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montesclaros.com - Ano 23 - segunda-feira, 25 de setembro de 2023


Manoel Hygino    [email protected]
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Por Manoel Hygino - 23/9/2023 07:31:25
Julgamento próximo

Manoel Hygino

No mínimo constrangedor o que acontece presentemente em Belo Horizonte com relação ao funcionamento de sua Câmara Municipal, pela qual já passaram vultos eminente, da política e da vida pública mineira. É doloroso que o fato se registre num momento em que tanto se espera dos administradores, em âmbito federal e estadual, depois da polarização, que foi um dos signos da campanha política de 2022.

Como não poderia deixar de ser, Belo Horizonte não é mais a cidade do princípio do século passado, quando ainda repercutiam as vozes mais autênticas de Ouro Preto, contrapondo-se à transferência da sede do governo para a nova cidade que se erguera a toque de caixa, para obedecer aos cronogramas estabelecidos e aos orçamentos.

A nova metrópole cresceu vertiginosamente e este, aliás é, um dos motivos pelos quais a administração sempre se viu em apuros para consumar planos e projetos, para corresponder a expectativas. Gerir um empreendimento dessa dimensão, em prazo solidamente definido não foi fácil, nem tem sido, mas a administração não pode falhar. E administração não resume a Executivo, pois se vive no proclamado estado democrático de Direito.

Os cidadãos que se elegeram para cargos importantes assumiram graves responsabilidades, sobretudo numa época em que mais se exige e do Estado por seus três entes dirigentes. Não se permite falsear, debilitar-se, impor-se por meios impróprios. O Legislativo tem papel importantíssimo nesse período de transição. Os sonhos dos munícipes não podem transformar-se em pesadelos.

É preciso considerar-se que estão envolvidos em debates, quase metamorfoseados em contendas, edis que formam uma nova geração de belo-horizontinos, em grande parcela nomes não antes submetidos ao veredito das urnas e ao julgamento da tribuna parlamentar.

Evidentemente, problemas não faltam e novos desafios surgem no correr dos dias e meses. A população reivindica mais e sente onde o carro emperra, identificando quem não responde satisfatoriamente a suas demandas e anseios.

Ademais, no ano vindouro, haverá eleição municipal. Os parlamentares em exercício na Câmara estarão sendo avaliados e julgados.


86868
Por Manoel Hygino - 20/9/2023 08:35:32
Visitando Havana

Manoel Hygino

Praticamente estamos ingressando no último trimestre de 2023. Quero dizer: praticamente entramos no final deste ano, que não tem oferecido conforto, paz, desenvolvimento e alegria para os habitantes deste planeta, que anda pelos oito bilhões de habitantes. É muita gente confiando em melhorar seus padrões de vida e de sobrevivência.

Quem viveu os meses iniciais não se acha esperançoso, a julgar pela evolução dos acontecimentos. Não faltam reuniões e conferência em todos os continentes para amenizar um quadro vai dizer- desolador. Quem toma conhecimento dos fatos sente que os gestores das nações parecem esforçar-se, embora haja aqueles que apenas se mantêm no poder para uso próprio, de outros grupos, de apaniguados.

Quanto já se gastou do cidadão, inclusive daqueles que não são considerados como tal; quanto se utilizou em viagens e passeios usando o produto sofrido do imposto de cada um, pelo menos aparentemente em busca de soluções práticas para solução de problemas que se acumularam em termos de anos, décadas e até mais?!

Não me lembro de uma pesquisa de satisfação mundial das populações dos países. Existe? Quais os resultados? Que respostas contribuem para diminuir o estado de descontentamento e de desilusão dos povos pesquisados?

Focalizaremos especificamente o caso da dívida de Cuba com o Brasil. Ao que se sabe, ela chega a 490 milhões de dólares, utilizados fundamente na construção do Porto Mariel, um empreendimento que tiraria a ilha do buraco em que afundara desde Fidel.

Antes de embarcar para Nova York para a abertura da conferência anual da ONU pelo presidente brasileiro, como ocorre sempre, Lula foi muito bem recebido pelo colega Miguel Díaz-Canel e demais autoridades. O que Havana pretende é flexibilização da dívida, que já está sendo flexibilizada há muito tempo. Até que começasse a redigir esta nota, nada havia evoluído concretamente, nem creio que as autoridades da ilha tenham o que propor.

A não ser o pagamento do débito em produtos nacionais de lá. Quais? Fornecer bananas ou açúcar para os brasileiros? Até seria algo objetivo. Mas, além das recepções me Havana, não obtive o teor de havidas conversas. Claro que todos nós queremos ajudar os cubanos, mas precisamos de algo palatável, o que não aconteceu até aqui.


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Por Manoel Hygino - 19/9/2023 08:54:35
Santa Tereza em foco

Manoel Hygino

Há Santa Tereza no Rio de Janeiro, onde viveu, por muitos anos, o escritor Paschoal Carlos Magno; e há Santa Tereza, em Belo Horizonte, em que se mantêm em plena atividade gentes de toda Minas Gerais, de sua capital, principalmente, nãos e devendo deixar de citar o Clube da Esquina, transformado em ícone da boa música de nossa era.

Santa, a de cá, que surge depois da avenida do Contorno, exibe seu nome antes da Revolução de 1930, em torno de 1928, segundo Libério Neves, escritor premiado mais de uma vez, e que viveu ali desde profissional e não trocaria o bairro por qualquer outro.

Libério escreveu: “Quando se fala de Santa Tereza, tem-se a imagem de um lugar festivo, povoado de alegria que trazem de todos os lugares”. Essa característica do povo que vive naquela parte da cidade é bem típica.

Por tudo isso, o bairro inspirou muitos compositores que cantam a beleza e a glória da cidade fundada para ser capital de um estado poderoso, resultante da antiga província. Presentemente, Santa Tereza pode ser tida como uma cidade dentro de outra.

A Praça Duque de Caxias é o centro nervoso. Todos os comícios, entretenimentos passam por lá, festivais de banda e corais, espetáculos de toda espécie, com o quartel da Polícia Militar, silencioso, tomando conta. A Igreja de Santa Tereza e Santa Terezinha promove as festas religiosas católicas com grande devoção e de participação de paroquianos.

O comércio é dos mais intensos. Há estabelecimentos e lojas de tudo e para todos, além de bares e restaurantes já conhecidos e apreciados à eficiência. Aí está a questão. Alguns deles se instalam agora sem pleno passeio público, com mesas e cadeiras, impedindo a livre circulação das pessoas - do bairro e das que vêm de fora. Isso atravanca o trânsito dos pedestres, põem em risco, adultos e crianças, obrigados a andar praticamente sobre os meios-fios. Quem perde é o próprio comércio e o prestígio de uma região tão singular.


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Por Manoel Hygino - 12/9/2023 09:48:04
Males de origem

Manoel Hygino

Li, em jornal da capital, que a professora Adriana Romeiro terminou a elaboração de “Ladrões da República: Corrupção, Moral e Cobiça no Brasil - Séculos XVI a XVIII”, livro não encontrado ainda nas livrarias como apurei. Mas, pelo periódico consultado, pude sentir o conteúdo da obra e antecipar sua importância para o Brasil dos últimos 300 anos.

A palavra “corrupção” é suficientemente conhecida no Brasil e se houve frequentemente no noticiário da mídia, sobretudo nos horários de programas políticos por TVs e rádios, simultaneamente com o que publicam as folhas.

Em Direito, o vocabulário diz respeito a todo ente público que cometer o crime, recebendo doação ao presente, por si ou interpostas pessoas, com sua autorização ou retificação, para fazer um ato das suas funções. Se este ato for injusto e, se executado, será punido o infrator com a pena de prisão maior celular, salvo se o ato for crime pela lei corresponde a pena mais expressiva, sempre visando manter dignas e íntegras as funções públicas e os serviços do Estado. Grosso modo, é por aí.

Mas o que a professora a conta é que a corrupção não foi inventada aqui. Ela chegou ao Brasil com os colonizadores, como assás demonstrado, que aprendeu muito e se aprimorou, aproveitando marcha do tempo e os instrumentos disponíveis. A historiadora mineira faz renascer o pensamento do antropólogo Manoel Bomfim, que é dos anos 1800, que não deixa recair a culpa de muitos de nossos males a nós mesmos, os brasileiros.

O autor, já naquela época, nos conduzia a “uma rica viagem às raízes e aos vícios resultantes da colonização ibérica, predadora e parasitária - enriquecer depressa e sem muito trabalho... Esgotados os tesouros, escravizar os naturais e enriquecer à custa de seu labor... onde o elemento índio é escasso ou onde foi exterminado, substituir pelo escravo africano”.

Darcy Ribeiro, antropólogo também, mineiro do Norte do estado, defende veementemente as ideias de Manoel Bonfim. “Não progredimos mais, porque os colonizadores não permitiam”. Escreveu: “Nossos males não vêm do povo. São, isto sim, produto da mediocridade do projeto das classes dominantes que aqui organizaram nossas sociedades em proveito próprio, com maior descaso pelo povo trabalhador. Visto como uma mera fonte de energia produtiva, que ele podia desgastar como bem-quisesse”.


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Por Manoel Hygino - 9/9/2023 09:05:23
Uma obra valiosa

Manoel Hygino

Joaquim Cabral Netto é nome conhecido em Minas Gerais, não por aqui ter nascido. Sua atuação nos círculos jurídicos tem sido das mais destacadas desde a formatura em Direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora, a que acrescentou o título de História. Ao longo da existência, sempre aduziu outras distinções.

No Ministério Público foi por duas vezes corregedor-geral, assim como presidente da Associação Mineira do Ministério Público e da Confederação Nacional (Conamp). Membro do Instituto Histórico Geográfico de Minas Gerais, do Memorial do Ministério Público e das Academias de Letras do Ministério Público, além de professor de Direito Penal da PUC-MG por mais de 25 anos, integrou entidades culturais de várias nações.

Pois Joaquim Cabral Netto acaba de publicar mais um livro: “O Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais - Dentro da História de Minas Gerais/As Diretorias do IHG/MG: 1907 a 2019”.

A ele se devem obras valiosas no campo histórico e jurídico, além de estudos especializados na revista do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, inclusive sobre Iracema Tavares Nardi, a primeira Promotora de Justiça da América latina.

O volume editado é iniciativa do maior relevo que deve ser guardado com cuidado e reverência, porque se trata agora de peça para consulta obrigatória. Sigamos o bom conselho.

Quando convidado para chefiar a Assessoria de Imprensa do Governo de Minas, na gestão de Israel Pinheiro, senti-me motivado a conhecer mais de perto João Pinheiro, seu pai, não apenas nome de uma avenida da capital. Descobri, por exemplo, que o Instituto Histórico muito deve a ele na sua fundação por homens e mulheres interessados em preservar e cultivar a memória mineira. Desde 1907, incentivada a ideia por franca e veemente atuação de Nelson de Sena, entre outros.

Foi uma época que marcou o estado por controvérsias políticas, após a instalação da nova capital. Em 15 de agosto de 1907, a missão estava cumprida, mas em outubro de 1908, pouco mais de um ano após, João Pinheiro falecia, o que quase causou o desaparecimento de uma obra constituída para marcar a vida de homens e instituições. Na instalação do IHGMG, Pinheiro afirmara: “A todos os homens de boa vontade se depara, neste pensamento, o ensejo de bem servir à causa comum, para que, herdeiros de tantas grandezas, nós, os representantes da geração atual, possamos acrescê-las para os nossos filhos”.


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Por Manoel Hygino - 6/9/2023 08:30:20
A língua do Brasil

Manoel Hygino

Na posse do novo presidente da Academia Mineira de Letras, o escritor e professor Jacyntho Lins Brandão, ele propôs a mudança do artigo 1º do Estatuto. Até então, previa-se, como primeira finalidade do sodalício, “a preservação, o estudo e a divulgação da cultura, da língua portuguesa e da literatura”. O artigo passaria então, a ter a seguinte redação: “a preservação, o estudo e a divulgação da língua portuguesa e das demais línguas brasileiras, suas culturas e literaturas”.

Observamos que, na última semana de julho último, as ministras do STF, Rosa Weber e Carmem Lúcia (esta nascida em Montes Claros), visitaram o estado do Amazonas, precisamente São Gabriel da Cachoeira, para lançar o texto de nossa Constituição em nheengatu, língua indígena por meio da qual se poderia contatar a maioria dos povos que vivem às margens dos rios da região.

O jornalista e professor, Aylê-Salassié Figueiras Quintão, na ocasião comentou que, só no município de São Gabriel, que separa o Brasil da Colômbia e da Venezuela, falam-se 25 línguas das famílias aruak, tukano e maku. Para que se compreenda melhor o sentido da proposta de Jacyntho na Academia, transcrevo um trecho mais do artigo de Salassié:

“Em se tratando da língua portuguesa, a população é, no mínimo, analfabeta funcional. O nhengatu é uma das quatro línguas indígenas oficializadas no município junto com o português, o maku e o tucano , usadas tanto do lado do Brasil quanto dos países vizinhos. A reminiscência dessas línguas deve-se, sobretudo, às várias associações e entidades civis, religiosas e indígenas sediadas ali, e que se propõem a organizar aquela multiculturalidade. Juntas, formam o que é conhecido na região como a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), que funciona independente, associativamente, nos moldes do branco, quase como uma assembleia, na qual cada nação indígena se faz representada, sem comprometer suas atividades e organização cultural. Por isso, embora a Constituição em nhengatu possa ter sido festejada pelas autoridades políticas locais, aventa-se na comunidade que ela terá, entretanto, poucos leitores por ali. O índice de alfabetização é baixo, e aquelas nações indígenas já têm uma estrutura comunitária ou tribal. Teme-se, inclusive, que a Lei do branco, na sua volubilidade, vá causar confusão entre os povos da região. Se não gerar um dilema político, pode vir a ser recebida como mais uma agressão à cultura e à organização das nações indígenas regionais”.

É mais um problema a se pensar seriamente.


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Por Manoel Hygino - 5/9/2023 07:42:04
Sem água, não

Manoel Hygino

Uma novela sem fim: a do abastecimento de água a Belo Horizonte. A capital crescia, aumentava a população, exigia-se mais para atender o cidadão. Na administração do prefeito Celso Mello de Azevedo, evoluiu-se para aproveitamento do Rio das Velhas, captado no local denominado Bela Fama.

Para o empreendimento, dadas suas proporções, imprescindível recorrer a financiamento no exterior. Juscelino Kubitschek, presidente da República, decidiu a execução pelo DNOS, marcando a sua inauguração para 30 de janeiro de 1960, 24 horas antes da passagem de seu governo. No dia da assinatura da autorização do empreendimento, grande movimentação das lideranças políticas. O ato foi no Catete, e eu estava lá.

Acompanhei tão de perto quanto possível os entendimentos para a obra e para as demais, imprescindíveis ao bom atendimento da população. Em 2023, já há novamente problemas, mas de outra expressão. De qualquer modo, conseguira resolver temporariamente o problema em uma cidade que não queria parar de crescer.

No ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de 2023, o desafio volta, a despeito de todas as medidas adotadas pelo poder público. Imprescindível agir enquanto é tempo. O Rio das Velhas tem em implantação um plano de contingência, acertado pelo Ministério Público de Minas Gerais, Copasa e mineradora Vale para evitar o pior. O plano pode ser posto em ação, se uma das barragens se romper, apelando-se para um eventual racionamento e rodízio até a capacidade de abastecimento ser restabelecida.

Não se esperará uma solução milagrosa. Estão previstas duas interligações dos sistemas – Velhas e Paraopeba, a reativação e a perfuração de poços para quatro municípios, bombeamento de água de barramentos existentes, três nova captações em mananciais, poços e reservatórios para 32 serviços essenciais, como hospitais, instituições de ensino e penitenciárias.

O principal, ou essencial, é não deixar que falte água à população. Um rompimento de barragem atingindo o Alto Rio das Velhas é tido como “catástrofe”.

O brasileiro, exaurido em seu cotidiano labor, não quer mais funestas experiências. Prevenir é sempre melhor que remediar como ensina a lição popular. Ademais, as perversas lições que ficaram do passado não muito remoto, advertem as autoridades para levar à frente as ideias que se aprovaram e que, efetivamente, correspondem às expectativas atuais e à confiança que mais terá ampliado nos próximos anos.


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Por Manoel Hygino - 2/9/2023 07:22:55
Novo Código Civil

Manoel Hygino

“O Tempora! O Mores”! O tempo não parou, a vida continua, mudaram-se os costumes, a legislação segue o seu caminho consoante a evolução geral. Mas os juristas tanto quanto os cidadãos percebem e sentem diariamente que há algo faltando, que existe algo a ser mudado para vivermos de maneira melhor e confiantemente.

O jurista mineiro João Baptista Villela ressalta que toda a vida do cidadão está envolvida, de um modo ou de outro, por institutos do Direito Civil. O primitivo Código Civil, de 1916, elaborado por Clovis Bevilaqua, inspirado nas codificações do século XIX, especialmente no Código Civil de 1804, o citadíssimo Código Napoleão, porque exarado por Bonaparte.

No Brasil, insistiu-se durante décadas na sua reforma, que esteve em tramitação por quase trinta anos. Como não poderia deixar de ser, já surgiu desatualizado, confirmando o pensamento aqui inicialmente publicado.

Com a Constituição de 1988, que aí está vigendo com muitas modificações e impondo a discussão no Legislativo de sucessivas PECs, mais se evidenciou a necessidade de algo mais concreto e eficaz. A própria situação política e proposições da sociedade, expressas por meios distintos, mas sobremodo evidentes nas casas do Congresso Nacional, obriga a adoção de caminho mais seguro e sólido. Segundo Miguel Reale, citado pelo desembargador Rogério Medeiros Garcia de Lima (em Refletindo o Direito e a Justiça”, pág. 135 e 136), impõe-se um novo Código Civil que venha atender à sociedade brasileira, no tocante ás suas aspirações e necessidades essenciais. É indispensável interpretá-lo dentro dos novos parâmetros estabelecidos. Nada seria mais prejudicial do que interpretar o novo Código Civil com a mentalidade formalista e abstrata que predominou na compreensão da codificação por ele substituída”.

Para que tudo não fique na promessa, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, assinou o ato de criação da comissão de juristas que proporá atualização do Código Civil Lei - 10.406/ 2002. Será presidida pelo ministro Luís Felipe Salomão, do Superior Tribunal de Justiça e terá 34 membros. O colegiado tem 180 dias para elaborar o anteprojeto e apresenta-lo à presidência da Casa Alta do Congresso.


86847
Por Manoel Hygino - 30/8/2023 09:26:53
Brasil/ Angola

Manoel Hygino

O presidente do Brasil, na recente visita à África, teve o aprazível ensejo de falar a língua que é mais ou menos entendida nos dois continentes- no nosso, no hemisfério Sul - empregando a língua portuguesa. Luís Inácio declarou que “a volta do Brasil ao continente africano não deveria ser uma volta, porque nós nunca deveríamos ter saído do continente africano. O Brasil não tem noção de quantas coisas poderemos fazer”. Não sei se a observação de desconhecimento foi uma autocrítica ou aos antecessores gestores de nossas relações diplomáticas.

De todo modo, S. Exa. falou e está falado. Disse mais: ... “que Angola é um bom pagador das coisas que o Brasil investiu aqui”. Uma afirmação importante, porque é sabido que outras nações assumiram responsabilidades e compromissos com a nossa nação e não deram a mínima importância ao pagamento das dívidas assumidas. Não vou dizer que a Venezuela é uma delas.

Em todo caso, o ex-presidente de Angola é Agostinho Neto, nascido no já distante 1922, ano de muitas pelejas militares por aqui, embora também de importantes ações e desenvolvimento. Ademais, ao formar-se em Medicina, depois de um agitado período de vida e de prisões, Agostinho tornou-se credor da confiança popular e se elegeu à presidência.

Não se ignorará sua atuação nos anos pré-independência. Durante decênios, conduziu o processo de transição de Angola para a independência política e enfrentou crises e discussões. Nesse interregno perdeu amigos e companheiros, mas não se deu por vencido.
Observou um experimentado analista: o exercício da liderança fê-lo desenvolver uma importante atividade reflexiva, que suscita interesse do investigador da história contemporânea de Angola.

Em plena Guerra Fria, Agostinho Neto se tornou o primeiro presidente da República (1975- 1979), quando se desencadeou na pátria uma das mais devastadoras guerras civis com repercussões geopolíticas em toda África Austral. Foi um tempo cruel, jamais esquecido com terrível impacto no exercício das liberdades fundamentais.

A despeito de tudo, promoveu reformas profundas e continuou escrevendo, defendendo os ideais de liberdade e dignidade do homem. Saiu vencedor. Para Agostinho Neto, o debate e as ideias são essenciais à vitalidade das dinâmicas sociais e às exigências do conhecimento mais profundo do mundo.


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Por Manoel Hygino - 29/8/2023 08:47:56
A nossa guerra

Manoel Hygino

Não se subestima a violência da guerra na Europa, desde que a Rússia enviou suas tropas para combater a Ucrânia. Enfim, guerra é guerra, ainda que o presidente Putin queira reduzir suas dimensões considerando-a simplesmente “uma operação especial”.

Especial sim, mas já demora mais de um ano, eis que desencadeada em fevereiro de 2022. As estatísticas de mortes e feridos gravemente, dos pesados danos causados na refrega, não estão disponibilizadas com segurança porque a ambos os grupos confrontantes não interessa. O mais importante a esta altura é destruir as forças inimigas.

No Brasil, todavia, que acompanha os fatos pelos veículos de comunicação, o principal é manter-se em permanente ação para conter a violência interna que já chegou a todos os recantos, como temos insistentemente comentado. O semblante do cidadão nascido nestes 8 milhões e 600 mil quilômetros de território nacional em nada lembra o homem tranquilo, fruto de três raízes raciais- tranquilo e esperançoso.

Mata-se de Sul a Norte, de Leste a Oeste, ofende-se, agride-se, fere-se o homem ou mulher, em casa ou em via pública, nas rodovias, nos estádios esportivos, nos bares e lanchonetes, invade-se a propriedade privada, desacata-se o branco, o mulato, o negro, de todas as idades, estupram-se as mulheres, mesmo em tenra idade.

O mapa da violência no Brasil, entre crianças e adolescentes, revela números alarmantes, somam mais de mil vítimas de estupro com menos de 13 anos e os crimes sexuais crescem vergonhosamente. Nas hostes de violência se aliciam jovens, levados à criminalidade por vulnerabilidade e fragilidade das leis. O crime começa dentro de casa, em que o respeito feneceu cedo ou jamais existiu.

A cada dia, um adolescente é apreendido em Belo Horizonte um suspeito de envolvimento em crimes e encaminhado ao Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente Autor de Ato Infracional, CIA-BH. No ano passado, 1848 menores de 18 anos foram apreendidos. E daí? Além destes, houve ainda os casos em apuração. O desejo de bens e ostentação atrai adolescentes para o tráfico, muito interessado em crescer suas falanges. O mal começa cedo. O comércio de drogas se acha em plena expansão.

Por mais que se empenhem as autoridades, resta muitíssimo a fazer, tal o vulto dos fatos. E suas sombrias perspectivas. E, evidentemente, todos os setores da sociedade brasileira têm de empenhar-se nesse objetivo. Se não houver interesse geral, tudo resulta em nada.


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Por Manoel Hygino - 26/8/2023 07:35:27
O mineiro José Murilo

Manoel Hygino

No agosto que logo seria passado neste 2023, os jornais de Minas Gerais, sobretudo os da capital, deram ampla cobertura ao falecimento, no dia 13(não era sexta-feira!), de José Murilo de Carvalho. Ressaltavam que, entre outros títulos, era ele membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia Brasileira de Ciências.

“Foi um grande pensador do Brasil, está entre os maiores historiadores de qualquer tempo”, defini-o Heloísa Starling, que bem poderia tecer o elogio do ilustre brasileiro. Lilia Moritz Schwarcz, também historiadora e antropóloga, professora da USP, acrescenta: “Com sua formação interdisciplinar, José Murilo, foi um historiador que revolucionou o estudo sobre o Império brasileiro, até então considerado sem importância”. Mas ele mostrou como muito das bases da estrutura institucional brasileira veio no contexto imperial, sobretudo a partir do Segundo Reinado.

No entanto, José Murilo não foi o mais “badalado” historiador do Brasil, inclusive por ter nascido em Minas Gerais, um estado que não tem merecido a melhor atenção e o elogio dos intelectuais da pátria, nem me perguntem por quê. Recolhido ao convívio da ABL, contudo, não se eximiu de emitir opiniões; tanto do tempo pretérito, que muito exigiu de seus esforços, mas da nação de nossos dias. Acrescentou anos à idade, mas não envelheceu. Teve o cuidado e a coragem, inclusive, de manifestar-se sobre os acontecimentos de 1964 e anos seguintes.

Leia-se, por exemplo, o que escreveu: “Quando veio 1964, a sensação que eu tive foi de perplexidade”. Eu me lembro de a gente andar por Belo Horizonte no dia primeiro de abril, perplexo. Não é que as pessoas não esperassem o golpe.

Havia uma expectativa. Expectativa havia. Pessoas que falavam na viabilidade do golpe. Mas ninguém previu o tipo de golpe que foi dado. Isso é... Os militares tomaram o poder e ficaram no poder. Isso era inédito no Brasil”.

Poderia parecer uma anedota, não fosse José Murilo um cidadão cônscio, da maior responsabilidade intelectual e cívica. Nesta hora, é convidativo falar de Murilo. E Rogério Faria Tavares, presidente emérito da Academia Mineira de Letras, constitui bela proposta, pois já tem excelente livro publicado sobre o escritor nascido em Andrelândia. O antecessor de Jacyntho Lins Brandão na Academia foi muito feliz em suas considerações pelos jornais.


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Por Manoel Hygino - 24/8/2023 08:55:25
Uma voz que se cala

Manoel Hygino

Apenas uma coluna em página de caderno não o principal. Assim é jornal, estou acostumado após décadas com a folha impressa. Falo da notícia da morte de Fábio Martins, em 15 de agosto e sepultamento no dia seguinte no Bonfim.

Nascera de Conceição do Mato Dentro, terra de José Aparecido, que toda Minas conhece. Mais propriamente, veio ao mundo em município e cidade, criada por lei de 1953, no local da antiga capela Nossa Senhora do Pilar do Morro do Gaspar, subordinado à antiga paróquia de Conceição do Mato Dentro, depois Morro do Pilar.

Inicialmente, vieram os filhos da família Martins, que se dedicaram ao estudo e conseguiram trabalho. Gente de excelentes raízes, logo fez que o sr. Gentil, o pai, também para cá se transferisse, instalando-se na rua Jequeri, na Lagoinha. Com voz bonita, grave, logo estava no Cinema Educativo, que Zoltan Glueck implantara na Prefeitura, levando filmes às vilas e bairros, em época sem televisão ainda. Aprazia-se o público com jovem locutor anunciando as películas a serem assistidas e transmitindo comunicados oficiais. Logo, estava na Rádio Itatiaia, que Januário Carneiro, em momentos de empreendedorismo, instalara com transmissores em Nova Lima.

Sereno e respeitável, Fábio Martins ganhou espaço. Ouviu quem de mais representativo havia no poder público e na sociedade. Numa entrevista, foi o primeiro a anunciar a Revolução de 1964 (ou golpe), na voz do general Guedes, um dos seus comandantes.

Sensível às causas de interesse nacional, programou uma viagem à Amazônia para assentir de perto os problemas dos índios. Depois, foi à frente, transferindo aos mais moços sua experiência na radiofonia. Fábio Martins foi coordenador do Rádio Educativo, projeto de extensão da UFMG que utiliza o rádio como ferramenta de ensino e inserção social.

Editor da Rádio e Revista, publicação da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), ele atuou como professor no Departamento de Comunicação.

Martins escreveu “Senhores ouvintes - No ar, a cidade e o rádio”. Fruto de longa pesquisa, apresenta a história do rádio em Belo Horizonte. Partiu aos 87 anos, em sereno adeus, cercado da simpatia de quantos o conheceram.


86834
Por Manoel Hygino - 22/8/2023 09:36:51
Balão no espaço

Manoel Hygino

Em meio ao noticiário de televisões e rádios principalmente, mas também dos jornais - por mais que se disponha de tempo para lê-los - expressivo contingente da sociedade não consegue entender ainda o que o governo está exatamente pretendendo. Para o jornalista Aylê-Salassié Filgueiras Quintão, que é mineiro de nascimento, com extensa atuação em grandes folhas nacionais e em missões no exterior, “o cidadão brasileiro vai-se surpreender angustiado com novas confusões, encrencas, ideias, falas escatológicas dos nossos dirigentes políticos, bem como com os resultados das novas leis, projetos ambíguos e casuísticas gerados no Executivo e sancionados com a conivência do Congresso Nacional e a conveniente omissão do Judiciário.”.

Um tema é tratado especificamente pelo jornalista, conforme publicado por vários jornais. O governo abriu seus portos a navios iranianos, cujo país está sob sanção do Ocidente, por sua teimosia em fabricar uma bomba nuclear no Oriente Médio. Para analistas da política internacional, a atitude do Brasil pode ser interpretada como uma provocação de Brasília ou um desalinhamento explícito.
No entanto, praticamente nada se ouve aqui a respeito. Por quê? Como se conduzirá o Planalto diante dos fatos?

Difícil de responder, até porque as perguntas não partem de um inexperimentado em sistema financeiro. A indagação paira no ar, como um balão perdido em tempo de ventos fortes em mês de junho. Mas como não há praticamente ninguém com plena consciência do problema para responder, ficamos no espera/espera. O futuro, diz-se no interior mineiro, a Deus pertence. Somo meros pacíficos expectadores.

Mas Aylê insiste:
“Se a ancoragem para navios iranianos em portos brasileiros via gerar um problema para o Brasil entre os países do Ocidente, e a Reforma Tributária apresenta uma complexidade de difícil configuração, imagine o problema que o governo está criando ao defender que as transações comerciais e financeiras com o exterior sejam lastreadas não mais no dólar norte-americano ou no euro, mas no “Yuan” chinês ou por meio de uma moeda digital capitaneada pelo grupo dos países Sul planetário, conhecido como BRICS- Brasil, Rússia, Índia, China, Africado Sul-, inclusive dentro do Mercosul, e da Celac (países da América Latina, Central e Caribe) será?! Pode-se confiar nesses pretensos lastreadores do modelo em estudo? Por sua vez, internamente, o Banco Central do Brasil está para divulgar um projeto de substituição do no $Real analógico (moedas, cédulas) por valores correntes “toquenizados”: um token é representação digital e criptografada de um bem real, que pode ser tangível ou intangível. Outra perigosa aventura.”



86832
Por Manoel Hygino - 19/8/2023 07:38:03
Letras em evidência

Manoel Hygino

O novo presidente da Academia Mineira de Letras não esperou que setembro batesse à porta. Cuidou, tão logo assumiu o cargo, de dar continuação à dinâmica gestão do antecessor, Rogério Faria Tavares. Ótimo que assim seja. Na primeira semana de agosto, já se definira uma atividade importante para a entidade, seja para os acadêmicos, ou para os interessados em arte literária.

Assim, Jacynto Lins Brandão deu à publicidade as informações sobre o item novo e valioso. Trata-se do Projeto Literatura, Muito Prazer! Concebido e coordenado pela vice-presidente, Profa. Maria Antonieta Antunes Cunha.

