilização de arquivos do historiador Hélio Silva.


O general que comandou a tropa que partiu de Juiz de Fora para o Rio de Janeiro, em 31 de março de 1964, confessa que ele próprio “não pretendia escrever, nem muito menos publicar este livro”.

“Explica que aqueles que assim procedem terminam sem importância, com prejuízo do geral, objeto da História; ou, ainda, dominados pela paixão despertada ao sabor dos acontecimentos, falseá-los, o que ainda é pior; além disto, como a História não é um relato puro e simples, é necessário tempo para o exame das reações e consequências, que não podem ser adivinhadas”.

Diz o velho general: “Minha intenção era deixar apontamentos relativos aos fatos, a fim de permitir a historiadores futuros, não envolvidos diretamente neles a tarefa de relatar imparcialmente os eventos, desprezando as minúcias, fazendo luz sobre o fato geral e tirando as consequências que só o futuro pode mostrar”.

Com os anos, Mourão sentiu que era dever escrever. “Para restabelecer a verdade para destruir os falsos e numerosos heróis, a começar por mim próprio, que não pratiquei nenhum, heroísmo. Para fazer aluir a pretensão de falsos chefes da Revolução”.

Afirma, peremptoriamente: “Meu verdadeiro e principal papel consistiu em ter articulado o movimento em todo o país e depois ter começado a Revolução em Minas. Se nós não o tivéssemos feito, ela não teria sido jamais começada”.

Tanto anos decorridos de 1964, ler o que conta Olympio Mourão é válido. Pairam ainda dúvidas ou controvérsias sobre a revolução/golpe, que repercute na vida, de cada brasileiro e de todos, em nossos dias, em outro século e sob outras circunstâncias.

Uma coisa é certa e insofismável. O livro do general ajuda, e muito, a entender os acontecimentos de décadas transpostas. Não sei se o volume é encontrado ainda em livraria; ou em algum sebo, talvez.





87063
Por Manoel Hygino - 16/4/2024 09:20:55
O nosso petróleo

Manoel Hygino

Josué Montello é nome consolidado como um dos grandes escritores brasileiros no século passado. Conviveu com os maiores de seu tempo, mas também com diplomatas, políticos e, enquanto se dedicava à literatura, fazia anotações em cadernos próprios, dos quais não se apartava. Confessava: "Nada mais sou do que escritor. Escritor pela graça de Deus. Não me deduziram outros títulos. Não busquei outras recompensas. E, se tivesse de reviver esta vida, queria vivê-la com igual pendor”.

Acrescenta: "Já descendo a outra encosta da vida, a nada mais aspiro do que este canto, esta folha de papel, esta caneta, estes livros e a luz desta mesma lâmpada, enquanto ouço perto de mim os passos da companheira perfeita, outra dádiva de Deus".


Concluída a sua obra como romancista, pôde voltar-se para a publicação de seus diários, valiosos pela sua qualidade literária, mas também pelo conteúdo, porque neles encontramos referências a episódios que não exigiram as numerosas e cuidadosas páginas da ficção.

No "Diário da Manhã", editado pela Nova Fronteira em 1984, Montello anotou em 16 de dezembro de 1953: "Vargas, há dois meses, deu um passo arrojado, que o restituiu aos dias em que criou Volta Redonda; assinou a lei que instituiu o monopólio estatal do petróleo, criando a Petrobras”.
No Hotel Glória, onde vou visitar o Ministro João Neves da Fontoura, este me diz, com ar consternado, ao pé da orelha, no momento em que vem deixar-me à porta do elevador:

- Getúlio semeou ventos; vai colher tempestades. A esta hora, já estou querendo ver onde me abrigar durante o temporal".

Decorridos tantos anos, decênios até, fica-se a meditar sobre o pensamento do antigo ministro Neves da Fontoura. Depois do movimento do Petróleo é Nosso, que reuniu nas capitais a juventude entusiasmada com a possibilidade de o Brasil libertar-se da dependência ao jugo óleo negro, somados aos comunistas que não eram poucos, a empresa estatal deu e dá fortes dores de cabeça aos chefes de governo. Lembre-se da Lava Jato, por exemplo, e quantos tiraram proveito dos lucros da estatal, ilicitamente.

A mais recente ou atual crise na Petrobras ganhou corpo após o seu Conselho de Administração reduzir o pagamento de dividendos, guardando o lucro de R$ 43,9 bilhões para reserva da remuneração de capital. Com isso, a União, principal acionista da estatal, deixaria de receber R$ 12 bilhões, o que desagrada ao governo de forma geral, além de colocar o nome do presidente Jean Paul Prates na mira do Ministério de Minas e Energia e de outros ministros palacianos. Esperam-se decisões importantes na reunião do dia 25.


87060
Por Manoel Hygino - 13/4/2024 08:44:04
O caso Marielle

Manoel Hygino

Não esqueceria. Um dia exatamente após meu natalício, isto é, em 14 de março de 2018, a vereadora carioca Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes foram assassinados na antiga capital da República, após participarem de uma reunião política bem no Centro do Rio de Janeiro.

Foi meia dúzia de anos em investigações, em que se envolveram integrantes de várias polícias, em gestão de dois presidentes da República. Dois ministros da Justiça participaram de levantamentos diversos ao longo do tempo decorrido: Flávio Dino, desde a posse de Lula, e Ricardo Lewandowski, que assumiu o posto após o primeiro demitir-se para ingressar no STF.

Lewandowski, ainda às voltas na caça a dois fugitivos da Prisão de Segurança Máxima de Mossoró, Rio Grande do Norte, afirmou que a prisão dos envolvidos no caso Marielle, no domingo, 24 de março de 2024, “é uma vitória do Estado brasileiro, das nossas forças de segurança do país em relação ao crime organizado”. “Neste domingo chuvoso de março, a verdade começou a ser desvelada”, dizia um texto assinado por membros das famílias enlutadas.

Já na Páscoa, um domingo muito especial, a Polícia Federal prendeu os irmãos Domingos Brazão e Chiquinho Brazão, indicados como mandantes do crime contra Marielle e Anderson, que ocupavam elevados cargos na administração pública carioca. O primeiro era conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio e Mano deputado federal pelo partido União Brasil.

Foram também presos: o delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do Rio, e Edilson Barbosa dos Santos, conhecido como Orelha, dono do ferro-velho que desmanchou o automóvel preto usado pelos assassinos, além de Ronnie Lessa, autor dos disparos, Elcio de Queiroz, que teria dirigido o carro na noite do crime e Maxwell Simões Corrêa, o Suel, que participou pessoalmente com medidas oportunamente necessárias, inclusive no desaparecimento da arma utilizada.

Com as prisões, a Polícia Federal considerou encerrada a apuração sobre os mandantes, intermediários e executores do duplo assassinato; Andrei Rodrigues, observa contudo: “Isso não impede que outras situações sejam analisadas”. Andrei é diretor-geral da Polícia Federal atualmente. Ainda: o delegado Rivaldo Barbosa foi demitido da Universidade Estácio de Sá, em que era professor de Direito desde 2003.

E agora: vai-se esperar mais seis anos?


87056
Por Manoel Hygino - 10/4/2024 09:01:42
Apenas uma morte

Manoel Hygino

Esta é uma das funções da Imprensa: fiscalizar as ações do poder público; em suas inações, o que é muito comum. Basta que se acompanhe a sujeira de ruas nas cidades, a intolerância flagrante, a violência crescente, o desrespeito ao patrimônio histórico ou aos monumentos recém-implantados. Uma tristeza de doer.

Por esta coluna, há cerca de dois anos, tecemos elogios à assinatura e ao contrato para construção de uma grande ponte sobre o Rio São Francisco, entre os municípios de Pintópolis e São Francisco, com 1.130 metros de comprimento, de vital importância para toda aquela região, cenário das aventuras de Antônio Dó, personagem do escritor Petrônio Braz, prefeito de várias cidades e conceituado advogado.

Passada a Páscoa, lendo as mesmas folhas, verifico que as obras da ponte estão interrompidas desde a primeira metade de 2023, pois cancelado o contrato com a firma, quando apenas 20% foram concluídas. Uma lástima.

Seriam empregados na construção 11,1 milhões, o que dá uma ideia de sua grandeza e do que ela representaria para toda a área de sua influência, cuja população terá de voltar a fazer a travessia nas lentas balsas de anteriormente, retardando o transporte entre as margens do rio da unidade nacional.

O DER-MG informa que vai abrir licitação para a finalização, mas até que as providências legais sejam concluídas mais tempo será consumido e não há previsão para retomada da construção.

O prefeito de Francisco Sá, Levy Lopes, diz que a interrupção das obras "desacelera o progresso do município". O secretário-executivo e coordenador da Defesa Civil de Pintópolis, Nilson Pereira Ruas, lamenta que os moradores, incluindo os pequenos produtores rurais, tenham de pagar a conta do atraso.

Segundo ele, sem a ponte, tudo fica mais difícil. "Temos problemas diariamente para a travessia de balsa. Às vezes, as pessoas precisam esperar até três horas para cruzar o rio". Aquele expressivo território de Minas Gerais pode perfeitamente adquirir maior importância e muito beneficiar o estado e os que o habitam. Quem lê a história da região conhece as dificuldades e os desafios que ela tem enfrentado desde os anos 1.500. É isto mesmo. Aquele pedaço do chão mineiro é sobremodo valioso em termos de história, teremos de esperar mais, no entanto.


87052
Por Manoel Hygino - 9/4/2024 09:02:23
A América ainda

Manoel Hygino

Constitui sempre problema falar sobre os países latino-americanos, em face das reiteradas mudanças de governo e de presidentes. É o caso, por exemplo, do Equador, que tem menos de 280 mil quilômetros quadrados e que já foi tido como território de paz e cordialidade.

Com população predominantemente cristã e menos de 14 milhões de habitantes, viveu um período bastante longo e firme, com economia baseada em produtos agrícolas exportáveis como café, cacau e predominantemente, bananas, de que é um dos maiores produtores mundiais e de venda externa.

Com 50% de seu petróleo exportado, o Equador esteve em apreciável tranquilidade interna e adotou o dólar como moeda oficial, depois de grande crise econômica em 2020. Mais recentemente enfrenta o narcotráfico, que conduz a população ao medo e a regimes políticos de instabilidade.

Na primeira semana de abril, registrara-se uma nova onda de violência, que provocou três massacres em dois dias. O país, de passado relativamente tranquilo, pois, está mais recentemente sob comando de quadrilhas que disputam violentamente as rotas do narcotráfico.

O ciclo de violência causou o aumento da taxa de homicídios, que cresceu de 100 mil habitantes em 2018, para o recorde de 43 por mil habitantes para 100 mil em 2023.

As agências informativas publicam que o primeiro massacre foi numa sexta-feira, antes da Semana Santa, quando quatro pessoas, entre as quais um militar, foram assassinadas na cidade de Manta, departamento de Manabi. Logo em seguida, outro ataque se registrou na área de Guasmo, na cidade de Guayaquil, Sudoeste do Equador e a maior cidade do país. Oito pessoas foram mortas a tiras a tiros e outras oito ficaram feridas e estão sob proteção policial.

Um grupo de turistas também foi assassinado em uma praia do Sudoeste por traficantes. Ao presidente Daniel Noboa, que decretara estado de exceção, restou enviar condolências às famílias das vitimas. Assim, somos na América.

O grupo de turistas não tinham vínculos com organizações criminosas, mas os agressores “aparentemente teriam confundido esses indivíduos com seus adversários na disputa pelo micro-tráfico na região”.

Em verdade, o estado de exceção não conseguem evitar o pior no continente que Colombo, bem mais ao Norte, descobriu.


87055
Por Manoel Hygino - 6/4/2024 07:32:55
Meu amigo Pedro

Manoel Hygino

O presidente da Academia Mineira de Letras, Jacyntho Lins Brandão, não deixa a peteca cair. Para a Semana Santa, programou um belo programa, para a terça-feira, 26 de março. Deste modo, a partir das 19h30, recebeu Tadeu Sarmento para uma palestra do escritor pernambucano sobre um tema que passa quase ignorado pelos interessados na história nacional.

Tadeu Sarmento tem 47 anos, já editou 13 livros, entre romances, contos, poesia e biografia e já conquistou vários prêmios importantes, o que é uma distinção a que muitos aspiram na difícil existência de escritor.

O autor, com propriedade, discorreu sobre seu livro mais recente "Meu amigo", lançado pela editora Abacatte, em que resgata interessantes momentos e fatos da vida do primeiro e único imperador nascido no Brasil. O escritor da terra de Gilberto Freyre conta a difícil infância de Pedro II, sem brinquedos, marcada por rotina de obrigações e estudos que o tornaria o mais jovem imperador da história. Segundo os editores, o volume é um convite a que os jovens reflitam sobre o direito das crianças à sua própria infância.

Em 1841, um dia antes de ser coroado imperador do Brasil aos 15 anos de idade, Dom Pedro II foge do palácio na companhia de Gato, amigo fiel e filho do sapateiro real, para viver seu único dia de criança pelas ruas e praias da cidade do Rio de Janeiro do século XIX. "Dom Pedro II foi de fato um personagem controverso de nossa história, ou um personagem importante (...) Culto, progressista e apaixonado pelo país, o imperador foi, sobretudo, uma criança que não teve infância, ou um garoto cuja infância foi roubada pelas altas expectativas que tinham a seu respeito".

Segundo Tadeu Sarmento, o progressista Dom Pedro II, seu amor pelo Brasil e sua simpatia pela causa abolicionista fazem crer que a história contada em "Meu amigo Pedro é possível, ou absolutamente verossímil”.
O direito à infância é tema principal também em mais três livros escritos pelo autor, com foco nos jovens leitores: "O cometa é um sol que não deu certo”, (infâncias interrompidas pelo abuso sexual); “Sundiata, o filho de Sogolon” (infâncias interrompidas pela alta expectativa dos adultos em relação aos filhos). "Garantir o direito à infância de todas as crianças é garantir um futuro em que adultos tenham sido crianças que não precisam envelhecer rápido e que, por isso, se tornam saudáveis", concluiu.

Tadeu Sarmento, a despeito de tudo o que já produziu, ainda não goza do prestígio a que faz jus, em quase cinco décadas de produção.


87050
Por Manoel Hygino - 3/4/2024 10:31:10
A porteira do crime

Nenhuma hora seria mais propícia ao esclarecimento de numerosos casos pendentes de solução no âmbito da administração pública do que a que ora o Brasil chegou. Penso que as revelações do caso Marielle desperta a nação que não queria mais acreditar na Justiça diante das delongas que conduziam às prescrições ou ao cancelamento de pesadas punições que se aplicariam aos temíveis beneficiários de indevidos favores públicos. A ascensão de um novo procurador-geral da Justiça indica simultaneamente a possibilidade de dar fim e punir os criminosos que imensos prejuízos causaram e causam ao patrimônio e tesouro públicos. Lembrei aqui, há algum tempo, o caso da J&F, que é apenas um entre tantos casos.

