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Mensagem: A POESIA DE VIRGÍLIO<br><br>A gente mantinha - desde algum tempo - correspondência pela internet.<br>Não muito freqüente, porém de valiosa consistência, principalmente quando me mostrava alguns escritos de sua lavra, na maioria lindos poemas, sempre retratando com sentimento fatos e personagens da nossa história - brasileira ou universal – guiado pela alma sensível e apaixonada do verdadeiro poeta.<br>Pelo seu próprio jeito de ser, calado e mais na dele, hesitava em publicá-los e vez por outra me perguntava o que achava. <br>Quando eu lhe cobrava, brincando, que já estava passando da hora de “mostrar pro mundo”, ele só dizia: “Será?” <br>Abraçando D.Fina, Virgínia, Valéria e Patrícia - nesta triste hora - peço permissão para publicar um, aqui no Mural, que bem expressa esta face poética do historiador, escritor e muralista Virgílio Abreu de Paula, pouco conhecida de muitos, mas não menos brilhante e imortal.<br><br>Abraços a todos.<br>Flavio Pinto <br> <br>IRACUNHÃ<br> Virgílio de Paula (2005)<br>Em festa a tribo<br>E o velho cansado<br>Sozinho consigo<br>Relembra o passado,<br>O tempo já ido<br>De jovem ousado<br>Audaz, destemido<br>Feroz, arrojado.<br> <br>- De que serve a vida<br>Doente e só?<br>Que triste legado<br>Do fado sem dó.<br>Não importa morrer.<br>Desvalido, magoado,<br>Que serve viver?<br> <br>Mas vê, de repente<br>Visagem encantada<br>No meio da gente<br>Que enche a taba<br>Uma bela tupi.<br>Seus lisos cabelos<br>Sua pele bronzeada<br>Seu rosto moreno...<br>- Igual nunca vi.<br> <br>Da vida a chama<br>Sente reluzir<br>O fogo do amor<br>Aquece-lhe a alma<br>Por que não amar?<br>Por que não sentir,<br>Mesmo em segredo,<br>O doce calor?<br>Melhor que penar,<br>Seu sol ressurgir.<br> <br>E feliz se descobre<br>Guardando segura<br>Na mente e no peito<br>A imagem tão nobre<br>A bela figura<br>O porte perfeito<br>Da doce cunha<br>Da doce criatura,<br>Iracunhã.<br> <br>Perdido de amores<br>À sombra deitado<br>O céu contemplando<br>De nuvens tomado<br>Qual flocos de lã<br>Ao sol da tardinha<br>Se esquece das dores<br>E vê, fascinado,<br>Sua doce indiazinha,<br>Iracunhã.<br> <br>Na mata sozinho<br>Pergunta ao vento:<br>Por que só agora?<br>Por que nesse tempo,<br>Com o corpo desfeito.<br>Por que não outrora<br>Que, com alento no peito<br>Caçava, pescava,<br>Lutava com afã?<br>Por que nessa hora?<br>Por que, oh Tupã?<br>Só agora a miragem<br>Da doce Selvagem,<br>Iracunhã?<br> <br>De que vale o canto das águas<br>Entre as pedras limosas do rio?<br>E o estrondo da catadupa?<br>Se o sabiá geme suas mágoas<br>Se trina, alegre, o canário,<br>Se chora triste a jaçanã?<br>Um som apenas escuta<br>E ouve, quase em delírio<br>A voz meiga, entoada,<br>De sua doce Iracunhã.<br> <br>Quando o vento sopra, sereno<br>Espalhando o perfume das flores<br>E a abelha, tonta de ciúme<br>Beija a flor numa orgia pagã<br>A despeito de tantos olores<br>Só sente, ama, o perfume<br>O perfume suave, ameno,<br>De sua doce Iracunhã.<br> <br>E ao deitar o corpo exaurido<br>Numa prece pede a Tupã:<br><br>- Que os deuses de amor imbuídos<br>Aliados a Jaci, tua irmã,<br>Te protejam dos fluidos medonhos<br>Emanados do vil Anhangá.<br>Te revejo, talvez em meus sonhos<br>Onde sempre, sempre estás,<br>Ou nas nuvens efêmeras, douradas<br>Pela luz do sol da manhã. <br>Minha doce querida, minha amada<br>Minha doce Iracunhã
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