O objetivo é estimular a leitura literária prazerosa, independentemente de idade, situação econômica, profissão e iniciação no tema. Imediatamente, inscreveram-se 100 candidatos, número que corresponde à capacidade do auditório do sodalício, na rua da Bahia, 1466, nas proximidades da Basílica de Lourdes. Não há como não acertar. Para facilitar, os encontros foram programados para os sábados pela manhã.

Como deliberado, no primeiro dia, às 9h30, Murilo Andreas fez um prelúdio literário até 11 horas, quando Antonieta Cunha apresentou “Experiências de Mediação de Leitura”, que demandou duas horas, após as quais Andreas falou sobre “Memórias Literárias”.

Completando agosto, no dia 19, obedecidos os mesmos horários, se ouvirá Beatriz Myrrha; Maurício Guilherme Silva Junior sobre “a seleção de obras literárias e a formação do leitor, enquanto o acadêmico Rogério faria Tavares discorrerá sobre “Memórias Literárias”“.

No dia 26, é a vez do acadêmico Olavo Romano, que o estado todo conhece, enquanto Silvana Costa, Maurício Guilherme Silva Jr. e Antonieta Cunha se manifestarão sobre “A chamada leitura de entretenimento: equívocos de classificação e extensão”, um assunto que muito interessa aos cultores de Letras.

Para concluir a atividade, já em setembro, se terá, no dia 2, o Prelúdio Literário, com Dora Guimarães, após o que Leo Cunha dissertará sobre “Quem tem medo da poesia?” e Elizete Lisboa nas Memórias Literárias. À tarde, a acadêmica Maria Esther Maciel comentará “Vidas Secas- o romance e o filme, e, de 16 horas às 18, será a vez de se ouvir o professor Wander Melo Miranda, também acadêmico, focalizar “Grande Sertão Veredas”, e o filme “O Diabo no Meio do Redemoinho”“.

Trata-se, de certo, de sábados portentosos para os amantes de literatura.


86831
Por Manoel Hygino - 16/8/2023 09:03:29
Os irmãos do Norte

Manoel Hygino

Para fugir à dificílima vida que levam na pátria, os haitianos buscam soluções por todos os meios. A primeira saída que encontram os irmãos daquela parte da ilha (a outra pertence à República Dominicana), é escapar para outro país. O mais provável seria atravessar a fronteira com a vizinha república de Santo Domingo, mas isso é simplesmente uma aventura.

Há poucos dias, trabalhadores haitianos contratados por empresa do Paraná morreram em uma explosão. A sorte não sorri para esses latino-americanos que falam o francês e se esforçam pelo menos para alimentar-se. É um desafio terrível. Os jornais não perdem ensejo pra comentar o sombrio panorama no Haiti. País mais pobre das Américas vive, há anos, uma crise econômica, política e de segurança, agravada pela violência de gangues criminosas que contaminam extensa área do território.

Quem diz muito a propósito da situação dramática que ali se atravessa é Vargas Llosa, que tem competência e coragem de abrir a janela da verdade. O escritor se refere ao país como o mais atrasado do hemisfério ocidental, miserável, que piora sem trégua, afundando sua gente infeliz, cada dia mais, num inferno de fome, desemprego, violência e desespero.

Vargas comenta que não existe limite para a desgraça de todo o povo. O mais grave da infelicidade haitiana é a falta de perspectiva animadora no horizonte. Ao contrário, as esperanças depositadas com novos governantes (se é possível se usar o adjetivo “novo”) se desvanecem. Lá e então, são atualizados e os velhos hábitos de demagogia, corrupção e
despotismo.

O resultado é o caos político, a bandidagem de rua e a paralisação total da economia, quer dizer, condições ainda mais trágicas para a sobrevivência da população. É um problema que ocorre tanto ao Haiti quanto à República Dominicana, o irmão “próspero” na mesma ilha que ambos dividem.

Diante da tragédia haitiana, a situação do latino-americano do outro lado é muito melhor, consideradas as imensas dificuldades que sofrem. Pessoalmente, guardo da capital dominicana boas lembranças e não deixo de recordar que lá se implantou a primeira universidade das Américas. Já não é um galardão?

A República Dominicana, no entanto, age como os Estados Unidos com relação a suas fronteiras. Cuida de construir um muro para evitar que haitianos ingressem em seu território.


86822
Por Manoel Hygino - 5/8/2023 11:39:35
Anuário triste

O Brasil amigo e cordial, que atraí pessoas de todo o mundo, não existe mais. A onda de violência que invadiu todos os estados, as capitais e cidades de maior expressão geográfica e populacional, tanto quanto os locais turísticos, foram contaminados pela bandidagem, pela intolerância, pela insolência que quebraram a boa recepção e a convivência saudável de outras épocas.

Os números da 17ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, tornada pública em julho não mais assustam ou surpreendem, mas deixam um legado de inquietação quanto ao futuro do país.

Mais preocupa porque os dados abrangem não apenas os autores de crimes de toda natureza, praticados por bandidos já diplomados pela perversa escola de delitos que se construiu ao longo de muitos anos e sob olhos das próprias autoridades. Estas, em bom número e para honra da classe, fizeram o que puderam para impedir o crescimento desses grupos que conduziram ao triste panorama de agora.

Nossos presídios se tornaram insuficientes para abrigar essa massa de autores de delitos. Somos o segundo país com maior número de criminosos entre grades. E daí? Seguimos sem conter a desenfreada ação dos criminosos, que chegam a atacar em pleno dia, à luz do sol, as vias públicas, as casas comerciais, os lares.

Nossa economia é ferida em todos os momentos e setores. Os turistas, cientes do clima estabelecido, procurarão paiese mais civilizados e dispostos a proteger seus visitantes. Os empreendedores buscarão praças de negócios com maior poder defensivo dos que se dispõem em aplicar capitais e projetos inovadores.

Quem tiver cuidado de percorrer as estatísticas do recente anuário da Violência, verificará – para dor e tristeza dos mineiros, que nosso estado está em posição de destaque em determinados itens de infrações e crimes, apesar da ação do poder público. No descalabro, incluem-se menores e adolescentes, o que ainda é pior.

A ministra Rosa Weber, presidente do STF, esteve em Belo Horizonte, na quinta-feira, dia 27 de julho, e se declarou preocupada com o sistema carcerário em Minas. O caso do Ceresp Gameleira é apenas um, dentro da atual conjuntura mineira. Mas, simultaneamente estão sendo forjados novos ocupantes das futuras vagas, se tudo continuar do jeito que está.



86818
Por Manoel Hygino - 4/8/2023 08:02:49
Guerras sem fim

Não há paz no mundo. Quem tiver o cuidado de ler os jornais com mais atenção e sem pressa constatará que estamos com projeção de guerra em várias partes do planeta. A despeito das sucessivas reuniões que se fazem em várias regiões para amenizar o quadro, prevalecem as divisões e ameaças.

Já não vamos nos referir ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia, que segue sem previsão de fim, já que o presidente Putin é avesso a falar em paz. Os recentes entreveros na região demonstram, de maneira muito clara, que o Kremlin não cogita de negociar com Kiev, sequer aproximar-se.

Russos e ucranianos trocam acusações e anunciam que revidarão qualquer ataque que se faça no Mar Negro, onde se disputa espaço milha a milha. Os navios com grãos que tentam sair da área conflagrada são considerados de guerra e se tornaram alvo da frota do Kremlin. Deste modo, torna-se ineficaz praticamente qualquer tentativa para pacificação.

Russos atacam em terra forças da Ucrânia, esta faz contraofensiva, mas, segundo o presidente russo - “sem resultado”. Disse Putin: “Os recursos colossais de armas fornecidos à Ucrânia pelos aliados ocidentais não estão tendo efeito nas linhas de frente”.

Acrescentou que tudo fará para proteger Belarus, sua indesviável aliada de possíveis ataques. “Uma agressão contra Belarus será como uma agressão à Federação da Rússia”, concluiu.

Na Ásia, o panorama é de permanente e tensa expectativa. A China não abre mão de possuir Taiwan, que se mantém no mesmo posicionamento que vem de longos anos, enquanto a frota e as esquadrilhas adversárias vigiam severamente as águas e os céus em torno de Formosa. Até quando, não se sabe.

Não muito distante, a Coréia do Norte vigia com sua força aérea e seus mísseis o ingresso de aviões e submarinos norte-americanos e da Coréia do Sul. Ali, a guerra ainda não acabou.

O Grupo Wagner, companhia militar e mercenária, que se aliou ao Ministério da Defesa Bielorusso ao anunciar exercícios militares conjuntos junto à fronteira polonesa. A Alemanha promete apoiar a Polônia, sua aliada na Otan, caso haja ataque de caças do Grupo em Belarus, país vizinho da Polônia.

Em uma coletiva de imprensa em Praga, o ministro da Defesa, Boris Pistorius, foi questionado se a Alemanha estava preocupada com a presença do Grupo Wagner em Belarus, ao que ele respondeu: “Estamos todos juntos, sempre na mais estreita coordenação, não só quando nos reunimos fisicamente ao nível dos ministros da defesa, mas também fora dele. Onde nossos amigos poloneses precisam de apoio, se o pior acontecer, eles o receberão”.


86809
Por Manoel Hygino - 29/7/2023 07:59:46

O crime sem peias

Manoel Hygino

Quem vê televisão diariamente, sobretudo durante as tardes, não mais se espanta ou se surpreende com o teor das notícias e das reportagens veiculadas. Trata-se de uma fonte inesgotável de crimes de toda a natureza, nas remotas localidades do interior ou nas mais ricas e prósperas cidades brasileiras, mesmo nas capitais.

A despeito dos esclarecimentos oficiais sobre providências tomadas para conter o descalabro que se disseminou por todos os recantos, a situação é mais do que assustadora, porque se tornou um vendaval de crimes que não amaina. Autoridades, como de dever, esclarecem sobre medidas determinadas para conter o mal, sem produzir resultados positivos.

Os crimes cortam a vida de crianças e idosos, de mulheres e homens, de pretos e brancos, de pessoas que vieram para as cidades maiores em busca de melhores condições de vida, mas não conseguem.

Há os criminosos que se utilizam dos meios mais avançados de comunicação, mas também instrumentos modernos para eliminar a vida alheia, de avançar sobre os bens de pacatos integrantes da sociedade. Não se pode ignorar o sequestro de pessoas, o furto e o roubo em todos os locais em que vive um homem de bem procurando suster-se à família. Todos estão ameaçados, em qualquer lugar e hora.

A vida está por um fio.

Os jornais não dispõem mais de espaços para receber o fortíssimo noticiário das violências praticadas incessantemente. As páginas dos jornais são insuficientes para abrigar o sem número de ilegalidades e atrocidades cometidas, sendo impotentes ou insuficientes as ações de segurança adotadas.

O cidadão brasileiro, o comércio legal, os pequenos e grandes, contribuintes ou não, estão esmagados pelas forças do mal, pelas organizações criminosas ou pelos assassinos solitários, sem falar nos débeis mentais inseridos na população.

Até quando?

Não há quem possa responder à pergunta. Na realidade, os bandidos continuam soltos, crescendo em número, formando-se novas quadrilhas integradas por novas gerações de brasileiros que deveriam e poderiam trabalhar e produzir. Não é o que acontece infelizmente. Até quando e como conseguiremos viver assim? Uma dolorosa indagação de uma sofrida população.

O direito constitucional de ir e vir não mais existe entre nós. A bandidagem, em todas as suas modalidades e níveis, toma conta da situação, disseminando o medo e a morte.


86813
Por Manoel Hygino - 27/7/2023 17:33:50
Moscou e a fome

Manoel Hygino

Pelo que se deduz do amplo noticiário que se tem pelos meios de comunicação, a “operação especial” (este o apelido que Putin deu à guerra com a Ucrânia), movida pela Rússia há mais de 500 dias, se prolongará. Em conflitos assim, não haverá paz se uma das partes não quiser empunhar a bandeira branca. E pelo que se conhece do mandatário do Kremlin, não há perspectiva sequer de um armistício, a curto prazo.

Enquanto Zelinski percorre vários países e pede ajuda ao Ocidente, seguem os confrontos à distância, como permite o maquinário bélico sem combates de infantaria e o corpo a corpo. O tempo de Napoleão está longe e perempto. A Polônia, entretanto, sofre com ameaça do Grupo Wagner, talvez impelido por Putin ou por Belarus.

Mas a guerra que não é guerra, segundo Moscou, continua matando. Milhares já perderam a vida, os mercenários do Wagner estão em lugar incerto e não rigorosamente sabido, enquanto as espera sobre o uso ou não uso dos equipamentos de destruição fragmentar, cogitado pela Casa Branca.

Mas a Rússia anuncia que não renovará sua participação no acordo que permitia à Ucrânia exportar grãos pelo Mar Negro. E a Ucrânia é um dos maiores produtores mundiais de girassol, milho, trigo e cevada para nações daquelas regiões ou do Norte da África.

O fim do acordo pode levar à escassez de alimentos, produzidos na Ucrânia e ficarão parados nos portos de Odessa, Chornomorsk, e Yuzhny/Pivdennyi, no Mar Negro, o que equivale a mais de 32 milhões de toneladas de alimentos deixando de chegar aos mercados mundiais, principalmente a países que deles dependem.

Em resumo: a Ucrânia sentirá profundamente a interrupção de fornecimento desses alimentos a seus tradicionais compradores, os preços continuarão subindo, como já ocorre, e países africanos e do Oriente Médio sofrerão a falta de comida. Mais gente morrendo.
A África Oriental, que já enfrenta desafios com a seca e inundações e quando perdeu grandes quantidades de suas colheitas, agora vê 80% dos grãos exportados da Rússia e da Ucrânia desperdiçados. A guerra é uma prova de insânia, como se depreende.

Como resultado, mais de 50 milhões enfrentam fome, enquanto os preços dos gêneros já aumentaram quase 40% neste ano. É questão mais do que de voracidade territorial de Moscou. Para os brasileiros, é burrice, simplesmente, ou insânia, como dito.

A semana que passou não legou perspectivas alvissareiras. Mas, enfim, assim vive a humanidade estes momentos sombrios. A América Latina é exceção, porque tem problemas regionais próprios e até aqui incontornáveis. É uma pena.


86808
Por Manoel Hygino - 27/7/2023 17:07:25
Pisando em ovos

Manoel Hygino

Há gente falando demais, falando o que não devia, o que é terrivelmente pernicioso neste período grave e sumamente delicado de nossa história. Grave e delicado, porque os ânimos se encontram tão ou mais exaltados do que na campanha eleitoral à presidência, em 2022, que não serve como exemplar.

O cuidado em dizer coisas tem de ser adotado em caráter de urgência, considerando que se criou e estabeleceu no país um ambiente de intolerância jamais visto. Os parlamentares debatem em seus respectivos foros, mas as discussões se espalham por todos os recantos, desde os botequins, ao interior dos aviões, nos aeroportos, gerando mal estar generalizado que pode evoluir para atitudes mais sérias, desavenças que não se circunscrevem ao palco dos episódios.

Os nervos estão à flor da pele, a sensibilidade excita todos os níveis da sociedade. Os próprios membros de superiores tribunais perdem a noção da repercussão que pode assumir uma frase, aparentemente inocente, mas que irá ferir interesses e suscetibilidades.

Este o caso, por exemplo, do ministro Luís Roberto Barroso, uma das vozes sensatas da mais alta corte de Justiça do país, ao manifestar-se sobre bolsonarismo. Não é hora de tais expressões, principalmente quando ele logo será o presidente do STF, com aposentadoria da ministra Rosa Weber.

Por outro lado, o inquérito sobre os acontecimentos de 8 de janeiro, em Brasília, não tem prazo para terminar. Compreende-se que a matéria é complexa e extensa. São milhares de pessoas que agiram contra as sedes dos três poderes na capital federal. Os presos e ex-presos aguardam veredito ou sentença. Todos estão evidentemente preocupados com o que lhes pode acontecer, as penas que lhe serão impostas. Suas famílias, seus companheiros de ideias e de insânia, estão inquietos ante as perspectivas que lhes são reservadas. Assim, vivenciam momentos de ansiedade que podem explodir.

Há de ter-se cuidado extremo, porque estamos pisando em ovos. Vamo-nos conter, antes que sejamos contidos pela força.

Fiz um retrospecto pessoal desta e de outras épocas no país. Chego à conclusão de que a hora não é melhor do que outras passadas, do suicídio de Vargas ou do AI-5. Confesso que temo pelo Brasil e os brasileiros.



86805
Por Manoel Hygino - 22/7/2023 07:46:15
Prazo de validade

Manoel Hygino

O povo brasileiro acompanha com relativo interesse o desenrolar das démarches em torno de projetos que visam ao seu desenvolvimento, isto é, melhores condições de vida ou de sobrevivência de grandes segmentos de seu contingente populacional. Disse “relativo”, no primeiro período do parágrafo, porque parcelas significativas, depois de sacrificadas através de sucessivos anos, já se sentem esvaziadas de esperanças diante de promessas e compromissos dos que detêm o poder de equacionar e solucionar seus problemas.

Enquanto o Planalto e a Câmara dos Deputados comemoravam a aprovação da reforma tributária em dois turnos, em que aguerridamente se posicionaram os parlamentares sob interesses vários, o Senado se preparava para avaliar o texto recebido, que inevitavelmente envolveria a vida do país ,evidentemente influenciando todos os setores.

O cidadão sente na mesa, no posto de saúde, nos balcões das mercearias, nas farmácias, na quitação da mensalidade dos alugueis, na preparação dos filhos para a jornada escolar, no transporte para ou do cotidiano trabalho, em toda e qualquer atividade do dia a dia, imensas dificuldades para se haver bem e dignamente. E sabe, em contrapartida, que existem milhares de pessoas e grupos exatamente agindo em sentido contrário, procurando formas e fórmulas novas para ludibriá-lo, furtá-lo e roubar-lhe o duramente conquistado.

Em tudo e por cima de tudo, constata-se a ação insuficiente, repetidamente incompetente do poder público, enquanto a corrupção perpassa silenciosa nos negócios, os milicianos de todos os estados e grandes capitais, com essa classificação ou outra qualquer, ganham prestígio e formam associações a despeito da fiscalização.

Atravessa a nação um período difícil como nação, aquele espaço de tempo em que as pessoas desconfiam ou perdem confiança nas autoridades. A reforma prioritária aprovada na Casa Baixa do Congresso é um passo importante, mas exigirá mais paciência e capacidade de sobrevivência para ponderáveis segmentos da população. Esta não pode ser esquecida, além do que paciência tem prazo de validade.

No entanto, parece não haver pressa, porque as circunstâncias são adversas. Agora, entraram em férias os nobres parlamentares que preferirão descansar em suas áreas eleitorais. Pensando, inclusive, que 2024 é tempo de nova disputa nas urnas. Que se faça como manda a lei e mais interessar ao Brasil e sua em grande parcela de sofrida população.

* Jornalista montes-clarense , escritor e membro da Academia Mineira de Letras


86802
Por Manoel Hygino - 19/7/2023 08:01:02
Escritor tem vez

Manoel Hygino

Ao terminar seu mandato, sendo dois consecutivos, na Academia Mineira de Letras, o jornalista e escritor Rogério Vasconcelos Faria Tavares, deixou extensa herança ao sucessor, escritor Jacyntho Lins Brandão.

A partir deste 2023, ficou estabelecido que se dará cumprimento à decisão de agraciar, a cada ano, livro publicado em primeira edição, ao longo dos doze meses do calendário.
O candidato ao Prêmio tem de ser natural do Estado de Minas Gerais ou estar nele radicado há mais de 5 anos.

“O Prêmio Academia Mineira de Letras pretende somar-se aos já existentes em Minas e no país. A Academia entende ser importante valorizar os autores daqui, até por ser uma instituição que atua no âmbito do Estado”, comenta o presidente da AML, Jacyntho Lins Brandão.

O Prêmio será concedido tanto ao autor quanto à editora, como sublinha em comunicado o novo presidente, que também informa o valor: de R$ 60 mil para o escritor e de 40 mil para a casa publicadora.

Trata assim, como se vê, de uma herança bendita, que fará os autores sempre se lembrarem do Rogério Faria Tavares, que deixou uma porta aberta àqueles que por aqui se dão ao mister de escrever. Um estímulo, inclusive para os que começam a carreira e quase sempre encontram portas fechadas e dificuldades de toda natureza.

Por sua valia, é que redijo estas linhas, de quem ao longo da vida sempre encontrou barreiras, dificuldades ou pouco interesse pela divulgação de seu trabalho, mui repetidamente de difícil consecução.

No respectivo regulamento, prevê que a escolha do felizardo se fará por Comissão Julgadora, formada pelo Secretário Geral da Academia, a quem cabe à presidência, mais seis acadêmicos indicados pelo Presidente. Neste primeiro ano, os integrantes já foram escolhidos: J. D. Vital, Ângelo Oswaldo, Humberto Werneck, Luís Giffoni, Maria Antonieta Cunha, Maria Esther Maciel, Olavo Romano e Wander Melo Miranda. A Comissão recebeu de acadêmicos da instituição (até 30 de junho), sugestões de obras já publicadas entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2022.

As regras do jogo já estão definidas, portanto. Agora é dar as cartas. Um pormenor está fixado desde este princípio. O Prêmio não poderá ser concedido à obra do autor ou editora de propriedade de membros da Academia ou de seus parentes em linha reta, natural ou por afinidade até o terceiro grau.

Resumindo: é uma bela oportunidade que se oferece. Não se admitem falcatruas, que não passam pela porta do Palacete Borges da Costa, sede da centenária entidade.


86796
Por Manoel Hygino - 18/7/2023 08:39:59
Reforma no recesso

Manoel Hygino

Em nossa terra, diz-se que quem tem pressa come cru. É assim mesmo. Faço o comentário em virtude da celeridade que se quer imprimir às providências do governo instalado em primeiro de janeiro. Ainda assim, o resultado não é dos mais bem exitosos como se constata.

Aliás, a propósito, o ex-ministro da Previdência Roberto Brant, em artigo que publica semanalmente em nossa Imprensa, comentou: “Circula no meio dos economistas e da turma do mercado financeiro um rico conselho, conhecido como o axioma de Brainard: quando você não sabe bem o que está fazendo, faça devagar, por favor, “uma prova de sabedoria, que devia fazer parte do senso comum, e muitas vezes ignorado por governantes e legisladores”.

E o articulista acrescenta: “Se você não tem certeza das consequências do que vai fazer, não faça”. No momento, porém, as iniciativas vão sendo tomadas a todo vapor, porque o tempo urge e não pode perder um minuto e, ano que vem, há nova eleição.

Os comentários são múltiplos, às vezes antagônicos. Segmentos ilustram a imposição de medidas rápidas, porque Lula precisava demonstrar que veio para mudar, não para acomodar. Por outro lado, o próprio presidente é loquaz suficientemente até para extrapolar em declarações, principalmente em discurso (o que, aliás, vem gerando mal-estar e desconforto em determinadas ocasiões). Mas seus adeptos são de opinião que ele precisa fortemente deixar a convicção, principalmente junto a outros países, de que é o líder das nações latino-americanas, pois presidente da maior nação das Américas. Quiçá, fazer jus ao Nobel da Paz, algo consagrador.

Tem-se de convir que a Reforma Tributária produzirá uma transformação geral na vida nacional, não só em termos de tributos. Seus efeitos serão duradouros, profundos, com “efeitos permanentes e profundos, cujas consequências são um desafio para a nossa imaginação”. “(...) reforma vai retirar de Estados e Municípios a autonomia para cobrar e fiscalizar os impostos que lhe correspondem na Constituição de 1988 e na nossa longa tradição constitucional. Na prática, não seremos mais uma Federação, mas um Estado Unitário, rompendo uma história que vem desde o nascimento da República”. Trata-se de mudanças radicais, tanto que exigiu uma PEC.

De todo modo, cumpre aguar como num cassino: O jogo está feito, ou quase. Ainda resta muito a definir, muito a avaliar, neste período de recesso. Que haja bom-senso, competência e patriotismo.


86793
Por Manoel Hygino - 15/7/2023 07:38:20
Rodovia sem morte

Manoel Hygino

Os jornais de Belo Horizonte deram ao assunto as dimensões das esperanças depositadas no tema no decorrer de décadas. Refiro-me à duplicação da BR-381, ligando a capital a Governador Valadares. Enfim, trata-se mais do que uma simples esperança, porque um anseio e uma necessidade sensível e sentida em dois trechos enormes do território mineiro.

Durante o tempo decorrido desde a primeira ideia até agora, somando um extenso lapso de tempo, a economia mineira ficou gravemente estrangulada, enquanto o projeto ou planos (quem saberia a verdade?) permanecia ou permaneciam nas gavetas oficiais ou transitando por ínvios caminhos da burocracia.

Todos perdemos. Desde os pequenos produtores regionais como as poderosas empresas transportadoras de cargas pesadas, obrigadas a percorrer distâncias maiores, em detrimento de sua economia e da nacional.

Popularmente, esta estrada definida como BR-381 prejudicou as regiões pelas quais deveria passar em Minas Gerais, cuja malha rodoviária é a maior do país e também o prejudicou, estrangulado como se disse por motivos jamais sabidos realmente, mas em todo caso sinistros.

O adjetivo cabe bem na frase “sinistro” também pelo grande número de acidentes, muitos fatais e com número elevado de vítimas. Não sem razão passou a ser conhecida como a Rodovia da Morte.

Mas não se deve ignorar que as obras ora equacionadas, pelo menos no papel, não se executarão a curto ou médio prazo. A expectativa da Agência Nacional de Transportes Terrestres é de o empreendimento estar concluído até 2032. Serão mais nove longos e sofridos anos, meses e dias, além dos já transpostos pelo relógio do tempo e da história.

Não se trata, porém, de apenas a rodovia propriamente dita, porque estão inseridas a duplicação de trechos, a construção de terceira pista, cinco praças de pedágio. No entanto, não tenhamos apressadas esperanças. Por enquanto, o que se leiloará será apenas trecho Belo Horizonte-Governador Valadares, nove dias antes de festejarmos a proclamação da República.

Os mineiros interessados, os que vivem na região a ser beneficiada com o projeto, sentem-se felizes, embora com alguma natural desconfiança. Perguntam-se: Será que, desta vez, se concretizará o empreendimento? Sem ser lúgubre, com a obra só perderão as funerárias e as famílias das vítimas.


86791
Por Manoel Hygino - 12/7/2023 09:09:42
Um território inesquecido

Manoel Hygino

Não perco as oportunidades, que são muitíssimas, de falar sobre Montes Claros. Porque é minha terra, a que devoto o maior carinho e admiração. Só poderia ser assim, evidentemente. O que me, aliás, leva também a reler a mensagem do ilustre desembargador Rogério Medeiros Garcia de Lima, que já foi juiz de Direito na Comarca, tornou-se Cidadão Honorário e nutre pela grande cidade norte-mineira a maior estima e respeito.

Registrou, dias atrás, o magistrado nascido em São João del Rei: “escrever sobre Montes Claros e sua gente é inspirador”. Conterrâneos agora, posso voltar ao meu tema de 28 de junho último, quando prestei minha homenagem a Konstantin Christoff, médico por vocação e notável pintor. O registro, recebi do jornalista e advogado Paulo Narciso, a observação que lhe enviara, assinada pelo atento Afonso Claudio: “na excelente mensagem 86772, de 28/6/2023, "Konstantin, cem anos", consta a data do nascimento dele em 12 de maio de 1923, na Bulgária, porém, conforme o livro "Efemérides Montesclarenses", do Dr. Nelson Vianna, ele nasceu em 18 de junho de 1923:

"— Nasce em Strajitza, Bulgária, o dr. Konstantin Christoff, filho de Christo Raeff e dona Russa Christova. Fez o curso primário em sua terra natal, o secundário, no Ginásio Municipal de Montes Claros, diplomando-se em Medicina pela U. M. G., em 1948. É cirurgião do Hospital N. S. das Mêrcês, de Montes Claros e do SESP, de Bocaiúva. Espírito de artista, faz ilustrações e caricaturas para diversos jornais e revistas, de Montes Claros e da Capital mineira. E’ escultor-amador e fundou, em Montes Claros, a revista Encontro”, lançada a 25 de junho de 1960”."E o irmão dele, o engenheiro Raio, faleceu em acidente aéreo, em Matias Cardoso, na data de 6/4/1952, conforme o mesmo livro”.

Mas, para explicar-me ou justificar-me, acrescento que as datas mencionadas foram colhidas em extensa e bela reportagem de Luiz Ribeiro, incluída em jornal de Belo Horizonte, em 30 de junho passado, a despeito das anotações do nosso grande Nelson Vianna; que era de Curvelo, mas – conhecendo a cidade ao Norte- nela se radicou e lhe dedicou inúmeras páginas de nossa história.

Graças a sua dedicação à pesquisa e ao cuidadoso registro de fatos e pessoas, a crônica da vasta região do sertão de nosso estado não se perdeu ou não se restringiu à memória dos pósteros. Enfim, a de todos que focalizou se guardaram páginas inesquecíveis de um território brasileiro próspero e querido.


86787
Por Manoel Hygino - 11/7/2023 09:50:56
O mito Chávez

Manoel Hygino


Falando no dia 12 de junho, o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, em convenção do Partido Republicano, declarou que, se reeleito em 2020, teria “tomado” a Venezuela e “pegado todo o seu petróleo”. O pensamento define bem o caráter do orador.

Segundo Trump, tido como um multimilionário que só engana e agrada seus eleitores, a Venezuela estava prestes a colapsar e os EUA teriam se apossado do país e aproveitado seus recursos petrolíferos. Criticou a compra do produto venezuelano, que enriquecia um ditador, embora o petróleo ali extraído seja o pior que se pode obter. Mas a Venezuela, com seus graves problemas, não sobreviveria sem o ouro negro, base de sua economia e responsável por mais de 90% das exportações do país.

Curioso: em seu excelente livro sobre a América Latina, o Nobel de literatura, Mario Vargas Llosa, não faz sequer referência à Venezuela. Pergunto-me porque. A resposta deve estar na própria retrospectiva de sua história, nas últimas décadas. O atual presidente, Nicolás Maduro, é uma simples continuação de mandatários que não corresponderam à esperança de seus súditos.

Maduro, por sinal, há muitos anos no poder, embora sem escolha livre dos conterrâneos, só governa pelo viés totalitário. É sucessor de Hugo Chávez (com acento no a), que não gostava de analisar sua atuação com objetividade.

Juliano Machado e Rodrigo Turrer, de “Época”, em reportagem de dez anos atrás, já recordavam que Chávez, “apesar da aparente humildade ao se considerar “só um soldado de Cristo”, apresentava-se como uma figura transcendental, um enviado por forças maiores para guiar seu país”.

Passei por lá, muitos antes: o povo era saudável e comunicativo, orgulhava-se de sua nacionalidade. O petróleo rendia muito e bem servia. Pelo menos era o que se sentia. Depois, apareceu Chávez, que mesmo doente – o terrível câncer que lhe roubou a vida – inspirava confiança ao povo, embora recolhido ao leito e assistido pelos médicos.

Depois da partida procurou-se manter o mito. Com ele, a inglória missão de seus discípulos políticos, entre os quais Maduro, de conservar aquilo que se entende por chavismo. O “namoro” de Lula com Maduro chama a atenção das Américas. A não ser que a aproximação represente um modo de fazer com que a Venezuela pague o Brasil o empréstimo concedido para construção do metrô de Caracas. Será? Surtirá efeito? Vamos esperar.


86784
Por Manoel Hygino - 8/7/2023 07:34:13
Sepúlveda e Sabará

Manoel Hygino


Todos os que o conheceram renderam homenagem ao ensejo do falecimento do advogado José Paulo Sepúlveda Pertence, em Brasília, no último 2 deste mês. Manifestações de pesar emanaram de todas as fontes, expressando o sentimento pelo adeus de um dos grandes juristas brasileiros do século XX e XXI.

