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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 19 de maio de 2024
 

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Mensagem: Em Rosa, os mistérios

Manoel Hygino dos Santos (Jornal Hoje em Dia, 06/12/2006)

Há inexplicáveis coisas em torno e dentro das pessoas, algo além de nossa vã filosofia, como disse o bardo de Straford. Pois Luiz de Paula Ferreira, prosador, poeta, compositor e industrial guardou um recorte de um jornal da capital, edição de 26 de novembro de 1967, com o artigo de Guimarães Rosa, “Vida-Arte-e mais?”<br>Aparentemente, nada demais. Mas acontece que a publicação do artigo ocorreu no sétimo dia da morte do escritor de Cordisburgo, o que chamou a atenção e o espírito investigativo do jornalista Paulo Narciso. Quando teria sido redigido? Bem antes, certamente.<br>São indagações que surgem e dúvidas que persistem. Rosa fora talvez, como cidadão, um homem comum. Mas, na verdade, demonstrou pairar sobre sua personalidade algo superior. A própria morte, três dias após a solene posse na Academia Brasileira de Letras, provoca uma indagação sobre o inexorável e sua consumação.<br>Sabe-se que foi eminentemente religioso, como escreveu o também imortal Dom Marcos Barbosa. Eduardo Almeida Reis, autor de vários bons livros, carioca de nascimento, que passou parte da vida no Rio, conhece, de fontes fidedignas, fragmentos da biografia de pessoas importantes e confirma o ilustre prelado sobre Rosa.<br>Eduardo me contou que Guimarães Rosa costumava telefonar para determinada senhora, também muito crente em Deus, e os dois, ligados a seus aparelhos, rezavam o rosário à noite. Há ainda fatos e gestos curiosos, contados num belo e excelente livro editado pela Giordano, que o editor gentilmente me enviou autografado.<br>Tudo isso é, como disse Paulo Narciso, um grande mistério que desafia o homem e seu pragmatismo. Caber-lhe-á, talvez, aprofundar-se no fascinante tema, que merecerá maior atenção da comunidade literária ao se aproximar o centenário do nascimento de Rosa: em 2008.<br>Pois no seu artigo, o autor de Cordisburgo faz confissão inequívoca: “Tenho de segredar que - embora por formação ou índole oponha escrúpulo crítico a fenômenos paranormais e em princípio rechace a experimentação metapsíquica - minha vida sempre e cedo se teceu de sutil gênero de fatos. Sonhos premonitórios, telepatia, intuições, séries encadeadas fortuitas, toda a sorte de avisos e pressentimentos. Dadas vezes, a chance de topar, sem busca, pessoas, coisas e informações necessárias”.<br>Teria pressentido a morte?<br>Na publicação de quase 30 anos, Rosa confessa que sítios, personagens, episódios de suas narrativas pareciam ter-lhe sido prontas, como se dizia das composições de Chopin. O autor de “Sagarana” confessa mais:<br>“No plano da arte e criação - já de si em boa parte subliminar ou supraconsciente, entremeando-se nos bojos do mistério e equivalente às vezes quase à reza - decerto se propõem mais essas manifestações”.<br>Rosa revela ter iniciado um romance (“A fazedora de velas”). Sua personagem enfermou, e só falava de sua doença grave, inconjurável, quase cósmica, e a tristeza a ele se transmitiu. Jogou as páginas na gaveta.<br>“Mas as coisas impalpáveis andavam já em movimento. Daí a meses, ano-e-meio, adoeci, e a doença imitava, ponto por ponto, a do narrador! Então? Más coincidências destas calam-se com cuidado, e claro não se comentam”.

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