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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 25 de novembro de 2024
 

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Mensagem: DE BUARQUE A SHAKESPEARE, SEM MEDO DE SER FELIZ


Não sei se para todo mundo, mas a mim, particularmente, sempre me pareceu que as vacas – durante toda a minha curta e prosaica existência - foram (e continuam, infelizmente) magras. Falta-me, confesso, um dinheirinho sobrando, para umas viagens que não fiz - e gostaria de fazer - e umas pequenas melhorias na vida dos meninos. Mas tudo tem seu tempo, já disse alguém.E a gente vai levando.

Sina danada de pobre feliz, se é que é aceitável, na sociedade dita organizada, esta complexa afirmativa de existir real felicidade na pobreza material.
Por isso, desculpem-me, então, possíveis críticos e apressados analistas de comportamento, pois quero , antes de tudo, que saibam que nada se dirá aqui em favor da pobreza de espírito, esta, sim, sem jeito de se dar jeito, do início ao resto da vida. Vivam e durmam com ela , a quem de direito...E que Deus olhe por vocês.

Só que, pela santa e salomônica sabedoria das compensações divinas, depois que o tempo - como bem disse um dia o grande Chico - vai passando, roda mundo, roda-gigante, rodamoinho, roda pião e rodou num instante nas voltas do coração - a gente começa a ver que, no fundo mesmo, elas, antigamente, eram mais gordas, simples e (porque não dizer ?) belas (ou pelo menos, pareciam) do que supunha esta vã e possivelmente tola filosofia hamletiana que me acomete e lhes repasso.

Certo dia, na velha Montes Claros, no Bar São Benedito, a meninada vibrou, certa vez, com uma grande e inesquecível promoção : os picolés ali seriam vendidos a dois por quinhentos réis . Para o pessoal mais novo não voar demais , mais ou menos, hoje, cinqüenta centavos.

Em todos os bares, Minas Bar, Big Bar, Sibéria e aquele da esquina da Praça Cel.Ribeiro, da mãe de Tony Colorido, continuava o mesmo preço : quinhentão o picolé.

A gente ria - alegria pura - e espalhava a boa nova nos quatro cantos da cidade , fazendo fila na porta do São Benedito, cheio das portas de dois metros de altura, ali na esquina debaixo, na Praça Doutor Carlos, do outro lado do Mercado.

Que maravilha, principalmente pra quem ganhava uma semanada de dois mil réis, que mal dava pro matinê no Cine São Luiz (ou Coronel Ribeiro) e um esperado e sagrado picolé, depois da suada sessão de bang-bang e seriado. Não sei se era Nioka ou a Volta do Sombra.

Se bem que , devo dizer, os picolés de groselha, tanto os redondos quanto os retangulares, não agüentavam uma chupada profunda ou muito forte : logo passavam de um rosa claro inicial para um total branco gelo-água, antes de se chegar mesmo à sua metade.

Mas ninguém reclamava, o calor e a sede eram os mesmos de hoje e chupar um gelinho era bão também....

Abraços a todos.

Flavio Pinto






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