Em fevereiro último, o jornalista e professor Aylê-Salassié Filgueiras Quintão, atento ininterruptamente, também ingressou no indigesto assunto, mais uma vez, com coragem. Registrou, então: “Nesses dez a quinze anos, tempo de três a quatro mandatos presidenciais, e metade do tempo das aposentadorias no Supremo Tribunal Federal, se se somar os desvios de recursos públicos da Lava Jato e do Mensalão - este sempre lembrado na discussão das tais emendas parlamentares -, a soma dos dois inquéritos políticos policiais representaria um prejuízo ao Tesouro Nacional superior a 20 bilhões de reais. Para ficar na Lava Jato. Cinco anos de investigação, 285 condenações, 600 réus e 3.000 anos de penas de prisão. Só no STF foram 300 inquéritos e deflagradas 60 fases desde 2014. O fato está registrado na História do Brasil, na mente e no coração dos brasileiros como a maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro ocorrida no País. A Lava Jato gerou a expedição de 1250 mandados, 140 condenações e detectou logo R$ 800 milhões desviados só dos cofres da Petrobras. O rombo generalizado é muito superior e está tipificado, como crime, na legislação, conforme mostram pesquisas de duas jornalistas ligadas ao campo jurídico, Brenda Lícia e Heloisa Sousa, seguindo o relatório da Lava Jato(...).

A investigação da Lava Jato gerou quase 2.000 ações de buscas e apreensões pela Polícia Federal, resultando em 244 ações penais, 349 prisões preventivas e 211 prisões temporárias. Ao todo, foram denunciadas 981 pessoas, entre empresários, líderes políticos, ministros, inclusive dois presidentes da República”(...).


87048
Por Manoel Hygino - 2/4/2024 11:18:34
Justiça criticada

Manoel Hygino

Tem absoluta razão. Refiro-me ao desembargador José Arthur Filho, presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, em recente entrevista. Ele se referiu a problemas enfrentados pela Justiça em nossa época. Um deles - é o mais comumente lembrado - é de que é lenta e termina pela delonga e resultando em injustiça. Com sua prudência e com coragem, não fugiu às críticas, tanto que admitiu a necessidade de uma revisão do que existe para melhor servir à sociedade.

Em verdade, para avaliar a posição correta de sua opinião, bastaria acompanhar os fatos cotidianos pelos veículos de comunicação. Tudo leva a crer que o Brasil não anda porque todas as questões, por mínimas que sejam, são praticamente transferidas ao Judiciário. Diante disso, o Estado se inclina à indesejável situação de a gestão pública se estagnar no campo do Executivo e Legislativo, impedidos de ação por sua transferência ao Judiciário.

A questão não é do juiz ou da Justiça, mas do sistema. Eis o que disse o magistrado: “O sistema de justiça hoje é um sistema falido e precisa ser repensado, por isso, entram as mediações e conciliações. Há também um aspecto cultural. O brasileiro tem que levar menos questões para o Judiciário, tentar conversar mais, ampliar a escuta e o diálogo. Hoje, qualquer problema que se tenha com um vizinho, uma batida de carro, vai para a Justiça”.

“Eu confio muito nas mediações e conciliações. A sentença não é pacificadora, ela tem, às vezes, potencialismo ao litígio. Já as mediações e conciliações, essas, sim, são pacificadoras, porque as partes passam a ser protagonistas do seu próprio destino. Elas é que fazem, através desse consenso, uma decisão que fazem, através desse consenso, uma decisão que seja mais justa ao olhar delas próprias. Então, temos inclusive incentivado muito o Judiciário nesta área”.

A propósito, lembro o artigo publicado em folha belo-horizontina, há bem tempo, que recebeu o forte título de “Falência do Judiciário”, (mas tinha razão), de autoria do professor Antônio Álvares da Silva, professor da Faculdade de Direito da UFMG. Referia-se ao malsinado Mensalão. É que, na condição de revisor do processo, Lewandovski confessou que possivelmente não teria condições de julgar os réus a tempo de impedir prescrições.

Explicou-se: só o relatório do ministro Joaquim Barbosa, relator, tinha mais de cem volumes e já sofria quatro embargos de declaração, 17 embargos regimentais e oito questões de ordem, quase todos negados. Lewandovski, hoje ministro da Justiça, afirmou então que, na condição de juiz, não poderia condenar ou inocentar ninguém.


87044
Por Manoel Hygino - 30/3/2024 07:18:56
Urucuia avança

Manoel Hygino

Urucuia conta agora com uma Academia de Letras, o que conduz automaticamente à convicção de que a cidade cresce não apenas economicamente. Eis uma boa notícia que compartilho com a população e, especificamente, com o presidente da entidade Napoleão Valadares, que lá tem berço e com os demais cidadãos que tomaram o mesmo barco. Urucuia tem liames sólidos com Montes Claros, minha unidade natal, unidos, histórica e geograficamente pelo rio São Francisco, que corre para o Norte em território mineiro. Somos água da mesma fonte e muito nos orgulha.

Urucuia tinha e tem tudo para desenvolver-se exponencialmente, contando com a fertilidade do solo e a operosidade de gente que não descansa. Se o São Francisco é um grande caminho da civilização brasileira, fonte de vida e de riqueza, nascido cristalinamente na serra da Canastra para diversificar-se em vários rumos e sentidos, os que vivem à sua margem também foram presenteados com o solo que muito contribui e mais contribuirá para maior desenvolvimento ou retardará. Estão abertas as vias do progresso não restritas evidentemente aos bens materiais.

As povoações geradas às margens da grande corrente se tornaram pródigas em benesses a seus moradores. Poder-se-ia evocar Caminha, que antevia que, naquelas terras, em se plantando tudo nelas renderá. Com o desenvolvimento regional, que tanto já exigiu em forças e sacrifícios, o urucuiano conscientizou-se de que, embora muito materialmente se usufruirá da bondade do solo e da dedicação do homem, há ainda imensamente a aproveitar-se das populações que ali se assentaram em suas manifestações culturais, artísticas e literárias.

Há uma vocação natural para expressão de sentimentos, descrição de episódios passados, mas não pretéritos, visando à perenidade ao que se conseguiu ao longo de décadas, representadas em vidas e obras. Para esse prolongamento dos efeitos do tempo, unem-se, a partir de agora, os urucuianos com sua notória e natural disposição de preservar e venerar o belo e duradouro.

A população está cônscia da importância de sua Academia em benefício da cidade e de seu progresso, inclusive pela escolha de um timoneiro à altura das tradições, ideais que nortearam e norteiam os pródigos filhos de uma das mais belas e progressistas regiões da velha província.


87041
Por Manoel Hygino - 27/3/2024 07:58:43
As várias Minas

Manoel Hygino

Minas não é única, sob muitos aspectos. Basta ler um pouco de sua história para confirmar a veracidade. Não sem razão se tem propalado que Minas são várias, como consagrado por conceituados escritores. Neste março, por exemplo, constatamos como são múltiplas estas terras e gentes.

Em meados do mês, para gáudio geral e felicidade de todos os segmentos, tomou-se conhecimento de que, pela primeira vez na história, o PIB de Minas ultrapassou a casa de R$ 1 trilhão. De acordo com a Fundação João Pinheiro, inteiramo-nos de que a economia mineira cresceu 3,1% em 2023 relativamente ao exercício anterior. O nosso Produto Interno Bruto alcançou resultado tão memorável, que certamente agradaria a ambos governantes.

É confortável apreciar os números e percentuais e conferir que eles decorrem do aumento de nossa produção mineral e do agronegócio, evidentemente sem esquecer o desempenho da indústria de transformação.

O atual governo mineiro se exulta, e não poderia ser de outra maneira, tanto que o chefe do Executivo sublinha que o Estado tem crescido acima da média nacional.

Entretanto, a felicidade não é permanente e total. É o que se demonstra com outros números e áreas. Apanho o pré-título de matéria em jornal belo-horizontino: com quase 54 mil casos prováveis e 21 mortes já confirmadas, incidência da chikungunya segue nas alturas e pode mais elevar-se. Já se registraram 82.714 casos prováveis no país e Minas atinge 53.972 também prováveis, que podem ser menos ou mais, conforme anunciará o Ministério da Saúde tão logo conclua o monitoramento.

E não se trata somente da doença cujo nome é um desafio de digitação para repórteres ou redatores. Há também a dengue. Até o dia 14 deste março findante, conforme o Painel de Monitoramento das Arboviroses da Secretaria de Estado da Saúde, foram notificados 577.229 casos prováveis de dengue em Minas Gerais, dos quais 211.768 confirmados. Há 354 óbitos em investigação e 88 confirmados. A letalidade da doença é de 2,58% sobre os casos de dengue grave ou com sinais de alarme.

Quanto ao vírus zika, há 122 casos prováveis e 14 confirmações. Esse número é o mesmo há dois dias. Entretanto, a SES-MG informa que, desde 2018, não há casos confirmados de zika por métodos diretos de identificação viral, o exame RT-PCR. Por isso, os municípios são instruídos a fazer uma avaliação bastante criteriosa e, após essa investigação, alguns casos são reclassificados por não atenderem critérios para mantê-los como confirmados.


87039
Por Manoel Hygino - 23/3/2024 07:05:12
Marinha em ação

Manoel Hygino

Caminha para meio ano a verdadeira guerra iniciada com a empreitada a que se decidiram fortes dispositivos terroristas do Hamas, na invasão de território israelense, em outubro de 2023. Desencadeou-se, a partir de então, violento conflito com Israel, que já deixou mais de 33 mil vítimas. A exploração política da guerra Hamas-Israel ganhou mais do que espaços na imprensa, porque espargiu sangue em toda a região, historicamente bélica.

Não se dá maior importância aos fatos, mas o Brasil também se envolve na questão. Não simplesmente por manifestações públicas do presidente Lula sobre o evento, resgatando animosidades históricas como o holocausto patrocinado por Hitler, que resultou no extermínio de mais de seis milhões de judeus.

Aquele pedaço do mundo é palco de guerras de todas as dimensões, ao longo dos séculos. A região é ligação geográfica entre nações e grupos diversos, como somos cansados de saber. Hoje, há uma barafunda de navios de guerra, comerciais e porta-aviões ingleses e americanos, trocando dezenas de bombas e mísseis com grupos rebeldes houtis. Estes são milicianos armados fortemente e prontos para enfrentamentos em qualquer dia e hora.
O que temos com isso? É o que se perguntaria, respondendo-se de imediato com as informações precisas de Aylê-Salassié Filgueiras Quintão, professor da UnB e jornalista conhecedor do problema. Os somalis justificam suas atividades clandestinas, sob alegação que agem em favor da proteção ambiental no golfo usado como depósito de lixo para navios, às dezenas, que transitam por ali ou por ali atracam.

A Marinha do Brasil, além de pretender dar sua contribuição ao estabelecimento da paz no Golfo de Áden e o retorno à normalidade ao tráfego mercante, foi indicada para liderar um grupo de embarcações de fiscalização e rastreio das ameaças latentes na região, entre as quais estão cargueiros brasileiros que trafegam por ali transportando produtos exportados e importados, inclusive para a China, maior parceiro comercial do Brasil. Os piratas atacam à noite, sorrateiramente e agem com violência.

Nossa gloriosa força de mar, reaparelhada pelos norte-americanos na 2a. guerra, tem participado indiretamente de guerras até perseguição e 66 ataques a submarinos alemães, e realizou missões de guarda de comboios para o Norte da África e no mar Mediterrâneo. Entre 1942 e 1945, foram comboiados cerca de 3.164 navios, sendo 1 577 brasileiros e 1.041 norte-americanos. Ultimamente, comboiou o equivalente a 50 navios mercantes brasileiros.

A Marinha é a mais velha das forças armadas brasileiras. Dispõe de cerca de cem embarcações.


87034
Por Manoel Hygino - 19/3/2024 09:13:22
A dívida de Minas

Manoel Hygino

O cidadão me confessou ter medo de ler as notícias de jornal quando se referem às dívidas de Minas. De um dia para outro, os números crescem espantosamente, e se fica sem saber que se leu a notícia com correção, se a entendeu bem ou se houve algum equívoco na compreensão do texto.

Recorro a um dos diários do domingo, 10 de março deste 2024, ano de eleições municipais no país. Eis: “A dívida pública de Minas Gerais já chega a quase R$ 171 bilhões, de acordo com dados da própria Secretaria Estadual da Fazenda (SEF), que atualizou recentemente os débitos do Estado. Esse valor pode até ser maior, pois os números se referem às informações de dezembro passado, quando o Estado fechou o ano fiscal. O valor exato da dívida, atualizada em dezembro passado, é de R$ 170.829.708.709.83, números que superam a previsão do Estado para a arrecadação deficitária deste ano, estimada em R$ 115,4 bilhões, frente a uma despesa prevista de R$123,5 bilhões”.

O contribuinte, pobrezinho, queda pensativo sobre a utilidade do quinhão diminuto ao bolo total da receita. “Adianta eu dar uns poucos reais, se o débito é tão grande? Eu transfiro essas migalhas aos cofres públicos, se o volume do débito é imenso”?

Considerações assim passam pelo raciocínio de cada e de todo cidadão que se sacrifica, às vezes, para não falhar com o fisco estadual. E vem, inapelavelmente, a pergunta crucial:

- Como chegamos a esse ponto? Sem querer ingressar no quintal dos maus julgamentos, indaga-se se houve desvios, de quem foram, quando e quanto representam, como devemos agora proceder? Não podemos deixar que o glorioso Estado se afunde mais no buraco sem fim.

O pior é que, além dos valores referidos, ainda há muitos outros débitos que precisam de quitação. Em decorrência, novas indagações aumentam na cabeça do contribuinte. Porque se tem também de quitar compromissos com o BNDS, CEF, BNB e Bird. Dentre outros, é claro.

E o redator do texto também tem o direito de querer acrescer algo ao já dito pelo contribuinte. Lembrou-se de Eduardo Frieiro e de um capítulo em seu “O Diabo na livraria do Cônego”. No primeiro parágrafo, lá está: “Uma das patranhas da nossa história, tal como usualmente se conta nas escolas, é a da pretendida riqueza e até mesmo opulência das Minas Gerais na época da abundância do ouro. Em boa e pura verdade nunca houve a tão propalada riqueza, a não ser na fantasia amplificadora de escritores inclinados às hipérboles românticas”.

Mas os tempos são outros, não são?


87033
Por Manoel Hygino - 16/3/2024 07:19:53
Passado imperdível

Manoel Hygino

Não se pensaria que a posse de Conceição Evaristo na Academia Mineira de Letras arrefeceria o ânimo que transborda no palacete Borges da Costa, após ingresso da antiga moradora do Pindura Saia no caso do celebrado (com todos os méritos) médico. Antes pelo contrário, pode-se afiançar.