Dentre outras matérias em que teve atuação brilhante e decisiva, estão a garantia de direito de voto a jovens de 16 anos, a implementação do voto eletrônico, além de ter relevante papel em favor do diálogo no país e defesa do Estado Democrático de Direito, o que lhe valeu a cassação no cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal, durante a ditadura militar.

Íntegro e respeitado, brilhante como jurista e corajoso como brasileiro patriota, influenciou positivamente gerações dos nascidos neste país. O ministro Gilmar Mendes, do STF, ressaltou: “Pertence atuou na resistência à ditadura, na reconstrução democrática, na defesa da Constituição de 1988 desde sua promulgação. Sua situação como Procurador-Geral da República e como Ministro do STF foi marcante. Tenho orgulho de ter sido seu colaborador na PGR e colega no STF”, afirmou o magistrado.

Sepúlveda Pertence nasceu em 21 de dezembro de 1937, em uma das três primeiras vilas criadas na região e soube honrar a sua Vila Real de Nossa Senhora da Conceição de Sabará, cuja primitiva jurisdição compreendia toda a parte do território da Capitania, menos Vila do Carmo, Mariana, e Vila Rica, outro Preto, presentemente.

Aliás, um outro Sepúlveda ficou intimamente vinculado à história de Sabará. Foi o médico Joaquim Aureliano Sepúlveda, nascido em Salvador, em 1861, que veio exercer clínica geral e se instalou na histórica cidade para sempre. Ali teve atuação elogiada como servidor da Santa Casa Local, conforme relatório do diretor Zoroastro Passos.

Segundo Pedro Salles, historiador da medicina na capital, Seúlveda exerceu a clínica geral, mas também foi pioneiro em oftalmologia, realizando uma cirurgia famosa, de primeira catarata congênita por aqui. É autor de uma tese sobre “amputação nas feridas por arma de fogo com fraturas” e foi Delegado de Higiene em Sabará, quando irrompeu grave epidemia de varíola, que lhe custou a saúde.


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Por Manoel Hygino - 5/7/2023 09:56:30
Magistrados nas letras

Manoel Hygino

Está circulando o número de abril da MagisCultura, publicação de cultura e arte dos magistrados mineiros. Pode-se, com alegria, confirmar que a edição realmente dá “um banho de Brasil”, como realça o presidente da entidade, juiz Luiz Carlos Rezende e Santos.

A primeira matéria é um artigo/ ensaio do desembargador Rogério Medeiros Garcia de Lima focalizando Darcy Ribeiro, cujo centenário se comemorou no ano passado. Seguindo a temática, Amaury Silva, Juiz de Direito do TJMG em Governador Valadares, comenta “Maíra”, romance do prestigioso antropólogo de Montes Claros e membro da ABL, vindo depois magistrado aposentado Gutemberg da Mota e Silva sobre José Lins do Rego.

Aldina Soares, Juíza de Direito do TJMG, dedica matéria sobre Nélida Piñon, que abriu caminhos para a literatura de mulheres no país. Manoel Hygino dos Santos e Manoel Marcos Guimarães, este editor da MagisCultura, fazem um histórico da serenata e da seresta no Brasil, com ênfase em Minas Gerais, onde a modalidade musical ganhou destaque muito especial. Aliás, inspirou-se nelas a artista plástica Sandra Bianchi, que oferece belíssima ilustração à revista, uma das mais bem produzidas nos estados brasileiros.

E há mais: o Juiz de Direito do TJMG aposentado Jorge Paulo dos Santos trata de um escritor muito discutido em nosso meio, que é Nélson Rodrigues, de vida marcada por uma série de dramas pessoais e profissionais.

A Juíza de Direito do TJMG, em Guanhães, Silvia Nascimento comparece com o conto “Ofiúco”, enquanto o Juiz Amaury Silva, de Governador Valadares; Renato César Jardim, aposentado; José Quintino Silva Galinari, desembargador aposentado; Llewellyn Medina, também desembargador já aposentado; Aldina Soares, Juíza do Tribunal, apresentam suas poesias e o Juiz do Tribunal em Araxá, oferece a crônica “Cozinha”, fechando a bela edição.

Enfim, é sempre prazeroso saber que nossos magistrados são sensíveis aos chamamentos da cultura e da arte. Aí temos demonstrações suficientes, que merecem e devem ser degustadas com prazer e enlevo.


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Por Manoel Hygino - 4/7/2023 09:44:24
Droga em julgamento

Manoel Hygino


O Supremo Tribunal Federal ainda se encontra às voltas com discussões no julgamento da constitucionalidade do artigo 28 da Lei de Drogas, que é de 2006 e criminaliza a aquisição, guarda e transporte desse tipo de produto para uso pessoal. O caso concreto levado ao STF reside em um recurso contra a condenação de um homem pelo porte de maconha para uso pessoal, proferida pela justiça de São Paulo.

Três ministros já votaram não considerando crime no caso do porte de maconha para consumo próprio. Os ministros Luiz Roberto Barroso e Edson Fachin entenderam que a descriminalização deve ser limitada ao porte para uso pessoal da droga. E as demais? Pergunta-se.

O ministro Gilmar Mendes defende a descriminalização do porte para consumo pessoal de todas as drogas. Que beleza, não é?, mas propõe a aplicação de sanções administrativas, com exceção da pena de prestação de serviços à comunidade. Por que, hein? Trabalhar é pernicioso ao ser humano?

E o problema fica desse tamanho, sem solução prática, inclusive com objetivo educativo. Mas tudo leva a pensar no que ocorre com as centenas de pessoas que se reúnem diariamente na malsinada e já famosa “Cracolândia”, talvez o maior núcleo de usuários de drogas da maior cidade do hemisfério, no Estado mais rico da nação. Que exemplo!

Seria o caso de se sair pesando quantos gramas de maconha carrega consigo cada ocupante de trechos de vias públicas de São Paulo? E, também, de conferir se cada um usa efetivamente a maconha nas reduzidas porções permitidas ou permissíveis pelo diploma legal?

O estado ou o município se veria na obrigação de contratar servidores para acompanhar os policiais na pesagem da droga na via pública, a fim de verificarem se realmente os viciados estavam levando consigo o número de gramas estabelecido... E se há, ademais, de estabelecer seguramente quem é usuário e quem é traficante, algo que a legislação atual não especifica.

O que se sabe, porque se lê no noticiário dos jornais e rádios, bem como se vê pela TV, é que o Brasil se torna um imenso palco para passagem e consumo de drogas.

Uma vergonha e uma calamidade, que não se sabe quando terminará, ou uma última e gravíssima alternativa, ou se a droga acabará com nosso futuro?


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Por Manoel Hygino - 1/7/2023 07:46:09
Putin em apuros

Manoel Hygino

Quem acompanha os acontecimentos internacionais deve estar certo ao julgar que nada de bom se deve esperar com respeito a paz partindo do Kremlin. Está longe de Putin amenizar a situação, o que se pode avaliar por sua própria postura ao percorrer salas e outras dependências do governo russo, como se observa pela TV. É sempre aquele andar apressado com ampla movimentação de braços. Isso não mudou.

Não muito longe, outro cavalheiro se mantém semelhantemente.

O presidente da Belarus, Alexander Lukashenko, afirmou em uma entrevista, em 25 de maio, que as nações dispostas a se juntar ao Estado da União da Rússia e a seu país receberiam armas nucleares. Ele fez esse comentário após confirmar a transferência de alguns artefatos nucleares táticos de Moscou para Minsk, capital da Belarus, cujo dirigente tem sido um aliado próximo do presidente Vladimir Putin, como se depreende de sucessivas posturas.

O Acordo sobre o Estabelecimento do Estado da União Belarus e o Tratado da Rússia, assinados em 1999, estabelecem uma ampla aliança entre os dois países abrangendo economia, informação, tecnologia, agricultura, segurança nas fronteiras e outros aspectos.

Os comentários provavelmente aumentarão as preocupações em um momento de inquietação global crescente e, quanto a Rússia, chegou a ameaçar com seu próprio arsenal nuclear na guerra contra a Ucrânia. Isso, aliás, ficou evidente, quando Putin confirmou a transferência de dispositivos nucleares da Rússia para a vizinha. Belarus, que não tem armas nucleares em seu território desde a década de 1990, quando concordou em transferir todas as de destruição em massa da era soviética lá estacionadas para a Rússia, assim como fez a Ucrânia no fim da antiga União Soviética.

Do outro lado do mundo, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, afirmava que os EUA não têm motivos para mudar sua conduta, não vendo “indício que a Rússia se prepara para usar uma arma nuclear”.

A declaração de Blinken foi divulgada praticamente enquanto Putin procurava equacionar a rebelião do grupo paramilitar Wagner, que Putin afirma ter representado uma “ameaça mortal e o risco de uma “guerra civil” no país”. O grande desafio agora é saber o que fazer com o líder do movimento, que só foi contido após intermediação de Lukashenko. De todo modo, o sentimento mundial é que Putin saiu enfraquecido e que, mais do que nunca, terá de contar com apoio da Bielorrussia.


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Por Manoel Hygino - 28/6/2023 09:06:36

Konstantin, cem anos

Manoel Hygno

O governo entendeu que tinha de instalar um pronto-socorro, capaz de atender convenientemente a população de Belo Horizonte, já que o posto da rua da Bahia, em dependência da Secretaria de Segurança Pública, em 1929, não correspondia mais ao fluxo sempre crescente de casos.

Implantou-se, assim, um modesto e acanhado hospital na rua Rio de Janeiro, acima da Tamoios. Começou a receber doentes em 3 de fevereiro de 1933. Em 1935, estruturou-se o serviço: era o Pronto Socorro Policial e o Instituto de Medicina Legal. Numa tarde dos anos 40, fui lá para conversar banalidades com um dos plantonistas. Era Konstantin Christoff Raeff, um dos formandos de 1948 da Faculdade de Medicina que se tornaria federal no ano seguinte.

Konstantin se dirigiu comigo até a margem da rua Rio de Janeiro e observou longamente o panorama lá do alto. Depois, comentou que, do outro lado da Afonso Pena, confluência da Tamoios, havia um triângulo que se prestaria perfeitamente à construção de algo imponente, embora ali já houvesse um templo metodista. Mas se ergueu, depois, edifício Acaiaca.

Diploma na mão e imensa disposição de servir começou a humana missão que empolgara Hipócrates. Nascido em 12 de maio de 1923, na Bulgária, transferiu-se para o Brasil, onde já estavam os pais, Christoff Raef, a mãe Rosa e o irmão Rayu. Este se inclinou à engenharia, formou-se Química Industrial na Faculdade da capital mineira, morrendo tragicamente em acidente rodoviário. Ambos eram apaixonados pelo desenho e pintura e pude apreciar-lhes o trabalho excelente nos primórdios.

Obsessivo no pincel, seguiu os caminhos do sábio de Ós, consagrando-se como um dos grandes médicos do Norte do Estado, prestando serviços à Santa Casa, amenizando dores e salvando vidas. Colaborou na ilustração e na capa de livros dos autores de sua nova terra, participou de exposições, publicou sua arte nas maiores revistas, percorrendo sua produção toda a nação praticamente. Casou-se em Montes Claros, com descendente de nobre família, gerou filhos que honram a região e o país. Expôs na ONU e grandes centros mundiais da arte. Faleceu em 21 de março de 2011. Este ano chegaria ao centenário.


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Por Manoel Hygino - 27/6/2023 09:33:56
Problema no Kremlin

Manoel Hygino


Os últimos acontecimentos da semana, finda na Rússia demonstram, de maneira clara e insofismável, que nenhum país ou nação se pode julgar invulnerável. Mesmo um regime fechado e duro, como o que sucedeu no das repúblicas socialistas sediadas em Moscou, pode jactar-se de encontrar-se acima de dificuldades tão graves como as ora registradas.

Sabe-se dos males e riscos que corroem as entranhas dos países poderosos, principalmente naqueles que não permitem divulgação mais livre de suas notícias. Não há povos sem problemas, embora os maiores evidentemente ocorram nas maiores, por razões óbvias. Enfim, desafios que podem ter âmbito internacional passam por eles e são até, por eles ser provocados.

Não se dirá que o atual governo russo correu riscos maiores. A velha nação de Pedro, o Grande, e de Lênin e Stalin, está apto a enfrentar maiores dificuldades, e não foram poucas as registradas desde que a casa caiu para o comando vermelho. Os interesses da grande nação abrangem todo mundo e, assim, ela é ou está sempre vulnerável a tentativas de golpes ou de rebeldia.

Desta vez, a participação de Belarus em busca de uma solução para as desavenças entre Putin e as tropas mercenárias fez voltar os soldados revoltados a seus quartéis ou acampamentos. Por enquanto, fica como estava. Mas não resta dúvida de que os detentores do poder no Kremlin, sobretudo Putin, ficarão de antenas mais ligadas naqueles contingentes que podem agir contra a situação atual.

Sabe-se que se conseguiu uma trégua, mas não se celebra uma paz sólida, porque a grande nação se vê às voltas com grandes problemas como a guerra contra a Ucrânia, uma bela encrenca planejada desde Moscou.

Não se perderá de vista que o grupo rebelde, o Wagner atua na Ucrânia desde 2014 no Donbass, exatamente onde estão autoproclamadas repúblicas separatistas pró-Rússia de Donetsk e Lugansk.

Os fatos da penúltima semana de junho na Rússia evidenciam o desgaste de Putin, que emudeceu diante das opiniões internas e dos países que formam a União Europeia até integram a Otan. Na hora do aperto e das dúvidas, o silêncio é o melhor conselheiro. O tempo se encarregará de responder as dúvidas.


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Por Manoel Hygino - 24/6/2023 07:06:53
Chineses voltam ao templo

Manoel Hygino

No dia 11, e era um domingo do lado de cá do mundo, a Força Aérea de Taiwan entrou em ação ao detectar dez aviões de guerra chineses cruzando a linha mediana sensível do Estreito da ilha. Do outro lado, Pequim não se convence que Formosa, ou Taiwan, tem independência. O procedimento não é seguido por contingentes expressivos de chineses, que assistiram ao insucesso do crescimento econômico pós-Covid, como os analistas esperavam.

Dados mostram que as exportações chinesas caíram 7,5% em maio, relativamente ao mês do ano anterior.

A atividade industrial contraiu novamente e o desemprego entre os jovens atingiu níveis recordes. A taxa de desemprego para pessoas entre 16 e 24 anos atingiu um recorde de 20,4% em abril, segundo estatísticas oficiais.

Os jovens chineses estão buscando novamente a intervenção divina em templos budistas e taoístas. Eles rezam por empregos, oportunidades educacionais e riqueza rápida. A tendência levou a um aumento significativo nas visitas aos templos e no turismo religioso.

Templos como o Yonghe, em Pequim, experimentam um aumento de visitantes, especialmente aqueles que procuram sucesso profissional e financeiro.

O aumento das visitas aos templos reflete a pressão enfrentada pelos jovens chineses em relação à educação, emprego, casamento e relacionamentos. O turismo religioso foi impulsionado pelas mídias sociais, pois os jovens gostam de compartilhar suas experiências nas redes sociais.

A visitação aos templos aumentou mais de quatro vezes em relação ao ano anterior, com aproximadamente metade dos visitantes sendo pessoas na faixa dos 20 e 30 anos. Templos famosos, como a montanha Emei e a montanha Jiuhua, registraram aumentos significativos no número de visitantes.

As montanhas famosas Emei e Jiuhua são duas das “quatro montanhas sagradas do budismo” da China. Abrigam os maiores templos budistas e patrimônios culturais do país.

A montanha Emei, na província de Sichuan, no sudoeste, recebeu 2,48 milhões de visitantes entre janeiro e maio, um aumento de 53% em relação a 2019, antes da pandemia.

Se a China, uma das mais poderosas nações do mundo está assim, imagine-se o que poderá ocorrer com as demais, principalmente na América do Sul e África. Vamos pegar nos terços, rapidamente, e orar.


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Por Manoel Hygino - 21/6/2023 09:49:29
Medalha Dr. Aloysio de Andrade Faria

Manoel Hygino

Melhorar a vida das pessoas. Esse é o propósito da Santa Casa BH, maior hospital filantrópico 100% SUS, que vem prestando serviços em saúde para milhares de pessoas, dos 90% dos municípios mineiros.

Seria uma simples festa de aniversário. Ganhou dimensões mais amplas. Refiro-me à comemoração dos 124 anos de fundação da Santa Casa de Belo Horizonte, primeira instituição para tratamento da saúde humana na capital mineira, inaugurada dois anos antes.

Para festejar a data, a Santa Casa se reuniu, com diretores e servidores, para uma série de atos, entre os quais a entrega da Medalha Dr. Aloysio de Andrade Faria a pessoas que lhe deram apoio em suas atividades.

Na capela do Hospital Central, em solenidade presidida pelo Provedor Roberto Otto Augusto de Lima, a honraria foi entregue ao deputado federal Diego Andrade, à presidente do Instituto Gerson Bartolomeo, Virgínia Bartolomeu, à diretoria da Associação das Voluntárias da Santa Casa- Avosc, bem como a membros do seu corpo clínico: Dra. Filomena Camilo do Vale, pediatra intensivista, Dr. Marcelo Frederigue de Castro, chefe da Clínica de Cirurgia Cardiovascular, pela dedicação à instituição e sua imensa clientela.

O provedor Roberto Otto enfatizou o ininterrupto labor da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte desde o remoto 1899, em que foi constituída sempre para cumprimento da missão Cristã de servir, eliminando dores e salvando vidas, com números de atuação que poucos hospitais conseguem no Brasil.

Não sem razão o modesto conjunto de clínicas que se construíram desde 1899 se transformaram no maior Complexo Hospitalar de alta complexidade 100% SUS, em Minas. Daí, dentre outras, a importância e grandeza que assumiu perante a sociedade.

E mais: a Medalha Aloysio de Andrade Faria é reconhecimento e relevância a uma personalidade de especial relevo na vida mineira - como médico e como empreendedor, sempre atento às necessidades da rede hospitalar para mantê-la atualizada e eficiente na assistência.

O êxito do administrador financeiro fez do médico, nascido em distante rincão do Norte do Estado, um benfeitor, que tanto tem beneficiado o setor de saúde em empreendimentos valiosos, que tantos pacientes resgatou com a recuperação de saúde e estendeu o tempo de vida.


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Por Manoel Hygino - 20/6/2023 09:51:08
A vez da sequia

Manoel Hygino

Evoco tempos e pessoas. Minha jovem amiga Ana Maria Romero Forcade, de Montevidéu, filha do excelente poeta Ruben Enrique Romero Arenilhas, me envia um e-mail surpreendente: “Montevideo con falta de agua potable devido a la sequia”. Ou seja: a bela capital do Uruguai, pela qual já passaram muitos milhares de jovens brasileiros, por motivos políticos ou para estudos, se aproxima de cidades do Brasil. De Montes Claros, por exemplo, pois por Montevidéu passamos Darcy Ribeiro e eu, em épocas diferentes.

Pois a sequia, agora também fustigando a gente boa da nação sonhada por Artigas, já chegou a Minas Gerais, que aflige há dezenas e dezenas de anos, séculos até. É o que informa Luiz Ribeiro, atento em nossa terra, aos problemas que nos atormentam.

Ribeiro observa que a estiagem precoce adianta o flagelo da falta d’água, que causa danos e dificuldades imensas a 130 municípios, que já se acham em emergência. Mais do que isso, a tendência é o número a subir, com escassez hídrica aprofundada pelo El Niño, como advertem especialistas.

Obviamente, há razões para o fenômeno natural perverso que atinge Minas, um dos maiores estados da federação. Os relatos das autoridades dizem bem claramente que o mal não reside apenas na água escassa. É também falta de verbas suficientes para amenizar o quadro já dramático para algumas populações.

Caminhões-pipas é uma das propostas, velha maneira de suprir precariamente determinadas áreas, mas até mesmo propriedades habitadas por gente acostumada a sofrer. Sem água, sem vida. O mesmo acontece com o gado.

No norte de Minas, as chuvas só estão sendo aguardadas em novembro, quando muita plantação já se perdeu, talvez vidas. Haverá influência maior no fornecimento de energia elétrica hidráulica? E se fala em transtorno de ansiedade, perfeitamente admissível diante dos infortúnios intermináveis. Os homens de poder e governo devem ficar atentos e sensíveis ao que acontece. Aqui ou em nossa saudosa Montevidéu, com seus belos plátanos nas vias públicas. São eles componentes vivos de uma capital que sempre sabe escolher os seus visitantes e exilados, com carinho e respeito. Não podem agora circunstâncias adversas mudar um panorama amável, que oferece a beleza de um Parque Rodó, por exemplo.

Fim a sequia, é o que se quer efetivamente.


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Por Manoel Hygino - 17/6/2023 07:58:13
Bishop na capital

Manoel Hygino

Os fatos acontecem em torno de nós ininterruptamente, mas pormenores de alguns deles se perdem na imensidão dos relatos, ou narrativas, já que a palavra ganhou no Brasil novo sentido e novos públicos. Que o digam as plateias das casas legislativas do país ou as entrevistas de pessoas de vária espécie, nacionalidade, formação e procedência. A observação vem a propósito do lançamento nos Estados Unidos de uma biografia da poeta Elizabeth Bishop, em 2019, de autoria do acadêmico Thomas Travisano, com recente publicação entre nós da Companhia das Letras, em tradução de Luiz A. de Aquino.

A edição brasileira busca lançar novas luzes sobre a autora nascida em terra de Tio Sam, em que já era popular e discutida, por motivos que os escritores de cá debaixo do Rio Grande bem conhecem. Conhecem até porque a Bishop e sua produção foram muito comentadas na Festa Literária de Paraty, um sucesso inconteste de sucesso. Na cidade fluminense, seria a primeira vez que uma escritora não brasileira seria homenageada. Não deu certo. Ganhadora do Prêmio Pulitzer bem atrás no tempo, porque em 1956, já estivera no Brasil e fora muito badalada, se me permitem o adjetivo.

Como não poderia deixar de ser, a poeta fez das suas, agindo como sempre em outras plagas. Em apenas duas semanas, conheceu a arquiteta Lota de Macedo Soares (ela faleceu em 1967), idealizadora do Parque do Flamengo, no Rio. Bishop se encantou com o Brasil e sua gente, vivendo em Petrópolis, no Rio de Janeiro e em Ouro Preto, onde habitou o imóvel colonial da Casa Mariana, cuja denominação constitui homenagem à também poeta Marianne Moore.

Com sua existência múltipla, Elizabeth, (que era lésbica, coisa que, então, não era bem compreendida e sentida em terra brasílica), também se apaixonou pela arquiteta Lota, de ilustre família paulista.

Bishop foi em Minas a mesma, depressiva e dependente de álcool, para aliviar as pressões psicológicas e a distância de seus amigos e, principalmente, amigas. Quando na velha Vila Rica, adoeceu, e, por recomendação médica, transferiu-se a Belo Horizonte em tratamento, internando-se no Hospital São Lucas. Lá encontrou assistência adequada até a alta, como informado na peça que a Santa Casa ora divulga, contando os 100 anos de vida do hospital.

Por sinal, a peça publicitária é, em verdade, um livro em que se fala sobre outros conhecidos pacientes do São Lucas, como a ex-presidente Dilma Rousseff, o ministro José Maria de Alkmin, o grande artista que foi Guignard, o notável escritor Eduardo Frieiro e a mãe do poeta maior Carlos Drummond de Andrade. Afora os médicos, que formaram uma plêiade que honra a classe.


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Por Manoel Hygino - 14/6/2023 09:31:39
Em cena aberta

Manoel Hygino

Patrus Ananias não foi distinguido com um cargo elevado pelo atual governo da República. Continua com suas atividades na PUC, onde é professor, e na Academia Mineira de Letras, em visível atuação. Ele conta que há 20 anos, sob a liderança do Padre Paulo Gabriel, integrou um grupo que saiu de Belo Horizonte para ir a Ribeirão Bonito, hoje município de Ribeirão Cascalheira, Prelazia de São Félix do Araguaia. Ali, em 1975, foi assassinado o Padre João Bosco Penido Burnier.

Ele estava ao lado de Pedro Casaldáliga. Confundiram os dois. Eles queriam matar o Pedro.

“Fomos lá celebrar os 25 anos dessa Páscoa. Viajamos uma noite inteira. Um dia inteiro.

Entramos pela outra noite e chegamos com o outro dia amanhecendo. No encontro com Pedro, eu lhe disse.

– Estou a caminho da Prelazia de São Félix há quase 30 anos. Uma jornada que começou no meu coração, quando li, em 1971, a sua Carta Pastoral profética – “Uma Igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio e a marginalização social.”

Amigos muito queridos, colegas de geração e de sonhos, fizeram de fato a belíssima caminhada e foram partilhar a experiência profética que se materializava nos sertões de Mato Grosso. O testemunho e os ensinamentos de Jesus ganhavam vida. Eu os acompanhava longe dos olhos, muito próximo do coração.

Prefeito de Belo Horizonte, tive a alegria de encontrá-lo e conversamos longamente na Casa dos Agostinianos, no Barreiro. Ele me retribuiu a visita e foi abençoar o nosso trabalho na prefeitura.

Fui visitá-lo algumas vezes em São Félix, partilhamos a mesa, rezamos juntos. Procurei, a exemplo de Maria, guardar os seus ensinamentos no coração e na memória. Voltarei agora aos seus livros.

No Natal de 2022, Patrus observava: “É presente nos nossos tempos o debate sobre a separação entre o Estado e as religiões, separação esta que considero correta na perspectiva do Estado Democrático de Direito, dos Direitos Fundamentais que acolhem a liberdade religiosa e de não-crença, as diferenças, a diversidade.

No entanto, os ensinamentos de Jesus transcendem a dimensão individual e enlaçam as relações humanas nas suas dimensões coletivas, comunitárias, nas relações com a natureza. É instigante que Jesus coloque nesta perspectiva convivencial a oração que nos ensinou: o Pai-Nosso.

Não vejo como negar a dimensão política – no sentido mais alargado da palavra, a “política como a arte do bem comum” – de muitas e belíssimas passagens evangélicas. Lembremos o Sermão da Montanha ou das Bem-Aventuranças: “Bem-aventurados os que promovem a paz”... (...)


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Por Manoel Hygino - 13/6/2023 09:31:03
O azeite da máquina

Manoel Hygino

Meu conterrâneo Darcy Ribeiro, tão lembrado hoje e já suficientemente compreendido e sentido por grande número de brasileiros, foi um entusiasta de ideias de Manoel Bonfim, um antropólogo que viveu em Paris há cerca de cem anos. Dizia o primeiro: “Bonfim nos falava com exatidão do caráter classista, intrinsecamente tirânico e espoliativo do Estado brasileiro, por isso mesmo, justamente odiado ontem e hoje pelo povo. Também antes do que qualquer outro, Manoel Bonfim nos deu o diagnóstico do racismo como a técnica ideológica europeia de dominação e escravização”.

Darcy confessa crer que, como Bonfim, a educação popular tem um papel indispensável em nosso esforço de autossuperação. Somente através dela conseguiremos que os brasileiros de amanhã manifestem sua extraordinária criatividade, não só no exercício do futebol e no carnaval, mas em todas as formas humanas de expressão.

Para Darcy, ainda existe no Brasil uma sabedoria engajada, do mesmo tom da de Bonfim. Segundo esse desenho de posições, cada qual do seu lado de posiciona em suas trincheiras nas quais os dominadores e dominados lutam para que o Brasil continue tal como é ou para que se transforme.

Finaliza o antropólogo de Montes Claros: “O nosso bando de iracundos” junta os que querem fazer ciência com o maior rigor para alcançar a compreensão mais precisa da realidade brasileira, com os olhos postos na sua transformação revolucionária.

O bando oposto, dos relativistas, reúne os que, estando contentes com a nossa realidade tal qual ela é, admitem como normal e até funcional, que assim seja. Nesse jogo ninguém é inocente.

Nossas realidades são explícitas, não gostamos do Brasil que aí está, tão espoliado pelos ricos e tão sofrido pelos pobres, e queremos passar nossas instituições a limpo. As deles, inconfessáveis embora, são igualmente engajadas. Estão contentes, ou pelo menos resignados, com a realidade brasileira e só querem ser o azeite da máquina desse mundo.

Estamos, pois, parados há cem anos, sem evoluirmos positivamente em favor das multidões carentes e conscientes dessa estagnação perniciosa. As tentativas e experiências para transformar o quadro para melhor não foram suficientes para favorecer a gente pobre. Esta, ao contrário do esperado e ansiado, permanece em dificuldade e penúria.


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Por Manoel Hygino - 10/6/2023 07:37:42
Agressões em Brasília

Manoel Hygino

Lula não tem sido feliz em pronunciamentos e declarações em termos de política internacional, mesmo com relação à América Latina. Quatro ex-ministros venezuelanos antes integrantes do governo Hugo Chávez, que antecedeu ao atual, divulgaram carta aberta criticando afirmativas de Lula sobre situação da democracia naquele país. Eles condenaram a opinião do presidente brasileiro de que a Venezuela é vítima de uma narrativa de antidemocracia e autoritarismo.

Os ex-ministros Rodrigo Cabezas, Héctor Navarro, Ana Elisio Osório e Oly Millan questionam a postura ditatorial de Maduro, que insiste em manter-se no poder a qualquer custo e elimina o Estado de Direito e a independência dos poderes. Mencionaram ainda a existência de presos políticos, cancelamento de licenças de rádios e bloqueio de sites de notícias além da violação de direitos humanos.

No dia 28, Maduro e esposa foram recebidos na Base Aérea de Brasília pela embaixadora Gisela Padovan, sua primeira visita desde 2015, pois proibido de entrar no país por Bolsonaro, medida revogada em dezembro.

Sabe-se que a situação no país ao Norte, um dos mais ricos do mundo em reserva de petróleo, não é nova. Há décadas o povo venezuelano sofre com governos nefastos. Exemplos existem pelos inúmeros nascidos ali, obrigados a perambular, revelar sua miséria e dores nas ruas das demais nações latino-americanas. Em Belo Horizonte mesmo, há muitos deles padecendo os efeitos da insensibilidade de seus governantes.

Até a imprensa brasileira sente o que ocorre, como se observou no último dia 30, no Palácio do Itamaraty, em Brasília.

Após reunião com presidentes da América do Sul, seguranças empurraram e agrediram os repórteres que tentaram aproximar-se de Maduro. As ações violentas provocaram indignação dos profissionais presentes, havendo um princípio de tumulto.

O Itamaraty divulgou uma nota lamentando o ocorrido. “O Ministério das Relações Exteriores lamenta o incidente no qual houve agressão a profissionais de imprensa, ao final da Reunião de Presidentes da América do Sul. Providências serão tomadas para apurar responsabilidades”.

Aqui, ainda não estamos em regime como o de Caracas. A Abert reafirmou a defesa intransigente da liberdade de expressão e do direito à livre informação. “É injustificável e inaceitável que em um governo democrático como no Brasil, seguranças agridam a imprensa” (...).


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Por Manoel Hygino - 7/6/2023 09:17:19
Perde nosso cinema

Manoel Hygino

Apesar da imensidão de temas a desenvolver neste espaço de jornal, não poderia deixar de registrar o falecimento, no dia 27 de maio, do cineasta Carlos Alberto Prates Correia, nascido como em Montes Claros, como minha irmã, Maristela, naquela data. Ele foi indiscutivelmente um dos mais importantes nomes do cinema mineiro, nas décadas recentes, e responsável por filmes exitosos como “Cabaré Mineiro”, de 1980, e “Noites de Verão”, quatro anos após, com Débora Bloch e Tony Ramos.

