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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 27 de setembro de 2024
 

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Mensagem: A ERA DO RÁDIO


No tempo do rádio, as emoções da Copa do Mundo eram outras, bem diferentes das proporcionadas pela televisão. Quem viveu (e ouviu) , dirá.

Não me arriscaria a dizer que melhores. Nem iguais. Simplesmente, outras.

Talvez a grande vantagem (ou diferença) era que, pelo rádio, tudo que rolava dentro dos mais longínquos gramados nacionais, se filtrava na imaginação de cada um, por este interior afora de um imenso Brasil, acompanhando seu jeito e maneira de ser e transcendia todos os limites e fronteiras da Terra ou espaço infinito , onde todos os planetas e estrelas tornavam-se palcos naturais da grande arte brasileira de bem saber jogar futebol.

Mais ou menos como se vê nas propagandas da Nike (acho que copiaram nossos sonhos) : a bola indo e voltando, na ligeireza de um pensamento, de um ponto a outro no Universo, levando paz e alegria para todos os povos.

E só o rádio - porque na tv mostram o que querem que se veja - conseguia passar tudo isso, dando asas à imaginação de todo um povo que parecia estar longe dos conhecimentos da Corte. Só parecia, Deus seja louvado. A história depois nos contou.

As jogadas, os gols e os dribles independiam do tamanho da verborréia especializada dos irados locutores que , honra seja feita, se esforçavam ao máximo para nos contar em detalhes a simples realidade. Só que a realidade deles estava bem abaixo do que sonhávamos.

E ali mesmo, na Rua de Trás - velho palco de tudo - após cada jogo, tentávamos, não totalmente em vão, fazer o que nossos ídolos realizavam em campo.

Só valia gol bonito. Pra começar.

Matar nos peitos, com elegância, uma bola cruzada e com o calcanhar dar um chapéu perfeito num adversário, para depois emendar um tremendo de um sem-pulo, estufando as redes e levantando a multidão.

Multidão esta - ali na nossa rua - de não mais que duas funcionárias municipais varrendo-a com devoção, tagarelando sem prestar atenção a nada e , a compor o décor de uma cena antiga, modorrentos carros de boi, um após outro, rangentes e demorando a passar, a bola ciscando debaixo dos animais que teimavam em chutá-las de pata em pata, parecendo não querer devolvê-la.

Ou, se goleiro fosse, como o lendário Tony Bufão (só de vez em quando aparecia no Larguinho , mas lá deixou sua marca de goleiro voador), e fazer uma acrobática ponte, à Pompéia (antigo goleiro do América do Rio, que foi seu grande ídolo), voando , naturalmente, como se fosse um livre passarinho, até o inatingível ângulo contrário e espalmar a bola para escanteio.

Melhor do que isso, sempre nos disse o mesmo Tony, era defender, na ponta dos dedos, um pênalti, no último minuto. Suprema glória, principalmente se aquela linda moça dos seus sonhos estava passando na hora. Aí , valia todo o sacrifício, por que goleiro apaixonado que se preze mergulha no cascalho por qualquer bola rasteira, arregaçando braços, joelhos e cotovelos.

O mesmo acontecia com candidatos a futuros artilheiros que, diária e sistematicamente, enfiavam o mesmo dedão do mesmo pé - sempre machucado e enfaixado - na mesma pedra do meio da rua, para dó e desespero de todas as mães e tias existentes, pacientes santas milagrosas que nunca cansavam de nos curar num dia, para fazermos tudo de novo no outro.

Ao apagar das luzes, que é a hora própria de se ouvir histórias, sempre aparecia alguém contando, de maneira diferente - mas sempre emocionante - a velha saga dos dois irmãos, ambos jogadores de futebol.

Numa cidade longe, bem pra lá do sertão de Goiás, na mesma toada do “Chico Mineiro” : “um dizia : eu nasci pra pegar...e o outro : eu nasci para chutar...”

Novela popular de dramático e inesquecível final, quando o irmão, goleiro, morria com a bola nas mãos, ao encaixar no peito o terrível petardo desferido pelo seu próprio sangue, na cobrança de um pênalti roubado.

Todas as vezes que se contava esta história, tinha sempre um menino que chorava.

E a gente caçoava dele , sem nunca contar que - pelo mesmo trágico pênalti - já tínhamos chorado também....


Abraços a todos.


Flavio Pinto

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