Já nos últimos dias de fevereiro bissexto, o presidente da Academia Mineira de Letras, Jacyntho Lins Brandão, anunciava o início da série “Encontro com os Clássicos – Viagens e Literatura”, que ele ministrará na Universidade Livre da entidade. O primeiro módulo do curso, intitulado “Literaturas Antigas e Medievais”, será realizado no formato híbrido (presencial e virtual) desde este março até junho, com encontros nas noites de terça-feira ou pela plataforma Zoom.

Neste espaço de jornal, escreve-se sobre tudo, porque há campo para todos os temas e preferência de leitores. Mas não posso deixar de realçar que, no dia 12, programou-se a Descida de Inana, um poema sumério do século XVII antes de Cristo e a Descida de Ishtar, um poema babilônico do século XII antes de Cristo. Não há algo mais atraente, mas em junho será a vez da vida de Apolônio de Tiana e Pseudo-Calitene, romance de Alexandre, ambos do século III d.C., e de Marco Polo, com o Livro das Maravilhas, do século XIII, e de Dante Alighieri, “A Divina Comédia”, do século XIV. Algo maravilhoso, para quem aprecia.

Segundo ponto: Não posso deixar de registrar, embora de passagem, a Semana de Arte de 1922, que constituiu um marco importante na vida cultural, artística e mesmo histórica e política do Brasil. Haverá ocasiões em próximas edições para estender comentários, porque ainda estamos no terceiro mês deste 2024, que celebra o centenário da visita que nos fizeram artistas brasileiros e não brasileiros, que se exponenciaram no movimento modernista e, a partir de Minas, deram nova significação à arte nacional.

Os visitantes que vieram conhecer cidades históricas, monumentos e artistas como o Aleijadinho descobriram nas coisas antigas o Brasil que desconheciam. O acadêmico Ângelo Oswaldo tem excelentes contribuições sobre o tema, inclusive na Revista da Academia Mineira de Letras. Não se deve, tampouco, deixar de consultar “Uma tristeza mineira numa capa de garoa”, belo livro de Ivana Ferrante Rebello e Fabiano Lopes de Paula, resgatando o papel de Agenor Barbosa, um poeta mineiro que brilhou na Semana de Arte Moderna, em 1922, em São Paulo.

Pelo que se apreende, pois, há muito de que podemos e devemos aproveitar: no passado distante, ou mesmo entre as montanhas de Minas.


87028
Por Manoel Hygino - 13/3/2024 08:00:13
Jequitaí em festa

Manoel Hygino

Um sonho antigo, uma imposição de toda uma região que aguardou durante dezenas de anos: o projeto hidroagrícola de Jequitaí, demanda histórica do Norte de Minas, foi leiloado, com expectativa de investimentos de R$ 1,51 bilhão, no qual se incluem os custos de implantação de duas barragens de usos múltiplos no rio Jequitaí. Os que primeiramente quiseram ver concretizado o sonho não mais existem. Seus netos verão consumado o ideal de mais de uma geração.

Segundo a Codevasf, à qual se incumbiu o empreendimento, ele poderá beneficiar em torno de 150 mil pessoas na área de sua influência, principalmente nos municípios de Jequitaí, Francisco Dumont (antigo Conceição do Barreiro) e Claro dos Poções.

Graças ao propósito alimentado por mais de meio século, será implantado um sistema de irrigação de áreas agrícolas e se contribuirá para regularização do vazão do São Francisco, que crescentemente tem de manter-se como rio da unidade nacional.
Será a realidade, que terá de esperar mais 48 meses, portanto quatro anos, para tudo se concluir. Em todo caso, para quem tanto esperou, acrescentar um tempo a mais se transformará em tanto gáudio para quem tanto nutriu expectativas.

Daqui a cinco anos, praticamente, se dará o desencadear do processo de desenvolvimento regional através da produção agrícola e geração de empregos. A estimativa é de 84 mil vagas diretas ou indiretas após o empreendimento. E mais: como observou o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, se melhorará significativamente a realidade clamante da seca no Norte de Minas. Textualmente, eis sua palavra: “As barragens vão permitir o desenvolvimento da agricultura irrigada em aproximadamente 35 mil hectares no Norte de Minas”, disse, acrescentando que serão produzidos cerca de 20 megawatts de energia limpa e renovável, “o suficiente para abastecer cerca de 200 mil pessoas”.

Os que atravessaram tantas décadas imaginando a grandeza e a beleza do rio Jequitaí, com suas águas descendo ruidosamente na região bendita do Cachoeirão (um substantivo tão valioso para os moradores da área), daqui a um quinquênio agradecerão a Deus por terem atravessado anos tão penosos para sentirem os benefícios que o progresso traz.

Para sempre, a população será brindada com a irrigação, que constitui um dos objetivos do projeto. É que, segundo os números anunciados, o empreendedorismo possibilitará a formação de um reservatório de 9.100 hectares, com potencial para irrigar 10 mil hectares de início, embora possa alcançar 35 mil.

Pena que Daniel Fonseca Junior não esteja mais vivo para saudar, com sua sensibilidade e euforia oratória, o futuro que enfim chegou.


87026
Por Manoel Hygino - 12/3/2024 09:23:39
Cem anos sempre

Manoel Hygino

Há dois ou três meses, foi publicado o livro “São Lucas, O Hospital: 100 Anos de Assistência à Saúde”, para celebrar o centenário de inauguração do prestigiado estabelecimento belo-horizontino, que tanto tem servido a Minas em seus decênios de funcionamento. A publicação agradou aos seus leitores, inclusive por trazer à memória nomes expressivos das ciências médicas no Estado. Mas com a edição não se esgotou o assunto.

Agora mesmo, fico sabendo que o São Lucas – Hospital Particular e Convênios, braço da saúde suplementar da Santa Casa, a que historicamente pertence, fez entrar em funcionamento seu novo Centro de Diagnóstico e Tratamento, que absorveu investimentos de R$ 6 milhões. A iniciativa possibilitou novos exames em hemodinâmica, com foco em Cardiologia, Neurologia e Radiologia Intervencionista, cumprindo seu compromisso e pioneirismo em atendimento.

Foi um dia de generalizada alegria, na solenidade presidida pelo provedor Roberto Otto Augusto de Lima, da Santa Casa BH. Então, ele reafirmou a tradição do corpo clínico do Hospital São Lucas na oferta de tratamentos inovadores com a excelência de sua estrutura. Assim, o hospital se esmera em propiciar saúde de ponta.

Vitória Bispo, gerente do CDT, elogiou a revitalização do serviço e a incorporação de equipamentos para assistência de alto padrão no diagnóstico e prevenção em diversas doenças, incluindo colonoscopia e hemodinâmica. Entre as principais inovações, destacou-se o moderno angiógrafo Siemens Artis Zee, que viabiliza procedimentos terapêuticos e diagnósticos minimamente invasivos, elevando a qualidade do atendimento. O aparelho revoluciona o diagnóstico e o tratamento de doenças cardiovasculares, mapeando anormalidades e prevenindo condições graves, como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC), além de possibilitar procedimentos intervencionistas, como drenagens, embolizações, quimioembolizações, dentre outros.

A superintendente assistencial, dra. Raquel Felisardo, disse estar muito feliz e emocionada. “Hoje é um marco para toda a sociedade, mas também para todos os profissionais do hospital, em especial aqueles que estiveram envolvidos no projeto de revitalização do CDT. Foram reuniões, vários projetos sempre pensando em oferecer o melhor para os nossos pacientes. Além disso, esse ano teremos mais novidades, aguardem”. Aliás, o diretor técnico do hospital, dr. Pedro Augusto Macedo de Souza enfatizou que esta é mais uma etapa do “Projeto São Lucas 100 anos”, visando modernizar e aprimorar as instalações do hospital, oferecendo ambiente para a prestação de cuidados de saúde de vanguarda.





87024
Por Manoel Hygino - 9/3/2024 07:52:13
Esperando paz

Manoel Hygino

No momento dificílimo que a mundo atravessa, com ênfase pela guerra no Oriente Médio, ouço o deputado federal Patrus Ananias, ex-ministro de Lula, e ele se abre: “Tenho vínculos históricos e profundos com o povo judeu e a tradição judaica, assim como com os povos árabes e palestinos. Sou neto de libanês. Sou leitor da Bíblia desde a infância, quando comecei a me abrir para as questões políticas, inspirado pela vida e pelos ensinamentos de Jesus”.

Adiante diz o parlamentar: “Lembremos o sonho, ainda não realizado, de Martin Luther King, nele inspirado: “Sonho que um dia todos os montes serão rebaixados, todos os vales serão exaltados; os lugares inóspitos serão aplainados”. Isaías, em muitas passagens, antecedeu Jesus nos anúncios da justiça e da paz: “Eu trarei paz como um rio (…)”.

Muito aprendi com os Livros Proféticos e Sapienciais. Os Salmos, em boa parte atribuídos ao rei Davi; os Provérbios, a Sabedoria de Salomão – outra figura contraditória e intrigante – Eclesiástes…¹

Chegamos a Jesus, o Príncipe da Paz, que nasceu e viveu em territórios onde se encontram judeus e palestinos. Andou também pelo Egito. Jesus, o judeu-palestino, abre os olhos e o coração para o mundo: “Bem-aventurados os que promovem a Paz”.
Saltemos agora dois mil anos de história. Os judeus dispersos pelo mundo, maltratados e vistos com preconceito. Por outro lado, os árabes-palestinos também não tiveram boa vida. Enfrentaram as Cruzadas, “guerras santas”, o colonialismo e a exploração europeia. No caso dos judeus, a violência atingiu seu ponto culminante com o genocídio nazista – um dos maiores crimes, senão o maior da história da humanidade. As memórias de Anne Frank tocam o coração e nos acompanham para sempre!”.

À frente, o ex-prefeito de Belo Horizonte, Patrus, analisa o quadro de Israel na geografia do outro lado do Mediterrâneo:

“Atravessamos as guerras, tristemente presentes desde a criação do Estado de Israel; a Guerra dos Seis Dias, em 1967; os territórios palestinos invadidos e ocupados. Chegamos aos nossos dias. O atentado terrorista do Hamas matando e sequestrando pessoas totalmente indefesas. Inaceitável o número de mortos e sequestrados! O que nós estamos assistindo, através das imagens dos meios de comunicação (e aqui presto homenagens às transmissões da TV França, focada na América Latina), é estarrecedor! Não se trata de uma guerra contra o Hamas, mas sim de uma guerra de Israel, poderosamente armado, contra o povo palestino”.


87022
Por Manoel Hygino - 6/3/2024 09:25:18
Guerra e eleição

Manoel Hygino

Transcorridos dois anos, Rússia e Ucrânia continuam numa guerra que apenas acrescentou número de mortos e problemas financeiros para ambas. O presidente da primeira jamais quis empregar a palavra guerra. Tratava-se, em seu entendimento, de “uma operação militar especial para defender repúblicas separatistas pró-Rússia”.

Ninguém ganhou ou o que quer que seja nesse conflito, já considerado o maior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, de que ninguém conserva boas memórias. Antes pelo contrário. O Kremlin, agora, pode contar como vantagem unicamente a ocupação de territórios antes independentes.

A situação das populações se torna mais difícil dia a dia, mas isso é apenas um detalhe na maneira de Putin considerar os acontecimentos. Cerca de 1,3 milhão de ucranianos, de um total de 6,5 milhões deslocados do país, se refugiaram. Problemas aumentam mais e mais em ambos os lados do conflito, sem perspectivas de paz.

Os jornais de todo o mundo são unânimes em suas opiniões, assim como os mandatários dos países, europeus principalmente: “Do ponto de vista econômico, os prejuízos são consideráveis para ambos os países. Na Ucrânia, as perdas passam de US$ 137 bilhões, segundo cálculos da Kyiev School of Economics, e os gastos militares projetados para este ano somam US$ 40 bilhões. Do lado russo, Moscou sente os efeitos de dois anos de sanções financeiras e contabiliza US$ 300 bilhões em reservas congeladas no exterior.

Embora a situação interna na Ucrânia se torne mais difícil, o mesmo se poderá avaliar do quadro interno na Rússia, inclusive pela morte, na Sibéria distante, do principal líder da oposição a Putin. As centenas de prisões realizadas o demonstram à suficiência, embora o natural silêncio do Kremlin.

Pesa, ademais, no caso russo, o fato de faltarem apenas semanas para a eleição de um novo presidente, o que põe Putin com as barbas de molho. Não deixa de pesar também o vultoso número de baixas já registradas em seus contingentes bélicos. Segundo os ucranianos, até agora foram 315 mil baixas do lado russo, o que influencia no psicológico da imensa população que ainda apoia a campanha na Ucrânia, ou que não encontra razões para se sacrificar em um conflito que não diz de perto à sociedade nacional.

Se depender de Putin, a guerra continuará até a vitória da Rússia. Mas o irredutível presidente da Ucrânia, Zelenski, acha que o triunfo poderá transferir-se a Kiev.


87020
Por Manoel Hygino - 5/3/2024 07:56:57
As chuvas chegaram

Manoel Hygino

Belo Horizonte ficou atrás no tempo. Montes Claros, a mais economicamente vigorosa cidade do Norte de Minas, passará a sua frente com a construção de uma concha acústica no espaço novo da Praça dos Jatobás, no bairro Morada do Sol, nome que muito se enquadra nas virtudes da natureza e do clima da região.

A capital mineira chegou a construir uma, há anos, mas problemas técnicos impediram seu funcionamento. A metrópole do Norte ganhou a vez, atendendo a carência da cidade por espaços públicos culturais. Assim a Concha será ali erguida para utilização em eventos, nos termos do Programa de Investimento no Cidadão, lançado pela Prefeitura, com valor previsto que se aproxima de 2 milhões de reais.


Um detalhe: a conclusão será em seis meses, de modo a confirmar o título de MOC como a “cidade da arte e da cultura”. Para o vice-prefeito de Montes Claros, o empreendimento melhorará os índices de desenvolvimento da grande cidade em população no estado. Promoverá e participará da vida cívica, social e artística e será palco de eventos comunitários, atividades educativas e promovendo atividades de escolas e demais organizações locais.

Foi um bom registro a fazer no ocaso de fevereiro/princípio de março. O outro resulta da notícia que transmite José Ponciano Neto, técnico em Recursos Hídricos/Meio Ambiente, com uma bela titulação também no campo literário. Anunciou: “Ufa, até que enfim!.. Barragem de Juramento transbordou”.

Depois de onze anos, a barragem quebra o jejum e chega ao nível máximo de sua capacidade. Aconteceu em 22 de fevereiro, pondo fim à ansiedade da população de Montes Claros e do próprio pessoal da Copasa, diretores e colaboradores. Explica-se: com capacidade de 45 milhões de metros cúbicos, desde dezembro de 2010, ela não alcançava plenitude 100%.