Da cidade natal para Belo Horizonte, iniciou carreira como crítico de cinema no “Diário de Minas”. Uma experiência que deu prestígio muito legítimo.

Em 1965, trabalhou como assistente de direção de Joaquim Pedro de Andrade em "O padre e a moça", estrelado por Paulo José, também estreando no cinema na época. Na década de 1960, fundou o Centro Mineiro de Cinema Experimental (Cemice), e produziu o filme "O Milagre de Lourdes" (1965), que retrata a história de um padre corrupto que se esconde em um bordel para fugir dos fiéis enfurecidos.

Em 1966, Correia se mudou para o Rio de Janeiro, onde dirigiu o episódio "Guilherme" do filme "Os marginais" (1966), em parceria novamente com Paulo José. Em 1969, trabalhou como assistente de direção de Joaquim Pedro de Andrade e Paulo José no clássico "Macunaíma", e seu primeiro filme como diretor foi "Crioulo doido" (1970), drama ambientado em Sabará, que acompanha a história de um alfaiate de origem humilde que busca ascender socialmente.

Correia também atuou como produtor em "Os inconfidentes" (1972) e "Guerra conjugal" (1974), ambos de Joaquim Pedro de Andrade, e "Vai trabalhar, vagabundo" (1973), de Hugo Carvana, colaborando com o diretor Cacá Diegues nos filmes "Quando o carnaval chegar" (1972) e "Joana Francesa" (1975). Em sua filmografia, destacam-se os filmes "Cabaret Mineiro" e "Noites do sertão".

O primeiro, estrelado por Nelson Dantas, retrata a jornada de um sertanejo pelo interior de Minas, onde encontra mulheres marcantes e elementos típicos da região. O filme recebeu vários prêmios no Festival de Gramado de 1981.

No mesmo ano, Correia adaptou a novela "Buriti", de Guimarães Rosa, para o cinema com o título, porque não poderia faltar com o romancista de Cordisburgo, e membro da Academia Brasileira de Letras.


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Por Manoel Hygino - 6/6/2023 10:19:19
Palavra de sílaba única

Manoel Hygino

Não assisto com rigorosa tranquilidade à vida do brasileiro nestes dias, que podem ser comparados aos dos últimos meses do quatriênio de Bolsonaro e os dos primeiros dias de 2023. Afinal de contas, o Brasil não parou para contemplar o transcurso do tempo, que me parece ainda carregado de pesadas nuvens. Oito de janeiro não se transformou num marco limitante de dois períodos da vida nacional. Pelo contrário, permite enxergar melhor o ambiente de refregas anteriores não decididas.

Inquietos, acompanhamos os fatos que se marcaram pelos antagonismos nas frentes de decisões políticas, sem vislumbre de paz. No entanto, o presidente brasileiro defende o fim da guerra da Rússia contra a Ucrânia, como se estivessem na época dos tsares; um conflito insensato deflagrado por Moscou há mais de um ano. São mais de doze meses sem sequer o telefonema mágico com a palavrinha paz, em português com apenas três letras. Não há possibilidade de avaliar o mar de sangue que se terá derramado naquela emblemática e problemática região do planeta que habitamos. Mas, engana-se Lula ao pregar a pacificação no front externo, se não a conseguimos em âmbito interno. As posições adotadas pelo governo até agora não conseguiram sensibilizar os partidos políticos em termos necessários, como se depreende da votação de medidas provisórias no Parlamento.

A reunião de presidentes latino-americanos no Itamaraty não ampliou o prestígio do Brasil no campo internacional. Ao receber o diretor Maduro em Brasília, Lula não conseguiu senão aclarar a aversão que os demais países nutrem pelo governante de Caracas e seu sistema ditatorial de gerir os negócios de Estado. E todo o mundo conhece o que acontece na Venezuela como na Guatemala.

Assim como os ucranianos protestaram em Portugal pelas declarações de Lula sobre a guerra naquele pedaço de mundo, tratando vítima e agressor do mesmo modo, também o presidente brasileiro foi alvo de duras críticas pelo ostensivo e privilegiado tratamento oferecido a Maduro, nas horas em que esteve em solo nacional.

Pelas declarações do diplomata Marcos Azambuja, na noite de domingo último pela televisão, depreende-se que o chefe do governo brasileiro terá de reavaliar suas posições em relação a Caracas. Enquanto Maduro se mantiver como até agora, não haverá possibilidade de a paz se estabelecer abaixo das margens do Rio Grande.

A palavrinha “paz” anda longe.


86738
Por Manoel Hygino - 3/6/2023 07:37:21

As barraquinhas

Manoel Hygino

Era por esta época do ano, no mês de junho, das noites mais belas do ano, como exaltava uma canção muito popular, que se realizavam nos bairros de Belo Horizonte, as barraquinhas, conservadas com saudades por sucessivas gerações. Nas proximidades das igrejas católicas, a comunidade, com incentivo da autoridade paroquial, erguia as tendas humildes, munidas de jogos diversos, para atrair principalmente os jovens para os inocentes divertimentos.

Milhares se reuniam por ali, participando de múltiplos sorteios, enquanto o serviço de som tocava músicas alegres e os namorados se encontravam. Acontecia na Floresta, Renascença, Venda Nova e Santa Efigênia, por exemplo, este último formada a população com descendentes dos que vieram durante a construção da capital. No bairro do Quartel, como se apelidara a região que recebeu o primeiro batalhão da Policia Militar, tudo era festivo e amável.

A ampliação do som era pela firma Ítalo & Andrade, proprietários. O primeiro descendente de italianos que se transferiram a Belo Horizonte desde a construção; o segundo de conhecida família de Ouro Preto, o Benedito, Bené, irmão do Delê, da Orquestra; e Francisco Andrade, homem culto e de teatro. Completava a equipe Maurício Gorle, o mais novo, de raízes libanesas.

As músicas eram interpretadas, ao vivo, por uma jovem, Maura, que seria sucesso em exibições na Europa, e regressou a Belo Horizonte, onde estudou no Arnaldo, a primeira na época do sexo feminino.

Tudo terminou. Os tempos são outros, as ideias, os costumes, as músicas, mas resta um profundo sentimento de reverência a um período feliz, que durou décadas. Permaneceu a Santa Casa, agora com 124 anos, que segue cumprindo sua histórica e solidária missão de servir. Dá o que pensar e sentir.

As épocas não se repetem. As barraquinhas de bairros não existem mais, é apenas o que se pode lembrar neste junho que começa. No entanto, o passado, não tão distante assim, suscita o sonho de que deveriam voltar. Não fariam mal a ninguém, enfim.

Lamentavelmente, as épocas não se repetem, por mais que se aproximem. A mentalidade é outra, os gostos e instrumentos de diversão não são mais aqueles que levavam horas de enlevo e alegria nas décadas do século XX. Todos nós transformamos, não se pode revogar esta constatação até dolorosa. Restaram a Praça, hoje Hugo Werneck, e a Santa Casa, com suas lições de altruísmo e solidariedade.


86736
Por Manoel Hygino - 2/6/2023 13:08:13
A invasão foi vitoriosa e multidões exultaram nas ruas. Soldados e populares se
confraternizaram nas principais cidades, sobretudo Buenos Aires. Mas, depois a casa caiu.
O Norte de Minas é terra considerada de gente brava. De lá saíram mineiros que
participaram de grandes embates em que se envolveu a nação ou as províncias e
estados. Basta aprofundar-se um pouco na leitura na história. Da Guerra do Paraguai
para cá, moradores de nossas montanhas ou das planícies jamais fugiram às
refregas.
A imprensa que se faz por aqui sempre foi vigorosa e sem medo. Lembrar é preciso
da Guerra das Malvinas, quando Margaret Thatcher se tornara primeira-ministra do
Reino Unido, pela eleição em 1979 dos conservadores, abrindo as portas dos anos
1980, quando se privatizou a maior parte do setor público. Foi o período em que os
ingleses descobriram petróleo no Mar do Norte.
Em 1982, fortalecida pela vitória sobre a Argentina na chamada Guerra das
Malvinas, Londres se julgou nas alturas. Buenos Aires viveu o outro lado da moeda.
Um dos poucos jornalistas brasileiros a cobrir o conflito e o único de Minas, Celso
Fernando Zuba, nascido em Montes Claros, no considerado ainda remoto sertão,
começara a carreira na imprensa local, na “Gazeta do Norte”, depois no “Diário de
Montes Claros”, além de participar de outros periódicos, inclusive da revista
“Encontro”.
Derrotada 30 anos entes na guerra pelo controle do arquipélago, a Argentina julgou
chegada sua vez e hora de virar o jogo. E era especialmente importante, porque sua
situação econômica era gravíssima, a nação dirigida pelos militares em ditadura, e a
população convicta de que as ilhas eram um território seu e direito intransferível da
nação. As Malvinas se localizavam ali mesmo, do outro lado de uma faixa atlântica, e
a Inglaterra se situava muito distante, num outro continente. A Casa Rosada pensou
em agir judicialmente e o governo britânico admitiu discutir a soberania das ilhas,
desde que seus 30 mil habitantes formulassem o respectivo pedido.
As tentativas de solução diplomática não evoluíam, mesmo com intervenção dos
Estados Unidos. Em 2 de abril de 1982, o presidente Reagan conversou com o
colega Galtieri, da Argentina, sem resultado, quando forças do país sulino já eram
mobilizadas para ocupar as Malvinas. Ou Falklands, como usavam os britânicos.
Com o início da ocupação pelos argentinos, igualmente 2 de abril, reagiram os
britânicos, em cuja eficácia não acreditavam os contendores. No dia 5, porém,
unidades da Tax Task Force partiram para o Atlântico, podendo-se dizer que
principiava oficialmente o conflito.

Os generais platinos, abalados em prestígio, acharam chegado o ensejo de
assenhorear-se das Malvinas, reabilitando-se o governo perante o povo. A invasão
foi vitoriosa e multidões exultaram nas ruas. Soldados e populares se
confraternizaram nas principais cidades, sobretudo Buenos Aires.
O mundo se dividiu. A Casa Branca não se solidarizou com Buenos Aires, preferindo
perfilhar com a Inglaterra, sua aliada em grandes conflitos. A Rússia deu apoio
tímido, mínimo. O Chile, ainda ferido com a questão do canal de Beagle, permitiu
acesso em seu território de aviões ingleses em voo para as Falklands. O Brasil
silenciou.
Dois milhões de dólares foram utilizados pelos ingleses. Houve mais de mil mortos,
além de feridos e desaparecidos. As Malvinas seguiram Falklands. A capitulação
argentina se deu em 14 de junho de 1982. Em menos de dois meses, a popularidade
de Margareth Thatcher chegara ao ápice. Os militares em Buenos Aires entraram em
plano inclinado até a frustração final.
Décio Gonçalves de Queiroz, diretor do extinto “Diário de Montes Claros”, conta
como conheceu Zuba: “Apareceu na nossa redação um menino gordinho, espinhas
no rosto, boa pinta, cabelos bem cuidados, calça jeans e camiseta vermelha que,
com seus olhos arregalados, se identificou”: Foi logo dizendo que era seu sonho ser
repórter.
Assim, começou a carreira de um profissional raro. Seduzido em anos de profissão,
foi incumbido de cobrir a Guerra das Malvinas, voando de São Paulo para Buenos
Aires pela Aerolineas Argentinas, num imenso Boing que não tinha mais do que uns
quinze passageiros. “Daí a sensação de grandeza – e também de vazio”, “a
sensação de perigo vindo e indo em lampejos”, mas não faltava bom vinho servido
generosamente pela comissária.
Descrever o desenrolar dos fatos exigiria mais espaço, e o já repórter o faria depois,
no livro “Crônicas de Guerra”. Inicialmente, o Hotel Sheraton, em Buenos Aires, onde
funcionava o Centro de Informações das Forças Armadas, de onde saíam todos os
comunicados.
Confessa o jornalista: “Alguns fatos diretamente ligados ao conflito e outros correndo
à margem dos acontecimentos deixaram marcas em minha presença na cobertura da
Guerra das Malvinas. O replay, em clima de terror e comoção, ainda nos faz reviver
como se de novo encontrasse ali, a cena das dezenas de corpos de jovens
marinheiros da guarnição do cruzador “General Belgrano” (torpedeado e afundado
pelos ingleses) chegando em Bahia Blanca. Mais de 300 resgatados do mar entre
destroços fumegantes e envoltos em sacos pretos de plástico, eles vão sendo
alinhados ao longo da pista de pouso”.
Fernando Zuba cobria o conflito no sul do continente, preocupado com a rotina das
sessões de hemodiálise semanalmente, a doença hemorrágica hereditária e sem
cura, que aflige 13 mil pessoas no Brasil presentemente. Além dos eventos

hemorrágicos alterarem o sistema biológico do paciente, ele precisava de um
tratamento multidisciplinar. Mas o jornalista fora para o front como se os cuidados
fossem dispensáveis.
Fábio Doyle, jornalista, advogado, diretor de diário em BH, da Academia Mineira de
Letras, que já partiu de nosso convívio, comentou: “Um dia (Zuba) nos deixou. Foi
seguir o seu destino. Por onde andou, deixou sua marca de talento, de correção, de
ética, de respeito”.
A Guerra das Malvinas, que durou 74 dias, foi apenas uma das suas façanhas. Não
foi um conflito qualquer; talvez tendo contribuído para diminuir “a alegria no ambiente
perfeito, onde trabalhar é um prazer”, como sentenciou Ivan Drummond.
Ao regressar ao Brasil e escrever seu livro, relacionou perdas argentinas e inglesas:
GRÃ-BRETANHA
Marinha: 111 navios (40 da Royal Navy), 24 da Esquadra Auxiliar e 45 mercantes
requisitados; 3ª. Brigada de Comandos dos Royal Marines (3 batalhões), um
regimento de artilharia e outras unidades especiais de comandos.
Exército: um batalhão de paraquedistas, uma brigada de infantaria, um batalhão
Gurka (integrado por nepaleses) e tanques leves Scorpion e Scimitar.
Aviação Naval: helicópteros Lynx Mk2 e Sea King Mk5; caças Sea Harrier.
Perdas: 255 mortos e 777 feridos; 10 aviões e 24 helicópteros destruídos; 2
destroiéres, 2 fragatas e 2 navios auxiliares afundados; 3 destroiéres, 3 fragatas e 2
navios auxiliares avariados.
ARGENTINA:
Guarnição Militar das Malvinas:
10.000 homens do Exército, incluindo algumas unidades de fuzileiros navais,
veículos blindados Panhard, aviões Pucará, Hércules C- 130, helicópteros Bell UH e
Puma; caças Skyhawk, Dagger, Mirage III e Super Etendard (operando desde o
continente).
Perdas: 1.000 mortos e número não divulgado de feridos; 76 aviões e 26 helicópteros
destruídos; 1 cruzador, 1 barco patrulha e 3 navios auxiliares afundados; além de
dois barcos patrulha avariados.
O grande Zuba, conterrâneo e companheiro de profissão, poderia ter vivido mais:
nasceu em 15 de setembro de 1947 e partiu em 31 de outubro de 2010.


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Por Manoel Hygino - 31/5/2023 09:42:28
União nas Américas

Manoel Hygino

Países da América Latina pretendem organizar uma entidade que represente os 12 do subcontinente, independente do viés ideológico do governo, segundo o Palácio do Planalto. Gisela Padovan, secretária da América Latina e Caribe do Itamarati declarou: ‘nós temos a consciência de que há diferenças de visão entre os vários países, diferenças ideológicas, e, por isso mesmo, consideramos um começo; que os países se sentem à mesa e dialoguem, busquem pontos em comum para retomar esse movimento tão importante”.

E é para já, segundo o Planalto que agendou uma reunião para este princípio de junho. Confirmaram presença os presidentes da Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Suriname, Uruguai, Venezuela. O encontro tem como objetivo retomar o diálogo com os países sul-americanos, que ficou muito truncado nos últimos anos, e é uma prioridade do governo atual. Há pelo menos sete anos que não ocorre um encontro desse porte.

Sabemos que a situação nas Américas de língua espanhola não é das mais benévolas. Basta ler o noticiário dos jornais com certa atenção e algum cuidado. Da América Central é o que se sabe, com grande parte da população sonhando em transferir-se para os Estados Unidos, com as dificuldades imensas para atravessar o Rio Grande, com reportagens chocantes que as televisões mostram.

Na Colômbia, embora o presidente seja um antigo revoltoso, o problema é enfático e as autoridades de lá estão vindo ao Brasil para aprender métodos de luta com ferramentas mais eficientes. O Equador está em polvorosa, o mesmo se podendo observar com relação ao Peru e Chile. A Argentina está quase em frangalhos, com a inflação em 10%. Pode-se dizer que salva-se quase apenas o Uruguai. Sobre o Brasil, ninguém conhece mais do que nós mesmos.

Mario Vargas Llosa, o escritor hispano-peruano, Prêmio Nobel de Literatura em 2010, além de detentor de outras altas distinções em outras plagas, é um vibrante acompanhador do que acontece neste território nosso.

Fácil usuário da linguagem de sua pátria, Llosa é daqueles que não apenas gosta de falar em tom alto, além de escrever. Há algum tempo, afirmou: “nós, latino-americanos, somos sonhadores por natureza e temos problemas para diferenciar o mundo real e a ficção. É por isso que temos ótimos músicos, poetas, pintores e escritores, e também governantes tão horríveis e medíocres”.


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Por Manoel Hygino - 30/5/2023 09:24:44
Os líderes e seu povo

Manoel Hygino

O desembargador Rogério Medeiros Garcia de Lima não perde o ensejo de dividir com seus amigos e confrades, com os leitores de seus comentários pela Imprensa, o que lhe causa interesse e suscita a vontade de focalizar. Como conterrâneos de Tancredo Neves em São João del-Rei, nada lhe escapa à crítica ou ao elogio, se este se lhe afigura merecedor.

No dia 30 de março, enviou-me e-mail em que afirma ter manuseado o livro “Tancredo Neves, sua palavra na história”, publicado pela Fundação que tem o nome do ilustre mineiro, em 1988.

Ele explica que se trata de uma coletânea de discursos e palestras do saudoso presidente e conterrâneo. Entre os estupendos textos, destaco o discurso fúnebre proferido pelo então deputado Tancredo Neves, em memória do presidente Juscelino Kubitschek, falecido em 1976 (Câmara dos Deputados, Brasília, 14.09.1976). A oração é aberta com a citação do livro “Quando os carvalhos se abatem”, do escritor francês André Malraux, ministro da Cultura do presidente Charles de Gaulle. De Gaulle estava sendo sepultado em Paris, em 1970. Uma grande fileira de militares protegia o cortejo fúnebre. Não permitiram que uma humilde velhinha, saída da aglomeração popular, se aproximasse do caixão. Malraux viu a cena e ordenou a um fuzileiro naval:

- Deixe-a passar. O General ficaria satisfeito. Ela fala como a França.

Segundo Tancredo, esse mesmo sentimento se apoderou da multidão que seguiu o féretro de JK, em Brasília:

“Houve em cada lar uma prece, em cada face uma lágrima, em cada coração um voto de pesar e de saudade. É que Juscelino Kubitschek de Oliveira pertencia àquela rara estirpe do herói de Sófocles, na Antígona: não viera para partilhar o ódio, mas para distribuir o amor”.

Já não se fazem homens como De Gaulle, Malraux, JK e Tancredo”.

Ademais nas despedidas, eliminam-se as diferenças entre os grandes e pequenos, e estes se aproximam daqueles com reverência e demonstrações de respeito. Na paz e silêncio dos cemitérios, falam alto e espontaneamente os sentimentos das pessoas.

Por estas passageiras observações do insigne magistrado, poder-se-ia evocar a lição de São Francisco de Sales, que entendia que, se o barulho não faz bem, o bem não deve fazer barulho, como fazem alguns líderes de várias atividades, inclusive política. Ao contrário do que quase rotineiramente se julga, líder é aquele que promove os outros e não a si mesmo.


86727
Por Manoel Hygino - 27/5/2023 07:53:12
O PIX e a Covid

Manoel Hygino

As autoridades brasileiras, parece, chegaram ao ponto de não saberem mais como agir para enfrentar o crescimento registrado pelos facínoras que praticamente tomaram boa parte do país, aplicando golpes aos cidadãos e segmentos honestos. Há ou não solução para evitar o que acontece desde o Pix, principalmente? Pergunto-me se os malfeitores têm mais criatividade para manter seus negócios sujos, porque ilícitos... É o que parece, com todo respeito que os conterrâneos têm com os agentes da lei.

O aumento do uso de serviços bancários digitais, como o PIX, durante a pandemia, levou a aumento significativo nos golpes e fraudes financeiras. Além do uso de softwares instalados nos celulares dos usuários, os golpes também envolvem técnicas de engenharia social, em que criminosos manipulam e enganam as pessoas para obter acesso a senhas e informações pessoais. Um dos golpes mais recentes é conhecido como "golpe do falso policial", em que os mafiosos se passam por policiais e afirmam que a conta da vítima foi invadida, pedindo que cortem o cartão, mas preservem o chip.

Outro golpe é o "golpe do vírus do PIX", em que os fraudadores se passam por funcionários bancários e enviam links para instalar aplicativos que dão acesso aos dados do celular da vítima. Outros incluem o "golpe do falso emprego", em que os inimigos da lei se passam por agências de emprego e pedem transferências em PIX para falsos exames médicos, e o "golpe do falso brinde/falso presente de aniversário", em que os golpistas oferecem presentes e cobram uma taxa, desviando a atenção da vítima para obter sua senha.

Também existe o "golpe do falso investimento", em que se criam perfis falsos de corretores ou funcionários de instituições financeiras para oferecer investimentos com altos retornos e pressionam a vítima a fechar negócio rapidamente. É importante não fornecer informações pessoais ou senhas por telefone ou em links suspeitos, verificando a autenticidade de chamadas e mensagens, bem como mantendo o sistema operacional do celular atualizado.
Que se há de fazer? Os criminosos estão operando tenazmente nessa área. Os falcatrueiros são experientes e corajosos.

E daí? São tão ou mais perniciosos que os coronavírus e a Covid.
O período que se encerra foi marcado por uma das maiores tragédias da história: a pandemia de Covid-19. Em nenhum outro país a quantidade de vítimas fatais foi tão alta proporcionalmente à população quanto no Brasil, um dos países mais preparados para enfrentar emergências sanitárias, graças à competência do nosso Sistema Único de Saúde. (Fonte: Agência Câmara de Notícias)


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Por Manoel Hygino - 24/5/2023 09:11:41
Pampulha projetada

Manoel Hygino

Belo Horizonte festeja os oitenta anos do complexo turístico da Pampulha, que é mais do que presentemente, mas foi algo com que sonhara Juscelino. Antes dele, o prefeito Otacílio Negrão de Lima cuidava de solucionar os problemas fundamentais da capital, como registrou o engenheiro Álvaro Andrade. No âmbito de “uma longa série de obras importantes, estava a represa da Pampulha, a ser utilizada, em tempo oportuno, como fonte de aprisionamento de água além de servir a prática de esportes aquáticos, inexistentes entre nós, pela ausência de uma massa líquida apropriada”.

O engenheiro Henrique Novais foi contratado para elaborar os estudos à construção da represa, considerando as alternativas para localização da barragem, levando-se em conta um campo de aviação logo abaixo.

Pensava-se com as várias captações de água projetadas inclusive com a resultante da lagoa que se formaria, atender a capital até o ano 1960. O que se conteria na Pampulha ficaria destinada exclusivamente ao atendimento daquela região.

O planejamento para fins turísticos se ampliou. Como o jogo era livre, JK – ao assumir a PBH – também fez crescer seu projeto, fazendo-o grandioso. Então se ergueram os edifícios que foram o conjunto arquitetônico, agora patrimônio da humanidade, por decisão da UNESCO. O funcionamento de tudo aquilo, para o que contribuíram as maiores expressões das artes e da arquitetura do Brasil, a começar por Oscar Niemeyer, atraía gente de todo o Brasil e mesmo do exterior.

A capital mineira passou a gozar de fama maior até do que Petrópolis, com o Hotel Quitandinha. Artistas de cinema vieram até aqui, cantores se apresentavam no Cassino, a fina flor da sociedade, como então se dizia, comparecia às programações luxuosas, permitindo que alguns intérpretes se apresentassem para o povão no Paissandu, um grande auditório construído junto à Feira Permanente e de Amostras, onde estão hoje a Rodoviária e seus anexos.

Belo tempo, com personalidades percorrendo as ruas da capital e participando de um período áureo. Mas chegou ao Catete o novo presidente da República, cuja esposa o obrigou a proibir a jogatina. E, em 1954, estourou a barragem da Pampulha.


86724
Por Manoel Hygino - 23/5/2023 09:15:36
Fantasia de Índio

Manoel Hygino

Nossos indígenas, verdadeiros e originais donos da terra que habitamos, estão em evidência. Nem poderia ser de outro jeito. Os invasores brancos, que aqui desembarcaram há mais de 500 anos, tomaram conta do território que lhes pertencia e os deixam em situação de submissão ou dominação, para fazerem prevalecer sua língua e seus propósitos.

Não se tratava de grupos de selvagens, como imaginaram os descobridores, mas de gente de identidade sabida, habitantes de regiões diversas nos múltiplos quadrantes. O Pe. Antônio Vieira, que sentiu seus anseios, dizia que eram setenta e duas línguas na Babel do rio das Amazonas. E advertiu: “Vede, agora, quanto estudo e quanto trabalho será necessário, para que falem e ouçam”.

Estava imensamente enganado o bravo sacerdote. Segundo dados do IBGE, além do português oficial, há 274 línguas indígenas falantes no território brasileiro. Tudo isto, sim. E Darcy Ribeiro, conterrâneo meu de Montes Claros-MG, e ardoroso defensor da causa indígena, observou:

“Somos uma nação etnicamente unificada e coesa, sem qualquer contingente oprimido a disputar autodeterminação. É verdade que uns quantos povos indígenas, para nossa vergonha, ainda estão reclamando a propriedade dos territórios em que viveram desde sempre e o direito de continuarem vivendo dentro de sua própria Cultura. Eles são tão poucos, e o que pedem é tão insignificante, que a dignidade nacional não há de negar-lhe. Isso seria fatal, hoje, não para o nosso destino, mas para a nossa honra”.

Mas ocorre, porque gerações posteriores aos invasores de 1500, não lhes dão sossego e lhes surrupiam o ouro do subsolo, madeiras, frutos, raízes e mais que possam. Não sem razão, Ailton Krenak, índio cá de Minas, reconhecido intelectualmente e pensador consciente, afirmou recentemente:

“Talvez a gente esteja vivendo, hoje, um dos piores momentos da nossa história social. Não apenas para o povo indígena, mas de intolerância e violência racial como um todo. Eu escutei de uma mãe, me contando que a filha dela, de 6 anos, surpreendeu a todo mundo, na escola. Foi liberada pela professora de usar o uniforme porque, no dia seguinte, poderia ir “fantasiada de índio”. E a estudante perguntou: “Índio é uma fantasia?”.


86722
Por Manoel Hygino - 20/5/2023 07:33:34
Aniversário chegando - 124

Manoel Hygino

Não me permito esquecer ou deixar para depois a redação do texto. No dia 21 de maio, comemora-se mais um aniversário da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte, a primeira entidade da área de saúde da capital. A capital mineira inaugurada em 1897, e em menos de dois anos, em 1899, apareceu a grande obra pia, concebida segundo os princípios de quem fundara, no ocaso do século XV: a rainha de Portugal, Leonor de Lancastre.

Dispensável talvez, esclareço que Misericórdia é palavra que significa “doar seu coração a outrem”, aos que necessitam, aos carentes, citados por São Mateus, em seu Evangelho. E é o que inspirou a soberana lusitana, depois da morte de seu marido e de seu filho único, em acidente.

Em 15 de agosto de 1498, numa capela anexa à Sé de Lisboa, instalou-se a primeira irmandade da Confraria de Nossa Senhora da Misericórdia, na época dos grandes descobrimentos e da disseminação do ideal cristão das Misericórdias.

O nascimento da Santa Casa de Belo Horizonte sucedeu à Sociedade Humanitária, da Cidade de Minas, de curta existência. Mas já estava cristalizada a ideia da Santa Casa, as autoridades se uniram, médicos vinham de São Paulo e Rio de Janeiro, enquanto famílias e pessoas procedentes das regiões mais distantes fluíam em busca de lenitivo e cura de seus males na primeira capital brasileira a servir de sede estadual.

Assim foi. Menos de dez anos após a proclamação da República, a Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte começou a receber doentes e atende-los em barracas de lona, antes empregadas pelos operários de obras. De lá para cá, no bairro que se transformou em sede do quartel da força pública, a Santa Casa só cresceu, fruto da solidariedade dos que estavam à frente do empreendimento, desdobrando-se unicamente pela imposição cristã de servir aos que careciam de amparo médico. Associação não oficial procurou ajuda no poder público sempre que necessário.

A Santa Casa de Belo Horizonte é um complexo hospitalar de grandes dimensões, maior do que muitos no gênero. Ocupa várias áreas do bairro Santa Efigênia, presta assistência de elevado nível, conta com mais de 5.500 colaboradores-empregados, goza da confiança da sociedade, a cujos segmentos permanece servindo nas mais diversas especializações. É um orgulho para todos nós.


86719
Por Manoel Hygino - 17/5/2023 08:55:39
Independência e pobreza

Manoel Hygino

Os veículos de comunicação exploraram à suficiência o transcurso de mais um aniversário do 13 de maio, do fim da escravidão no Brasil?, em 1888. Procederam como deviam, considerando a importância de uma data de tamanha relevância.

Continuamos também sofrendo os horrores da desigualdade, depois de duzentos anos de independência. Que independência é esta?

O povão se aproveita dos finais de semana prolongado para explosões de alegria (no fundo, sem razões), gastando o dinheiro suado do ganho nos dias antecedentes, ou angariado por força do furto ou do roubo, que constituem um marco do tempo difícil que se atravessa.

Quando se festejou os 200 anos da nação independente, Cristovam Buarque, professor emérito da Universidade do Brasil e membro da Comissão Internacional da Unesco para o futuro da Educação, perguntava o que havia a saudar, se o Brasil se encontrava com 33 milhões de pessoas famintas e mais de 20 milhões com alimentação deficiente; cerca de 13 milhões de analfabetos e 25% da população pobre.

Para Cristovam, a pobreza continua porque não desperta sentimento político de solidariedade, nem entendimento conceitual correto. Para ele, o problema está no coração dos políticos, que não sofrem por causa da pobreza.

Sente-se que a principal fonte da pobreza é a ausência do entendimento de suas causas. Ela não é gerada pela falta de crescimento e de renda na economia, mas por falta de comida, moradia, água, esgoto, atendimento médico, transporte urbano, escola, segurança. Para praticamente tudo, há necessidade de políticas de Estado.

E saiba-se: a escravidão afeta não somente os pobres, pois amarra toda a sociedade. Para Joaquim Nabuco, tão pouco lembrado, exige-se o “instituto nacional”, com entendimento adequado das políticas estatais e com estratégia que assegure a cada um o que precisa para sair da penúria.

Falta, pois, ainda muito para conquistar efetivamente a independência e o fim da escravidão, que não é só de negros. Os tempos correram céleres ou vagarosos, no entanto, as “classes” superiores, as privilegiadas, não quiseram perceber o mal que causam para as gerações que virão.

