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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 27 de setembro de 2024
 

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Mensagem: FILMES NA GARAGEM DA RUA DE TRÁS ( Parte I )<br><br>A garagem vazia e a inesquecível caminhonete “International-Harvester”, ano 47, na fazenda ou na loja perto da Praça de Esportes, felicidade geral dos meninos da Rua de Trás.<br><br>Era a conta para que ocupássemos o nosso estúdio cinematográfico.<br><br>Cinema e teatro ao alcance de todos. Mais uns poucos metros de quintal ao lado, com destaque para um glorioso pé de manga Ubá, ou Coco como queiram ( só sei que era a manga mais gostosa do mundo), nós tínhamos tudo . <br><br>A bem da verdade, o “nós” aí colocado vai com um certo exagero : éramos apenas co-participantes, talvez sócios minoritários sem direito a voto, diga-se, meros entusiasmados atores, tanto bandidos como mocinhos, produtores e continuístas ocasionais , pois quem mandava mesmo era o nosso amigo Alberto, o grande diretor do estúdio da garagem da Rua de Trás .<br><br>Graça no nome e méritos , já os tinha todos, para dar conta de tão bem lidar com a sétima arte. E assim seguiu sempre na vida : sempre caçador e vencedor na própria trilha que escolheu, deixando o dia da caça para quando quis. <br> <br>Senão bastasse isso, o maravilhoso quintal e garagem, a incrível câmera 8 milímetros alemã (não lembro a marca) , os cenários, as fantasias e mais do que tudo, as idéias (e que idéias !), todas eram dele . <br><br>Quando chegávamos para as filmagens, até os diálogos já estavam prontos. Apenas um breve ensaio e começava-se logo o filme.<br><br>Luz, câmera , ação. <br><br>Sentado na cadeira de lona - com seu nome escrito atrás com giz - ou com a câmera na mão, sério e concentrado, dava as ordens.<br>Em clássico estilo ligeiramente italiano, mais pra Vitório De Sica e Roberto Rosselini, embora no neo-realismo do nosso jeito, ou melhor, do jeito dele.<br><br>A meninada da vizinhança podia participar como extras e fazia-se fila no início das filmagens.Era uma festa . Grátis, ou melhor, um pagamento simbólico, qualquer manga que caísse do pé era de propriedade dos extras e artistas, desde que Huckleberry ( mais conhecido como Huck), o pastor alemão da casa, não a pegasse primeiro. <br><br>A claquete ( feita pelo carpinteiro da fazenda, o mesmo que fazia e consertava os carroções de boi) fechava, sem dó : Cena 3. <br><br>A partir dessa hora vivíamos um verdadeiro pandemônio. Chico Bóia na iluminação ( três lâmpada pregadas num caibro de madeira, ligadas num fio de cinco metros, escalpelado pelos dentes do cachorro, Huck, não podia nem passar perto de poça d’água que dava choque).<br><br>A Cena 3 : Claude Bello, deitado , agonizando , após levar um tiro num duelo do século dezenove, segurava o riso.<br><br>O barulho do tiro vinha de um traque dentro de panela velha de ferro fundido, colocado por Zé Chitimite. Só que ele tinha (pura sacanagem) acendido uns dez de uma vez só e jogado tudo dentro da panela.<br><br>A cena precisou ser refeita .<br><br>Alberto aos berros: “Ele morreu de um tiro só, pô, não foi de metralhadora não !<br><br>Alguém ao lado, curioso, pinicava : “Mas, Diretor, o filme não é mudo? Tanto faz, então, o número de tiros”. <br><br>E Alberto parava tudo, olhava firmemente nos olhos do interlocutor (que à esta hora já devia estar arrependido de ter falado alguma coisa) e dizia (pensando na posteridade , claro) : “ A boa intenção só vale se tiver um fundo de verdade”.<br><br>Todo mundo batia palmas para a genialidade do comandante e tudo voltava à normalidade. <br><br>Aí , começava-se tudo de novo.E toda a semana, tinha um filme diferente . Nós naquela mão de obra. <br> <br>(Aguardem o próximo capítulo. Soon. Neste mesmo espaço)<br><br><br>Abraços a todos.<br><br><br>Flavio Pinto <br>

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