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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 25 de novembro de 2024
 

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Mensagem: As águas passadas

Manoel Hygino dos Santos (Jornal Hoje em Dia, 17/01/2006)

No último dia 5, comentei aqui o Lua Nova, bar no edifício Maletta, que foi por muitos anos ponto de encontro de jornalistas, escritores, artistas, professores, em Belo Horizonte. Agora, saiu um livro sobre aquela gente que fez da capital mineira um núcleo intelectual importante. <br>Para Luiz de Paula Ferreira, advogado, escritor e empresário em Montes Claros, o café ou boteco pode ser considerado uma instituição nacional e indispensável à comunidade, como sobre o Lua Nova se expressaram várias personalidades. Ao da capital ocorria, por exemplo, o médico e hoje pintor consagrado Konstantin Christoff, como conta o volume recém-editado. <br>Mas Luiz de Paula recorda um estabelecimento de seu tempo em nossa cidade. Revolvendo velhos papéis, motivado pela minha crônica, encontrou anotações sobre o Bar do Norte, o Bar de `seu` Tito, por sinal irmão de Cyro dos Anjos, autor de livros inesquecíveis e cujo centenário de nascimento se comemora neste 2006. <br>Quantos passaram pela esquina da Rua Governador Valadares com Simeão Ribeiro, na noite de 18 de setembro de 1966, depois das 20 horas e até alta madrugada, se surpreenderam com uma inusitada aglomeração. <br>Vou simplesmente repetir o que diz Luiz de Paula: Escrevia-se naquele dia e naquela hora uma página da história de Montes Claros. Fechava-se o bar de `seu` Tito, depois de a casa, tradicional e amiga, cumprir destino igual ao que, um dia, cumpriu no Rio de Janeiro o Café Nice, tradicional ponto de reunião da intelectualidade e da boemia da terra carioca. <br>Ali pontificaram Olavo Bilac, Raul Pederneiras, Emílio de Menezes, José do Patrocínio e muitos outros. Ali tão notáveis brasileiros marcavam encontros e ali deixavam recados. Ali também florescia a poesia do Brasil, antes que os modernistas em 1922 viessem revolucionar o legado de gerações. <br>Ao Bar do Norte afluía a geração da mais sadia boemia da cidade, gente de vária formação e profissões, movidos pelo mesmo interesse de devanear, conversar, espairecer, desligar-se dos cotidianos problemas ou sobre eles esmiuçar. <br>Era mescla de pensamento e doce contemplar das cousas. Nunca faltou platéia. Que páginas, que segredos, que presença de vida em cada noite daquele bar. Benjamim dos Anjos, José Luís Barbosa, Nélson Versiani, Antônio de `seu` Basílio, João de Paula, Vírgilio Pereira, João Botelho, Joaquim Abreu, Domingos Lopes, Olímpio Abreu, Luiz de Paula, João Mió, João Estrelinha, Juquinha Catinga Limpa, Isidório das Vertentes, Augusto-Cadê-a-Chuva, Abdias Marceneiro, Dr. Olegário dos Anjos, Dr. Henrique Chaves, o poeta Geraldo Freire, João Capivara, José de Chico Doce, Domingos de Timóteo, Benedito Maciel, José Paraíso, Augusto Guimarães, Juca Barbosa, Telé Guimarães, Dr. Alfredo Coutinho, Demerval Pena, Ernesto Moles, Hermes Pimenta, Paraguayto, Odilon da Força e Luz, Quinca Malveira, Vavá Alfaiate e tantos e tantos outros. <br>Com tantos bares, cafés, confeitarias, botecos do Brasil, viu encerrada a carreira, descendo inexoravelmente as portas sobre um tempo que não volta mais; sobre gente que sabia e precisava passar sobranceiramente os dias, aproveitando a cálida presença dos amigos. <br>Assim como inúmeros estabelecimentos de Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro, de cidades espalhadas pelo imenso território, o Bar de seu Tito, depois de participar da vida de sua comunidade, pagou tributo à transitoriedade dos homens e de suas cousas. Cessou ali o ambiente propício ao debate franco das idéias da busca abstrata das soluções. Os que sobrevivem àquela época sabem-no perfeitamente. <br>Divido com Luiz de Paula as reminiscências deste escrito, tão marcado pelo calor humano. Sic transit gloria mundi.

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