É preciso, imprescindível, mudar a mentalidade e o sentimento dos que vivem esta hora “dificultosa”, como diria Guimarães Rosa.


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Por Manoel Hygino - 13/5/2023 08:00:01
Sob nova direção

Manoel Hygino

Cumprindo dois mandatos à frente da Academia Mineira de Letras, seu presidente Rogério Vasconcelos Faria Tavares entregará para cargo a seu sucessor, Jacynto Lins Brandão, eleito sem a polarização registrada no âmbito da administração pública federal. Tudo transcorreu na maior tranquilidade, embora com entusiasmo que o pleito impôs por óbvias razões. A primeira por sinal era lícita: Rogério, pelos estatutos, não poderia concorrer uma terceira vez, enquanto o segundo mandato terminava.

O presidente está com a consciência tranquila. Fez o que podia e talvez mais para dar à centenária entidade o vigor e as inovações que os tempos obrigam, já que fundada em Juiz de Fora, passou dos cem anos. Muita coisa evoluiu, as pessoas são outras, embora permaneça aquele interesse por oferecer, a cada eleição, vitalidade e juventude à veterana instituição.

Nestes anos mais recentes, a AML ingressou no universo virtual, tornando mais acessível sua riqueza a novos públicos, o que já constata por ter produzido resultados notáveis, inclusive disponibilizando palestras, entrevistas e debates em seu canal do YouTube. O ainda presidente elencou uma série de inovações, que honram os que ocupam cadeiras em sodalício tão respeitável.

Ainda neste mês, assume o cargo o professor Jacynto Lins Brandão, nome dos mais prestigiados de nossas letras e de nosso magistério universitário. Professor emérito da UFMG e um dos tradutores mais respeitados do Brasil, é profundo conhecedor da poesia clássica e devotado estudioso da literatura antiga, aparecendo em nossos meios literários com destaque como pesquisador, romancista e tradutor.

Ao chegar agora aos 69 anos, Jacynto surge no cenário como poeta, cujo conteúdo se liga ao trabalho que vem desenvolvendo durante os 41 anos de carreira acadêmica. “Mais (um) nada”, lançado pela Editora Quixote+Do, é um livro grave, “escrito pelo viés de uma percepção pessimista do mundo”. Seus versos passam pela reflexão presente, de perda coletiva vivida no Brasil e no mundo. O autor mesmo diz: “o livro traz reflexão que se aplica este momento de perda, reflexão sobre o nada, a efemeridade das coisas humanas”.

O que não é efêmero é a Academia e os planos de Jacynto, dando sequência aos que empreendera o seu antecessor. Ainda bem.


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Por Manoel Hygino - 9/5/2023 07:58:20
Falando de Prados

Manoel Hygino

O resgate do nome e da participação de Hipólita Jacinta Teixeira de Melo na Inconfidência Mineira, em solenidade em Ouro Preto, em 29 de abril último, é uma inequívoca demonstração de que a História pode atrasar, mas não se exima de fazer justiça aos que a merecem. Foram necessários 234 anos após o desenlace da conjuração para a nação render homenagem devida à única Integrante ativa do movimento.

Hipólita não só recebia os idealizadores do movimento libertário em sua fazenda Ponta do Morro, em Prados, nas imediações de São João del-Rei, como incentivava o movimento com a cessão de sua casa para os necessários entendimentos, além de oferecer apoio financeiro a algumas de suas ações.

O fato não ficou ignorado pelos donos do poder colonial, tanto que todos os bens do casal - ela e o marido - foram arrestados pela coroa portuguesa, como relata a historiadora Heloísa Starling, também professora da UFMG. Ao depositar uma caixa com terra da propriedade de Hipólita junto aos despojos das demais Inconfidentes no Panteão do Museu da Inconfidência, na velha Vila Rica, Minas e o Brasil se recuperam do olvido de mais de dois séculos, como também destacou a ministra Carmen Lúcia, do STF, durante a solenidade.

Chegara a oportunidade de um resgate histórico, Já que as mulheres lembradas da conjuração não tiveram papel concreto no movimento, que puniu com enforcamento Tiradentes.Recordo Prados, onde nasceu, em 1748, Hipólita nas terras mais ricas da comarca do Rio de Mortes. Seu topônimo é inspirado nos Irmãos Prados, iniciadores da exploração de ouro no local, que já pertenceu ao município de São José del-Rei, hoje Tiradentes, e se tornou município e vila por decreto de 1890.

Suponho ser esta hora de um livro, contando a história, na versão conveniente e, há muito ainda a lembrar sobre a conjuração que fez de Joaquim José o herói consagrado pela República. Àquele grupo o Brasil deve muito do que é e poderá ainda ser.

Quanto a Prados, lá fui, no governo Magalhães Pinto, quando presidente da Cemig, o ex-prefeito da capital, Celso Mello de Azevedo que me convidara para assessorá-lo. Tratava-se da inauguração da rede de distribuição de energia do município. O motorista diminuiu a velocidade do carro na tranquila cidade e explicou que evitava atropelar os porquinhos que fugiam dos quintais de seus proprietários por buracos nos muros divisórios. Alguns apelidavam Prados de Porcolândia, mas soube também que excelentes fabricantes de selas ali residiam.


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Por Manoel Hygino - 3/5/2023 09:01:01
Tempo de Silviano Brandão

Manoel Hygino

Há dias, evocamos aqui em João Pinheiro, mais do que nome de uma avenida em Belo Horizonte, mas uma das mais vigorosas expressões da política e da administração pública brasileira em período delicado na vida do estado e do país. Não posso, entretanto, deixar no esquecimento Silviano Brandão, que esteve à frente dos destinos de Minas entre 7 de setembro de 1898 a 21 de fevereiro de 1902 sendo a capital já Belo Horizonte.

Minas Gerais viveu em sua gestão terrível crise, e o chefe do governo se viu na contingência de enfrentar. Ele o fez com coragem, desprendimento e sacrifício, que levaram à morte, o primeiro da longa série de dirigentes que faleceram no posto.

Como ressalta João Camillo de Oliveira Torres: “teve de lançar mão de todos os recursos. Cortou despesas enquanto lhe possível, fechando escolas em estabelecimentos de grande necessidade, demitindo funcionários. Dizem depoimentos pessoais que assinava os atos chorando, pois compreendia que levava o mal a amplos setores do povo, mas não lhe restava outro meio”.

Minas, endividada ao máximo, não conseguia empréstimos para fazer frente suas enormes e incontáveis dívidas. Silviano, contudo, não se deu por vencido e se viu na contingência de buscar socorro no Morro Velho, a famosa de São João del-Rei.

Foram os ingleses de Nova Lima que forneceram dinheiro ao Palácio da Liberdade, até que Silviano encontrasse outros meios e instrumentos. Entre estes, a criação do imposto territorial, o que não repercutiu bem. Mas o que fazer aquela altura?

Era uma solução heroica, adjetivo usado por João Camillo. Os fazendeiros, que constituíam a força mais poderosa de Minas, reagiram, pretendendo fundar um partido para defesa de seus interesses.

Conta-se que Silviano Brandão chegou arrumar as malas para deixar o Palácio. Os piores tempos foram vencidos, mas o presidente de Minas não teve tempo para assistir alegro finale. Suprimiu verbas, suspendeu serviços, extinguiu cargos e comissões, reformou o sistema tributário, conseguindo a representação mineira no Congresso Nacional.


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Por Manoel Hygino - 2/5/2023 09:30:30
Novo canal do Panamá

Manoel Hygino

A notícia parecerá nova para milhões de pessoas. E há razão. Seu conteúdo é inédito para elas, que não leram antes, muitos decênios antes. Trata-se da construção de uma mega estrada, com 2.200 quilômetros, ligando os oceanos Pacífico e Atlântico.

Deste modo, ligará o Brasil ao Chile, desde Santos, nosso maior porto marítimo, a Antofagasta, já Pacífico, passando pelo Paraguai e Argentina. Graças a esse projeto fantástico, mas perfeitamente realizável, a realidade econômica da América do Sul se transformará. Para melhor.

E a ideia é mais ambiciosa: haverá uma ferrovia paralela, que contribuirá para mudança ansiosamente sonhada pelos que veem longe e com esperança. Chega-se a afirmar que o duplo empreendimento será uma espécie de Canal do Panamá, que mudou mais que a geografia.

Só a rodovia facilitará o transporte de gado e produtos de exportação para os portos do Atlântico e Pacífico, beneficiando fazendeiros e camponeses, reduzindo a logística em até 25% para exportações aos mercados da China e da Índia, os países mais populosos do mundo.

Os governos dos países envolvidos no projeto demonstraram apoio, incluindo o presidente paraguaio Mário Abdo, que afirmou que a rodovia reduzirá em cerca de 25% os custos de logística para o setor produtivo.

A rodovia passará por áreas como o Gran Chaco, no Paraguai, abrigando diversas espécies de animais e plantas. Falta, em verdade, disposição sincera e decisiva para empreendimento, já que as nações da América do Sul seguem enfrentando suas disputas e mazelas políticas, mesquinhas em grande parte, em prejuízo de seu futuro e do futuro de seu povo.

Claro que, para se passar do terreno do sonho ao da realidade, também têm de agir os setores produtivos e empresariais regionais, que ainda não se motivaram para tão magno desideratum. Ter-se-á, quem sabe, de apelar para a pertinácia e suprema vontade de um Ferdinand de Lesseps, francês, diplomata, de quem partiu a iniciativa de Suez mesmo enfrentando a frieza da Inglaterra. Levantou ele 300 milhões de francos, com que deu partida à consumação de seu ideal, lá pela metade do século XIX. Vencedor naquela parte do mundo, finalmente acedeu ao chamamento do outro lado do planeta e incentivou a abertura do canal de Panamá, nas Américas.


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Por Manoel Hygino - 29/4/2023 07:23:19
A voz de Minas

Manoel Hygino

Transcorridos 231 anos do sacrifício de Joaquim José da Silva Xavier, no Rio de Janeiro, comove-se o povo brasileiro que conhece as causas que levaram à condenação e enforcamento de Tiradentes. Os conterrâneos de Minas Gerais, de ontem e de hoje, conheciam e conhecem as motivações superiores que levaram ao fatal desenlace.

A nação nesse extenso período aprendeu a conviver com os faustos de seus governantes e dos mais abonados pela riqueza.

Nunca, porém, os segmentos conscientes da população ignoraram o clamor que emanava dos segmentos mais expressivos da população, porque os mineiros tinham voz e queriam ser ouvidos.

Tiradentes pregou a ideia de liberdade, com grande veemência e sem maiores cuidados e receios. Com menos de 50 anos, entrou para a História pela ousadia de, aliado a outros descontentes corajosos, pretendiam aqui instalar uma grande nação.

Há oitenta anos exatamente, de Minas partiu uma nova conjuração, então contra a ditadura instalada a partir de 1937. As montanhas não se calaram. Na Europa. Os brasileiros lutavam contra o nazifascismo. O Brasil, que, no século XIX, fora modelo de governo democrático, que desde 1824 tinha Constituição e, desde 1826, eleições, além de liberdade de Imprensa, sentiu que não poderia viver indefinidamente sob o jugo ditatorial. Minas, mais uma vez, partiu para o bom combate, através de um Manifesto, tornado público em 24 de outubro de 1943, há exatamente oitenta anos.

Divulgado o texto, bem moderado por sinal, em cópias datilografadas e mimeografadas, o governo federal desfechou uma acirrada onda de perseguições contra seus signatários.
Mas a voz de Joaquim José estava nas palavras do Manifesto dos Mineiros era altiva, clara e uníssona. O agora Estado, novamente, fez ecoar seu apelo por todos os recantos da nação, no que seria acompanhado pelas vozes mais autênticas e fortes em defesa da democracia, como aliás se repete nestes decênios posteriores. Em verdade, o esforço não pode ser considerado definitivo. Ainda há aqueles que não compartem com Minas Gerais os ideais que conduziram a se vencer horas sombrias para nossa gente, seus princípios e objetivos. Historicamente, as montanhas não se renderam, nem se renderão.


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Por Manoel Hygino - 26/4/2023 10:38:21
Koch crescendo

Manoel Hygino

Belo Horizonte teve fama de ser a cidade que abrigava o maior número de tuberculosos do Brasil. O clima era bom, ameno, servia perfeitamente aos que padeciam de doenças respiratórias e para receber os que pretendiam recuperação. Instalavam-se pensões exclusivamente para hospedar os enfermos. Uma época difícil.

A Santa Casa, fundada em 1899, cumpriu então a missão de receber esses pacientes. Assim, em 1910, inaugurou o Pavilhão Robert Koch para internação dos já diagnosticados, construído na área interna do terreno de que dispunha. Logo se constatou que havia necessidade de mais leitos, criando-se o Pavilhão São Carlos, só para sexo masculino, enquanto o interior se destinava ao feminino.

A cidade crescia e também a tuberculose. Assim, com 100 leitos especializados para a patologia, construiu-se e se pôs em funcionamento em 1934 o Hospital Imaculada, só para tuberculosos e onde se iniciou a cirurgia torácica na capital.

Belo Horizonte, graças em grande parte à Santa Casa de Misericórdia, conseguiu vencer a empreitada, contando com esforços médicos, com o interesse do governo e, em determinado momento, a Juscelino, já presidente da República.

No entanto, o problema volta a ameaçar em dimensões nacionais. O mal estava superado apenas temporariamente. Presentemente a enfermidade mata 14 pessoas por dia no país - uma a cada 36 horas em Minas Gerais.

No ano passado, foram 78 mil novos casos em território nacional, sendo 3.893 apenas em Minas Gerais. Observe-se que, são expressivos os dados relativos aos menores de 15 anos, revelando o maior índice desde que a pesquisa começou a ser feita pelo governo federal, em 2012. Considerada a subnotificação, admite-se, consoantes informações da Organização Mundial de Saúde, que a doença atinja alto percentual entre as patologias estudadas.

É hora de todos ficarem atentos e com sentimento no problema. Não se admitirá um novo retrocesso, na segunda década do século XXI. Já perdemos numerosas vidas durante o período anterior, que inclusive gerou má referência sobre a Capital, embora as reconhecidas vantagens que se ofereciam aos doentes procedentes de toda a nação.

A ciência evoluiu sim, mas a população tem de ajuda-la e a si mesma, não faltando às medidas profiláticas existentes, a começar pela vacinação contra diversas patologias.


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Por Manoel Hygino - 25/4/2023 09:36:31
Prazer para o público

Manoel Hygino

Edmilson Caminha lançou mais um livro, exatamente um mês depois da data de meu “cumpleãnos”, como dizem os de língua espanhola. O evento, como se costuma dizer agora, foi na sede da Associação Nacional de Escritores, na Asa Sul, em Brasília, pela editora Vitália.

Antes da sessão de autógrafos, o autor fez palestra sobre os “100 anos de Fernando Sabino, que “nasceu homem, morreu menino”, no auditório Cyro dos Anjos, da ANE.

Tudo disfarçadamente sem chamar atenção, pois Cyro, mineiro de Montes Claros, foi colaborador muito próximo de Benedito Valadares, governador de Minas, durante o tempo em que Vargas esteve no Catete; e Fernando Sabino, cujo centenário ora se festeja, se fez genro do ocupante do Palácio da Liberdade, além de presentear o distinto público com seus excelentes “O encontro marcado” e “O grande mentecapto”.

A nova obra de Edmilson Caminha tem o título de “A noite em que dei autógrafo a Belchior”, recorda o já remoto tempo em que foram estudantes de Medicina na Universidade Federal do Ceará, com o escritor no primeiro ano, e o cantor e compositor já no quinto. O cronista e articulista comenta: “Pelo menos duas coisas em comum: abandonáramos os estudos médicos e apreciávamos a poesia de Carlos Drummond de Andrade”. E aqui entra mais um mineiro em cena.

Esta é a vigésima publicação de Caminha, todas recebidas com entusiasmo pelo leitor, durante os 30 anos residente em Brasília, em que integra prestigiosas instituições dedicadas às letras, como a Academia Brasiliense e o PEN Clube do Brasil, afora o Observatório da Língua Portuguesa, em Lisboa.

Um artigo focaliza Guimarães Rosa, o mineiro de Cordisburgo que conquistou o Brasil com sua obra consagrada e um segundo evoca Santos Dumont, vencedor dos espaços aéreos e admirado não só pelos franceses de sua época. Enfim, o novo livro deste cearense irá agradar ao gosto e à inteligência brasileira merecendo o elogio merecido num período em que tanta besteira chega às livrarias.

Edmilson - já se pode afirmar sem medo de errar - se tornou um nome em termos de literatura brasileira, em que começou como professor em seu estado de nascimento. Viajou pelo mundo, conheceu lugares fantásticos, participou de aventuras inimagináveis, descreve com habilidade que só os bons autores fazem. Ler o que ele escreve é, assim, quase um saboroso dever didático, que se tem de desfrutar. É o que prova no novo livro, que tem Belchior e muito mais gente de prestígio como personagens.


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Por Manoel Hygino - 22/4/2023 07:52:15
Casa de João Pinheiro

Manoel Hygino

O recente incêndio em parte da Escola Normal Modelo de Belo Horizonte, hoje Instituto de Educação, nos reacende a chama do interesse em torno de João Pinheiro. Afinal, foi ele o construtor da obra, como presidente de Minas no princípio do século XX. E não foi reduzido o legado que transferiu ao seu sucessor ao deixar, pela morte prematura, a chefia do governo.

O saudoso advogado Aristóteles Atheniense, ex-presidente da Academia Mineira de Letras Jurídicas e membro do IHGMG, por João Pinheiro também fundado, evocou a personalidade do filho do imigrante italiano vindo da Toscana, em discurso pronunciado em 16 de dezembro de 2017, em frente ao monumento erguido em sua homenagem na praça Afonso Arinos, no dia de seu aniversário.

Aristóteles registra, repetindo o historiador José Murilo de Carvalho, que Teófilo Otoni, João Pinheiro e Juscelino trouxeram consigo características comuns: todos vieram das cidades mineradoras, descendiam de famílias pobres e ganharam a vida à custa de seus próprios esforços. De Pinheiro se pode afirmar que representou a voz da terra e do ferro, a passagem da mentalidade agrária para o desenvolvimento.

Disse o orador: “Vale repetir agora, nesta fase calamitosa que nos aflige, reverberações que não perderam a sua valia, contidas no manifesto Programa do seu governo, lançado em 1905”: “A escrupulosa gestão dos dinheiros públicos, a interna obediência às leis, o máximo respeito às liberdades do cidadão, o acatamento aos reclamos da opinião pública, à livre manifestação das urnas, são os fatores saudáveis onde o coração republicano bebe força e alento, para ser digno dos princípios que professa e do ideal que ama”.

Em jornal editado na sul-mineira Campanha, novamente alertava o ilustre Pinheiro: “Com a implantação da República, não há senhor, rei ou imperador, todos são cidadãos republicanos submetidos ao império da Lei e no governo de todos para todos”.

João Pinheiro viveu as experiências da pobreza e das dificuldades da ascensão social, que se transformaram na proposta dirigida aos seus eleitores contra as eleições a bico de pena, que beneficiavam as famílias provindas das tradicionais.

Com seu falecimento, em 25 de outubro de 1908, às vésperas de chegar aos 48 anos, como exemplo à atuação em Minas e no país, João Pinheiro permanecia sem dinheiro. Para comprar-lhe uma casa, reuniram-se amigos e admiradores e juntaram dinheiro para a casa própria do ex-presidente.


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Por Manoel Hygino - 19/4/2023 10:32:50
Festa de maio

Manoel Hygino

No quinto mês deste ano, a temperatura ficará mais aquecida em Montes Claros, a cidade de maior poder econômico do Norte de Minas. Não me refiro ao registro do termômetro, mas ao clima cultural e artístico da região, já que então se realizará ali o II Festival Literário do Autor Montes-clarense, repetindo-se o êxito do primeiro evento.

O programa será cumprido no Centro Cultural Hermes de Paula, de 16 as 21 horas, nos dias 02 a 07 de maio, com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura, da Unimontes e sua editora, numa iniciativa e condução da Academia Montes-clarense de Letras e da Academia Feminina de Letras de Montes Claros, embora os promotores do evento sublinhem que quem faz o FLAM é autor montes-clarense.

Na Cidade da Arte e da Cultura, como jactanciosamente os escritores locais vem mostrar, mais uma vez, que a vocação literária de Montes Claros mantém-se viva e vigorosa, depois de ter dois de seus filhos: Cyro dos Anjos e Darcy Ribeiro elevados à Academia Brasileira de Letras. Tanto é verdade que, no final ao ano passado, o presidente da AML, Rogério Faria Tavares, transferiu simbolicamente a sua sede para MOC.

Como na edição anterior, a Organização do 2º FLAM está programando atrações culturais do interesse da indústria livreira e da população local. Haverá lançamentos de livros, Livraria 2º FLAM de autores montes-clarenses, mas também é aberta a autores mineiros presentes ao evento, haverá ainda palestras, shows, rodas de conversa, oficina criativa, Trilha da Leitura, documentários e afins, para enriquecer o Festival.

A Livraria FLAM de 2022 foi uma festa de livros raros, há décadas fora do circuito e que, a população, atendendo ao pedido da Organização do evento tirou das gavetas e ofereceu ao público leitor obras de grandes escritores. Foram sessões de raro deleite para quem teve a sorte de adquiri-los a preços módicos. Este ano o feito se repetirá.

O ambiente do Centro Cultural contará com nova identidade visual, criada por Júnia Rebello, sobre a marca do ano passado, enfatizando as cores das duas academias: azul e lilás, para chamar a atenção de autores e leitores para que participem dessa festa do intelecto, com incentivo à cultura e ao conhecimento.

Serão lançados 12 livros para adultos, sendo dois em cada noite e quatro para crianças e adolescentes à tarde. Os autores deverão ser montes-clarenses nativos ou moradores na cidade.


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Por Manoel Hygino - 18/4/2023 09:18:30
A China como é

Manoel Hygino

Enquanto a comitiva do presidente da República descia em Xangai apanho, por coincidência, o volume de “Ensaios Humanísticos”, de Marco Aurélio Baggio, lançado em 2009, em que há um artigo sobre o título “China”, com o objetivo de “querer entender as coisas”. Médico psiquiatra e psicanalista, Baggio (que não está mais entre os vivos) foi permanente participante de congressos e conferências, e comentou o entusiasmo do Ocidente pela grande nação asiática.

Escreveu ele: “A mídia enaltece a prosperidade chinesa, embaçada pelo crescimento médio do PIB em 10%, sustentando há cerca de 30 anos: 1979-2008. Comentaristas internacionais não cansam de propalar que a China será a segunda potência do mundo ou, mesmo, que superará os 15 bilhões de dólares do produto interno bruto dos EUA”.

Mas observa: “É próprio da natureza humana criar ilusões – dragões – para com ele maravilhar-se e temê-los. Há 15 anos, Lester Thurow em seu livro “Cabeça a cabeça”, 1993, Rocco, previa que o Japão seria a economia preponderante na virada do século vinte, vencendo a competição com os Estados Unidos e a União Europeia). Sua previsão falhou. Há quinze anos, o Japão patina sobre suas contradições, com um crescimento pífio. É hora de avaliar o que sucede com a China”.

E o professor mineiro aduz a suas anotações: “O Império do Meio possui 20% da população mundial, 1.3 bilhões de indivíduos. Dispõe de apenas 7% da água do mundo. Poluíram e esvaziaram o rio-mar da China – o Huang – o rio Amarelo, criando o segundo maior desastre ambiental do planeta. Apenas menor que o desastre ecológico que os russos concentraram sobre o mar de Aral. A maior parte do rio Amarelo tornou-se biologicamente estéril, imprópria para o consumo humano. Tornaram-se os habitantes de sua bacia vitimados por altíssimas taxas de câncer de estômago e de esôfago, envenenados pelas águas poluídas por dejetos industriais e humanos. Em nove dos dez anos da década de 90, o Amarelo foi sangrando a tal ponto que não conseguiu chegar a sua foz, na bacia do mar de Bohai”.

A despeito de tudo isso e muito mais, a China é a grande potência com a qual o Brasil mantém uma pauta comercial fantástica. Vamos ver o que Lula traz de novidade útil para este lado do mundo.


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Por Manoel Hygino - 15/4/2023 07:26:11
Uma hora delicada

Manoel Hygino

Estamos no segundo trimestre do agora chamado Lula 3, o terceiro mandato do presidente Luís Inácio Lula da Silva. Foi um grande desafio vencer a guerra no pleito do ano passado para definir o sucessor de Jair Bolsonaro. Um prélio difícil e acirrado, dadas as condições especiais do mundo naquele período e as circunstâncias bem típicas do Brasil no período final do presidente anterior.

Agora, sente-se que as divergências, algumas radicais entre os contendores, persistem, como aliás se previa. A situação mundial permanece nebulosa e têm sequência disputas territoriais e ideológicas. Que dizer da participação de Putin em tudo isso a que se assiste? Enquanto o presidente Lula sonha em contribuir para dar fim à guerra com a Ucrânia, o distinto eleitorado brasileiro luta contra os preços de bens alimentícios, dentre os demais.

Um esforço enorme espera os novos dirigentes da nação. Sabe-se que há forças que apostam em obstar o trabalho que se quererá certamente empreender. É incontestável que segmentos democráticos que se posicionaram a presidente Lula, particularmente no segundo turno, têm grande responsabilidade em tudo isso, porque há um cenário de ingentes dificuldades econômicas e instabilidade política que precisam ser superadas, para que o país possa voltar a ter uma vida normal.

O apoio das forças que compõem a ampla coalizão do governo, independentemente de idiossincrasias pessoais e divergências políticas pontuais, é fundamental para defesa da democracia. O presidente tem responsabilidade imensa para fazer por onde merecer esse apoio, sem o que não terá a oportunidade de levar seu governo a bom termo e sucesso.

Transcorridos os primeiros cem dias de gestão, o ambiente ainda é obscuro internamente. Tanto é verdade que o chefe da nação optou por viagens ao exterior, cujo bom sucesso repercutirá no plano interno, em que ainda não se encontraram tempo e vias para atendimento às reivindicações.

Desavenças e desentendimentos tampouco resolvidos ou superados, não é bom sinal, em face do quadro de demandas que persistem em todas as áreas de atuação do governo.

O povo terá de demonstrar muita paciência, porque nem tudo reside em ajuda financeira aos mais desvalidos. Até porque há ainda os que se aproveitam da situação difícil como se constata com o grande número dos que pleiteiam o auxílio família a que não têm direito. Há espertalhões em todos os setores e segmentos da população. Infelizmente.


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Por Manoel Hygino - 13/4/2023 08:55:20
A `gripezinha` mortal

Manoel Hygino

A desatenção pode ter resultado em desconhecimento de um fato dos mais importantes dos últimos anos, talvez de um período muito extenso de tempo. Em verdade, a pandemia que estigmatizou a vida de milhões de pessoas não é um registro simplesmente para o Brasil. Houve uma catástrofe que se estendeu por todos os países, ricos ou pobres, do ocidente ou do oriente.

Em março último, que já é passado, completaram-se três anos da primeira morte por Covid-19 entre nós, quando o Brasil alcançou a triste marca de 700 mil óbitos. O total consolida o Brasil como o segundo país em número de mortes pela pérfida enfermidade, apenas à frente os Estados Unidos.

Os jornais do dia 29 cá entre nós, compararam: é como se a população de uma capital inteira, como Aracaju, tivesse sumido do mapa pouco a pouco, nos últimos três anos. A traiçoeira história de vidas perdidas assinala também uma transformação no perfil da mortalidade se comparado com outros períodos, inclusive com referência a pessoas com mais de oitenta anos e imunodeprimidas.

A Fundação Oswaldo Cruz, que monitora registros de síndromes respiratórias graves, incluindo a Covid-19, também aponta mortalidade até três vezes superior em pessoas não vacinadas comparativamente àquelas que receberam doses para imunização.

O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (de que sequer o nome é falado ultimamente), advertiu em tempo hábil para a necessidade da vacinação. Não foi ouvido, recebeu criticas, foi afastado da vida política nacional, e a consequência é a que ora vivenciamos com números indesejáveis. Tentativas de mudar a situação em tempo oportuno em nada resultaram.

Ou melhor: o resultado é este que ai está, para lágrimas e sofrimentos de milhares de famílias, enquanto ainda padecem com os desastrosos danos da enfermidade. E é bom que atentemos: a Covid-19 permanece ainda a nos causar muitos incômodos cá no Brasil, como em outras nações. A Organização Mundial de Saúde alerta: a doença não foi eliminada. Eliminados foram os 700 mil habitantes desta parte do planeta que acreditaram que se tratava de uma gripezinha corriqueira e passageira. Não era.

Tanto é verdade que há semanalmente dezenas de novos casos registrados nos mais de 8 milhões e quinhentos mil quilômetros do território. Eles não podem ser esquecidos e descuidados, mas advertidos da possibilidade de serem contaminados outros grupos. A vida é uma só.


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Por Manoel Hygino - 11/4/2023 13:56:05
124 anos bem vividos

Manoel Hygino

Mês que vem é tempo de comemorar. Em maio, das Pastorinhas pelo interior brasileiro principalmente, também Belo Horizonte se rejubila por mais um aniversário da Santa Casa. Primeira Instituição de saúde da capital, foi fundada em 21 de maio de 1899, exatamente 10 anos da proclamação da República. A propósito, a defesa de Tiradentes, nosso herói maior, foi feita na Justiça com recursos financeiros fornecidos pela Santa Casa do Rio de Janeiro.
A entidade belo-horizontina é fruto do esforço, iniciativa e dedicação de cidadãos que – no principiozinho da nova metrópole – sentiram que na sede do governo mineiro, seria imprescindível um estabelecimento para oferecer assistência médica e hospitalar aos que para aqui se tinham transferido.
Assim é o espírito da SCMBH: atender quem ela precisa e isso vem muito anos antes do SUS, que agora presta relevantes serviços à coletividade, sobretudo dos segmentos menos favorecidos da população. Este o ideal inicial, este o proposito até agora e para sempre.
Hoje, a instituição maior das Santas Casas em Minas e uma das mais expressivas em todo o mundo lusitano em que se inspirou, desde a sua criação pela rainha D. Leonor de Lancastre.
Quem passa mesmo ao longe pelas ruas na metrópole vê aquele conjunto imenso nos lados do bairro Santa Efigênia, o antigo bairro do Quartel, e a identifica imediatamente. É o conjunto de maiores dimensões físicas e igualmente de prestação de serviços a enfermos. Obedece piamente à missão cristã de ajudar quem precisa na hora em que precisa. Minorar dores e salvar vidas é o objetivo maior.
E, agora em que o 124 anos é festejado, a instituição pede mais colaboração da sociedade. Seus planos são muitos, inúmeros os necessitados, e à filantrópica jamais faleceu a solidariedade dos belo-horizontinos.
Comprar produtos de qualidade, a um preço acessível, e ainda ajudar o maior hospital filantrópico 100% SUS de Minas Gerais. Desde o último dia 6 de março, é possível se unir a essa corrente de solidariedade, no Bazar Beneficente da Santa Casa BH, que abriu suas portas de forma permanente, na capital mineira. O Bazar está funcionando em um ponto próximo ao hospital, na rua Álvares Maciel, nº 588, no bairro Santa Efigênia.


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Por Manoel Hygino - 8/4/2023 07:28:52
Um bom que parte

Manoel Hygino

Este espaço pretende ser útil a todas as pessoas e segmentos que precisem dele para o bem comum. Quem acompanha os temas aqui examinados sentirá que estamos além ou acima dos fatos menos dignos da vida.