A pirraça das chuvas se deveu às mudanças climáticas dos últimos anos, segundo alguns especialistas, embora o técnico Ponciano considere que se trata de antropocentrismo. Isto é, um caso de ocorrência de ciclos naturais do sol-lua e da inclinação axial da terra (eixo). Em resumo, são as chuvas recidivas de 50 a 100 anos, que vêm acontecendo pelo mundo afora a cada ciclo, inclusive no Brasil. Traduzindo, nos dois últimos anos, o mundo vem sofrendo inundações vorazes, mas – se se verificar com diferentes métodos – estas chuvas já estavam previstas. Demoraram, mas chegaram.


87019
Por Manoel Hygino - 2/3/2024 09:14:01
Fatos de fevereiro

Manoel Hygino

São fatos que somente o mundo moderno nos possibilita. De Portugal, onde presentemente vive o escritor Ronaldo Cagiano, nascido em Cataguases, comunicou ao cronista Danilo Gomes, que falecera o cônego Agostinho, na capital mineira.

O sacerdote Agostinho de Lourdes Coimbra Oliveira era o padre mais antigo da velha vila e cidade e falecera na madrugada do sábado, 17 de fevereiro, aos 103 anos de idade, dos quais quase 80 dedicados à Igreja. Ordenado em 26 de novembro de 1944 pelo arcebispo Dom Helvécio Gomes de Oliveira, Agostinho foi pároco em São Gonçalo (hoje Acaiaca), Cachoeira do Campo, distrito de Ouro Preto e da Paróquia Cristo Rei, também na segunda capital mineira, e ali o primeiro a atuar, encerrando a passagem terrena e, finalmente sepultado ao lado dos pais.

Em 18, também de fevereiro, domingo, o presidente da Academia Mineira de Letras, enviou aos confrades também uma comunicação curta, objetiva e triste: deixara de viver entre nós o confrade Rui Mourão, cujo corpo seria velado em Belo Horizonte, no Cemitério do Bonfim, onde ocorreria o sepultamento na capital.

Num daqueles dias, chegou-me mensagem, procedente de Brasília. Dizia: “Foi criada a Academia Urucuiana de Letras (que abrange os municípios banhados pelo rio Urucuia, em Minas Gerais), que terá, entre suas finalidades, contribuir com publicações, eventos e outros meios, para a elevação do nível cultural do povo brasileiro”. A região, como se sabe, é parte do cenário de “Grande Sertão Veredas”, de Guimarães Rosa que, aliás, é patrono de uma cadeira na recém-fundada Academia, sendo eleito para presidente o escritor Napoleão Valadares.

Observo, nestas poucas e despretensiosas linhas de registros vários, a presença indisfarçável de Minas. Pessoas, locais e fatos referidos são liames de história que se começou a construir até antes da província. A despeito de tudo e de todo o negativismo pessoal, político, fático desta hora, há traços do passado que perduraram e se refletem no estado de hoje.

Um dos longevos da Academia Mineira de Letras, Rui Mourão, era de 1929 e ocupava a cadeira 31, de que foi fundador Machado Sobrinho e patrono o médico, compositor e jornalista Lucindo Filho. Seus antecessores na Casa de Alphonsus e Vivaldi foram Salles Oliveira, Manoel Casassanta, Waldemar Pequeno e Luiz Carlos de Portilho.

Para o presidente da AML, Jacynto Lins Brandão, Rui Mourão dirigiu e introduziu importantes inovações no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, além de ser um dos mais respeitáveis romancistas de Minas.


87016
Por Manoel Hygino - 28/2/2024 08:31:54
Ameaças à vista

Manoel Hygino

Sequer transcorridos dois anos da malfadada reunião na primeira quinzena de julho de 2022, no Planalto, perguntamo-nos desconfiados: que de bom e de bem resultou do encontro na sede do Executivo em Brasília?

Nada, concluem os brasileiros que tem bom-senso. Serviu exclusivamente para suscitar suspeitas em torno de brasileiros que disputavam altos escalões na República, enfim concorrentes dos que se assentaram nas mais de 33 cadeiras do grande salão de um Palácio, neste período em que a democracia não vive uma bela fase em nível mundial.

Recente pesquisa da Atlasintel registra que 62% de brasileiros têm opinião positiva sobre a democracia liberal, enquanto somente 45% da população dá apoio ao regime em nosso país, conforme o Latinobarômetro, citado por Márcio Coimbra. Para um povo que passou longos e terríveis tempos de ditaduras, é um percentual que incomoda, desagrada e atemoriza. Segundo o mesmo jornalista, estamos perto de um barril de pólvora, e riscar um fósforo muito próximo seria uma tragédia, acrescentaria eu.

Exatamente nesta hora, passamos por dificuldades com eclosão de movimentos golpistas, pré-golpistas, de intransigência e de movimentação de várias índoles nos países irmãos da América, alguns com pretexto antitráfico de drogas.

Nem tudo é tão alegre, brilhante e musical como esplendorosamente se assistiu no Carnaval. Como na expressão do maior vate inglês, há algo de podre no reino da Dinamarca. Além dos muitos milhares que desfilaram, cantaram e se esbanjaram nos dias da folia, há milhões que enfrentam necessidades clamantes, a começar pela falta de alimentos suficientes para a vida. É um segmento sofrido e explosivo.

E há parcelas que entram em cena sob o pretexto de vir em ajuda aos carentes, embora à procura de satisfação de seus anseios pessoais e políticos, sem medir as consequências de seus atos e planos. O Brasil não pode inclinar-se a esses inconsequentes e ambiciosos.

Muitos milhares já foram sacrificados, ofendidos e humilhados em experimentos, não poucos, da história do Brasil. Não poucos perderam a família e a própria vida. De 1907 a 1966, a América Latina sofreu 20 golpes de Estado que repercutem ainda hoje sobre seu povo.

Em julho de 2022, estivemos – mais uma vez – à beira de um abismo. Escapamos por pouco, mas não é uma situação definitiva. Temos de nos manter atentos e dispostos. Os alto-falantes carnavalescos não nos fizeram surdos...nem mudos.


87013
Por Manoel Hygino - 27/2/2024 08:49:21
Favela, a palavra

Manoel Hygino

Bem recentemente ressurgiu a discussão sobre a palavra favela. Não se queria que o substantivo fosse usado para os locais de habitação de grupos menos favorecidos da população. Explica-se e se compreende. Mas convém ir às origens do vocábulo para melhor entender. Para isso, temos de chegar a “Os Sertões”, a celebrada obra de Euclides da Cunha, que descreve a epopeia de Canudos e a atuação dos sertanejos que acreditaram, em sucesso. Deus no céu e Antônio Conselheiro na terra.

Manif Zacharias lança luzes. Médico no Paraná, perseguido inexplicavelmente pelo regime instalado no país em 1964, pesquisou em profundidade a obra e em livro de quase mil páginas, aclara: Favela foi o “aglomerado de frágeis casebres”, precariamente construídos com materiais improvisados, em terrenos baldios e, principalmente, em encostas de morros, sem quaisquer condições de higiene e conforto. Acomodavam-se nesses tugúrios pessoas ou famílias desprovidas de recursos, que vivem à margem da sociedade.

Na obra, favela é a área do arraial de Canudos localizada no declive de um morro, em que, ocupando habitações desse tipo, moravam os fanáticos de Antônio Conselheiro. Foi, aliás, assim, que se originou a denominação genérica – favela, que hoje se dá, em todo o país, às áreas tomadas por esse gênero de moradias. “O nome primitivo, Morro da Favela, adveio do fato de existir no topo da elevação, à espera da campanha militar, um exemplar da árvore desse nome”.

Euclides empregou diversas vezes o vocábulo, que se prestava perfeitamente ao cenário que descrevia. Na página 25, está: “Galgava o topo da Favela”. “Volvia o olhar para abranger de um lance o conjunto da terra”.

Na 148, encontra-se: “O Monte da Favela, ao sul, empolava-se mais alto, tendo no sopé, fronteiro à praça, alguns pés de quixabeiras, agrupados em horto selvagem”.

Está na 313: “Restava-lhe um recurso sobremaneira problemático e arriscadíssimo: saltar fora daquele vale sinistro da Favela, que era como uma vala comum imensa, à ponta de baionetas e a golpes de espadas”.

Compreende-se pois, a esta altura, que se queira substituir a palavra favela. Imensos são os esforços que os moradores de áreas pobres e mal consideradas que tudo fazem para mostrar que os tempos são outros e muito outros os favelados, dispostos a ingressar numa nova fase de vida e vivência.

O essencial, no entanto, é que a simples mudança do substantivo favela por comunidade não significa mera substituição de uma palavra por outra. As comunidades não podem ser valhacouto de foras da lei e de aprendizes de bandidos, como acontece nas grandes cidades do país.


87011
Por Manoel Hygino - 24/2/2024 08:02:31
Antes, seria diferente

Manoel Hygino

Quem assistiu ao buliçoso Carnaval de Belo Horizonte, neste 2024 já caminhando para o terceiro mês, não imaginará como seria por aqui há cem anos ou pouco menos. Estamos longe do que seria a já capital com a pequena população de então. Tampouco registraria que blocos de milhares de pessoas desfilariam animadamente pelas ruas do antigo Curral del-Rei, neste principio de ano.

Ninguém, hoje, se lembrou de que décadas antes a metrópole dos mineiros era em grande parte habitada por pessoas que para aqui vinham, além evidentemente de participar da construção, tratar-se de doenças pulmonares, de tuberculose. Inicialmente, nem médico queria vir para cá, a não ser aquele que, para aproveitar o clima, também fazia da cidade nascente um meio para recuperar-se de seus males.

Abílio Barreto, historiador da cidade, falou em 1928, de um certo Dr. Paul Miquet, “excêntrico médico e botânico francês, o qual perambulou durante muito tempo, em explorações pelas circunjacências do arraial” até desaparecer sem deixar pista”.

Com a fundação, em 1899, da Santa Casa, Belo Horizonte começou a mudar expressivamente. Levantando recursos junto à população, pôs-se a atender as pessoas de várias patologias. Pedro Salles, médico e considerado o historiador da medicina na capital, a alta fama do bom clima de Belo Horizonte, especialmente ao tratamento a tuberculose pulmonar, fez afluir grande número de doentes, determinando uma incidência artificialmente elevada de tuberculosos. “Os clínicos gerais buscavam terapêutica com recursos muito simples: clima, repouso, superalimentação”. A cidade nova se encheu de doentes de todo o estado e de outras regiões. A Santa Casa criara clínicas especializadas, para homens e mulheres.

Em 1934, premida pelas circunstâncias, a filantrópica inaugurou um hospital só para esta especialidade: o Sanatório Imaculada, na gestão do provedor Jarbas Vidal Gomes, com 100 leitos para começo, na rua Domingos Vieira, entre Ceará e Piauí, onde hoje está o Ambulatórios Especializados Santa Casa BH.

O Imaculada se transformou num marco na assistência à tisiologia no Brasil, com as primeiras aplicações de pneumotórax artificial e, com o tempo, se consagrou pelo início da cirurgia torácica e na sua consolidação.

A capital conseguiu ultrapassar a fase de abrigo da tuberculose. É uma extensa história a contar. E os carnavalescos puderam, em 2024, se vangloriar de uma cidade que soube enfrentar e triunfar sobre a temível patologia que muitas vidas aniquilou.



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Por Manoel Hygino - 21/2/2024 09:09:08
Candidata do Pendura Saia

Manoel Hygino

A Maternidade Hilda Brandão, da Santa Casa de Belo Horizonte, hoje inserida no Instituto Materno-Infantil, é um precioso repositório de interessantes histórias, além da sua própria. Em 1916, graças ao pessoal empenho de seu idealizador, o médico Hugo Werneck, após passar pela Suíça e Inglaterra, a inaugurou festivamente.

Pois conto mais um caso para atualizar “a biografia” da primeira maternidade de Minas Gerais, daquele tempo em que os recém-nascidos cujos pais não tinham condições de mantê-los, preferiam ocultar o nome através de artifícios.

Lembro um episódio que bem serve a tornar mais evidente o sentido social do belo casarão da rua Álvares Maciel, 511, em Santa Efigênia. Ao falecer a ocupante da cadeira 40, da Academia Mineira de Letras, em 2023, escritora Maria José de Queiroz, sucessora de Afonso Pena Júnior, abriu-se inscrição para ocupar a vaga.

Esperavam-se vários candidatos, considerando o prestígio e a saudade que Maria José, referência magna pelo que produzira nas letras e em cátedras também no exterior. Para suceder a excelente professora, inscreveram-se seis autores sobremodo conhecidos. Entre os candidatos estava Maria da Conceição Evaristo de Brito, nascida em 29 de novembro de 1946, na favela do Pendura Saia, na jovem capital.

A mãe era a lavadeira Joana Josefina Evaristo e o pai o pedreiro Aníbal Vitorino, sendo filhas Maria Inês, María Angélica e Maria de Lourdes, e filhos, Adair, Ademir, Altair, Altemir e Almir, todos com o sobrenome Evaristo. A escritora não esquece nunca que é a mãe também de Ainá Evaristo de Brito, menina muito especial de 42 anos, filha de seu falecido esposo, Oswaldo Santos de Brito, a seu lado em todas as horas.

Primeira na cédula de votação da AML é, pois, Conceição Evaristo, com 77 anos, nascida na Maternidade Hilda Brandão, uma das mais prestigiosas autoras brasileiras no campo literário. Sua produção é constituída de poemas e ensaios, em grande parte traduzida para inglês, francês, árabe, espanhol, eslovaco e italiano. Em 2014, recebeu ampla cobertura da imprensa no Salão do Livro, em Paris, quando integrou a comitiva de escritores brasileiros.

Em 15 de fevereiro, Conceição foi eleita por 30 dos 34 votantes. Imortalizou-se. Encontrava-se em Havana, no cumprimento de missão literária.


87004
Por Manoel Hygino - 17/2/2024 07:53:57
Bernardes adverte

Manoel Hygino

Em 6 de fevereiro de 2030 completam-se os 100 anos da famosa passeata política em Montes Claros, que se tornou acontecimento nacional. A manifestação se transformou no grito de alerta da Revolução de 1930, com todas as consequências funestas ou benéficas decorrentes. Do acontecimento, apareceu a personagem quase mítica de Tiburtina Alves, mulher que honra e dignifica o sertão mineiro.

A despeito das boas intenções, o movimento de quase um século atrás não surgiu os objetivos desejados e pelos quais se batia a nação. Tanto que, já em 1932, entrava em cena o Estado de São Paulo com uma nova iniciativa, inclusive mediante ação bélica, a Revolução que novamente incendiou o país conquistando também a adesão de Bernardes.


Em julho de 1932, Artur Bernardes, líder do PRM, estando no Palácio da Liberdade Olegário Maciel (que assumira em 7 de setembro de 1930), assinava uma carta de apoio à revolução declarada em São Paulo, em que começava dizendo: “Os que entraram com altos objetivos na Revolução de Outubro e não desconhecem totalmente as ciências políticas e as necessidades nacionais, certamente, estarão decepcionados com os resultados negativos daquele memorável movimento cívico.

