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Mensagem: Relembrando os Natais da Infância“Quero neste Natal me renovar, renascer em mim mesma, quero multiplicar meus olhos para verem mais”.Cecília Meireles Dezembro chegou. E chegou envolvido pelo Espírito do Natal, dominado pela presença do Cristo-menino. Paira no ar o mistério do Natal. É um mês ao mesmo tempo alegre e triste. É uma época em que recordações, saudades e perdas afloram com mais força. Ao ver as luzes tremeluzindo por toda cidade, minha chama interior também acendeu iluminando meu caminho à procura dos Natais da minha infância.Ao iniciar a caminhada bateu uma angústia. Por que a angústia no Natal? Perguntei-me. Neste momento não consegui resposta e saí a procura dos Natais de minha infância, onde se esconderam? Em que curva do caminho ficaram?Não desanimo. Saio à procura e vou acha-los. Já se disse que o Natal é época de milagres; o meu aconteceu porque um menino que veio há 2000 anos, me pegou pela mão e levou-me a Janaúba entre 1945 e 1950.Aqueles Natais perdidos do passado retornaram inteiros, com a força do momento atual. Na época em que vivi em Janaúba tinha entre sete a dez anos. A cidade estava começando a arrancada de seu desenvolvimento para se tornar hoje o segundo pólo econômico do Norte de Minas.Ruas sem calçamento, casas modestas, vida simples.Na Rua Francisco Sá, onde morávamos, aos dias eram acrescidas mais esperança e alegria. Começavam os preparativos para o Natal. O ápice era o nosso presépio, onde o menino Jesus era o despojamento, a entrega, a felicidade suprema de nada possuir...Também nossa árvore de Natal era tão linda! Tão ingênua, tão caipira, mas tão brasileira...Em novembro já começávamos a juntar latinhas vazias de sardinha e marmelada para plantarmos o arroz. Mamãe orientava Ana e Geraldinha para ajudar-nos.Plantávamos nos primeiros dias de dezembro, para que dia 23, estivessem verdes e viçosos para enfeitar a serra do presépio.Depois arranjar carvão vegetal na padaria, moê-lo, mistura-lo com purpurina. Esta mistura era passada em papel de saco de cimento, umedecido com grude. Colocávamos em seguida para secar, sob o sol abrasador de dezembro.O presépio era montado em uma mesa de canto, onde se colocavam caixotes de madeira. Cobria-se este suporte com os papéis pintados, imitando serras e grutas.A manjedoura era coberta com areia branca do Rio Gorutuba, e na entrada da gruta a estrela-guia feita de papelão e revestida de purpurina, simbolizava um novo tempo, um novo caminho.Depois, de armado o presépio, íamos lavar as mãos sujas pelo carvão para dispor as figuras que representavam a natividade.Maria, José, o menino Jesus deitado em seu bercinho de palha, com as mãozinhas abertas, a nos acolher.O galo anunciando a boa nova, o burro, o boi, próximos para esquentar o menino com seu bafo. Carneiros, ovelhas, pastores e camelos.Descendo a serra, os reis magos.Nosso arroz plantado estava grande, de um verde bonito, alegrava o presépio. Naquela gruta, no silêncio da vida, na noite de luz, Maria nos oferecia o Salvador-Jesus.Depois de montado o presépio, era a vez de fazermos nossa árvore de Natal. Papai era quem liderava.Dia marcado, lá íamos nós à procura do galho mais bonito para representá-la. Como a cidade era pequena naquela época, suas redondezas eram cercadas por juazeiros, pitombeiras, umbuzeiros.Nossa árvore de natal era sempre um galho de pitombeira. Papai escolhia o maior e mais bonito! Como era tempo de pitomba, dos galhos pendiam os cachos dourados da fruta.Trazíamos com cuidado o galho escolhido e o colocávamos numa lata vazia de querosene jacaré, firmando-a com pedras. Uma folha de papel crepom vermelha cobria a lata.Agora, era começar a enfeitar nossa árvore.Já estavam prontas as guirlandas, também de papel crepom de todas as cores: vermelhas, azuis, rosas brancas, amarelas... Juntamente com as guirlandas balões de várias cores completavam a decoração.Impacientes, a noite do dia 24 custava a chegar. Mamãe rezava no presépio depois íamos para um cômodo da casa onde foi a loja, e de portas abertas recebíamos quem passasse, principalmente crianças que não tinham seu Natal.Pastorinhas chegavam, cantando ternas e singelas canções de Natal, nos emocionando e levando-nos abrir mais nosso coração e deixando entrar toda a alegria daquela noite diferente.Mamãe servia bolo com cobertura de glacê de laranja, refrescos, groselha, balas, doces e biscoitinhos. Todos se confraternizavam. Parecia que a centelha do Natal acendia em todos o fogo crepitante da vida, a alegria de viver e compartilhar.Íamos deitar quando a noite já ia alta e as estrelas claras brilhavam na atmosfera, tão presentes quanto há dois mil anos atrás. No dia 25, a alegria de achar os presentes juntos aos sapatinhos, sob nossas camas.Lembrando Machado de Assis, “mudou o Natal ou mudei eu? O Natal é o mesmo em sua essência, em seu mistério”.Mudaram-se os tempos. Globalização trazendo árvores de Natal com neve, renas, nozes, castanhas, papais Noéis que dançam consumismo exagerado, Natal artificial...Respeito as mudanças, procuro integrar-me a elas. Mas, neste Natal quero reencontrar a simplicidade, a singeleza dos Natais da infância.Quero repartir a esperança com quem não a tem, estender a mão para ajudar o outro.Constatei que quero reencontrar hoje a simplicidade e o encantamento dos Natais da infância, os Natais em Janaúba e compartilha-los com minha família e meus amigos.Envolvi-me no manto da saudade, não aquela saudade que machuca, mas aquela saudade boa que agradece a vida vivida.Sempre no Natal preciso de um tempo só para mim. Arrumo minhas emoções e minha casa. Resgato para mim mesma os Natais da infância tão simples, tão despojados...Quero viver este tempo de Natal recuperando pessoas, vivências, saudades.É um tempo de reflexão. Quero ver além do consumismo, “além do que todo mundo vê”.Estou pacificada, reencontrei meus Natais! Singelos, mas tão felizes!E agradecida me valho de Rubem Alves: “O Natal é um poema O Deus-menino é só amor. Criança é riso, brinquedo, alegria Por isso gosto muito do menino Jesus”.Carmen Netto VictóriaNatal de 2000.
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