Hoje, vamos falar um pouco do menino Franciscus Henricus van der Poel, nascido em 3 de agosto de 1940, na cidade de Zoeterwoude, na Holanda. Vinte anos após, ingressou no noviciado e na vida franciscana.

Ordenou-se em 14 de julho de 1967. Formou-se em Teologia em sua pátria e licenciou-se em Filosofia na Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras, em São João del-Rei, transferido ao Brasil em 1967.

Novo Mundo, nova existência, a consumação de projetos já definidos de vida e de servir. Foi parar bem longe no território brasileiro: no Vale do Jequitinhonha, famoso pela pobreza de seu povo, humilde, distante dos mais importantes centros de desenvolvimento. Chegou, viu e gostou.

Em 1968, ei-lo iniciando deveres como sacerdote. Conheceu uma aliada em seus propósitos, Maria Lira Marques Borges, com quem iniciou um anônimo trabalho no campo musical na cidade de Araçuaí, agora recebendo um rico empreendimento de exploração de Lítio. Antes só se falava. Por enquanto, o fundamental seria aproveitar a notável índole daquela gente para as artes. E também o artesanato. Foi toda uma década, de aprendizado e ensino. Passou por um processo de conversão.

Entendeu a religiosidade popular e percebeu-se no direito de explicar-se. Mudando-se para Betim, mergulhou nas águas profundas da religiosidade popular. Estudou e viajou, participou de festas e romarias, visitou terreiros, navegou pelo São Francisco, caminhou pelo Nordeste.

Começou a elaborar um “Dicionário da Religiosidade Popular”, hoje com 1.150 páginas, enfocando do catolicismo a umbanda.

Em 14 de janeiro de 2023, Frei Chico realizou a sua Páscoa, aos 82 anos. Fundador do Coral Trovadores do Vale, percorreu Brasil afora e outros países, sendo um dos grandes incentivadores da secular festa da Irmandade dos Homens Pretos do Rio Araçuaí. Organizador e regente do Coral Tangarás de Santa Isabel, em Betim.

Frei Chico era membro do corpo docente do Instituto Jung, em Belo Horizonte; do Conselho do Centro da Memória da Medicina, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); do corpo docente de Teologia do Instituto Santo Tomás de Aquino; da Comissão Mineira do Folclore; do IHGMG, e da Ordem dos Músicos do Brasil.


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Por Manoel Hygino - 5/4/2023 09:13:13
Esperando livro raro

Manoel Hygino

Vai-se ligando fatos, datas e personagens. Publicara recentemente artigo sobre o dia em que ocorreu o famoso tiroteio de Montes Claros, estopim – segundo alguns – da precipitação da revolução de 1930, que resultaria na ascensão de Getúlio Vargas à presidência. Então, observei que, também num 6 de fevereiro, nascera em Lisboa o padre Antonio Vieira, que dispensa apresentação. Foi numa casa da rua dos Cônegos, filho de Cristóvão Vieira Ravasco, um santareno de família alentejana, e da lisboeta Maria de Azevedo.

Só fico conhecendo o detalhe por artigo do desembargador Rogério Medeiros Garcia de Lima, publicado na “Magiscultura”, de setembro de 2021. O magistrado, por sinal, passou recente fim de semana, encarcerado (a expressão é dele) em domicílio por causa do plantão judicial a seu encargo, mas também adiantando a redação de seu próximo livro.

Bom saber que o Dr. Rogério Medeiros, mineiro de São João del-Rei, irá publicar proximamente uma seleção de textos postados no Facebook e Instagram. O que não o impede de escrever reflexões sobre novas tecnologias, Internet, redes sociais com seus benefícios e malefícios, linguagem e literatura, temas que sempre lhe despertaram singular atenção. O mundo moderno o exige.

O desembargador vem pesquisando bastante e, para isto, consulta com frequência a “História da Civilização Ocidental”, do historiador e professor norte-americano Edward Mcnall Burns, cujo terceiro tomo foi editado pela Globo em Porto Alegre, em 1975.

Aliás, o nobre magistrado confessa que recorreu ao excelente livro, em 1977, pois adotado no segundo ano de seu curso, o artigo Científico, na Escola Preparatória de Cadetes do Ar – Epcar, em Barbacena. O magistrado revela que foi uma leitura difícil aos 15, 16 anos de idade, mas de especial alicerce para sua formação humanística. Posteriormente, já estudante de Direito, foi a vez do clássico “A cidade antiga: estudos sobre o culto, o direito e as instituições da Grécia e de Roma”, do francês Fustel de Coulanges (1830 – 1889). Foi nele que encontrou uma frase marcante: “Felizmente, o passado nunca morre totalmente para o homem”.

E havia muito mais que interessa. Marco Túlio Cícero, o grande orador e homem público romano (106-43 a.C.), filosofou: “De que vale uma vida humana se não estiver entrelaçada à vida de nossos antepassados, através dos registros da História? (in HADAS, Moses. Roma Imperial. Biblioteca de História Universal Time-Life, Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1969, p. 7).


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Por Manoel Hygino - 1/4/2023 07:32:47
Tesouros alheios

Manoel Hygino

Encanta-me a chegada de mensagens via e-mail. De gente da melhor qualidade, que muito me honra com suas palavras. No período azedo que o mundo atravessa e que de azedume impregna os homens, sem dominá-los contudo, sinto-me privilegiado pelas lições que surgem da impressora, sobretudo nos dias agitados de agora.

Jornalista, advogado, empresário bem sucedido no âmbito das comunicações, residente em Montes Claros por sinal, Paulo Narciso Soares, egresso da PUC, comenta: “Vivemos dias de grande perplexidade e incompreensão, generalizadas. A gratidão tão valorizada por nossos pais se esvai. A tecnologia, meritória que seja, afugentou o mundo que tínhamos, sem nada colocar no lugar. A verdade é severamente ridicularizada e o vicio se tornou a regra, e sua predicação fere em todos os sentidos. Os romanos já percebiam isso no “O, tempora! O, mores!” que seguimos repetindo”.

A seu turno, o ilustre desembargador Rogério Medeiros Garcia de Lima, lá da bela São João del-Rei, não deixa de acrescentar observações valiosas ao espírito e ao coração. Eis: “Nos últimos três dias, discorri bastante sobre a fé. Hoje escreverei sobre a razão. Para uns, adversária da fé (tal como Voltaire). Para outros – a quem acompanho – sua aliada (São Tomás de Aquino, por exemplo).

Meu filho Marcos, quase completando onze anos de idade, enfrenta uma dura adaptação à rotina de estudos do 6º ano (seria o antigo 1º ano ginasial). Tenho o ajudado nas tarefas escolares.

Disse a ele que eu ia pelos treze anos de idade e cursava a antiga 8ª série no saudoso Colégio São João (Salesiano), em São João del-Rei, um professor mencionou o filósofo francês René Descartes (1596-1650), citando sua célebre frase: “penso, logo existo”.

Precisamos utilizar bem a inteligência com que Deus nos brindou, enquanto seres humanos racionais.
Na Faculdade de Direito, li integralmente “O discurso do método” de Descartes. É um dos livros da minha vida. Começa o autor: “O bom senso é a coisa do mundo mais bem distribuída”.

Hei de concordar, apesar de o mundo ser hoje um palco de burrices. Passei a me guiar pelas regras do método cartesiano: só aceitar como verdadeiro o que for evidente ao espírito; dividir o objeto de estudo no maior número possível de partes; começar pelas partes mais simples e avançar para as mais complexas; sintetizar o que foi apreendido; fazer uma revisão completa e cuidadosa.

Sou cartesiano. Com temperos, claro. O excesso de racionalidade apaga a nossa sensibilidade. A razão precisa ser temperada pela poesia, pela beleza e pelo amor. A racionalidade exasperada levou a regimes totalitários, de esquerda e de direita”.

* Jornalista, escritor e membro da Academia Mineira de Letras


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Por Manoel Hygino - 30/3/2023 09:43:31
Em pratos limpos

Manoel Hygino

Atravessamos um período convulso no Brasil. Bastaria lembrar o que tem acontecido nestes quase três meses de 2023, para concluirmos que não estamos em paz e tranquilidade. Os fatos registrados em 8 de janeiro, em Brasília, não foram esquecidos ou guardados nas gavetas. Os brasileiros percebem e sentem que algo de errado e pernicioso ronda os destinos nacionais, enquanto as demais nações buscam soluções para problemas jamais equacionados à altura das imposições de um modo moderno, que resultasse em paz entre os povos.

Afinal por que estamos em guerra ou por ela ameaçados em todos os continentes e ocasiões? Não há possibilidade de se discutirem antecipadamente propostas e desafios que afugentem o conflito armado? Já teremos esquecido os mortos e o sangue derramado em dois conflitos mundiais?

Especificamente quanto ao Brasil, quais as pretensões exatas dos que invadiram as sedes dos Três Poderes da República no primeiro mês? As perguntas das primeiras horas ainda não tiveram as respostas claras e definitivas que a nação merece e requer. Há algo de perverso rondando o reino sul-americano em que vivemos, tanto quanto os imaginados na Dinamarca de séculos antes.

Os noticiários policiais das emissoras de televisão sobretudo de São Paulo, o estado mais rico da União, dão o recado e a síntese do ambiente em que estamos e da magnitude dos projetos da criminalidade ali instalada. Não se trata de mera invencionice ou de divulgação de fatos apenas maquinados por muitas e bem estruturadas equipes da bandidagem impostas ao país, de que os presídios recebem somente ao diminuto grupo de foras da lei. Estamos cercados por eles e eles também inseridos no inaceitável convívio.

Os recentes acontecimentos envolvendo criminosos que planejavam sequestrar e matar autoridades, inclusive o ex-juiz Sérgio Moro e familiares, bem como outros servidores identificados com o bem público, não são algo imaginários e frutos vadios da criatividade humana. Estamos em momento extremamente grave e inquietante.

Não se pode crer que a rebelião dos criminosos no Rio Grande do Norte seja simplesmente parte de um vasto plano de malfeitores presos ou daqueles que ainda não o foram. É algo que põe em risco a nossa já violentada paz, que fere duramente o direito de todos os de boa vontade e limpos de espírito.

* Jornalista, escritor e membro da Academia Mineira de Letras


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Por Manoel Hygino - 28/3/2023 10:42:15
Silviano, enfim

Manoel Hygino

Assentou-se, finalmente, a data de posse de Silviano Santiago na Academia Mineira de Letras: 24 de março de 2023. Poderia ter acontecido há mais tempo, se o escritor tivesse decidido assim. Ele esperou muito, como muitos esperaram que ele se dispusesse a ingressar na casa que recebeu de braços e corações abertos outros ilustres autores mineiros.

Estas montanhas têm servido de berço a grandes escritores. Alguns não chegaram a adentrar as portas do sodalício fundado em Juiz de Fora. Uma demora que não perdoou vários intelectuais e cultores das letras. Alguns alcançaram à glória da Academia Brasileira, sem subir os degraus da Mineira, apesar de seus mais de cem anos. É o caso, por exemplo, de Guimarães Rosa, nascido ali em Cordisburgo, quase chegando à famosa e fantástica gruta e Maquiné, que se achou preferível a casa de Machado à de que fora presidente Vivaldi Moreira. O mesmo se registrou com Darcy Ribeiro. Quase igualmente, aliás, ocorreu com o novo acadêmico. Silviano já praticamente eleito para a entidade do Rio de Janeiro, quando abriu mão da nobilíssima deferência, preferindo a Mineira.

Quem poderá julgar os alheios projetos?
Em junho de 1922, Silviano retirou sua candidatura à Casa de Machado ambicionada por notáveis de nossas letras. Ele mesmo declarou as razões: “Foi uma questão de foro íntimo e se refere muito à minha própria carreira. Eu me sustentei a vida inteira pela Universidade, sendo professor. Então, minha vida social sempre foi muito restrita à Universidade. Eu nunca dei aula em mais de duas Universidades simultaneamente. E, assim como sempre tive uma única Universidade, agora minha única academia. Não se acumula essas coisas. Tenho 86 anos. Restou, como se diz, a respeito de remédios, com a data de validade a perigo”.

O escritor nasceu em Formiga e se transferiu com a família para Belo Horizonte quando menino. Muita coisa aconteceu com ele desde então, após 50 anos no Rio de Janeiro com temporadas de estudos na Europa.

Quem ler sua entrevista em jornal da capital, recentemente, conhecerá o outro Silviano, aquele dos dias cadentes no início de carreira, vendo a foto com o sociólogo Theotônio dos Santos Júnior, o cineasta Maurício Gomes Leite, o poeta Ary Xavier, o produtor musical Ezequiel Neves, o poeta Pierre Santos e o crítico Heitor Martins. Perceberá que muito de belo nascerá ainda do apreciado escritor, agora imortal.

O rapazola talvez não pensara naquele distante 1955, que subiria as escadas do velho prédio de Borges da Costa na Rua da Bahia, cercado da admiração e do apreço de tantos outros autores do Brasil.


* Jornalista, escritor e membro da Academia Mineira de Letras


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Por Manoel Hygino - 22/3/2023 10:21:24
Brasil vende ao México

Manoel Hygino

Bastou que se identificasse um caso de vaca louca nestes oito milhões e quinhentos mil quilômetros de extensão territórial para a China, nosso maior importador e consumidor, estrilar e suspender a aquisição do produto. As mas notícias são céleres. E era somente uma pobre vaquinha lá no imenso chão do Pará. Coube explicar que o humilde vacum era caso singular e único de toda a manada, nada representando em perigo para os comilões asiáticos.

No mesmo período, aconteceu o contrário com o México, de que somos admiradores e apreciadores contumazes de boletos e de rum. Nosso país poderá novamente exportar carne bovina para a terra de Agustin Lara, - que após longo intermezzo nesse comércio - volta a importar a carne bovina do país que antes lhe fornecia sambas e outros gêneros e ritmos musicais.

Oportuno contar que o México autorizou a compra depois de doze anos de negociações. Isto mesmo, uma dúzia.
Para efetivar o negócio, o governo brasileiro habilitou 34 plantas frigoríficas. O México poderá comprar carne bovina de Santa Catarina, estado reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Aninal, OMSA, como zona livre de febre aftosa. Mas também poderá comprar carne in natura e desossada de outros quatorze estados declarados livres da malsinada aftosa, mediante vacinação.

O governo mexicano já publicou os requisitos zoosanitários para a compra de carne bovina do Brasil, último passo para a liberação dos 34 frigoríficos. A autorização ocorre um mês após o México liberar também à importação da carne suína brasileira.

Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária, a abertura do mercado mexicano representa uma oportunidade histórica para as relações comerciais brasileiras. A expansão dos mercados, informou a pasta, propicia a retomada do crescimento da pecuária, que sofreu um golpe no mês passado, com a tal descoberta de um caso atípico de mal da vaca louca numa fazenda em Marabá-PA, como se disse.

Em 2011, o Brasil havia pedido ao México autorização para exportar aves, bovinos e suínos àquele país. Desde o início do ano, destacou o Ministério da Agricultura e Pecuária, foram habilitadas plantas frigoríficas para a exportação para a Indonésia e derrubadas as suspensões de mais três frigoríficos para a comercialização aos chineses. Enfim, alguma informação benévola conosco.


* Jornalista, escritor e membro da Academia Mineira de Letras


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Por Manoel Hygino - 21/3/2023 09:17:58
Uma nova biografia

Manoel Hygino

Montes Claros é uma cidade que tem visgo. Gente de diversas regiões do país se dirigem para lá e decidem permanecer por períodos variáveis de tempo. Alguns até preferem estabelecer-se. Compram casa, definem-se por um negócio, mudam planos e eis montes-clarenses cheios de projetos. Pessoas pobres e ricas, ainda jovens e já maduros, instalam-se de vez. É seu novo habitat.

Escritor e prestigioso, o baiano Urbino Viana, há décadas, apareceu por lá e laborou uma monografia sobre a história local, que se transformou em sucesso em meio de leitores aparentemente desinteressados.

Estava atento a tudo e todos. De uma hora para outra, pegava o cavalo, para descer no centro carioca. Encontrava-se com famosos autores e atualizava-se enquanto contava o que aprendera sobre a cidade sertaneja.

Nélson Washington Vianna, nascido em Curvelo e diplomado pela celebrada Escola de Ouro Preto, se afeiçoou. Casado, fixou-se na cadente localidade e ali permaneceu com a esposa durante décadas, sem filhos, até resolver transferir-se para a capital para o descanso final.

Os dois Viannas levaram saudade e a deixaram entre amigos inesquecíveis. Ali, os visitantes ou habitantes ocasionais carregam consigo pegadas que não desprezam. Os exemplos são muitos, os nomes inumeráveis. Os naturais do pedaço ficam felizes e alegres, evidentemente.

Um desses brasileiros (porque também há estrangeiros de várias partes do mundo) é Dário Teixeira Cotrim, nascido em Guanambi, Bahia. Montou residência em 1968, após aposentar-se no Brasil. Advogado com excelentes condições de dedicar-se às pesquisas e às letras, tem-se revelado historiador, teatrólogo, poeta e articulista, oferecendo colaboração a todos os veículos de comunicação, além de participação nas entidades culturais do município, inclusive como sócio emérito IHC de MOC e de MG.

Após numerosos livros editados, e para isso criou a sua casa publicadora, Dário Teixeira Cotrim vem de lançar a biografia de João Chaves, um dos grandes valores intelectuais, artísticos e jurídicos de Minas, no século passado. Mestre de todos os instrumentos de uma banda de música, poeta de reconhecido merecimento, jornalista combativo e de mérito, como o classificou Newton Prates, João Chaves é um orgulho de sua cidade, merecendo a pequena biografia que acaba de se publicar.

* Jornalista, escritor e membro da Academia Mineira de Letras


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Por Manoel Hygino - 18/3/2023 08:59:02
Paraguai e PIB

Manoel Hygino

O tempo não para a aguardar o desenrolar dos acontecimentos. Já transcorreu um trimestre do quatriênio governamental do presidente Lula. Dir-se-á: três meses no período de 48 é algo diminuto. Mas muito aconteceu de bom e mal, neste lapso.

Quem se der ao trabalho de conferir o que se fez e poderia ter sido feito constatará que mais se teria diligenciado e produzido, mesmo com os naturais obstáculos do processo de transição. Há notícias boas e más. Enquanto ampliamos as relações com outras nações, debilitadas ou prejudicadas pela gestão anterior, percebemos que houve involução em determinados setores.

Veja-se o caso da produção agrícola, que é um dos nossos apanágios. O IBGE, no décimo dia de março, divulgava a redução em 1,3 por cento da safra deste ano, em termos de soja, arroz e milho. O Instituto, que é um dos organismos respeitáveis na administração, informou então sobre a safra de cereais, leguminosas e oleaginosas, com a diminuição mencionada, de janeiro para fevereiro, principalmente devido à estiagem provocada pela Niña no Rio Grande do Sul, terceiro maior produtor de grãos do país. O trigo passa igualmente por mau momento.

Não é algo para espantar, mas vale como advertência. Até porque a Fundação Getúlio Vargas, ao mesmo tempo que o IBGE, registrava recuo de 11 pontos no Indicador de Clima Econômico. Com o desempenho, o Brasil está no grupo de países pesquisados que registrou queda nos três indicadores do primeiro trimestre de 2013. “O cenário para o Brasil descrito pela pesquisa de estabilidade nas expectativas de uma piora acentuada (acima de 20 pontos), na avaliação da situação atual”.

Simultaneamente, o Paraguai puxa a melhora do clima econômico da região. Vejam só. Para crescimento do PIB, em 2023, houve mudanças nas previsões dos especialistas, com o “patamar revisto para cima no Paraguai, México e Argentina. A maior taxa de crescimento na região ficou com o Paraguai, onde a projeção do PIB passou de 3,9% para 4,6%. No México, a variação do PIB aumentou de 1,4% para 1,7% e na Argentina, de 1,1% para 1,2%”.

No entanto, nem tudo está perdido. O fundamental, ou melhor, o essencial é que haja tranquilidade para o brasileiro produzir.

Sinceramente, não vejo com bons olhos o ambiente e a hora em que nos encontramos.
Precisamos de paz efetiva, compreensão e convivência, o que até agora não alcançamos.

* Jornalista, escritor e membro da Academia Mineira de Letras


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Por Manoel Hygino - 15/3/2023 09:15:37
Pampulha octogenária

Manoel Hygino

Juscelino era um cidadão bem-humorado. Provou-o desde a infância, quando percorria as ruas de sua cidade natal para vender guloseimas, com cujo resultado diário contribuía com a mãe, Dona Júlia, para manter as despesas do lar, já que o pai não oferecia dinheiro suficiente para manter a família. Foi um período de muito esforço e boa vontade, como aliás descrevo em livro publicado há poucos anos.

Juscelino não desanimou, não era de seu gênio e feitio. Soube enfrentar as dificuldades e desafios ao longo da vida. Venceu cada etapa como cidadão e depois como médico e como político. Desdobrando-se como prefeito, conseguiu construir o conjunto arquitetônico da Pampulha, quando era presidente da República Getúlio Vargas e governador de Minas, Benedito Valadares.

Inaugurado em 16 de maio de 1943, o complexo da Pampulha (a barragem para acumular a água para obra do prefeito Otacílio Negrão de Lima), é composto do Museu de Artes – antigo Cassino, a Casa do Baile, o Iate Tênis Clube, e a Igreja de São Francisco, além do espelho d’agua e da lagoa.

A construção do complexo constituíra um desafio, porque não poucos julgavam que se tratava de um empreendimento perdulário, dinheiro jogado fora, como se dizia. JK jamais esmoreceu. Acreditava em Belo Horizonte e nos planos que alimentara para a cidade. Com o fim do Estado Novo, mais dificuldades. O presidente Dutra, sucessor de Vargas, tinha uma esposa, D. Carmela, com pensamento de que o jogo não contribuía para formação da sociedade e, religiosa e fiel a princípios, impeliu a União a decretar o fim de casinos no país.

O projeto teve de ser refeito integralmente, pois a própria igrejinha de São Francisco, projeto de Niemeyer, não foi imediatamente liberada para cerimônias religiosas. Um extenso tempo transcorreu para tornar viável o empreendimento, sendo o Museu, por exemplo, utilizado para instalação do Museu de Arte, na gestão do prefeito Celso Azevedo. Agora, no octogésimo aniversário do conjunto, o grande problema são as condições ambientais da região, cujo mau cheiro de longe se percebe.

E é um bem tomado pela Unesco, imaginem!

As soluções das autoridades no país são lentas, conduzindo para seu retardamento e crescimento dos preços. Isto tem de mudar!


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Por Manoel Hygino - 11/3/2023 07:54:33


O símbolo destroçado

Manoel Hygino

O aparecimento da ChatGPT, de Inteligênvia Artificial, está causando furor na internet mundial. Não podia ser de outra maneira. O mundo vai se tornando mais acessível ao homem. Os jornais, as folhas impressas, parecem algo extremamente longínquo no tempo e no espaço. O advento da novidade foi saudada como o acontecimento mais importante neste planeta desde o surgimento da própria internet.

Em Montes Claros, quinta cidade de Minas Gerais em população e capital de um verdadeiro outro estado, constituído por extensa região do Norte, a do Polígono das Secas, a boa e progressista gente se vangloriou. Ela estava presente no Chat. Lá se registrava: “Montes Claros é uma cidade localizada no estado de Minas Gerais, Brasil. Fundada no século XVII, é conhecida por sua rica história e tradições culturais”.

Pois para permitir as atividades de uma indústria cimenteira, autorizou-se pesquisar lá calcário do morro Dois Irmãos, mas adredemente informada a empresa de que não alteraria o símbolo da comunidade construída por muitos séculos, com sacrifício da população laboriosa e amante de suas históricas belezas.

Como dizia o professor Afonso Lamounier, ex-diretor do Atlético, “tudo combinado, nada obedecidos”. Notícia da imprensa local é clara e indiscutível:

“Exatamente, há dez anos depois do primeiro licenciamento o Morro Dois Irmãos e da Boa Vista estão visivelmente destruídos em face de um novo licenciamento (Conforme LO 007/2021) que foi solicitado pela antiga Lafarge / Holcim Brasil – hoje, Companhia de Siderurgia Nacional – CSN - para explorar o lado Leste do complexo - o mais visível da cidade. Trata-se da lavra do Morro da Boa Vista que está inserida na zona de amortecimento do Parque Lapa Grande e do Parque Sapucaia, dentro do perímetro urbano”.

Já toquei no assunto, mas nada evoluiu. O que foi mal feito assim continuou. Silêncio completo dos que deveriam prestar alguma informação. A população foi simplesmente enganada, porque se estabelecera a priori que a exploração do calcário não afetaria a silhueta altiva do Morro Dois Irmãos, descaracterizando o símbolo do brasão e da bandeira da maior e mais poderosa comunidade norte-mineira.

Ficariam as perguntas: E agora? Quem irá agir diante das desconformidades das primeiras condicionantes, acordadas em 2011?


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Por Manoel Hygino - 8/3/2023 09:42:32
Ninguém esquece

Manoel Hygino

No último dia 27, penúltimo de fevereiro, Paris foi cenário de uma solenidade incomparável. A FIFA, entidade maior do futebol internacional, homenageou os que mais se destacaram e mereceram consagração durante 2022. Se Messi, mais uma vez, recebeu o troféu principal, por sua condição de melhor jogador do mundo na temporada 2021/22, dando ênfase aos argentinos que conquistaram a Copa do Mundo, não se esqueceu Pelé, falecido em dezembro. Ronaldo Fenômeno lembrou-lhe a carreira como jogador singular entre as quatro linhas, “servindo de inspiração para ele e para o futebol”.

A empresária Marcia Aoki, esposa de Pelé, em lágrimas durante a solenidade, discursou em inglês sobre o marido: “É uma honra estar aqui, neste tributo da FIFA ao Édson Arantes, o Pele´. Tenho algumas palavras para dizer. Deus nos deu o Édson, e o Édson nos deu Pelé. E o mundo tão bem recebeu ambos. Essas são as palavras que tenho de agradecimento”.

Mineiro do Noroeste do estado, terra fértil e benfazeja, o advogado Napoleão Valadares, residente em Brasília, escritor conceituado e membro de atuantes e prestigiadas entidades literárias e culturais, um dos fundadores da ANE-Associação Nacional dos Escritores, não perde o ensejo também de, em poema inspirado e oportuno, lembrar o conterrâneo lá do Sul, de Três Corações.

“Parte agora o grande atleta, talvez vibrando, talvez sorrindo, como outras vezes ele partiu para o abraço depois do seu gol de placa. Jogou com bola de meia, cabeceou vida certeira, fintando todos os vícios e amortecendo no peito os conselhos de Dondinho.

Titular de quatro copas, de três delas campeão, da Seleção artilheiro, rei e cidadão do mundo, teve sete bolas de ouro. Dos homens o mais famoso, com mil, duzentos e oitenta e três gols, ninguém chegou a seus pés, somente a bola, a menina dos seus olhos. Como goleador sem par e o jogador mais completo que pisou nesses gramados, colecionou mil troféus e foi o atleta do século.

São Pedro, sabendo disso, convocou-o para o Céu, e ele respondeu de pronto: “Já vou. E começo aqui e agora a minha arrancada.” Voz grave, pedindo a bola, recebeu um lançamento disparando pelo espaço, driblou Mercúrio três vezes e deixou Vênus pra trás. Bateu a mão para a Terra, jogou beijo para a Lua, avançou, passou por Marte, aplicou fintas em Júpiter, saindo pela direita.

Num passe para Garrincha, deslocou-se para o meio, tabelando com Didi, fez uma ginga e passou entre Saturno e Urano. Desviou-se de Netuno, deu um chapéu em Plutão, chutou, balançou a rede e saltou, sem gravidade, abraçando o infinito.


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Por Manoel Hygino - 1/3/2023 08:58:24
O MST em campo

Manoel Hygino

Não se completou um trimestre para começar a crítica de determinados grupos até recentemente favoráveis ao novo quatriênio governamental. É o que se deduz das notícias veiculadas. O Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra, o muito conhecido MST, e a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, CONTAG, põem as manguinhas de fora.

As duas entidades, que tiveram franca atuação contra governos anteriores, demonstram desagrado pela falta de prioridade à questão agrária neste principio de gestão de Luís Inácio. Quem quiser saber mais deve recorrer a imprensa nestes tempos do novo mandato do presidente.

Em manifestação de contrariedade, está agendada para abril a instalação de acampamentos em locais simbólicos e realização de marchas em regiões estratégicas, para cujo êxito as necessárias medidas ao êxito das marchas que estão em pleno desenvolvimento.

Apesar disso, existe uma perspectiva mais promissora: que o governo apresente até lá um plano emergencial para o problema. Caso isso não aconteça, os promotores da iniciativa deverão retomar as ações de ocupação de áreas já selecionadas.

É algo que dá o que pensar e temer, consideradas as experiências anteriores. Os movimentos até recentemente eram dois. Agora, há ainda a Conferência Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro – o Contraf-CUT e o Via Campesina, já com antipatia ou censura à dedicação que o atual governo tem revelado à causa indígena.

Estas provas de preferência pela causa dos índios se mostram claramente nas mudanças expressivas nas estruturas governamentais e grande divulgação. Para os baluartes dos movimentos referidos, o novo governo pode fazer muito mais pelas demandas do campo, que também não são de hoje, não se justificando os sintomas de contestação.

O Brasil conhece sobremaneira a maneira de atuar do MST e dos demais organizadores da iniciativa programada. Eles tardam, mas não faltam. Os gestores oficiais terão de dizer alguma coisa, logo. Os demandantes não apreciam longas esperas.

E os acampamentos poderão voltar, causando evidentemente temor entre os proprietários de terras do país, mesmo que uma nesga na imensidão territorial. A sociedade certamente irá posicionar-se diante das evidências, de modo a evitar consequências mais do que desagradáveis – porque nocivas à nação sempre em busca de reencontrar-se. Pelo visto e sabido, está –ou é- complexa e difícil, a hora. Um desafio.


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Por Manoel Hygino - 28/2/2023 10:08:21
Aparente religiosidade

Manoel Hygino

Napoleão Valadares, nascido no Noroeste de Minas, diplomado em Direito pela UnB, ex-Diretor de Secretaria da Justiça Federal, dentre outros cargos de relevo, é escritor de grande conceito, um dos fundadores e ex-presidente da Associação Nacional de Escritores e membro da Academia de Letras do Brasil, e muito fiel a suas origens e personagens. Em um de seu livros mais recentes, “Do Sertão”, ele conta o caso de Eurico, menino dos mais ladinos de sua cidade e doentiamente dedicado ao certo, correto e justo.

Assim, escreveu uma carta a São Pedro, que por caminhos ínvios chegou ao agente postal. Ele reclamava do porteiro do Céu uma situação de fazer vergonha, depois que foi instituída a tal de reeleição, quando todos os presidentes se reelegeram. Existem dois mandatos, ficando no poder por oito anos para a contaminação da rapina. E a reeleição se dá em razão de diversos fatores, como o uso da máquina governamental sem o menor escrúpulo.

Agora, outro mineiro, também jornalista amplamente conhecido nas grandes folhas, o Aylê-Salassié Figueiras Quintão, lá das profundas áreas da Região da Mata, traz à cena o caso do presidente da República, que ascendeu ao poder, há dois meses mais ou menos, e já pensa e fala em novo mandato, no que é coadjuvado pela ministra Marina Silva.

