Receba as notícias do montesclaros.com pelo WhatsApp
montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 25 de novembro de 2024
 

Este espaço é para você aprimorar a notícia, completando-a.

Clique aqui para exibir os comentários


 

Os dados aqui preenchidos serão exibidos.
Todos os campos são obrigatórios

Mensagem: Relembrando os Natais da Infância


“Quero neste Natal me renovar, renascer em mim mesma, quero multiplicar meus olhos para verem mais”.
Cecília Meireles


Dezembro chegou. E chegou envolvido pelo Espírito do Natal, dominado pela presença do Cristo-menino.
Paira no ar o mistério do Natal. É um mês ao mesmo tempo alegre e triste. É uma época em que recordações, saudades e perdas afloram com mais força.
Ao ver as luzes tremeluzindo por toda cidade, minha chama interior também acendeu iluminando meu caminho à procura dos Natais da minha infância.
Ao iniciar a caminhada bateu uma angústia. Por que a angústia no Natal? Perguntei-me. Neste momento não consegui resposta e saí a procura dos Natais de minha infância, onde se esconderam? Em que curva do caminho ficaram?
Não desanimo. Saio à procura e vou acha-los. Já se disse que o Natal é época de milagres; o meu aconteceu porque um menino que veio há 2000 anos, me pegou pela mão e levou-me a Janaúba entre 1945 e 1950.
Aqueles Natais perdidos do passado retornaram inteiros, com a força do momento atual. Na época em que vivi em Janaúba tinha entre sete a dez anos. A cidade estava começando a arrancada de seu desenvolvimento para se tornar hoje o segundo pólo econômico do Norte de Minas.
Ruas sem calçamento, casas modestas, vida simples.
Na Rua Francisco Sá, onde morávamos, aos dias eram acrescidas mais esperança e alegria. Começavam os preparativos para o Natal. O ápice era o nosso presépio, onde o menino Jesus era o despojamento, a entrega, a felicidade suprema de nada possuir...
Também nossa árvore de Natal era tão linda! Tão ingênua, tão caipira, mas tão brasileira...
Em novembro já começávamos a juntar latinhas vazias de sardinha e marmelada para plantarmos o arroz. Mamãe orientava Ana e Geraldinha para ajudar-nos.
Plantávamos nos primeiros dias de dezembro, para que dia 23, estivessem verdes e viçosos para enfeitar a serra do presépio.
Depois arranjar carvão vegetal na padaria, moê-lo, mistura-lo com purpurina. Esta mistura era passada em papel de saco de cimento, umedecido com grude. Colocávamos em seguida para secar, sob o sol abrasador de dezembro.
O presépio era montado em uma mesa de canto, onde se colocavam caixotes de madeira. Cobria-se este suporte com os papéis pintados, imitando serras e grutas.
A manjedoura era coberta com areia branca do Rio Gorutuba, e na entrada da gruta a estrela-guia feita de papelão e revestida de purpurina, simbolizava um novo tempo, um novo caminho.
Depois, de armado o presépio, íamos lavar as mãos sujas pelo carvão para dispor as figuras que representavam a natividade.
Maria, José, o menino Jesus deitado em seu bercinho de palha, com as mãozinhas abertas, a nos acolher.
O galo anunciando a boa nova, o burro, o boi, próximos para esquentar o menino com seu bafo. Carneiros, ovelhas, pastores e camelos.
Descendo a serra, os reis magos.
Nosso arroz plantado estava grande, de um verde bonito, alegrava o presépio. Naquela gruta, no silêncio da vida, na noite de luz, Maria nos oferecia o Salvador-Jesus.
Depois de montado o presépio, era a vez de fazermos nossa árvore de Natal. Papai era quem liderava.
Dia marcado, lá íamos nós à procura do galho mais bonito para representá-la. Como a cidade era pequena naquela época, suas redondezas eram cercadas por juazeiros, pitombeiras, umbuzeiros.
Nossa árvore de natal era sempre um galho de pitombeira. Papai escolhia o maior e mais bonito! Como era tempo de pitomba, dos galhos pendiam os cachos dourados da fruta.
Trazíamos com cuidado o galho escolhido e o colocávamos numa lata vazia de querosene jacaré, firmando-a com pedras. Uma folha de papel crepom vermelha cobria a lata.
Agora, era começar a enfeitar nossa árvore.
Já estavam prontas as guirlandas, também de papel crepom de todas as cores: vermelhas, azuis, rosas brancas, amarelas... Juntamente com as guirlandas balões de várias cores completavam a decoração.
Impacientes, a noite do dia 24 custava a chegar. Mamãe rezava no presépio depois íamos para um cômodo da casa onde foi a loja, e de portas abertas recebíamos quem passasse, principalmente crianças que não tinham seu Natal.
Pastorinhas chegavam, cantando ternas e singelas canções de Natal, nos emocionando e levando-nos abrir mais nosso coração e deixando entrar toda a alegria daquela noite diferente.
Mamãe servia bolo com cobertura de glacê de laranja, refrescos, groselha, balas, doces e biscoitinhos. Todos se confraternizavam. Parecia que a centelha do Natal acendia em todos o fogo crepitante da vida, a alegria de viver e compartilhar.
Íamos deitar quando a noite já ia alta e as estrelas claras brilhavam na atmosfera, tão presentes quanto há dois mil anos atrás. No dia 25, a alegria de achar os presentes juntos aos sapatinhos, sob nossas camas.
Lembrando Machado de Assis, “mudou o Natal ou mudei eu? O Natal é o mesmo em sua essência, em seu mistério”.
Mudaram-se os tempos. Globalização trazendo árvores de Natal com neve, renas, nozes, castanhas, papais Noéis que dançam consumismo exagerado, Natal artificial...
Respeito as mudanças, procuro integrar-me a elas. Mas, neste Natal quero reencontrar a simplicidade, a singeleza dos Natais da infância.
Quero repartir a esperança com quem não a tem, estender a mão para ajudar o outro.
Constatei que quero reencontrar hoje a simplicidade e o encantamento dos Natais da infância, os Natais em Janaúba e compartilha-los com minha família e meus amigos.
Envolvi-me no manto da saudade, não aquela saudade que machuca, mas aquela saudade boa que agradece a vida vivida.
Sempre no Natal preciso de um tempo só para mim. Arrumo minhas emoções e minha casa. Resgato para mim mesma os Natais da infância tão simples, tão despojados...
Quero viver este tempo de Natal recuperando pessoas, vivências, saudades.
É um tempo de reflexão. Quero ver além do consumismo, “além do que todo mundo vê”.
Estou pacificada, reencontrei meus Natais! Singelos, mas tão felizes!
E agradecida me valho de Rubem Alves:
“O Natal é um poema
O Deus-menino é só amor.
Criança é riso, brinquedo, alegria
Por isso gosto muito do menino Jesus”.

Carmen Netto Victória
Natal de 2000.

Preencha os campos abaixo
Seu nome:
E-mail:
Cidade/UF: /
Comentário:

Trocar letras
Digite as letras que aparecem na imagem acima