Coroada de sucesso como foi a Revolução, era de esperar que, irmanados em um só pensamento, os vencedores logo cogitassem dos problemas mais urgentes do país, de que o mais instante era então a reconciliação dos brasileiros, sem distinção entre vencidos e vencedores”.

Com maior ênfase advertia: “Cumpria-lhes (aos vencedores) reconhecer que a Nação não pertence a grupos ou a classes, mas a todos os brasileiros, indistintamente, e que é direito de todos atuar na sua reconstrução, por tratar-se de patrimônio que lhes é comum. E que não é só isso – um direito, mas DEVER, pois cumpre aos bons cidadãos interessarem-se pela organização da sua pátria, dada a influência, boa ou má, que terá a mesma de exercer sobre o seu futuro e sobre a sorte do povo. Além disso, a Revolução resultou na conquista do país em favor de uns, com injustificável exclusão de outros”.

E Bernardes segue em sua advertência: “Foi portanto erro, e erro lamentável: não se ter feito aquele congraçamento, que importaria no passo decisivo para a pacificação dos espíritos. Erro tanto maior ainda, quando a pacificação interessava grandemente à consolidação da vitória revolucionária. Como não se quis e não se promoveu a reconciliação, aí está a desgraça, fruto da política extremista, senão ódios incontidos: a Ditadura combatida numa guerra civil, por seus erros graves e imperdoáveis”.


87001
Por Manoel Hygino - 14/2/2024 09:17:42
E, agora, Drummond?

Manoel Hygino

E agora José? Perguntaria o poeta de Itabira, mais uma vez. Passado o carnaval, festa tornada nacional num país do hemisfério sul em terra descoberta por Cabral na metade do século XVI, o novo mundo que vai fazer? Como proceder a enorme população após a extraordinária eclosão no período superfestivo?

Respostas dificílimas dos dias e noites de imensas e imponderáveis festanças, cuja exuberância ou exagero atrai turistas procurando confirmar se assim mesmo se procede neste país, acima e abaixo da linha do Equador.

O José, convidado ou instado a responder à interrogação do vate mineiro, encontra dificuldade para contestar. Há epidemias grassando por aí, depois que a maldita Covid-19 perdeu o privilégio de pandemia. Mas sucedem-se as enfermidades; isoladas ou em penca, persistem na interminável relação das patologias humanas.

Há desafios supostamente intransponíveis como a duplicação da BR-381, ainda classificada como Rodovia da Morte e a 262, perigosa e assassina, como o PCC, e demais organizações criminosas, que somente agora a autoridade competente se sente na obrigação de combater.
O carnaval contribuiu com melhoria no sentimento e nas disposições de ânimo de uma população acostumada a sofrer?

E agora, José, ou que outro nome se queira impor à interrogação. Que será depois da festança? Haverá moradores de rua ainda sob viadutos e marquises, enquanto a chuva pode despencar impiedosamente? Não ponhamos maldades e más perspectivas depois que a temporada alegre se consumiu.

Melhor omitir a insuficiência alimentar registrada pelo IBGE e outras entidades ou organizações de pesquisa. Nada de mau olhado ou outras pragas que infestam ou infernizam a vida dos esquecidos dos poderes públicos ou dos detentores do poder que têm demais afazeres e compromissos.

Os tempos são outros sim, mas não diferem substancialmente dos pretéritos. Exigem muito de todos, sem deixar de ferir mais profundamente os menos providos de bens materiais e de horizontes animadores.

O carnaval passou, embora novos caminhos devessem abrir-se aos de boa vontade. Não se perderá a esperança.
Agora, temos a Inteligência Artificial, capaz – quem sabe? – de prever e prover em favor dos carentes e necessitados. Era o que imaginavam os sonhadores. Confiava-se que a IA viria para ficar e dar solidez aos sonhos. Mas ela apenas parece existir para substituir o homem em determinadas missões e tarefas.

Somemos em favor do futuro e dos justos. Pelo menos, os devaneios ainda são permitidos. Amém!


87000
Por Manoel Hygino - 13/2/2024 08:25:09
Apurações muito longe

Chama atenção a atuação do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, no caso da suspensão da multa milionária aplicada em virtude de ação na Operação Lava Jato às empresas acusadas de lesão grave ao erário. Em uma das ações, o ministro suspendeu a multa de R$ 10,3 milhões, fruto de acordo firmado em 2017 entre J&F e o Ministério Público Federal. A Procuradoria Geral da República, pelo novo procurador- geral Paulo Gonet, recorreu da decisão e a questão renasceu das brasas ainda aquecidas.

A imprensa não se esquivou à divulgação, ao conhecer que o pagamento da multa já fora suspenso em dezembro. O ministro, na ocasião, apontou haver “dúvida razoável” sobre a “voluntariedade dos acordos” da empresa dos Irmãos Batista após a divulgação de mensagens trocadas entre procuradores e juízes da Lava Jato, mas houve vazamento do fato. E não foi pelo fato de a mulher de Dias Toffoli, dra. Roberta Rangel, ser advogada do grupo J&F, beneficiado pela decisão. Até porque ela atua em casa diferente.

O lembrado jornalista professor na UnB Aylê-Salassié Filgueiras Quintão comentou: “Observa-se que o ministro Dias Toffoli está fazendo: desqualificando, monocraticamente, os resultados da Operação Lava Jato e suspendendo o ressarcimento ao Tesouro Nacional de prejuízos com operações fraudulentas, confessas pessoalmente por um punhado de empresários e políticos nacionais. Não é pouco dinheiro: próximo de R$ 15 bilhões e cobriria parte do déficit das contas públicas, que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, esforça-se para conter”.


Diga-se o que se quiser dizer, essa dúvida de que a contenda está armada mais uma vez na cúpula do Judiciário, o que ficou suficientemente claro desde que Toffoli suspendeu o sigilo das ações determinando a interrupção do pagamento de multas do acordo da leniência da Novonor, antiga Odebrecht, com participação ou não da Transparência Internacional. É bom salientar que, no dia 5, uma segunda-feira, o ministro determinara que a ONG fosse investigada por ter supostamente usado indevidamente recursos públicos na ocasião da Operação Lava Jato. No entanto, foi a própria Procuradoria Geral da República que referendara, em 2020, a informação de que a entidade não recebera remuneração pela assistência prestada na leniência.

Em última análise, eis um caso que muito rende ainda, pondo em xeque altos escalões da República. A Lava Jato, apesar de tudo, não morreu. Afinal foram cinco anos de investigação, 285 condenações, 600 réus e 3.000 anos de prisão. Só no Supremo, foram 300 inquéritos que detectaram R$ 800 milhões desviados dos cofres da Petrobras, mas há muitíssimo mais.



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Por Manoel Hygino - 10/2/2024 08:46:48
O futuro do bosque

Manoel Hygino

Jornalista, professor, doutor em História Cultural, com 82 anos, atuante pleno na Universidade de Brasília, Aylé-Salassié Filgueiras Quintão, é – como antes já disse – mineiro, da Zona da Mata. Sob muitos aspectos e sobre muitos problemas, nossos pontos de vista se assemelham. Vejam o que ele afirma e com que concordo:

“Provavelmente, no futuro próximo, não encontraremos fortunas fabulosas concentradas em poucas pessoas. Um por cento dos mais ricos são proprietários privados de quase 50 por cento do PIB mundial: US$ 96,5 trilhões. Não há mais espaço para isso! São 8 bilhões de seres humanos habitando este Planeta, expandindo-se a um ritmo de aproximadamente 1,0 por cento ao ano, numa média de 800 mil novos nascimentos.

E não são as ideologias que estão provocando essa potencial inversão de valores. Elas são apenas véus (discursivas) que nos distraem da verdade absoluta: a ameaça de extinção da vida no Planeta. É a realidade!... Os recursos naturais - a biodiversidade, as florestas, as águas - são cada vez mais escassos para uma população que cresce assustadoramente.

Os dramas ambientais aterradores frequentes são banalizados no cotidiano: tsunamis, terremotos, exploração irrefreável do subsolo (a terra está se tornando uma espécie de queijo mineiro: toda furada por dentro) , temperaturas nunca experimentadas, inundações, secas prolongadas, desmatamento, queimadas, perda de terras cultiváveis, escassez de alimentos, quase 1 bilhão de pessoas famintas. E continua a falar-se em desenvolvimento (econômico), industrialização, guerras fratricidas, até nucleares. Tudo predatório dos recursos naturais que protegem a Terra e os princípios ativos da vida (...).

Falta gestão, mas o Brasil tem, de fato, se adiantado na busca de soluções. Promulgada em 5 de outubro, a Constituição de 1988 pôs em destaque em um capítulo especial, capitaneado pelo artigo 225, segundo o qual a proteção do meio ambiente é um direito do cidadão. Foi a primeira Lei Magna no mundo a tratar dessa questão. Para homenagear seus autores parlamentares, a comunidade brasiliense, idealizou em Brasília, na praça dos Três Poderes, um monumento ambiental simbólico com o nome de Bosque dos Constituintes, em que cada um daqueles congressistas, acompanhado de grupos de escolares, entre 12 a 15 anos, plantou uma árvore nativa do bioma da região de origem”.

A esta altura do tempo e das circunstâncias, poder-se-ia perguntar: que futuro terá o Bosque? Ou não terá nenhum? Os dias estão tempestuosos e destruidores.


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Por Manoel Hygino - 8/2/2024 08:27:52
Minas sem dinheiro

Manoel Hygino

Nesta hora lastimável para Minas, ofendida e humilhada por uma dívida imensa para a qual não se encontrou solução digna, não posso deixar de lembrar o governo Silviano Brandão (1898 - 1902). O historiador João Camilo de Oliveira Torres registra que o Estado se metera em “grandes aventuras” e o peso maior recaíra no governador Silviano Brandão, que viveu uma “tragédia”.

Repito: Silviano teve de lançar mão de todos os recursos. “Cortou despesas enquanto lhe foi possível, fechando escolas e estabelecimentos de grande necessidade, demitindo funcionários; dizem depoimentos pessoais que assinava os decretos chorando, pois, compreendia vivamente que estava levando o mal a amplos setores do povo, mas não lhe restava outro meio”.

O crédito não era fácil, forçando-o até a recorrer à poderosa St. John del-Rei Mining Co. E os ingleses de Nova Lima deram dinheiro ao governo do Estado. “Afinal, como solução heroica, o imposto territorial, na época, por força das ideias de Henri George, considerado um expediente socialista”. Os fazendeiros, que constituíam a força mais poderosa de Minas, reagiram, queriam fundar um partido para a defesa de seus interesses. Silviano chegou a fazer as malas para deixar o palácio. “Aos poucos a crise foi vencida. Mas, Silviano Brandão não chegou a ver a vitória. Foi vencido, também”.

Daniel de Carvalho, profundo conhecedor da matéria, comentou: “Silviano teve que adotar uma política realista, dura e firme, para enfrentar a situação calamitosa das finanças estaduais e firmar o prestígio de Minas no cenário federal”.
Médico, Silviano empregou largamente os recursos cirúrgicos. Suprimiu verbas, suspendeu serviços, extinguiu cargos de comissões. Reformou o sistema tributário, criando o imposto territorial. Com energia e firmeza, conseguiu, pela primeira vez na República, unificar a representação mineira, “reunir a boiada”, como então se qualificou a delicada operação de levar à Câmara Federal a famosa bancada do apoio incondicional.

Silviano venceu. Indicado na chapa como vice-presidente da República, ao lado de Rodrigues Alves, “esteve a pique de faltar ao banquete de leitura da plataforma, porque não possuía casaca, nem dispunha de dinheiro para a viagem ao Rio. Cotizaram-se para adiantar-lhe a quantia necessária a alguns amigos, que também não eram abastados...”.

Esse homem admirável não foi poupado pela imprensa... Morreu no exercício da chefia do governo de Minas.


86996
Por Manoel Hygino - 6/2/2024 09:13:48
Bom livro chegando

Manoel Hygino

São apenas 29 dias. Mesmo reduzido, fevereiro de 2024 segue o definido historicamente, somando ao fim do ano 366, e não 365 dias. Nele se inclui especialmente a data de lançamento de mais um livro do desembargador Rogério Medeiros Garcia de Lima, como anunciado por ele mesmo.

Já em 11 de janeiro, ele enviara mensagem por e-mail. Repito agora: “Estive hoje à tarde na Livraria e Editora Del Rey, Belo Horizonte, para receber das mãos da Aldria um exemplar impresso do meu novo livro “Redes sociais em prosa e verso”. Fui tomado por emoção indescritível. Já publiquei quatro livros de minha exclusiva autoria. E outros trinta, como coautor. Todos predominantemente jurídicos, mas com algumas incursões pela ciência política, economia, filosofia, história e sociologia. Este novo livro marca a minha estreia propriamente literária.; ou pretensamente literária. Lembrei o saudoso memorialista mineiro Pedro Nava:

“Quem escreve é para ser lido. Mas sejamos sinceros, acrescentando que muito do que escrevemos é para ser lido por nós mesmos. Não há ninguém, por mais pintado que seja, que não goste de lamber a própria cria” (“Balão Cativo”, 1973, p. 268).

Sinto-me como um pai no berçário da maternidade. Afago, no colo, o mais novo filho recém-nascido... Que alegria!

Antes que o primeiro mês do ano, terminasse – a nova mensagem: “Já estão agendados os lançamentos do meu livro "Redes sociais em prosa e verso":

Dia 22/2, 5a feira, a partir de 18h, Belo Horizonte, parque esportivo da Associação dos Magistrados Mineiros - Amagis, Rua Albita, 194, Cruzeiro.

Dia 1/3, 6a feira, ás 19h, São João del-Rei, no Teatro Municipal. Na terra natal, farei, na abertura, uma apresentação do livro. Abordarei minha infância, formação, influência da literatura nessa trajetória e a importância do uso das redes sociais para propagar "pitadas" literárias, culturais, históricas, poética s etc. Devem ser um ambiente de fraternidade e paz, em vez de ódio e propagação de fake news. Não somente São João del-Rei e Minas Gerais forjaram o meu espírito, mas também a querida Paraíba (terra de mamãe e 3 dos meus avós). São muitas narrativas mineiras e paraibanas selecionadas na obra”.

Então, temos mais um bom livro a partir deste fevereiro. Sou assíduo frequentador dos textos do magistrado de São João. A ele devo, por sinal, a informação de que, no ano passado, o padre Vieira ingressou na Companhia de Jesus como noviço, em 1623; quatrocentos anos, pois. E foram os jesuítas que lutaram contra a escravização dos indígenas no território que serviria para implantação de uma nação. Contribuíram para combater o canibalismo, a poligamia e o nomadismo.