Aylê é de clareza meridiana: “Quando fala em "transversalidade", a ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, não está blefando; nem o Presidente Lula, ao anunciar que vai trazer para o Brasil (Belém) a Conferencia Mundial de Mudanças Climáticas (COP-30) em 2024. Eles pretendem recolocar no palco as organizações não governamentais sem fins lucrativos , as ONGs, grandes cabos eleitorais neste mundo, defensoras do chamado "ambientalismo emancipatório".

E o propósito, Marina não escondeu: é levar Lula a ser indicado ao prêmio Nobel e, quem sabe, ela própria à condição de candidata à Presidência da República em 2027. Afinal, afirmou, “nossa causa é universal, a sustentabilidade, e não faz distinção entre capitalistas, nacionalistas, comunistas ou socialistas”.

Tentemos entender o cenário meio profético... Certa vez, numa palestra em Londres sobre a questão ambiental, na qual estava presente o príncipe Charles, hoje o rei Carlos III, da Inglaterra, o ambientalista brasileiro José Lutzenberger, surpreendeu o auditório ao concluir sua fala dizendo: "O meio ambiente é uma questão religiosa!". (...).


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Por Manoel Hygino - 27/2/2023 15:48:17

Há datas que marcam a família, cidade, província ou estado, uma nação, um povo. Seis de fevereiro de 1930 foi aquele dia que assinalou a cidade de Montes Claros, no distante sertão mineiro, chamando atenção do Brasil. A cidade já gozava de prestígio na política e na economia, principalmente com o início de operação da rede ferroviária, a Estrada de Ferro Central do Brasil, em 1926.

Crescera com a chegada de famílias de várias regiões do país. Renascera a esperança de futuro luminoso, de progresso municipal e de riqueza para os que lá se instalaram. Repercutiam ainda os reflexos do governo Artur Bernardes, em suas escaramuças com o Palácio do Catete. Com Washington Luís na presidência da República, acentuaram-se os ânimos políticos, enquanto se expunha à consideração do eleitorado a proposta de poder da dupla café-com-leite alternando-se a chefia nacional: em quatriênio um paulista, um mineiro a seguir.

Controvertido e prepotente, Washington Luís apresenta Júlio Prestes, de São Paulo, para sucedê-lo, com eleição marcada para 1º de março de 1930. É quando se apresenta à cena o presidente mineiro Antônio Carlos, com credenciais históricas, opondo-se tenazmente ao Catete.

Formou-se, então, a Aliança Liberal com apoio do Rio Grande do Sul e Paraíba, que lançaram os nomes de Getúlio Vargas e João Pessoa, representantes do Sul e do Nordeste, para a presidência e vice.

Milene Antonieta Coutinho Maurício, com um livro premiado, sintetiza: “Estava assim definida a competição eleitoral que, muito logo, assumiu marcas de facciosismo do Governo Central, o que, muito logicamente, acendeu o estopim de conflitos que passaram a ocorrer nos diversos pontos do País”.

No Norte de Minas, consubstanciando um projeto antigo, agendou-se para 7,8 e 9 de fevereiro um Congresso de Algodão e Cereais, acentuando-se seu viés político e reunindo várias cidades da região, sob Presidência de Honra de Fernando de Mello Vianna (foto), vice-presidente da República e ex-presidente de Minas, de Manoel Thomaz de Carvalho Brito e do Conde Alfredo Dolabela Portela, chefe da Concentração Conservadora.

Nas principais estações pelas quais passava a composição férrea, havia manifestações em favor dos candidatos à presidência da República, Júlio Prestes e Mello Vianna, ao Palácio da Liberdade. Muitos discursos e foguetes até que se chegou a Montes Claros, sede do congresso, que deveria ser do Algodão e dos Cereais. Pelo menos, era o que se propagava.

Prevendo possíveis choques com adversários, os próceres e autoridades de Montes Claros soltaram boletins pedindo à população que evitasse comparecer aos eventos programados e se envolver em discussões de qualquer natureza e escaramuças. Mas os ânimos se exaltavam.

A escritora Milene Antonieta revela que foi enorme o comparecimento à chegada do candidato à estação da Central. Era a primeira vez que visitava o sertão mineiro um vice-Presidente da República, em campanha para o governo de Minas. Terminada a recepção tão festiva na gare, formou-se uma passeata que percorreria as ruas, com um itinerário definido. Uma banda de música tocava o dobrado 220, secundada pelo foguetório, por gritos e vivas a Prestes e Mello Vianna. Um grupo de rapazes, à frente, atirava bombas, e gritava vivas com estribilho em favor dos candidatos da Concentração Conservadora.

Sem se saber por que, o percurso da passeata foi mudado, convergindo à direita, para percorrer a Praça Gonçalves Chaves, onde residia o chefe aliancista, João Alves. Era em torno de 23 horas, um pouco mais quando desfilavam em frente à residência sobremodo conhecida. João Alves e Mello Vianna eram velhos conhecidos. O médico desejava demonstrar publicamente não ter receio. Foi quando alguém do cortejo gritou: “Morra a Aliança Liberal”. O médico e político levantou um lenço vermelho e gritou tranquilo: “Viva a Aliança Liberal”.

Incontinenti, uma bomba explodiu a seus pés. Ele, hipertenso, sofreu uma hemorragia, com crise de tosse e sufocamento, parecendo ferido a bala. Simultaneamente, um rapazinho que ele criava, a seu lado, levou um tiro na cabeça e caiu ao solo. Nunca se soube de onde e de quem partiu o primeiro tiro. Parecia que todos ali se achavam armados e prontos para uma batalha. Eram, muitas dezenas na multidão, alguns se jogaram ao chão, outros corriam afoitamente para fugir ao tiroteio. Havia a notícia de que um grupo de jagunços de Granjas Reunidas, onde havia um grande empreendimento industrial dos Dolabella, se tinham infiltrado. O pânico na transposição de um dia para outro se estabeleceu, de 6 para 7.

Foram apenas minutos, mas o tumulto deixou estigmas. Corpos tombados foram transportados à residência antes festiva de João Alves e Tiburtina, que prestaram os primeiros socorros, enquanto o marido ainda sofria efeitos da crise cardíaca. Ela acomodava na dependência da casa os feridos e os mais nervosos. Aos ensanguentados dava assistência emergencial. Enfim, o violento choque deixara seis mortos e muitos feridos. Lá fora, os remanescentes escaparam às carreiras à estação ferroviária e o trem começou a fazer a viagem de volta em marcha-à-ré.

O episódio trágico ganhou dimensões nacionais. Uma das vítimas fatais fora Rafael Fleury da Rocha, como o poeta João Soares da Silva, aquele secretário particular do vice-presidente, ferido com um tiro na cabeça e com estilhaços do projétil disseminados em derredor, inclusive Mello Viana.

Washington Luís, no dia seguinte, se manifestou: “São Paulo como todo o Brasil Republicano e civilizado, profliga indignado o bárbaro atentado que à semelhança de uma Emboscada de Bugres, ensanguentou a nobre terra de Minas”.

O padre Aderbal Murta, da Academia Montes-clarense de Letras, escreveu: “De início, no calor das paixões enfurecidas, na insegurança das dúvidas, na irresponsabilidade das interpretações irrefletidas, o episódio de Montes Claros chegou a ser o estopim da Revolução de 1930, de proporções nacionais e decisivas para a própria história do Brasil”.

Neste 2023, registra-se o aniversário de Tiburtina Andrade Alves, nascida em 10 de agosto de 1873, na pequenina São João Batista, hoje Itamarandiba. São decorridos 150 anos de profundas transformações no Brasil. O nome dela permaneceu vivo e lembrado.

De D. Tiburtina, esposa do líder aliancista de Montes Claros, se falou tudo o que de mal se poderia: Uma pessoa perversa, que perpetrara o episódio macabro do Norte de Minas, causador de tantas mortes e lágrimas às famílias.

Houve, entretanto, veementes contestações, inclusive da Imprensa: Assis Chateaubriand, diretor dos Diários Associados, se expressou, publicamente:

“A presença daquela senhora me deixara surpreso. Aquela mulher que eu tinha ante os meus olhos, em atitude de tal energia, me fazia recordar certos personagens de lendas de que eu ouvira falar quando menino”.

*Ouvidor e editor do jornal Santa Casa Notícias, Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, Associação Mineira de Imprensa, Academia Montes-Clarense de Letras, Academia de Letras de Salinas, Academia de Letras, Ciência e Artes do São Francisco, Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, Sócio Honorário da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais.


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Por Manoel Hygino - 25/2/2023 07:23:41
O fim da Covid

Manoel Hygino

Não houve, este ano, antecedendo ao Carnaval brasileiro, uma preocupação maior em advertir a população sobre os riscos de aglomerações principalmente em ambientes fechados. Na realidade, dias terríveis já vivenciara o povo deste país, com relação à disseminação do coronavírus e à transmissão da Covid. Certeza ou confiança de que o pior ficara no passado?

Os períodos anteriores inquietaram de Norte a Sul, nestes oito milhões e quinhentos mil quilômetros quadrados de território. Razões de sobra. Em nenhum outro país, a quantidade de vítimas fatais foi tão elevada proporcionalmente à população, quanto nas terras descobertas por Cabral, há séculos.

Se outras epidemias e endemias já tinham causado medo entre os nascidos neste país, a Covid deixou uma marca terrível, ainda que determinadas autoridades quisessem menosprezar os números de óbitos e mazelas.

Notava-se em todos os lugares: no calendário pré-carnavalesco de 2023, houve certa tranquilidade, abrindo caminho para as festividades de Momo, em que os naturais daqui são exímios e entusiastas ao extremo. Apesar de tudo, as organizações médicas, científicas e empresariais do setor estavam atentas. É o caso da Organização Mundial da Saúde, que o mundo todo sabe hoje que existe, por sua inabalável atenção no cumprimento de sua missão.

A OMS permaneceu cuidadosa. Três anos após decretar a Covid-19 como emergência global em saúde pública, a entidade informou – no dia 30 de janeiro último – que ainda não iria declarar o fim da pandemia e do estado de alerta causado pelo vírus.

Tedros Adhanom, diretor-geral, falou de cátedra. Agora, é aguardar as estatísticas trágicas e letais, confiando cristãmente que efetivamente o pior se tornou coisa do passado. Evidentemente, conhecendo que uma campanha de vacinação contra outras enfermidades está em pleno desenvolvimento. Não é só Covid que mata. A história nos demonstra.

O fim, além do mais, não é tão fácil. O próprio Congresso Nacional está com a incumbência de construção de uma rede de Cuidados de Vítimas da Covid-19 e seus familiares. O documento, aprovado em maio no Conselho de Segurança Nacional defende o fortalecimento da atenção primária em saúde visando atuar diretamente nas sequelas da Covid-19.


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Por Manoel Hygino - 22/2/2023 09:00:50
Acertando as contas

Manoel Hygino

Principalmente depois do atentado contra a democracia no Brasil, perpetrado por alguns milhares de brasileiros desinformados, mal informados e mal formados, em 8 de janeiro, o mundo concentrou sua atenção muito especificamente em nosso país. Entre tantas perguntas que fluíram ao pensamento e sentimento do povo brasileiro, havia uma costumeira: por quê? Além do mais, o cidadão se indagava: a quem beneficiaria o resultado ou consequência da destruição do patrimônio das sedes das três casas do Poder?

As apurações que ora se fazem – e a conclusão só se alcançará com maior tempo – esclarecerão pormenores das razões dos tresloucados agentes da ruína no primeiro mês do ano. Reconhece-se que não poderá permitir que a sujeira praticada seja atirada sob os tapetes das belas edificações danificadas e que lá se preservava.

Antes de mais nada, esclarecer as razões e os objetivos da turba multa. Mas, simultaneamente se terá de exigir do novo governo que aja em consonância com os melhores desejos e imposições da coletividade. É o caso, por exemplo, do pagamento de pesados débitos de nações com o Tesouro Nacional através de empréstimos concedidos e que - vencidos - faz-se de conta que tudo está ok.

No caso da Venezuela, afundada em crise política profunda, perguntar-se-ia o que se fez com a exportação do petróleo, que lhe dera poder e projeção internacional. Quanto ao governo brasileiro, caberá insistir na cobrança, porque há milhões de subalimentados carecendo do poder público. E mais: o Brasil financiou importantes empreendimentos a tais nações, em prejuízo de obras em território nacional.

O mesmo se dirá com relação a Cuba quanto ao financiamento do porto de Mariel. É chegada a hora de quitar débitos e fazer justiça a nosso cidadão, que paga caro por realizações que não o beneficiam. É o caso do Metrô de Caracas, que bem serve à capital Venezuela, enquanto Belo Horizonte sofre sucessivas greves e o serviço não se expande como devido.

Não me referi às rodovias de que se desincumbiria a União construir, entre as quais as BRs 381 e 262, novelas perenes. As estradas estaduais, a sua vez, estão deixando até intransitáveis numerosos trechos em detrimento do interesse nacional.

Precisamos pensar no Brasil, nos seus estados e municípios. Do jeito que está, não pode persistir. O que dirão as gerações futuras?


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Por Manoel Hygino - 16/2/2023 08:44:03
A fé religiosa

Manoel Hygino

Sem subir novamente a escada para uma cadeira no Ministério nomeado pelo presidente da República, Patrus Ananias de Souza, embora deputado federal, pode agora propiciar-nos colaboração em revistas e livros, e atuação na cátedra da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, e isto é muito bom. Professor, nascido em Bocaiuva como Cícero Dumont e José Maria Alkmim, tem muito a dizer, inclusive por sua experiência na cátedra e na tribuna, até da Academia Mineira de Letras.

Em recente artigo sobre Jacques Maritain e Marcelo Perine, Patrus confessa que sua militância política, que Perine acompanhou de perto em certo período, “fez com que as reflexões buscassem um ponto de convergência com o momento histórico que estamos vivendo, hoje, especialmente no Brasil. Enfrentamos sérios desafios com relação à democracia, aos direitos fundamentais, às políticas públicas que possibilitam a vida no plano pessoal, familiar e comunitário”.

Patrus confirma que Maritain teve papel relevante na sua formação política, além dos dois grandes mestres de sua juventude: Alceu Amoroso Lima, o Tristão de Athayde e Edgar de Godoy da Mata Machado, “por sinal maritainianos convictos”, sendo correto pensar que Perine resgata “o legado de Maritain com questões que hoje nos afligem e desafiam, relacionados com a democracia, as liberdades públicas, o bem comum; a expansão das melhores possibilidades humanas no plano pessoal e no plano comunitário; a construção da Paz”.

Evidentemente, nem todos terão a ventura de entender em sua grandeza, o pensamento de Patrus. Este, em síntese, afirma que o “Humanismo Integral”, de que antecede à Segunda Guerra Mundial e seus desdobramentos posteriores, que levaram, entre outras importantes realizações e conquistas humanitárias, à Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) que contou, na sua elaboração, com contribuições de Jacques Maritain”.

A temática é propícia a um longo e minucioso estudo, sobretudo na hora que atravessamos, sendo oportuno convir que “o humanismo proposto por Maritain se contrapunha de forma radical ao humanismo racionalista e liberal, inspirador do Renascimento e do Humanismo que, segundo ele, levou à anarquia e ao totalismo”.

Em resumo: “em contraste com a reflexão dos anos 30, no entendimento de Maritain, a fé religiosa e os princípios metafísicos não são mais considerados capazes de unificar as sociedades como o foram na Idade Média”.


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Por Manoel Hygino - 13/2/2023 07:56:47
Lagoa Santa misteriosa

Manoel Hygino

Quem sobe a Rua Ceará desde seu início em Santa Efigênia até seu final na Avenida do Contorno, onde se forma amável praça, encontrará no lado esquerdo, no número 2037, o Instituto Cultural Amilcar Martins. Chega-se, assim, a um privilegiado local de Belo Horizonte.

Subindo a escada de acesso ao Icam, tem-se ingresso num dos mais preciosos locais para inteligência e para a história de Minas Gerais, até porque o Instituto se orgulha de ser “parte da história do mundo”.

Há razões. A coleção de obras raras do Icam, e isto consta de suas publicações, é o primeiro acervo bibliográfico brasileiro reconhecido pela Unesco como parte da memória do mundo. Esta tem como objetivo identificar, registrar e proteger acervos documentais bibliográficos considerados importantes para a Memória do mundo, o programa “Memory of the World, o MoW”, daquela unidade da ONU.

E tudo fica bem pertinho dos belo-horizontinos que desejam aprender mais sobre a velha província de Minas. É o que se constata e se comprova com a edição de Milagre no Sertão de Minas, a Prodigiosa Lagoa, primorosa obra organizada por Amilcar Vianna Martins Filho e Vera Alice Cardoso Silva.

Na apresentação, Amilcar sublinha que se trata de “uma nova edição comentada do famoso opúsculo” Prodígios lagoa descuberta nas Congonhas das Minas de Sabará, publicada de maneira apócrifa em Portugal na primeira metade do século XVIII, cuja autoria é atribuída ao cirurgião baiano João Cardoso de Miranda”.

Às perguntas, numerosas e explicáveis, a obra do Icam procura dar respostas convincentes, através de artigos magníficos de colaboradores e de documentos localizados nas pesquisas. É secular o estudo da matéria, muito polêmica, a começar por se identificar o verdadeiro autor, mas, sobretudo pelo raro conteúdo.

O leitor, curioso ou interessado, terá concluído que a Lagoa Grande se faz conhecida agora como Lagoa Santa, a mesma que encantou o cientista dinamarquês Peter Lund, o pai da paleontologia no Brasil.

Outra indagação a que não se escapa eram as águas dali realmente prodigiosas, milagrosas, capazes de curar uma série de doenças? São mistérios que precisavam ser desvendados e revelados. Daí, o elevado valor da obra do Icam, que pretendemos ampliar designando os colaboradores, que são muitos e cujos títulos não poderíamos omitir.


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Por Manoel Hygino - 8/2/2023 08:48:59
Agora é continuar

Manoel Hygino

2021 não foi um ano fácil em lugar algum do mundo, se se considerar a disseminação da Covid por todos os países. E a situação ainda não está definitivamente resolvida. No penúltimo dia de 2022, três anos após declarar a doença como emergência global em saúde pública, a OMS-Organização Mundial de Saúde ainda age, como de sua missão, com cuidado. Ela informou que ainda não podia anunciar o fim da pandemia e do estado de alerta causado pelo vírus. O diretor-Geral Tedros Adhanom Ghebreyesus foi muito claro e objetivo.

Ainda há muito caminho a trilhar.

No mês de carnaval deste ano, somos obrigados a convir que o período foi marcado por uma das maiores tragédias da história. As estatísticas mostram que, em nenhum outro país, a quantidade de vítimas fatais foi tão elevada proporcionalmente à população quanto o nosso, embora uma das Nações mais preparadas para enfrentar emergências sanitárias, em grande parte graças à competência do Sistema Único de Saúde, a despeito das dificuldades sabidas, começando pelas baixas remunerações.

Observa-se, contudo, que a Santa Casa de Belo Horizonte, referência no atendimento na capital e Região Metropolitana, atuou de forma estratégica no combate ao vírus, sem deixar de dar assistência aos pacientes das demais e muitas enfermidades.

Enobrece os que se dedicam à saúde, o que se vê. Com mais de 1.200 leitos, a instituição realizou 2.281.658 exames, e mais de 3 milhões de atendimentos, além de 38.096 cirurgias por seus 2 mil médicos. Somaram 52.454 as internações e 325.166 as consultas.

Para não ficar cansativo ao leitor, lembraria simplesmente que, nas unidades da Santa Casa de Belo Horizonte, trabalhavam no fim do ano 5.638 pessoas em regime CLT. Não vou insistir em repetir números, porque o principal é que a população saiba que a instituição segue rigorosamente a missão que assumiu em 1899, quando constituída.

E não parou, nem para. Há planos em definição e projetos em execução, contando com colaboradores em inúmeras iniciativas para serviços de excelência de forma humanizada, formando o maior grupo hospitalar de Minas Gerais, com suas seis unidades.

Esquecia-me. A despeito da Covid, que interferiu em suas atividades, sem diminuí-las, manteve-se a Santa Casa como o maior hospital transplantador de órgãos, tecidos e células de Minas e um dos maiores do Brasil.

O que resta fazer é fabuloso. O país tem um déficit estimado de 1 milhão e 100 mil procedimentos represados desde o começo da pandemia mundial provocada pelo coronavírus.


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Por Manoel Hygino - 7/2/2023 09:12:57
Ainda o 8 de janeiro

Manoel Hygino

Acabo de ler. O professor Wilson Gomes, da Universidade Federal da Bahia, emite sua opinião sobre os episódios de 8 de janeiro, em Brasília.

Tratar-se-ia de um movimento social de direita, marcado pela irracionalidade. Para ele, “o radicalismo posto em prática nas sedes dos três poderes são a demonstração mais avassaladora de um movimento com origens no início da década de 2010”. Acrescentou: “É a confluência de várias correntes marcadas pelo ultraconservadorismo e pela superficialidade das redes sociais”.

Para Marcelo Aith, advogado e presidente da Comissão Estadual de Direito Penal Econômico da Abracrim-SP, estamos diante de um caso objetivo de cegueira deliberada, uma construção jurisprudencial originária do direito anglo-saxônico, que preconiza a possibilidade de punição do indivíduo que deliberadamente se mantém em estado de ignorância em relação à natureza ilícita de seus atos”.

Para Aith, as forças policiais de Brasília tinham, no dia dos acontecimentos, a obrigação de recompor imediatamente a ordem pública e prender em flagrante todos os invasores pelo crime de “abolição violenta do Estado democrático de direito” e “golpe de Estado”, previstos, respectivamente, nos artigos 350-1 e 359-M, ambos do Código Penal, que dispõe: “Tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos Poderes constitucionais” e “tentar depor, por meio de violência ou grave ameaça, o governo legitimamente constituído”.

Para o advogado paulista, foi “vergonhosa a condução do governador do Distrito Federal e do secretário de Segurança, que flagrantemente lenientes no combate aos atos criminosos. Era uma crônica de uma morte anunciada”. Ele aduz que “o governador Ibaneis Rocha e o secretário de Segurança Anderson Torres devem ser responsabilizados diante da Cegueira Deliberada”.

Para ele, somando sua opinião à de milhares, ou milhões, de brasileiros, “a investigação deve ser exauriente, e os envolvidos, severamente punidos, quer pela ação, quer pela omissão, quer ainda pela incitação”.

Enfim, é o que se está fazendo, como é de interesse da nação e de todos os que se cingiram a acompanhar os fatos pelas redes de televisão ou noticiário dos jornais. Não se pode amenizar episódio de tantos e tão pérfidos prejuízos para o Brasil, que repercutiu negativamente para a pátria entre todos os povos democratas neste nosso tempo. Cada um tem de pagar pelos danos que causaram e que repercutirão na História.


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Por Manoel Hygino - 1/2/2023 08:56:50
Hora de ação

Manoel Hygino

Não é de hoje que se conhece a situação dramática das populações indígenas da Amazônia. Fazemos de conta que ignoramos o que acontece, a existência de cenários dolorosos, trágicos, que a mídia vem oferecendo à nação, ao vivo pelas televisões. Também as demais nações ficam sabendo o que há por aqui.

Aprofundo-me no assunto, recorrendo sempre que necessário ao jornalista Aylé-Salassié Filgueiras Quintão, mineiro lá do Leste, das linhas divisórias da Zona da Mata, com uma experiência muito maior do que a minha na matéria. Ele tem percorrido terras brasílicas, há anos, mantendo contato com autoridades que tratam das questões indigenistas e com os próprios índios, para sentir de perto as vicissitudes com que se deparam os donos da terra, na época de Cabral.

Mas hoje os problemas são inteiramente outros, tribos enfrentam dificuldades e problemas que lhes foram trazidos pelos invasores, que lhes querem tomar as áreas que ocupam, roubando-lhes o sossego a que tinham direito.

As promessas e compromissos assumidos pelas autoridades não funcionam e o que se assiste pelas telas das TVs são um testemunho incontestável. A população, a esta altura, preocupa-se mais em conseguir reais para gastar no período mesmo que se aproxima.

Tudo isso leva, automaticamente, ao registro do publicado pelo companheiro de ofício na capital federal, como transcrevo, literalmente: “Ao desembarcar em Boa Vista, Roraima, um dos territórios brasileiros com maior concentração de cidadãos indígenas, em sua maioria, da nação Yanomami, ao mesmo tempo um dos mais depredados pelas frentes de garimpo, de desmatamento e da agricultura ilegais do País, o presidente Luís Inácio da Silva surpreendeu-se com o estado de abandono da população e enxergou uma calamidade pública, uma tragédia no campo da saúde, segundo ele mesmo. (...) Não bastasse, concomitante, o Covid, levado pelos brancos garimpeiros, havia matado 1.207 índios e contaminado 59.234 outros, conforme dados do Comitê Nacional pela Vida e Memória Indígena. A malária, endêmica, infecta a região e já há registros dos dois últimos anos de 11.500 casos.

Mais gritante ainda era a morte de 507 crianças, sobretudo por falta de alimentação e de atendimento médico. Por recomendação do Presidente, a nova ministra da Saúde, a sanitarista Nísia Trindade, participando da comitiva, declarou “Emergência sanitária no estado”.

Para o governo brasileiro, como para cada um de nós, é um grave dever humano e cristão. Num primeiro instante, iremos medir o que Brasília diz e como age. E com prioridade e dignidade.


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Por Manoel Hygino - 31/1/2023 08:45:23
Esta hora grave

Manoel Hygino

Embora esteja o Brasil vivendo problemas graves, entre os quais o de subalimentação dos Yanomami, em Roraima, sem contar os que se acumulam em torno ou no meio das grandes cidades, com moradores de rua crescendo numericamente nas capitais, há aqueles que se preocupam com as festividades carnavalescas. Dizem que o brasileiro gosta dessa época do ano, deixando para depois os problemas cotidianos.

Há de se perguntar: estômagos vazios, como os dos indígenas, não são sentidos nas demais regiões do País, como as do Sudeste? São Paulo, o estado mais rico, e sua metrópole, a mais populosa, não estão passando por uma grande crise de segurança, exatamente pela evolução indesejada de seus segmentos mais pobres e assumidos no rol da criminalidade?

Não se desconhecem os fins de semana de grupos enormes de pessoas de baixo ou baixíssimo nível econômico para os ajuntamentos coletivos na periferia ou em bairros, embalados com música em volumes elevados, muito álcool e drogas de toda espécie e origem. De onde viria o dinheiro?

Passou da hora e do instante de se pensar mais seriamente. Milhões estão sem alimentos suficientes, e não só os índios. Milhares e milhares se desencaminharam à criminalidade, sem contar multidões que se desviaram para o consumo de drogas altamente perniciosas, quando não letais. No entanto – fazemos de conta que tudo inexiste, e permanecemos nas vias dos males que dizimaram inúmeras pessoas, famílias inteiras. O problema é gravíssimo e não pode ser simplesmente ignorado.

Os economistas, empresários e autoridades sabem que este não é o momento para usufruir (porque não temos o quê). Os planos de desenvolvimento, em particular nos países pobres, estão em xeque. O Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas prevê um crescimento de apenas 1,9% neste ano, das mais baixas taxas das últimas décadas.

Uma série de acontecimentos assolou a economia mundial em 2022: a pandemia da COVID-19, a guerra na Ucrânia, as crises de energia e de alimentos, aumento da inflação, restrição da dívida, a emergência climática.

Será que sequer se lê jornais para saber do mau período em que nos encontramos? Não há medo? O próprio secretário geral da ONU, o português Antônio Guterres, adverte sobretudo às nações em desenvolvimento. Não se pode ficar surdo e cego.


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Por Manoel Hygino - 28/1/2023 07:39:56
Fim de novela?

Manoel Hygino

O ex-governador e vice-presidente Aureliano Chaves gostava de usar a expressão “tapar o sol com a peneira”. Pois foi exatamente o que aconteceu com o ex-comandante do Exército, general Arruda, com relação à ordem para acabar com os acampamentos em frente a dispositivos militares nas proximidades dos edifícios na Praça dos Três Poderes.

O noticiário da agência Metrópole, de Brasília, no dia 22, esclareceu,
textualmente: “O general Júlio César de Arruda perdeu o comando do Exército após enfrentar ordens indiretas de Lula. No mais incisivo dos embates, de dedo em riste, impediu a prisão de bolsonaristas extremistas”. Além do mais, seguia prestigiando o coronel Cid, sumamente alinhado com Bolsonaro, como se noticiava. Na noite de 8 de janeiro, com a intervenção federal já decretada, o general não autorizou a entrada da PM-DF na área militar para prender extremistas em frente ao QG.

A PM-DF seguia as instruções do interventor Ricardo Cappelli, nomeado pelo novo presidente. Naquela noite, Arruda dirigiu-se para o então comandante da PM-DF, Fábio Augusto Vieira, e desafiou: “O senhor sabe que a minha tropa é um pouco maior que a sua, né?”.

Lula vira como uma afronta a barreira formada por homens do Exército e, sobretudo, o uso de veículos militares blindados para impedir o avanço da PM. Um agravante: antes mesmo desse episódio, o presidente já estava furioso por o Exército não ter impedido a invasão ao Planalto. Ao fim daquele 8 de janeiro, o destino de Arruda já estava selado.

Só o que faltava para demiti-lo era encontrar um general estrelado que se mostrasse disposto a enfrentar com rigor as ameaças golpistas. Surgiu o do general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, que servira no Haiti e contra gente da favela do Alemão, no Rio. Prestigiado e legalista por origem, foi escolhido.

O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, fez o anúncio. Explicou em poucas palavras: “As relações, principalmente no Comando do Exército, sofreram uma fratura num nível de confiança e achávamos que precisávamos estancar isso logo de início para superar esse episódio. Queria apresentar o substituto, general Tomás, que a partir de hoje é o novo comandante. Hoje, nós estamos investindo mais uma vez na aproximação das nossas Forças Armadas com o governo do presidente Lula”.

Em mais de uma oportunidade, inclusive falando em Buenos Aires, em reunião com o presidente argentino e com outras autoridades e empresários, Lula afirmava que não podia submeter-se a uma situação que não condizia com a maneira de conviver entre o dignitário mais alto e um subordinado, mesmo que do Exército.


86600
Por Manoel Hygino - 25/1/2023 09:02:19
No front do Planalto

Manoel Hygino

A economia já perdera fôlego no final do ano passado, como se constatou pelos indicadores. Passados o Natal e as festas tradicionais, começou-se a pensar em 2023, sonhando perspectivas não sombrias, disseminadas por todos os países. No Brasil, os fatos registrados no primeiro mês já adivinhavam pesadelos.

Em minha terra, houve o verde, patrocinado pelas chuvas que chegavam, pacificando os corações e alegrando. Registrou-se a sucessão nos cargos mais altos da administração pública, depois dos bravios debates da campanha eleitoral não reconhecida como educada e respeitosa. Uma verdadeira guerra.

O professor universitário e jornalista, com longa experiência em grandes veículos brasileiros de comunicação, Aylê-Salassié, de seu quartel em Brasília, já em 5 de janeiro, prenunciava “as festas de posse e da transmissão de cargos, que não conseguem esconder o cenário desolado, sombrio mesmo que, com que se estabelece, silenciosamente, na Praça dos Três Poderes e dentro daqueles edifícios verdes da Esplanada. Tudo coincide com o fim da era Pelé, menino pobre que, com ousadia e criatividade pessoal, contribuiu para que os brasileiros se orgulhassem de seu país com todas essas ambiguidades, sem a necessidade de fazer guerra com ninguém, nem com Maradona, que virou seu amigo”.