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Por Manoel Hygino - 3/2/2024 07:46:51
O palacete da avenida

Manoel Hygino

Jornal belo-horizontino vem focalizando lugares especiais do cenário urbano da metrópole. Um deles foi a Funeral House, erguida na Afonso Pena, em local privilegiado. A população que passa pelas imediações a conhece suficientemente, pela imponência das linhas e pela beleza arquitetônica.

O que não ficou dito é que ali residiu o médico Antônio Pimenta, de alta competência profissional, e de tradicional família dedicada principalmente às atividades pecuárias. Eram quatro irmãos: ele, Antônio; João; que cuidou principalmente da produção de gado, mas entrou pela política, elegendo-se prefeito de Juramento e de Montes Claros; Lourdes, formada em Direito, em cujo escritório trabalhava João Chaves, homem das leis, mas também poeta de excelente qualidade e seresteiro; Neném, diplomada em Farmácia, casada com o médico Plínio Ribeiro, enciclopédia viva e atuante em todas as áreas a que fosse chamado. Gente muito mineira, muito sertão, séria, e confiável.

Em Montes Claros, Antônio gozava de alto prestígio. Cuidava de sua extensa clientela, sobretudo no seu consultório, mas também na Santa Casa, e no Sanatório Santa Terezinha, de que foi um dos fundadores e diretores. Nas proximidades da residência da mãe, construiu uma residência do mais alto nível. Ao lado, o consultório a que recorriam homens, mulheres e crianças, confiando ao seu carinho e competência. Dos ferimentos, cuidava pessoalmente, pois não existiam enfermeiros, auxiliares ou técnicos de enfermagem.

Sem pensar em política, a ela se integrou. Elegeu-se folgadamente deputado estadual, no velho PSD, partido do governo, já casado em Nhanhá (naquela época, todos tinham apelidos), ela dos Alcântaras, de Grão Mogol – Dagmar Alcântara Pimenta. Não geraram filhos, fazendo de cada cliente tratado no consultório ou nos hospitais um seu afilhado. Era assim e a cidade sentia-se grata.

Antônio Pimenta e esposa (que gostava de tango argentino) resolveram construir a sua residência, fazendo-o na Avenida Afonso Pena, 2.158. Jeito e maneira dos mineiros, discreta e silenciosamente, o prédio com duas imponentes colunas gregas de frente para a principal via pública da capital.

O prédio deixou de ser residência para os viventes, mas transformado em abrigo temporário para os mortos nos velórios.


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Por Manoel Hygino - 31/1/2024 10:19:45

Lições imperdíveis

Manoel Hygino

José Ponciano Neto não deixou que o fato passasse em brancas nuvens, ao publicar a notícia do falecimento de uma das pessoas mais distintivas de Montes Claros. Amelina Chaves, no dia 22 de janeiro último, deixou o nosso convívio. Não a veremos com seu entusiasmo nas reuniões literárias ou sociais, mas será lembrada pela sua história de superação das dificuldades que se acumulavam nas regiões distantes norte-mineiras.

Nascida em berço humilde em Sapé, hoje integrante do município de Capitão Enéas e antes de Francisco Sá. Ela soube superar todos os empecilhos para ser o que sempre sonhara: escritora. Lembra a colega de atividade literária, Glorinha Mameluque, que a sua paixão pelas letras surgiu em torno dos dez anos. Decidiu seu futuro no distante sertão, em época muito distante até da ideia de Polígono das Secas, então sem as academias que hoje existem em Montes Claros, núcleo maior da economia e da cultura regionais.

Na existência de Amelina, que revi pela última vez numa reunião não consumada por imposição da Pandemia, na AML, tudo é grande e expressivo. Ela viveu 92 anos, teve 15 filhos e escreveu 32 livros, sempre com referência à nossa terra e seus ilustres filhos, tema principal e preponderante de sua bela e farta produção.

Assim, seguirá entre nós a despeito das contingências do tempo. Sobre Amelina, poder-se-ia repetir o que escreveu Clarice Lispector a respeito de si mesmo e que a Mameluque transcreveu: “E nasci para escrever. A palavra é o meu domínio sobre o mundo. Eu tive desde a infância várias vocações que me chamavam ardentemente. Uma das vocações era escrever. E não sei por que, foi esta que eu segui. Talvez porque para as outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós. É que não sei estudar. E, para escrever, o único estudo é mesmo escrever. Adestrei-me desde os sete anos de idade para que um dia eu tivesse a língua em meu poder. E, no entanto, cada vez que vou escrever, é como se fosse a primeira vez. Cada livro meu é uma estreia penosa e feliz. Essa capacidade de me renovar toda à medida que o tempo passa é o que eu chamo de viver e escrever.”

Suponho, a título de encerramento, que poderia reiterar com Ponciano, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros e da Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas: Amelina Chaves nos ensinou que “o saber a gente aprende com os mestres e os livros; a sabedoria se aprende com a vida e os humildes”.


86989
Por Manoel Hygino - 30/1/2024 08:48:06
O grande mal

Manoel Hygino

Sou admirador de Edgar Morin, sociólogo e filósofo francês, desconhecido por milhões de pessoas que não aprenderam a ler. Nem vão aprender, de acordo com o andar da carruagem. Ao publicar suas memórias ao ensejo de seu centenário, em 1921, editou-se um livro especial: “Leçons d’un siecle de vie”. Lá, ele elenca algumas das aulas de aulas que guardou consigo: “Resistir à dominação, à incredulidade e à barbárie, tomar consciência da complexidade humana, levar uma vida poética, com fé no amor”.

Sem dúvida, o máximo que se pode exigir de nossa breve passagem pela terra, que muitos, sem embargo, ignoram. Haja vista o que se vê todos os dias e horas, em todos os continentes e países, sem que se dê mais atenção aos fatos.

É o caso, por exemplo, dos inúmeros casos dos que se enchem de drogas pensando que fazem o melhor. As casas de detenção ou prisão, as clínicas, se superlotam com tantos que não querem ver e sentir com o coração. Inventou-se até uma palavra nova para o registro – drogadição -, que vai além das infrações penais e conflitos criminosos que habitam o noticiário policial no Brasil.

O incauto e o descuidado de sua própria vida estão presentes permanentemente em hospícios, clínicas, vários hospitais especializados, quando não em casas de correção, repetidamente sem muitas condições efetivas de recuperação.

Nos anos mais recentes, o poder público percebeu que algo se teria de fazer, de modo permanente, para combater os chefões da droga e seu comércio, que deixam dezenas de mortos e incapazes pelas ruas das cidades brasileiras, não apenas as de maior população. Parte dos resultados se pode aferir pelas notícias da Imprensa, mas nem tudo é apurado.

Um pormenor: o Ipea constatou que a guerra às drogas reduz em média, 4,2 meses a expectativa de vida dos brasileiros, causando prejuízo de R$50 bilhões anuais. Isso quer dizer 0,77% do PIB em decorrência de óbitos no país.

Uma tragédia nossa de todos os dias, com a qual devem preocupar-se também os chefes de família, o núcleo essencial para evitar o mal pior e tentar causar a felicidade geral da nação, mesmo sem Pedro I por aqui. O nosso primeiro imperador e Morin têm razão.


86985
Por Manoel Hygino - 27/1/2024 08:52:04
Nossa pecuária

Manoel Hygino

Depois de longa temporada sem chuva, confirmando até algumas informações da Inteligência Artificial, despencaram em boa parte do território mineiro pesadas pancadas, que deixaram estragos muitos, danos múltiplos, principalmente em cidades de maior porte, embora também efeitos perversos fossem sofridos naqueles de menores dimensões. Com mortos e desaparecidos humanos, que não encontraram meios para fugir às destruidoras cargas.

Extensas regiões, que reclamavam da estiagem maligna, puderam enfim prever que a água descia do céu e que os anjos diriam amém. Aconteceu também no meu Norte de Minas e pelas bandas do Jequitinhonha, Mucuri e Itambacuri. Ainda bem. Mas o que inúmeros mineiros não apreciaram foi com relação aos rebanhos bovinos. Havia gente pensando que Minas liderava, mas se enganou.

Em verdade, pelos dados ora revelados, a liderança no número de bovinos no país pertence a Mato Grosso, com 34.246.313 cabeças, seguido pelo Pará com 24.991.000. Seguem Goiás com mais de 24 milhões também, enquanto o estado montanhês dispunha de 22.993.105, em 2022. Somos, assim, o quarto em número de reses bovinas.

Os maiores municípios criadores entre nós são: Prata, Campina Verde, Santa Vitória, Unaí, São João da Ponte, João Pinheiro, Carlos Chagas, Paracatu, Patos de Minas, Uberlândia. Apesar disso, a quantidade de cabeças segue sob liderança do Triângulo – Alto Paranaíba, seguida pelo Norte, mas com distância assaz relevante. A primeira conta com 5.437.061 cabeças, enquanto o Norte soma 2.834.992. Em seguida, aparecem Sul e Sudoeste, Vale do Rio Doce, Zona da Mata, Noroeste, Oeste, Central, Metropolitana de Belo Horizonte, Vale do Mucuri, Jequitinhonha e Campo das Vertentes.

Segundo os mais recentes números, o rebanho bovino de Minas é de 22,99 milhões de cabeças, enquanto a população está com 20, 558 milhões de habitantes.

Não podemos reclamar, mas não devemos deixar de investir. Precisamos manter o prestígio de nossa pecuária e a qualidade de nossos produtos. Não sem razão, Antônio de Salvo, de uma família de pecuaristas e presidente da Federação da Agricultura de Minas, declarou recentemente: “A pecuária de corte vem conquistando novos mercados considerando a qualidade e sanidade do nosso rebanho; a gripe aviária não nos atingiu nesse 2023, justamente pelas ações rápidas e alinhamento produtivo”.


86982
Por Manoel Hygino - 23/1/2024 09:01:23
Agora, Equador

Manoel Hygino

A América Latina sempre em evidência sob olhar acurado e cuidadoso; quando não temeroso do resto do mundo. É bom ler o livro de Manoel Bonfim, escrito no princípio dos anos 1800. Informa-se o leitor sobre as causas de nossos atrasos, desavenças e problemas, que só aumentaram no decorrer dos dias.

Vivemos os nossos desafios, mas se vê que não estamos sozinhos. Os “Hermanos” também os enfrentam ou os sofrem. Veja-se a Argentina em suas atribulações antes e depois de Perón, antes e depois dos militares. E há a Venezuela, que incomoda os latinos e os Estados Unidos, mas também as demais nações. O que, afinal, pretende o ditador que é “maduro” no nome, mas não deteriora com suas ideias?


Há pouco dias, o Equador segue vivendo momentos de tensão após toda a confusão, armada sobretudo devido às organizações criminosas, com ênfase dos traficantes de drogas, que montaram um império de alta periculosidade, conseguindo inserir-se num sistema internacional de compras e vendas, que inclui a Europa, a Ásia, mesmo a África. Como em Gaza, são mantidos reféns, pondo em risco o que ainda detém certa dose de complacência e paz na nação latina.

Ainda no Equador, seu jovem presidente se mantém esperançoso e disposto a enfrentar os “grupos terroristas” compostos por mais de 20 mil pessoas. Para ele, as gangues criminosas são terroristas e não alvos militares de seu governo. Daniel Noboa é categórico: “Nós não vamos ceder e deixar a sociedade morrer lentamente. Hoje, vamos combatê-los, vamos dar soluções e em breve vamos dar paz às famílias”.

O Equador é banhado pelo Oceano Pacífico. Tem pouco mais de 272 mil quilômetros quadrados de extensão, com por mais de 20 milhões de habitantes, 25% ameríndios. Daqui dois anos, isto é, em 2026, se registrarão os 500 anos da chegada ali dos espanhóis. Não foram poucas as lutas dos europeus para seguirem no comando do território. A partir de 1932, o cenário político foi assumido pelo líder populista José Maria Velasco Ibarra, eleito cinco vezes presidente.

A capital é Quito, mas a maior cidade é Guayaquil, com população semelhante a Belo Horizonte. Produtos principais: café, cacau e, em especial, banana. Coberta sua superfície, principalmente pela floresta amazônica, há predomínio da exportação de petróleo – 50 % de sua pauta. Durante certo período, 14 presidentes da República foram derrubados. Quem pode não deve perder a oportunidade de conhecer o arquipélago de Galápagos, primeira região do planeta a integrar a lista de patrimônio mundial da Unesco. Lá pelo menos, há sossego.


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Por Manoel Hygino - 20/1/2024 07:30:25
Histórica edição

Manoel Hygino

Tem completa razão o presidente da Amagis, Juiz Luiz Carlos Rezende e Santos, ao referir-se à edição histórica lançada pela entidade há poucos dias: “É publicação para ser lida com prazer e guardada com carinho por todos que atuam e têm apreço pelo Judiciário e, de modo especial, por estudantes de Direito em todos os níveis”.

Depois da edição especial, em parceria com a Escola Judicial Edésio Fernandes, protagonizando a vida de um dos mais brilhantes magistrados deste país, Hermenegildo Rodrigues dos Santos, houve a publicação sobre vida e obra de outros dezoito elaborada por quem com eles conviveu e aprendeu a admirá-los.


Mais recentemente e para deleite intelectual de um infindo número de leitores, eis que se focaliza a trajetória exemplar de Raphael de Almeida Magalhães, a partir da inesquecível palestra do desembargador Luciano Pinto. Para não deixar por menos, a edição contou com prefácio de Rodrigo de Almeida Magalhães, bisneto de Raphael, professor de Direito na PUC e na UFMG.

Com tão rico material, o jornalista responsável pela revista, Manoel Marcos Guimarães, a excelente ilustradora Sandra Bianchi e a projetista gráfica Rachel GM Magalhães puderam regalar-nos com uma produção do maior significado histórico, cultural e artístico. Sem falar na relevância da edição para enfatizar a nobre missão de nossos magistrados.

Dá-se relevância ao sentido da missão desses profissionais do Direito na prática da tolerância, em que foi exemplar Raphael de Almeida Magalhães, “nascido na aristocracia do Império, educado no Rio de Janeiro e São Paulo, mas foi em Minas Gerais, lá na margem direita do Grande, nos longes do sertão do Tamanduá, na comarca de Campo Belo, que ele se sentiu filho de Minas Gerais e nas Minas Gerais ficou para sempre”.

Segundo Luciano Pinto, seu focalizado “não se desinteressava da vida pública e a formação liberal e harmoniosa de sua personalidade o incompatibilizava com os destemperos, tanto da demagogia como do regalismo”. Ao depoimento de Mendes Pimentel, amigo de todas as horas, assíduo companheiro nas caminhadas diárias para as sessões de cinema, no seu depoimento a que recorro mais uma vez: “Aquele cuja memória aqui nos congrega teve, como os que mais o possuíam, o senso crítico, a consciência da injunção política. Mas tanto o aborrecia o demagogo como o déspota. No seu espírito nunca se desatou o binômio da ordem e da liberdade. E, se não tolerava a bufonaria dos exploradores das multidões, também não compreendia que a defesa da autoridade precisasse trancar permanentemente a igualdade de direitos entre os cidadãos”.


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Por Manoel Hygino - 18/1/2024 08:40:14
Povo e gente

Manoel Hygino

A violência no Brasil é fenômeno que impressiona toda a sociedade, inclusive a que vive em outros países. Ela é estudada porque nãos e compreende com facilidade como um país como o nosso- com suas dimensões, com suas imensas riquezas, ocupando o maior território de um hemisfério, habitado por populações que se caracterizariam pelo pacifismo e solidariedade chegou ao ponto em que está. Raquel Galinati, delegada de Polícia, diretora da Associação dos Delegados de Polícia do Brasil, mestre em Filosofia e pós-graduada em Ciências Penais, processo Penal e Direito de polícia Judiciária, em artigo para jornal de Belo Horizontem, expôs a questão em sua grandeza: “A compreensão da raiz da violência urbana requer um olhar além das lentes ideológicas, direcionando o debate para questões estruturais, sociais e históricas que alimentam esse problema”. A situação a que chegamos inquieta. Intelectuais de nome como Sílvio Romero ingressaram em ia equivocada ao abordar a questão e atribuir ao desvio da população ao arianismo e com o domínio das raças inferiores no país. Encontrou um adversário à altura o Manoel Bonfim a partir da primeira década dos anos 1900. Enquanto Romero se preocupava com a degradação a raça brasileira e com o domínio das raças inferiores, o contendor, usando a Imprensa, o contesta com veemência e ao “pessimismo da sociologia da cobiça”, que nos classifica como “incapazes e inferiores”. “O bravo sergipano defende a correção de rumos e regeneração, ou a vitória sobre a opressão, por meio da educação popular. Segundo Vera Alves, para Bonfim a correção se teria de fazer por meio da educação popular, o estudo das ciências. A instrução básica, pública e de acesso a todos- a educação que liberta e traz a independência- é a grande saída revolucionária para acabar com as generalizações e simplificações errôneas, não fundamentadas por nenhuma ciência que possa realmente se entendida como tal”. Como Manoel Bonfim, Darcy Ribeiro acreditou que “a educação popular tem um papel indispensável em nosso esforço de autossuperação. Somente através dela conseguiremos que os brasileiros de amanhã manifeste em sua extraordinária criatividade, não só no exercício do futebol e no carnaval, mas em todas as formas humanas de expressão”. Manoel Bonfim viveu muito pouco, mas deixou lições fortes. Deixou, por exemplo, o ensinamento de que “Viver é acrescentar alguma coisa ao que já existe”. Para isso, imprescindível união, sem querer extraviar vantagens, com descaso pelo povo trabalhador, que não há de ser visto como mera fonte de energia produtiva, que a sociedade possa usufruir como bem desejar.


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Por Manoel Hygino - 16/1/2024 08:27:22
Fatos históricos

Manoel Hygino

Em curto espaço de tempo, a Academia Mineira de Letras perdeu três de seus ilustres membros: Maria José de Queiroz, Olavo Romano e Orlando Vaz Filho, cujas vagas não foram ainda ocupadas. Fazem faltas e farão, pela contribuição que deram à entidade enquanto já atuaram. Do segundo, há de lembrar-se declaração feita no Congresso das Academias Estaduais de Letras, em outubro em Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul: “Primeiro, que o sentido da academia é confraternizar. É uma reunião de opostos, de tolerância, amizade. O colega de academia é chamado de confrade. Não importa o que ele pense, a sua cor política. A academia é um espaço de tolerância, amizade e fraternidade”.

Provisoriamente, são 37 que ocupam suas cadeiras. Logo, serão 40, como a Academia Brasileira, voltada para a inteligência, a história, as artes, à literatura especificamente, a cultura. O atual presidente - Jacyntho Lins Brandão, sucessor de Rogério Faria Tavares - dá sequência a um ciclo renovador, que se percebe e se sente. A mansão da rua da Bahia, antiga residência de Borges da Costa, um expoente da Medicina, é um símbolo e um marco na história da capital.

Em outubro, as doutoras Sara Rojo e Júlia Morena Costa promoveram na AML a palestra “Diálogos entre Texto, Cinema e a Obra do escritor chileno Roberto Bolaño”, quando se deu também a noite de autógrafos do livro de Sara “Imagens e teatralidade na narrativa de Roberto Bolaño, da teoria à teatralidade”. É obra que enriquece a produção do Bolaño, usando diálogos no contexto teatral e no cinematográfico.

Em novembro, o sodalício recebeu o poeta e acadêmico Afonso Henriques Beto, para a palestra “A poesia entre os Guimarães e os Guimaraens”. Foi quando se lançou o livro “Correntezas em tinta e versos - Quatro séculos e poesia na família Guimaraens”, sendo mediador Ângelo Oswaldo, prefeito de Ouro Preto e também acadêmico.

Não deixo de registrar que, em 30 e 31 de outubro, mais uma vez a Academia lançou luz à história, ao patrocinar e apresentar o seminário “Compilador Mineiro, 200 Anos”, reverenciando a memória dos que promoveram a edição do “Compilador Mineiro”, que legou marca imperecível ao jornalismo brasileiro, pois se perenizou como o primeiro periódico redigido e impresso na província de Minas Gerais, em 1823, dois séculos antes pois.


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Por Manoel Hygino - 13/1/2024 07:20:38
Voz do povo

Manoel Hygino

As cidades têm defensores de seus patrimônios naturais, históricos e culturais, principalmente se há meios de preservá-los, sem prejudicar a exploração, assegurando bens naturais de forma sustentável. E sustentabilidade é vocábulo inserido habitualmente em debates sobre meio ambiente. Em Montes Claros, maior cidade do Norte de Minas, um dos defensores dela é José Ponciano Neto, técnico em Meio Ambiente e Recursos Hídricos e membro da Comissão de Geografia e Ecologia do IHG do município.

É ele defensor de outras ideias, válidas para todos os municípios e regiões – não só de Minas. É o que depreendo de documento que me chegou às mãos, há bastante tempo e cuja divulgação retinha para melhor avaliar.

“Cinco grandes inimigos da paz habitam dentro de nós: a avareza, a ambição, a cobiça, a fúria e a vaidade. Se conseguíssemos desterrá-los, gozaríamos irrevogavelmente da perpétua PAZ”.

O nosso querido país, “abençoado por Deus e bonito por natureza” está literalmente nebuloso, propício a... Sei lá o quê!

A maioria dos nossos patrícios está mostrando que estão afundados no delírio ideológico, evidenciando uma índole inaceitável com muita ignorância.

As facções políticas – de ambos os lados – não querem externar a seus “seguidores” que a paz e uma boa administração são muito mais importantes que determinadas utopias. Estão armando os seus escudeiros com a arma do ódio, uma arma perigosa para provocar uma guerra civil - verdadeiramente um atraso feudal do estado patrimonial; o ódio instiga conflitos entre amigos e familiares.

No tocante ao algoritmo das plataformas, estas estão recheadas de “seguidores” espalhando notícias falsas (fake news) – política do macarthismo. Lamentavelmente, os responsáveis por elas não têm qualquer interesse na qualidade dos conteúdos. Com isso, estão impelindo muitos brasileiros para uma ilusão de animosidade geral entre os eleitores e regiões.

O brasileiro nunca pensou que os políticos são tão cegos diante da relevância de seu cargo e a importância de seu papel na sociedade. Basta observar a maneira como reagem diante de qualquer fraude, crime físico ou catástrofe. São insensíveis! Reações que acabam promovendo mais ódio.

Pelo amor de Deus! Dias destes, li uma frase que diz tudo: – “O Brasil está sendo desfigurado dentro de nossas cabeças”. – certo!

Enquanto nós estivermos nesta guerra civil do ódio, vamos sofrer com a violência do povo contra o povo.


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Por Manoel Hygino - 9/1/2024 07:59:14
O bem público

Manoel Hygino

Não vive a nação os seus melhores momentos. Ainda repercutem nos cérebros e nos corações os sentimentos que resultaram dos lastimáveis acontecimentos de 8 de janeiro de 2023. No primeiro mês, deste novo ano, são lembrados os atos do janeiro passado, quando se quis e se pretendeu incendiar o ambiente político no país que ainda busca o ambiente propício ao pleno desenvolvimento a que está destinado superiormente.

Não venceram as aves de mau agouro, mas persistiram as imagens de destruição que invadiram as sedes dos três poderes da República. A desmedida polarização não se prolongou pelas mãos e artifícios dos que não souberam pensar no futuro do Brasil e dos que nele habitam e as futuras gerações. Estas guardarão na memória um espetáculo deprimente que em nada representaram ou representariam em favor do bem nacional. Mas, de todo modo, predominou o bom-senso, o patriotismo, que precisam ser ressaltados e reconhecidos, agora que o mau tempo é pretérito.

Em 1973, também num janeiro, precisamente no dia 31, faleceu aqui o historiador João Camilo de Oliveira Torres, debruçado sobre os processos e os problemas da autarquia INPS, cuja sorte ligou à sua própria vida. Atleta do bem comum, como o classificou o professor de Direito Antônio Augusto de Melo Cançado, membro da Academia Mineira de Letras e ex-secretário de Estado, João Camillo era autêntico “republico”, condição desconhecida ou olvidada pelos planejadores e autores do atentado de 8 de janeiro.

Os bens invadidos e criminosamente danificados eram bens do povo, isto é, “Res Pública”, pertenciam à comunidade nacional que nos abriga, eram de todos e de cada um.

Mello Cançado, mestre-confrade, recorda: “Ora, se o Governo o assume de forma monárquica ou republicana- constitui uma coisa do Povo, pelo que se compreende muito bem porque Dom Pedro II podia ser obstinado republico sem jamais ter adido republicano”.

E que dizer ou pensar dos que decidiram e agiam contra os núcleos maiores das decisões da pátria nas casas dos três Poderes? Pelo menos, que os fatos rendam algum ensinamento útil, é o mínimo que se haverá de rogar a Deus, mas há aqueles que n’Ele não confiam. De todo modo, divido a ideia de que “há renovadas esperanças de que avançamos para a ideia de valores normalmente ascendentes. Deixaria nosso planeta de ser de expiações para ingressar no patamar da negociação, com a prevalência da luz sobre as Trevas, do bem sobre o mal”, como se expressou dias atrás, o jornalista Paulo Narciso, com sua convicção segura e serena.

Não nos inclinemos aos baderneiros e seus tributários. O Brasil merece fé, para alcançar um futuro venturoso.


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Por Manoel Hygino - 6/1/2024 07:41:59
Guerra ou Paz

Manoel Hygino

Estamos em tempo de paz? Não é o que parece. Basta passar as páginas dos jornais e conferir. Não temos paz, por mais que a humanidade peça e o Sumo Pontífice pregue.

Os números de mortos expostos nas estatísticas podem parecer irreais. Estamos pessimistas. No entanto, não é exatamente o que acontece. Desde o fim da II Guerra Mundial, de pérfidas e dolorosas lembranças, nunca se matou tanto em tantos lugares do planeta.

Oitenta anos são transcorridos do final da II Grande Guerra, uma das piores carnificinas da história da humanidade, em cruel período da história. Será que as lideranças mundiais não se apercebem do que patrocinam? Os exemplos passados são efetivamente passados? Muitas interrogações nos pairam, mas deveriam ser permanente fonte de dor e inquietação.

Apanho o jornal. Lá está: a recém-lançada Pesquisa de Conflitos Armados, do Instituto Internacional de Estados Estratégicos, registra que houve mais pessoas mortas de 2023, do que no ano anterior: mais de 14 por cento este ano do que em 2022 - nada menos de 267, mil humanos perderam a vida.

Perderam a vida é modo de dizer. São pessoas como nós, que vivem nas ruas das várias nações e imolados. Em nome de que? Que motivos maiores os levaram a pena de morte?
E, no entanto, consta que estamos em tempo de paz? Que paz é essa, no Oriente Médio se travam cruentas lutas, como em outras épocas da história? E a Rússia, há mais de um ano, mantendo sua guerra não declarada contra a Ucrânia?

De plantão, Maduro - na Venezuela - movimenta soldados nas cercanias da Guiana. Um simples jogo de soldadinho de chumbo? Do outro lado do mapa, o aparentemente débil mental Kim Jon Um determina estado e alerta máximo a suas tropas. E a Coreia do Norte, vamos lembrar, é potência nuclear.

Fazer o que?

Estadistas ou dirigentes de nações que não querem guerras são vistos com maus olhos. Consolidou-se a ideia de que somente belicamente se consegue paz. São velhos conceitos e pensamentos que resistem até ao prognóstico de pacificação dos povos. Não é promissor o rumo que ora se toma. Frias, as estatísticas da tragédia darão a resposta.


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Por Manoel Hygino - 3/1/2024 11:39:31
Vez dos Pardos

Manoel Hygino

A imprensa do país deu ênfase à notícia do dia 13 de dezembro: oferecendo um retrato do Brasil, informava que, pela primeira vez, a maioria de nossa população é de pardos. Além: quem o contava era o próprio segmento assim classificado. Em resumo: nós dissemos que éramos pardos na maioria, segundo o Censo do IBGE em 2022. A parcela de brancos caiu de 51,6% para 43,5% presentemente, ao passo que a de pardos se declarou de 45%, tendo aumentado além dos 42,5% anteriores.

Com informes coletados pelos recenseadores mostraram que, entre 2010 e 2022, a participação dos pardos cresceu em todos os grupos de idade pesquisados, enquanto a população branca sofreu diminuição em todas as faixas etárias.

Dado que desperta curiosidade: no país, apenas nove municípios exibem população predominantemente preta, o que equivale a 0,1% das cidades brasileiras, sendo oito na Bahia, e apenas uma no maranhão - Serrano do Maranhão.

A gente negra está dispersa na imensidão do território nacional, com concentração no Recôncavo da Bahia. No restante do país, observa-se uma concentração importante no Rio de Janeiro. Outro detalhe: em Morrinhos do Sul, em terra gaúcha, 97% se autodeclarou branca, o índice mais elevado em todo o território nacional.

Restaria, para sentir melhor a questão, saber quem é pardo.

Busquei informação em Manik Zacharias, médico, já falecido, nascido em Curitiba, muito perseguido pela revolução de 1964, que o manteve preso por extenso período. Zacharias, estudioso de “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, elaborou um index com cerca de mil páginas (Lexicologia de “Os Sertões”) explica que sobre “a cor parda, intermediária entre o branco e o preto, ou entre o amarelo e castanho”, ou “indivíduo de pele escura, mulato”. Quanto a mulato é “mestiço de branco e negro”.