Estas aparentes divagações emergem quando o presidente da República determinou a exoneração do ministro do Exército, nomeado em dezembro findo. Um ato até certo ponto inesperado, porque o novo ocupante do Palácio do Planalto parecia profundamente interessado em esquecer um passado bem recente e unir em torno da nova gestão as Forças Armadas, em que tanto o antecessor procurara influenciar visando à continuação do quatriênio, mesmo que mediante golpe.

Aliás, este motivou, incontestavelmente, o 8 de janeiro, uma nova data na crônica do Brasil sempre litigante em seus meandros. O ministro da Defesa Civil seguiu a orientação mais alta. Exonerou o chefe do Exército e nomeou outro incontinenti. A sorte estava lançada.

Luiz Inácio partiu para Roraima para ver a situação dos yanomami em emergência. O titular da Defesa foi claro e explicou que as relações no comando do Exército tinham sofrido uma fratura, que cumpria resolver com segurança e rapidamente. Aconteceu antes que um mês preocupante para a nação cerrasse as cortinas. Ainda bem.


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Por Manoel Hygino - 21/1/2023 07:15:49
O terrorismo

Manoel Hygino

Transcorridos dias desde 8 de janeiro, quando ocorreram os atentados contra as sedes dos três poderes da República, no local escolhido por Juscelino para instalar uma nova capital, distanciada da agitada vida no Rio de Janeiro, persistem dúvidas candentes sobre os agentes que levaram à dramática situação da mais bela capital deste século.

Ao comentário anterior dei o título de “Guerra Irregular”, também nome do livro de Alessandro Visacro, ex-oficial das Forças Armadas do Brasil e um especialista no tema. Ele escreve: “O público não precisa assistir ao desabamento de arranha-céus para ver-se diante de ataques terroristas. Sendo um ato de guerra irregular, abrange um enorme repertório de métodos, com objetivos, amplitude e características variáveis. Guerrilheiros, rebeldes e insurgentes sempre recorreram ao terror. Na verdade, guerrilha, subversão, sabotagem e terrorismo constituem ações de guerra irregular que se complementam”.

Deste modo, não será tão difícil classificar os acontecimentos do segundo domingo de 2023, na capital federal. Poderão autoidentificar-se os próprios componentes dor grupos que se formaram com determinado e claro objetivo, assim como os investigadores que fazem ou farão a apuração das partes, considerando principalmente os resultados do segundo turno da eleição.

O autor acrescenta ainda: “Assim como as demais formas de guerra irregular, o terrorismo sofreu notável expansão após o término da Segunda Guerra Mundial, com enorme incidência no Terceiro Mundo, abarcando as guerras de liberação nacional, as revoluções marxistas e as práticas de grupos reacionários da extrema direita”.

Para que se possa caracterizar um ato terrorista, é bom conhecer o que diz a Agência Brasileira de Inteligência: “Ato premeditado, ou que ameaça por motivação política e/ou ideológica, visando atingir, influenciar ou coagir o Estado e/ou a sociedade, com emprego de violência. Entende-se, especialmente, por atos terroristas aqueles definidos nos instrumentos internacionais sobre a matéria, ratificados pelo Estado brasileiro”.

Seja como for, as práticas de terrorismo, subversão e guerrilha difundiram-se de tal forma que afetaram, direta ou indiretamente, em maior ou menor grau, a quase totalidade das nações do globo, incluindo o Brasil.

O episódio em Brasília é típico.


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Por Manoel Hygino - 18/1/2023 12:17:08
8 de janeiro

Manoel Hygino

No domingo, 8 de janeiro, o mundo viu (porque as televisões mostraram a todo o planeta) cenas que não se quereria porque o Brasil constava como nação civilizada, além da maior do hemisfério sul-americano. A invasão das sedes dos três poderes em Brasília foi algo quase inacreditável, que nos retroage à invasão dos bárbaros na Europa.

O que aconteceu encontra dificuldades para descrições à altura, dadas as cenas de desapreço a bens altamente valiosos ao Brasil. Os estragos então perpetrados por seres humanos se comparam aos males causados por terremotos, incêndio e dilúvios, funestas desgraças que pudesse a imaginação conceber.

O ocorrido naquela tarde dominical foi prova convincente da crueldade e extensão das devastações como a dos bárbaros. Uma espécie de profunda noite envolveu a capital da República, glória e honra dos brasileiros, mundialmente reconhecida e admirada. E todo o projeto destruidor foi minuciosamente elaborado e discutido, antes de posto em prática. Um crime hediondo cuidadosamente urdido e consumado, com a participação de milhares de pessoas, agentes robôs de mandantes criminosos.

Baltazar Garzón, juiz espanhol que condenou à prisão Augusto Pinochet e a 640 anos o argentino Scilingo, dos voos da morte, a maldita Operação Condor, em entrevista a jornal brasileiro, observou com propriedade: “Não foi algo casual, nem espontâneo. É preciso chegar até o fim nas investigações e sancionar os autores intelectuais, assim como àqueles que financiaram esses atos violentos, de terrorismo e de graves atentados. Foi um verdadeiro atentado à democracia, um golpe de Estado que deve ser severamente condenado como tal”.

Garzón também declara: “Os problemas que enfrentamos são complexos, e as soluções também serão. Creio que os progressistas não devem minimizar o crescimento da ultradireita, pois, ao fazê-lo, podemos nos deparar com acontecimentos como o de 8 de janeiro, em Brasília. Colocaremos em risco a democracia se permanecermos indiferentes a esse fenômeno”.


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Por Manoel Hygino - 14/1/2023 07:56:12

Hora de Francisco Sá

Manoel Hygino

Sem desejarmos fazer coluna de registros históricos, não podemos, contudo, omitir-nos se os fatos o impuserem. Como agora. Segundo Joaquim Ribeiro Costa, na “Toponímia de Minas Gerais”, atualizada por Joaquim Ribeiro Filho, o município de Francisco Sá está comemorando, este ano, centenário, nos termos da Lei nº 843, de 7 de novembro de 1923, embora somente adquirisse o nome atual em 1938.

Tudo para chegar ao âmago. O nome da cidade, Francisco Sá, se deve aos relevantes serviços à região, a Minas e ao Brasil pelo homenageado, nascido de família proeminente na economia e na política norte-mineira. O avô do menino Chico era Josefino Vieira Machado, barão de Guaicuí, republicano e abolicionista, inclusive na navegação do rio das velhas, lavouras de café, algodão, cana-de-acúcar e serrarias.

Fez curso primário no Seminário de Diamantina, transferiu-se para o Rio de Janeiro, iniciando engenharia na Politécnica, concluído na Escola de Minas de Ouro Preto. Quando a província do Ceará foi presidida pelo mineiro Carlos Honório Benedito Otoni, Francisco Sá se viu conduzido a engenheiro fiscal da Estrada de Ferro Baturité, a primeira do Ceará, ligando-a a Pernambuco.

Daí para frente, só novas incumbências e graves responsabilidades naquele tempo de constantes variações políticas regionais. Deputado provincial por Minas Gerais em 1888-1889, deputado geral pelo Ceará em 1889, reeleito para as legislaturas 1897-1899, 1900-1902, 1903-1905, e senador em 1906-1909, 1912-1915, 1922-1926 e 1927-1930. Esteve à frente da exploração de depósitos de salitre em Minas Gerais, no vale do Rio das Velhas, e Bahia, e engenheiro fiscal da Estrada de Ferro Mogiana. Em Minas, foi inspetor de terras e colonização, na gestão de Afonso Pena (1892-1894), e secretário da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, com Crispim Jacques Bias Fortes (1894-1898), renunciando para assumir mandato de deputado federal. Nomeado ministro de Viação e Obras Públicas (1909-1910) por Nilo Peçanha (1909-1910), inaugurou o rádio no Brasil.

No ministério, destacou-se pela criação da Inspetoria de Obras Contra a Seca (1909), que passou a coordenar as ações destinadas a prevenir e atenuar os efeitos das estiagens, antes distribuídos dispersamente no ministério, responsável pela construção de açudes, poços, canais de irrigação e barragens. Era antecipação nacional de combate às secas e da própria Sudene.

Deve muito a nação à atuação de Francisco Sá, responsável em termos norte-mineiros, pela implantação da Estrada de Ferro Central do Brasil. Em 1926, finalmente, com muita festa, música e foguete, se inaugurou o ramal de Montes Claros, a mais importante cidade da região.


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Por Manoel Hygino - 11/1/2023 09:17:00
A guerra irregular

Manoel Hygino

Um profissional de imprensa foi mais uma vez vítima por estar no exercício de suas obrigações. Aconteceu no último dia 5, quinta-feira, nas proximidades de um acampamento instalado nas proximidades da Companhia de Comando da 4ª Brigada Militar, na avenida Raja Gabaglia. Mencionado profissional, fotógrafo do jornal “Hoje em Dia”, apenas cumpria ordens para produção de matéria sobre a permanência de grupos que ali se instalaram.

À distância, ele realizava seu trabalho, quando foi perseguido por manifestantes abusivamente. Viu-se, assim, pessoas sem atividade útil qualquer naquela ocasião e local, partirem para ataque a um cidadão que simplesmente cumpria sua missão.

O malogrado tentou escapar à fúria dos acampados, correndo a esconder-se detrás de um carro. Era o que lhe restava, mas foi derrubado e arrastado pelo piso da via pública, recebendo socos, chutes e até pauladas. Sofreu um corte na cabeça, o que o obrigou a atendimento médico em unidade de saúde. Quanto aos seus equipamentos, os resultados também foram perversos. A câmera fotográfica desapareceu e as respectivas lentes foram danificadas, impedindo seu uso a partir de então.

Como não poderia deixar de ser, prestigiosas entidades sociais e de profissionais de todo o país hipotecaram solidariedade ao trabalhador de comunicação, pedindo – ou exigindo – “justiça e punição” para os agressores, até porque não se trata do primeiro episódio do tipo, que se estende a outros atentados no Ceará, Espírito Santo, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.

Estas atitudes se tornaram costumeiras, sobretudo à porta dos quartéis causando intranquilidade e medo nas vias públicas, principalmente nas capitais.

Segundo autoridade no assunto, as guerras não são mais as mesmas. Em vez da confrontação militar, o mundo vem assistindo a uma série de embates “irregulares”, como terrorismo, guerrilha, insurreição, movimentos de resistência e conflitos assimétricos em geral.

É o caso da Raja Gabaglia, que exige atenção do poder público, se repetiu em Brasília, criminosamente. O que aconteceu na Capital Federal, domingo, foi uma exibição contra a democracia, com atos de terrorismo não típicos da índole do povo brasileiro. O prólogo foi em Belo Horizonte.


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Por Manoel Hygino - 10/1/2023 09:20:04
Bento XVI diz adeus

Manoel Hygino

Aconteceu como seu sucessor, Francisco, praticamente previra. O papa Bento XVI, de 95 anos, não resistiu ao agravamento de seu quadro clínico e da idade e faleceu com o ano 2022, enquanto as ruas de todo o mundo exultavam o número novo no calendário. As manifestações de pesar e solidariedade se repetiram por todas as nações, inclusive entre aquelas que não integram a Igreja de Roma, como a Ortodoxa russa.

Considerado um dos maiores teólogos deste nosso tempo, Bento XVI encerrou seu período à frente da Igreja em um aposento solitário no Vaticano, anos após participar no Brasil das festividades de canonização de Frei Galvão, o primeiro santo aqui nascido. Esteve presente em todos os atos, reconhecendo o milagre da restauração da saúde de Enzo, de 7 anos, desenganado pelos meios médicos.

Mas o notabilíssimo estudioso da Igreja, de sua história, de dúvidas que resistiam apesar da fluência do tempo, dos erros tornados públicos, como o desvio sexual de sacerdotes e de questões envolvendo o Banco do Vaticano.

O pontífice alemão não conseguiu resistir mais, contudo, às dores e atropelos e resolveu renunciar ao trono que Pedro inaugurara séculos antes. Em sua visita ao Brasil, em maio de 2007, Bento XVI teve ensejo, em várias ocasiões, de apelar em favor dos pobres e enfermos, enfim de todos os necessitados.

Às lideranças políticas brasileiras, usou um tom de cobrança, perfeitamente válido nesta hora de sucessão no comando da administração. Afirmou: “Cumpre formar nas classe políticas e empresariais um autêntico espírito de veracidade e de honestidade. Quem assume uma liderança na sociedade deve procurar prever as consequências sociais, diretas e indiretas, a curto e a longo prazos, das próprias decisões, agindo segundo critérios de maximização do bem comum, ao invés de procurar ganâncias pessoais”.

Visitando em Guaratinguetá, uma obra de reabilitação de dependentes químicos, admoestou: “O Brasil possui uma estatística, das mais relevantes, no que diz respeito à dependência de drogas e entorpecentes”. Logo imprescindível e urgente, prioritária, a reinserção dos que caíram no engodo criminoso das drogas e a volta ao abrigo do bem, do lar, da saúde e de Deus.


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Por Manoel Hygino - 7/1/2023 08:35:31
Agora, sem rei

Manoel Hygino

Seria, ou é, impossível alguma opinião, sequer uma simples frase, ao que já se disse e publicou sobre o passamento de Pelé, já pretérito, triste, para uma nação que ultimamente sente tantas dores e decepções. O pesar pelo falecimento do atleta do século foi uma explosão de um povo que acompanha o futebol como esporte maior e recarrega baterias para os deveres do dia e do porvir, com de precária alegria.

Pelé permanecerá, já lenda e história, enquanto o corpo do cidadão brasileiro de 82 anos descansará dos embates que caracterizaram uma vida quase em plenitude. Sem se imiscuir na vida política, julgou-se no direito ou dever de não jogar em 1974 “por desgosto em relação ao regime político do país”. Era a época da ditadura”.

Nascido no curato do Santíssimo Coração, elevado a paróquia por decreto imperial de 1832. Três Corações, no Sul de Minas, não é uma cidadezinha, como a descreveram alguns repórteres de rádio e televisão. É um núcleo com cerca de 100 mil habitantes, às margens de rodovia federal, em que se ergueu uma estátua ao herói do futebol. O nome atual lhe foi dado por lei de 1923, há um século.

Cidadão brasileiro reverenciado em todas as nações, Edson Arantes do Nascimento é um dos poucos esportistas que jamais se envolveu em disputas mesquinhas, em agressão física ao adversário, em participar de questiúnculas de vestiários e malévolas conversas da frivolidade social. Viveu a existência intensamente.

As gerações de hoje irão orgulhar-se por terem visto o craque eterno nos campos de futebol de todo o mundo, de tê-lo acompanhado em partidas sensacionais, o que constitui um privilégio.

O menino que saiu da terra natal aos 4 anos, de família humilde interiorana, no auge da carreira não deixava de dar graças a Deus por seu êxito e de rogar em nome dEle bênçãos para as pessoas de sua convivência, ou a quem devia algum tipo de agradecimento.

Edson Arantes do Nascimento exibia sorrisos quase sempre diante dos fotógrafos. Era bom humorado e otimista. Tinha razão: enfim sua mãe tinha nome adequado – Celeste. Com mais de cem anos, ela sobreviveu para assistir a glorificação do filho, rogando para que suba aos céus.


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Por Manoel Hygino - 3/1/2023 08:56:20
Um período difícil

Manoel Hygino

O novo governo da velha República tem início estigmatizado pelos desencontros das eleições realizadas em 2022 e que despertaram uma onda de dúvidas quanto ao futuro, acalentada duramente pelos temores legados por movimentos de pessoas e grupos associados ao quatriênio que terminou.

O brasileiro, agora desencantado com as perspectivas de um tempo mais pródigo e sadio, se revela ansioso por conquistar igualdade entre os segmentos da sociedade, nivelados no direito a uma vida digna material e espiritualmente. Pensa e remói incertezas.

O panorama mundial não é dos mais promissores, a América Latina novamente se envolve em perigosas expressões de desconfiança ou de desaprovação de seus dirigentes, e no Brasil, temos não poucas divisões e litigâncias, facilmente identificáveis pela mídia.

Aylê Quintão, jornalista mineiro radicado em Brasília, professor, com experiência em importantes veículos de comunicação e atuação no exterior, também se atribula diante das circunstâncias adversas da hora presente. Em recente artigo, manifestou-se: “Cerca de 13,7 milhões vivem abaixo da linha da pobreza extrema; milhões de trabalhadores estão desempregados; dez milhões são analfabetos. O saldo é de quase miséria e desigualdade, crescentes. Para a socióloga Renata Duarte, da UFPe, crianças nascidas em um contexto de pobreza têm maior probabilidade de se tornarem famílias pobres de amanhã. Todo cuidado é pouco. Não tiramos ainda a sorte grande. Recomenda-se calma. Nesse cenário ministerial confuso, não há e não haverá futebol nem Natal que salve o brasileiro. O Planejamento não resolve problemas, traça perfis. Sem bom senso, teremos de conviver ainda por muito tempo com um Brasil problemático”.

A Copa do Mundo se foi, os hermanos limítrofes ao Sul se consagraram, apesar de seus numerosos e difíceis desafios, inclusive da inflação que corrói orçamentos e destrói planos e sonhos. Para o Brasil, sequer sobrou a ilusão do próximo período carnavalesco e de fim de ano, já transcorrido, boicotado por salários baixos e, além e acima de tudo, com o espectro da Covid perambulando pelo grande território.

Não há soluções definidas e prontas para soluções em curto prazo. O novo governo, assentado há poucos dias, enfrentará uma guerra extensa e violenta em todos os quadrantes, enquanto os candidatos a cargos públicos na gestão recém-iniciada levantam as mãos e gritam: olha, eu aqui.


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Por Manoel Hygino - 31/12/2022 07:57:18
Escoteiros sempre

Manoel Hygino

A iniciativa de George Washington de Oliveira Souza, no final de semana, na capital da República, visando fazer explodir um artefato nas proximidades do aeroporto, está sendo investigada no âmbito da polícia civil. O que demonstra que a autoridade pública está atenta aos acontecimentos, como não poderia deixar de ser.

Em depoimento à polícia, o indivíduo suspeito declarou que planejara com manifestantes nas proximidades do Quartel General do Exército, a instalação de explosivos, em, no mínimo, dois locais da cidade- sede do governo federal, desse equipamento para “dar início ao caos” que levaria à “decretação do estado de sítio no país, podendo assim provocar a intervenção das Forças Armadas”.

Em resumo, empresário, por vontade pessoal, um indivíduo de nacionalidade brasileira, decidiu intervir na vida do país, depois dos resultados eleitorais do pleito deste 2022, com os quais não concordara. Acrescentou, ele, ainda, outros pormenores do plano frustrado, com instalação de uma bomba na subestação de energia elétrica em Taguatinga e de explosivos em postes de iluminação, naquela cidade do Distrito Federal.

Para seus propósitos perversos, esperava contar com outros simpatizantes de sua ideia, graças ao que conseguiria o desfecho de uma tragédia no centro dirigente dos destinos nacionais.

O famigerado planejador confessou que, para seu projeto, utilizava seus próprios meios financeiros, e seria seguido por pessoas solidárias, inclusive para aquisição de armas como as de que dispunha e trouxera do Pará, estado em que reside.

Num país que se julgava pacífico e que atribuiria maquinações dessa espécie às esquerdas, o plano macabro e terrorista esclarece que também a direita estava disposta ao embate que convulsionaria o Brasil. Temos de ficar em alerta, como escoteiros da pátria, em todos os rincões e com qualquer idade.

O novo governo, deste modo, começa lidando com um problema, que considero grave e, além disso, que exige providências urgentes para que as consequências não sejam mais funestas. O imprescindível e inadiável é que nascemos cidadãos deste país que habitamos e em que nascemos sejam antes de tudo patriotas, o que vem faltando, ininterruptamente quase.

Em todo caso, cabe esperar com confiança e fé.


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Por Manoel Hygino - 28/12/2022 09:33:11

Uma voz ao Sul

Manoel Hygino

Pode ser que esteja sendo vítima de pessimismo. Não é bem assim, mesmo vivendo em um período difícil do Brasil como nação, de país que abriga gente aqui nascida ou procedente de outros rincões do planeta. Mas os números e comentários de outros autores, que não eu, revelam a coincidência de pensamento e julgamento sobre temas marcantes da vida brasileira, sobretudo com as incertezas e rudezas da hora.

Mas, há também semelhança em termos de análise, e manifestação sobre autores daqui e dali. É o caso de Enéias Athanázio, do Balneário Camboriú, em Santa Catarina. Tornou-se personalidade da história local e estadual, pelo muito que já difundiu sobre a província de que um mineiro foi presidente em priscas eras. Refiro-me a Antônio Gonçalves Chaves, que já passara pela chefia dos destinos de Minas por duas vezes, sendo honrado com a direção dos negócios públicos da bela província do Sul.

Minas e Santa Catarina se apresentam de mãos dadas em oportunidades várias. Uma delas, aliás, graças a Enéas, ardoroso admirador da obra de Godofredo Rangel e de Monteiro Lobato, representantes das três unidades da Federação ligadas por escritores de nível nacional.

As qualidades indiscutíveis do autor de Santa Catarina foram, mais uma vez, há pouco, enaltecidas em “Opúsculo”, o articulismo cultural de Enéas Athanázio, do mineiro Guilherme Queiroz de Macedo, que focalizou o precioso conteúdo da obra do escritor catarinense.

Ele se explica: “Diante de 75 livros já publicados por Athanázio (60 livros e 15 opúsculos), é impossível, dentro dos limites de espaço, citarmos todas as obras. Gostaria de destacar as seguintes obras: a novela literária ‘A Liberdade fica Longe’ (2001, 2007), uma das obras que sintetiza como se constitui o leitor e o escritor, através do gosto e do prazer estético pela leitura e escrita literárias. Dentre as obras enviadas pelo autor destaco ainda ‘Vida Confinada’, relato de autoficção do autor sobre a sua trajetória estudantil em um colégio interno católico no final das décadas de 1940 e início da década de 1950 do século XX, a qual foi objeto de abordagem em dois artigos publicados no periódico “Escrituras Brasileiras” (2008). Outra interessante obra literária do autor, entre 1999 e 2001, foi o livro ‘Fazer o Piauí: crônicas do meio norte’ (2000), sobre o intercâmbio do autor com os autores e a vida cultural daquele estado, cujos frutos mereceram posteriormente outra obra, denominada ‘Meu Amigo, o Piauí’, lançada em 2008”.


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Por Manoel Hygino - 24/12/2022 07:56:31
Minas, como ela é

Manoel Hygino

De querida senhora da sociedade de minha terra natal, Montes Claros, recebi a pergunta: “O que você acha que vai ser do nosso amado Brasil daqui para frente? Estou muito angustiada quanto aos acontecimentos nacionais”. O desembargador Rogério Medeiros me ajuda na resposta, citando Alceu Amoroso Lima, na revista “MagisCultura”: “As montanhas de Minas Gerais limitam os horizontes e os habitantes vivem de forma tranquila e pressa. Os mineiros são ensimesmados e meditativos”.

Affonso Romano de Sant’Anna observa: “Minas é um modo de ser e de estar”. A riqueza de Minas está inscrita no seu próprio nome – é um estado plural. Plural de montanhas, plural de minérios e de mineiros (...). “Os mineiros se divertem a si mesmos e aos demais falando da “mineiridade” (sabedoria) e da “mineirice” (esperteza)”.

Na política, Benedito, Alkmim e Tancredo Neves ilustram esse anedotário. E outros se especializaram nessa irônica interpretação, como Guimarães Rosa, Drummond e Fernando Sabino. O próprio genro de Benedito Valadares, governador de Estado quando nos demais eram interventores, o que explica o jeito e a maneira de ser mineiro: “Ser mineiro é esperar pela cor da fumaça. É dormir no chão para não cair da cama. É plantar verde pra colher maduro. É não meter a mão em cumbuca. Não dar passo maior que as pernas. Não amarrar cachorro com linguiça. Porque mineiro não prega prego sem estopa. Mineiro não dá ponto sem nó. Mineiro não perde trem (...). “Evém mineiro. Ele não olha: espia. Não presta atenção: vigia só. Não conversa: confabula. Não combina: conspira. Não se vinga: espera. Faz parte do decálogo, que alguém já elaborou. E não enlouquece: piora. Ou declara, conforme manda a delicadeza. No mais, é confiar desconfiando. Dois é bom, três é comício. Devagar, que eu tenho pressa (...). Um Estado de nariz imenso, um estado de espírito: um jeito de ser. “Manhoso, ladino, cauteloso, desconfiado – prudência e capitalização”.

Assim sendo, o homem de Minas deixa a viola da seresta e parte sem temor para uma revolução, como se fossem assemelhados. O que mineiro não aprova é perder a namorada ou uma batalha. Basta conferir na história, também varia em muitos setênios. Como disse Drummond, poeta e mineiro, “o Estado mais conservador da União abriga o espírito mais livre, porque a aparente docilidade esconde reservas de insubmissão, às vezes convertida em ironia”.



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Por Manoel Hygino - 21/12/2022 09:18:46
Quando Jesus nasceu

Manoel Hygino

Quem desejar conhecer mais a Bíblia sem se arvorar a dizer-se especialista, poderá seguir o meu exemplo: recorrer a “O livro de curiosidades da Bíblia”, de Pedro Rogério Moreira, ex-correspondente da Globo na Amazônia, embora uma coisa nada tenha a ver com a outra. O escritor, filho do ex-presidente da Academia Mineira de Letras, Vivaldi Moreira, e que lá o substituiu, esclarece sobremaneira quando se tem necessidade.

Como estamos na semana natalina, resolvi consultar Pedro Rogério sobre o aniversário de Jesus. Ele respondeu incontinenti: Os evangelistas não informaram o dia, nem o ano, do nascimento do mestre. As pesquisas documentais e astronômicas mais atuais, algumas baseadas em referências históricas encontráveis nos Evangelhos, mesmo as meteorológicas e cômicas (como a aparição do cometa tido como a Estrela de Belém), informam que Jesus deve ter nascido no fim do ano de 748 de Roma, correspondente ao ano 6 da Era Cristã. Já é algo de precioso chegar-se à conclusão.

Mas o escritor se julgou no dever de também perguntar: Por que a diferença entre o antigo calendário romano e o calendário cristão? Ele explica: Culpa cabe a um monge, chamado Dionísio, o Exíguo, a quem a Igreja solicitou que ficasse a data de nascimento de Jesus. E, segundo a “Vida de Cristo”, de Ricciotti, o Exíguo errou no cálculo astronômico, fixando-o no ano 753, e o mundo moderno aceitou e perpetuou o erro.

Outro pormenor que se aprende: Os chamados reis que foram adorar o Menino Jesus em Belém não eram soberanos, mas magos - segundo o único evangelista a mencioná-los, em Mateus 2.1. A interpretação dos estudiosos indica que eram astrônomos persas procedentes do Oriente, ou seja, sacerdotes do zoroastrismo.

Mais um pormenor: o evangelista não diz que eram três, nem os seus nomes não são citados. O Belchior, Baltazar e Gaspar foram dados pelo folclore dos primeiros séculos da cristandade, e os nomes “pegaram” e usados até este século XXI.

Para finalizar: o profeta Isaías foi quem denominou o Cristo, na sua antevisão do nascimento do Menino Jesus: “Nasceu para nós um menino; o nome que lhe foi dado é Pai dos tempos futuros, Príncipe da Paz”.


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Por Manoel Hygino - 17/12/2022 07:26:44
O novo limiar

Manoel Hygino

Estamos no limiar de um novo ano. Limiar é uma palavra bonita, curta e sonora. É a porta de entrada, o começo, princípio. Realmente 2022 se está esvaindo, agonizante. Depois do fracasso fragoroso do Brasil, disputa de uma competição de esporte em que era considerado um dos maiores do mundo, tudo parece gris, cinzento, sobretudo para este povo que se formou no hemisfério Sul da América e sonhou com o melhor e mais promissor.

E o escritor português Camilo Castelo Branco anotou em romance: “Não te digo que faças confissão pública dos teus erros, no limiar da Igreja”, a que outro conterrâneo acrescentaria: “Antes de qualquer ideia de desconfiança, coloque a sua comoção no limiar do raciocínio”, algo que soa como uma espécie de aconselhamento aos que alimentavam na Copa a expectativa de bom sucesso.

Num mundo em que perpassam tantas incertezas, um novo começo é sempre portador de desconfiança. Daqui a pouco, instala-se um governo gerado por uma terrível dicotomia política, por polarização jamais tão poderosa após a Revolução de 1930 e, depois, pelos efeitos da de 1964, sobre a qual tanto se discute sem resultar em propostas positivas práticas.

O que nos reserva a História depois dos acirrados debates eleitorais de 2022? O mundo atravessa difícil processo de tentativas de refazer-se no campo político, econômico, geográfico e social.

Ainda persistem sinais de desavenças que podem conduzir a enfrentamentos bélicos, que admitem até a ação nuclear.

Estamos numa terrível encruzilhada em que a guerra da Rússia contra a Ucrânia se tornou apenas uma experiência mal sucedida de conquistar quinhões de terra para favorecimento dos mais poderosos e ambiciosos.

Segundo advertiu recentemente o jornalista Aylê-Salassié, o mundo poderá entrar em guerra logo. Os mandões nos países de maior expressão territorial e forças militares desdenham as consequências, protegidos pelos aparelhos do Estado. Quem vai sentir a sua cidade destruída, sua casa invadida, fugir das bombas e morrer é a população civil. Em um cenário como esse, a palavra perde o sentido assim como o cidadão os direitos enraizados na cultura e a própria terra de origem.

Os líderes, perversos não se comprometem a respeitar limites, o próprio planeta, sem pensar na destruição e desolação que causam.


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Por Manoel Hygino - 13/12/2022 08:56:39
As capitais

Manoel Hygino

Belo Horizonte faz aniversário. São 125 anos desde sua inauguração naquele memorável 12 de dezembro de 1897, quando as atenções da República para cá se transportaram. Foi uma extensa campanha para a transferência da sede da capital do Estado para onde finalmente ela se implantou.

O historiador Waldemar de Almeida Barbosa, que para que veio 1927, sublinho como se deu a importante medida, que constituiu verdadeira guerra que os ouro-pretanos se moveram contra a mudança. Uma comissão foi obrigada a ir ao Rio para procurar o Marechal Deodoro, presidente da República, para pedir sua interferência no sentido de impedi-la.

Tamanho e tão sério ambiente de hostilidade da antiga Vila Rica contra os mudancistas, que o Congresso Mineiro se viu coagido a funcionar em Barbacena, a fim de decidir livremente.

Mas o que é mais valioso, como ressalta Almeida Barbosa, é que a providência, isto é, a transferência, teve o mérito de salvar Ouro Preto. Caso a capital tivesse lá permanecido, a criação de órgãos administrativos, a ampliação de empreendimentos indispensáveis à gestão pública, teriam resultado no sacrifício de notáveis edificações arquitetônicas antigas, além de relíquias artísticas e históricas.

São eles, aliás, que fazem da velha cidade, mais uma vez sob a direção do Prefeito Ângelo Osvaldo de Araújo Santos, a maravilha que atrai e recebe visitantes de todo o país e do exterior. Se Ouro Preto é, ainda hoje, o que é, deve-o inegavelmente a Belo Horizonte. A nova metrópole se tornou uma espécie de anjo salvador de Vila Rica, sucessora de Mariana como sede do governo.

Daí, a responsabilidade social do belo-horizontino ao zelar pela nova capital. Está, por via de consequência, contribuindo para preservar o notável legado que o passado atribuiu à antiga capital, de insuperável grandeza como reconhecido por organismos internacionais.

Não sem razão, Bouvard, chefe do serviço de urbanismo de Paris, declarou, em 1911, que cabe “aos poderes públicos apenas respeitar seu plano, e prosseguir na obra inteligentemente delineada”.




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