Mais adiante, para definir “mestiço”, explica que se origina de raças diferentes, nascido de país de raças diferentes. O pesquisador curitibano amplia seu pensamento, à base de Euclides: “Adstrita às influências que mutuam, em graus variáveis, três elementos étnicos, a gênese das raças mestiças no Brasil é um problema que por muito tempo ainda desafiará o esforço dos melhores espíritos”.

E, na página 87: “Oras toda essa população perdida num recanto dos sertões, lá permaneceu até agora, reproduzindo-se livre de elementos estranhos, como, que insuflado e realizando, por isso mesmo, a máxima intensidade de cruzamento bem definido, completo”.


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Por Manoel Hygino - 30/12/2023 07:48:46
O Menino Transmutado

Manoel Hygino

Não era para eu estar aqui, hoje, com este comentário. O Natal 2023 já se foi, as pessoas cuidam do iniciado novo ano e dos problemas que afligem o mundo nestes dias iniciais do calendário. Mas a figura do Menino Jesus, tão da ternura da gente cristã, permanece diante dos olhos e do coração de milhões, mesmo dos judeus.

Daniel Polish, diretor da União das Congregações Hebraicas Americanas, sobremodo admirado em sua pátria e entre os de mesma religião, comenta: “há um Jesus que não tem precedente na vida judaica - o Menino Jesus”.

O Menino Jesus, por sua vez, costuma ser central e coerentemente inevitável como componente da vida religiosa cristã.

Como entender a força do Menino Jesus na tradição cristã? Tal como outros ritos e símbolos religiosos, há nesse fenômeno mais coisas do que os olhos veem - ou que pode ser acessível à mente consciente do praticante religioso. É mais fácil que eu, como observador externo, entenda esse fenômeno religioso em analogia com um aspecto específico da tradição religiosa na Índia.

Nesse universo religioso, encontramos o conceito de bhavas: as várias maneiras de amar a Deus. As várias modalidades de amor humano que vivemos em nossa vida podem vir a ser entendidas como vislumbres ou analogias com as emoções que sentimos em relação a Deus. As várias expressões de fé encontradas em Krishna articulam certo número dessas maneiras ou bhavas. O amor que sentimos pela família e pelos amigos pode ser um modo de compreendermos o que é amar a Deus.

As emoções que os servos sentem em relação a seus senhores, os sentimentos de um amigo ou de um amado, todas essas coisas são transpostas em emoções que podemos sentir em relação a Deus. E figura entre as bhavas o amor dos pais pelos filhos.

Caminhando para concluir, escreve o rabino: “... essa bhava do amor pelo recém-nascido é o que se acha na base da veneração do Menino Jesus. A devoção a Jesus como menino é encontrada com tal regularidade e irradia tal intensidade que, articulada ou não, reflete mais do que uma dimensão incidental da vida cristã. Mais que mera curiosidade ou alusão histórica, a força do motivo do Menino Jesus serve de vínculo à descoberta de intensas emoções, no âmbito de nossa própria experiência, que podem ser transmutadas - “despertadas” para servir a um propósito religioso mais elevado. O amor que os pais sentem pelos filhos se transmuta, por meio do envolvimento com o Menino Jesus, no amor que podem sentir por Deus. O menino – no cristianismo, o Menino Jesus - se torna a passagem para a expressão intensa de um amor mais grandioso”.


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Por Manoel Hygino - 27/12/2023 07:59:45
Esperando a paz

Manoel Hygino

Até por ser natural de Mariana, primeira capital de Minas, não deixa Danilo Gomes, um dos grandes cronistas e poetas deste nosso tempo, de lembrar-se dos amigos e colegas de faina na Imprensa, ele que desde a época que integrava a equipe do DIP de Getúlio Vargas servia ao Catete. Assim, não se aposenta de todo. Há pouco, por exemplo, enviou a seus privilegiados correspondentes o texto do artigo de 19 de dezembro do imortal José Sarney. A página exige leitura.

O ex-chefe da nação evoca a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o mais importante documento publicado pela ONU, em 10 de dezembro de 1948, escrito por grandes personalidades como Austregésilo de Athayde, o canadense John Peters Humphrey, o libanês Charles Malik, o chinês P. C. Chang, e o francês René Cassin.

O articulista ressalta: “Não é uma convenção e não tem efeito vinculante, de modo que ninguém a obedece. Se tivesse efeito vinculante, também não seria obedecida: nada é tão desrespeitado no mundo quanto o que dizem as Nações Unidas”. Em 1985, ele próprio, Sarney, encaminhou mensagem ao Congresso Nacional comunicando a adesão do Brasil ao Pacto de San José, em vigor desde 1978, a que não havíamos aderido. Em agosto daquele ano, Sarney assinada a Convenção das Nações Unidas contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis ou Degradantes, hoje garantidos por força da Constituição.

Observa ainda. “Para nós, cristãos, a História dos Direitos Humanos traz lembranças fundamentais nesse sentido. Não há dúvida sobre a mensagem de Jesus Cristo. Os catecúmenos, em Roma, seguiam para o martírio sem resistência: o exemplo do desfazimento do gesto de Pedro resistindo com a espada não podia ser mais claro. Mas a Europa cristã foi o modelo de barbáries, culminando com as cruzadas e as guerras de religião, em um fundo de discriminação, violência, ódio. O mesmo retrato pode ser feito o islamismo e o judaísmo: a paz que a palavra sagrada traz e destorcida para virar violência que não respeita nem as bárbaras “leis de guerra”. E, com a diferença da complexidade da fé no resto do mundo, a situação se repete universalmente.

O ex-presidente escritor conclui seu precioso artigo, comentando com muita propriedade porque estamos entrando em novo tempo: “E, assim, por seu extraordinário efeito moral que a Declaração dos Direitos Humanos influencia a evolução da sociedade. É lenta, mas paulatinamente vai sendo seguida”.


A violência - na guerra ou no crime comum -, a discriminação, a desigualdade de direitos recebem, cada vez mais, o repúdio universal.

Haverá um dia em que a indústria de armas será substituída pelos gestos de Paz. E poderemos nos juntar aos anjos para cantar na chegada do Menino: “Glória a Deus nas alturas e Paz na terra entre as pessoas de boa vontade”.



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Por Manoel Hygino - 26/12/2023 07:10:19
Um lugar ao Sul

Manoel Hygino

Começou por São Paulo. O Brasil inteiro julgava que o progresso tinha ponto fixo, instalado historicamente no Sudeste. Populações expressivas do Nordeste, do Oeste, do Norte e mesmo do Rio Grande do Sul se deslocavam para ali se realizar. No período colonial, coube a um mineiro, Antônio Gonçalves Chaves, assumir o cabresto do Executivo catarinense. Era de Montes Claros, cidade do sertão mineiro que tinha fama de gente decidida, capaz de vencer as dificuldades e desafios daquele período penoso.

De Santa Catarina, lia eu a prosa de Enéas Athanázio, lá do aprazível Balneário de Camboriú, magistrado a quem se devem excelentes livros, que somam dezenas e que a todos agrada; e Emanoel Medeiros Vieira, e com a grave responsabilidade de relatar suas ideias e experiências, perseguido pela ditadura, e agora descansando prematuramente de sua tortuosa aventura humana.

Agora, pela Editora Caminho de Dentro, de Florianópolis, Alcides Buss, publica “Em nome da poesia”, já aplaudido no estado do autor e que nos premia com 350 páginas de memórias, cuja narrativa se estende do ciclo da vida nacional que vai da queda de Getúlio Vargas ao governo Lula, novamente à frente dos destinos nacionais.

É missão extensa, mas agradável e, até, didática. O relato parte de Trombudo Central, no Vale do Itajaí, percorrendo imenso território, passado por Medianeira, na tríplice fronteira de Foz do Iguaçu, alargando-se em Joinville, para desemborcar-se finalmente na bela ilha de Santa Catarina. Uma avenida feliz.

Uma biografia, aventura sim, mas diferente. Vazado o texto em segunda pessoa, a narrativa da vida do poeta se torna numa espécie de pando de fundo e serve de fio condutor dos atos sociais, culturais e poéticos, como o diz o próprio poeta.

Essencial é que o leitor se torna conhecedor de extensas regiões e cidades de um estado riquíssimo em atrações da natureza, de pedaços do território brasileiro, até hoje ainda menos conhecido que deveria e das cativantes gentes que o conhecem. Buss, enfim, ajuda-nos a apreciar o que Santa Catarina tem e que pela leitura, nos revela de modo esplêndido.

Um belo presente, enfim, de Natal, válido para um novo ano, que se deseja mais propiciador de realizações e alegrias do que o que fica perdido no calendário pretérito. Estes são os votos que brasileiros se desejam.


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Por Manoel Hygino - 22/12/2023 09:32:59
No cômputo da morte

Manoel Hygino

Quem assiste às transmissões de televisão ou ouve as rádios no Brasil se espanta com a sucessão de crimes contra a vida, mesmo que não se fale nos casos de acidentes, principalmente em rodovias ou nas ruas das cidades. “Um desperdício de gente que morre”, ouvi dizer. E é verdade.

Mas boa parte das pessoas classifica de morticínio praticado pelos fora da lei que agem incessantemente durante o dia ou à noite. Não há a rigor um horário delimitado para descarregar uma arma nas grandes cidades e despachar alguém para a eternidade, como se afirma.

O Brasil é forte no ramo. Na primeira semana de dezembro, leu-se nos jornais ou ouviu-se pelos meios eletrônicos de comunicação, que o Brasil lidera o ranking da ONU pelo maior número de homicídios em números absolutos. A informação está no Estudo Global sobre Homicídios 2023, então divulgado pela Organização das Nações Unidas.

Nosso país registrou 47.722 casos em 2021, seguido da Índia, com mais de 41 mil. Do total de 458 mil homicídios no mundo, 10,4% ocorreram no Brasil. São números de que não se deve orgulhar, antes pelo contrário.

No planeta que habitamos, mais pessoas foram vítimas de homicídios do que em conflitos armados e terrorismo combinados naquele ano. Para ser mais sucinto, bastaria registrar que a média global foi de 52 vítimas por hora, segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC).

A América pode lamentar-se ao tomar conhecimento de que o mundo descoberto por Colombo continua com a maior taxa do mundo – 15 pessoas a cada 100 mil habitantes. Em 2021, perderam a vida, seis vezes mais que a Europa.

Nesse cômputo, os homens representam 81% das vítimas de homicídios, mas as mulheres têm maior probabilidade de serem mortas por familiares ou parceiros íntimos. As mulheres correspondem a 54% de todos os homicídios domésticos e a 50% de todas as vítimas de homicídio por parceiros íntimos. Outro dado alarmante: 15%, ou seja, 71,6 mil das vítimas eram crianças.

Estas estatísticas poderiam servir para um reposicionamento de cada um e todos quando ingressamos no novo ano. Que o Natal de 2023 abra portas de esperança e de real felicidade.


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Por Manoel Hygino - 20/12/2023 08:48:24
A transparência

Manoel Hygino

A tradição do Brasil no caso de criminosos e crimes não é das melhores. Nos velhos filmes de Hollywood, ainda em preto e branco, via-se que os condenados ou suspeitos de ilegalidades eram encaminhados ao Brasil. Era a maneira de não se obrigar o bandido a cumprir penas no país de origem.

A situação mudou muito. Temos gerações de foras da lei produzidos por cá mesmo ou em nações limítrofes. Organizações criminosas poderosas operam por aqui, fazem vultosos negócios e são atuantes internacionalmente. Basta conferir pelos veículos de comunicação para se certificar a veracidade da informação. Episódios típicos e escabrosos são noticiados em horários certos por tevês e rádios.

Mata-se no país, muito mesmo. Determinadas áreas do Rio de Janeiro estão infestadas de criminosos, que fazem dali o seu ponto de apoio e o seu sustento. Pesquisa Nacional de Vitimização e Segurança Pública, feita pela Quest Consultoria e Pesquisa, em parceria com o Centro Internacional de Gestão Pública e Desenvolvimento da UFMG, realizada no recente novembro, em todo o país, revelou a redução da pobreza e da desigualdade como solução para o problema da violência.

Confiança maior é com a Polícia Federal.

Mas Andrea Dip e Maria Isabel Couto, do Instituto Fogo Cruzado, alertam para outro aspecto da questão, como publicado em jornal de BH, com assinatura também de Ricardo Terto: “As chacinas policiais no Rio de Janeiro não são algo que ficou no passado”, pelo contrário elas são parte da política cotidiana. Todavia 1.137 civis foram mortos nesses desastrosos embates com militares.

Ocorreram três chacinas ao mês, em média. Apesar das estatísticas assustadoras evidenciarem uma guerra diária permanentemente, por outro lado, há a percepção de que o estado brutal de violência não impacta mais a população.

Em resumo, a violência continua, sobretudo, em certos estados. E a Polícia pensa que está agindo como é preciso, mas o fato não é verdadeiro. Faltam dados imprescindíveis ao combate sistemático, o que exige inclusive transparência. Sem ela, sem confiança, nada feito.


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Por Manoel Hygino - 19/12/2023 08:57:20
O aço nacional

Manoel Hygino

Enquanto se atenta para a situação da dívida do Estado de Minas Gerais com a União, embora este não seja o único grande problema, outros estão surgindo no panorama da economia montanhesa como a produção e exportação de aço. E se trata de um excelente item na pauta de vendas ao exterior do país.

A imprensa, às vezes mal interpretada, tem advertido repetidamente para o que ocorre. É que, sem proteção ao item nacional, a importação do produto asiático, principalmente da China, pode subir 20% no ano que vai começar. Segundo estimativa do Instituto do Aço Brasil, este percentual vem somar-se aos 50% já aumentados em 2023.

Ao ver os números, os empresários do setor temem, mas parece que o governo federal não se impressiona. Minas Gerais abriga a Usiminas, a CSN- Companhia Siderúrgica Nacional, a Gerdau, a Aperam e a Acelor-Mittal, padecendo de maturação e inquietação diante da invasão do dragão chinês.

Já diminuindo sua produção justamente, nossos produtores de aço pressionam para ampliar a taxa de importação para 25%, a fim de encarecer o aço importado e, assim, incentivar a siderurgia brasileira. É o que se sente, vê-se a que se assiste. A Aperam, sediada em Timóteo, no Vale do Aço, tem clientes em quarenta países e capacidade para produzir 900 mil toneladas por ano, mas se vê constrangida a reduzir sua expansão.

As siderúrgicas insistem em atitudes da União, sem sucesso. A direção das empresas é objetiva: se o governo não tomar atitude, pode destruir uma indústria estratégica para a nação. A posição sustentável do empresariado está se tornando cada vez mais desafiadora.

Existe ainda o aspecto mão-de-obra. Se não houver providências no Brasil no novo ano, haverá possibilidade de demissões nas empresas siderúrgicas nacionais, a não ser que a União dificulte o ingresso do produto estrangeiro.

Até que algo se faça, ficamos na pior. E os chineses, do outro lado do mundo, dão um sorriso amarelo, porque não há falta de aço naquele lado do planeta.




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