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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 25 de novembro de 2024
 

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Mensagem: (...)<br>CINE TEATRO FÁTIMA<br><br>Pelas portas abertas á Rua D. Pedro II entro sorrateiramente e sinto um frio no coração. Aqui, neste mesmo lugar onde construí grande parte das minhas emoções, encontro reformas e um novo espaço, agora comercial, de um empreendimento modernista,<br>Reminiscências me falam de uma época de glamour para a comunidade Norte Mineira que dessas poltronas que aqui existiam assistir aos épicos do cinema mundial. Uma passarela de glamour e uma escola de arte cinematográfica!<br>Daqui, corremos de biga romana com Bem Hur; singramos corajosamente os mares com os Vickings. Conquistamos continentes, na briga de Esparta com Atenas na guerra do Peloponeso.<br>Assistimos os belos olhos de Elisabeth Taylor lacrimejar num telhado de zinco quente ao sol da tarde.<br>Daqui, com os sentimentos inflados pela paixão de homem da roça a nossa imaginação nos levou a amar as musas italianas e francesas. Construímos parte da nossa sexualidade dormindo e amando Brigitt Bardot na Riviera, quando de joelhos lhe suplicamos um momento de luxúria, para então sugarmos os seus lábios sensuais.<br>Gastamos bala em cima de bala em Sete homens e um Destino. Aprendemos arte cinematográfica em Blow Up e Modesty Blaise. Maravilhamos-nos ao assistir o Ac`tors Studio Steiger furar a mão interpretando O Homem do Prego. Vibramos com a perfeição em solo de bateria com Sinatra em O Homem do Braço de Ouro. Vimos Macunaíma, o épico da brasilidade. De malandragem tropical!<br> Viajamos dançando nas óperas, Pog and Best, e West Side History. Adentramos o universo dantesco de Felline e acompanhamos a Cinecittá, de onde ele projetou Oito e Meio, cujos rolos de fitas, levaram oito e meio anos para chegar aos Montes Claros de então. <br>Sentimos vibrar a nossa roupa com o efeito rebound sound da MGM traduzindo no ar, o estrepitar dos corcéis no deserto em Lawrence da Arábia.<br>Agora, vemos o progresso comercial, imposto pela falta de uma renda digna e sólida, feito sem a sensibilização da cultura, sem a preservação mantida pela devida vontade política, matar tudo o que apreendemos a amar. Destruir as doces recordações da nossa infância campesina e utópica.<br> No escuro do cinema com adrenalina correndo em nosso corpo pela possibilidade de roçar a mão, ou mesmo beijar o pescoço de pecado, daquela garota do vestido Bangu. Tocar a sua epiderme com os lábios, e sentir os fios de seu cabelo no escuro do salão, produzindo eletricidade estática e emoções inusitadas. Puro fogo de paixão infante! O meu coração, nobre leitor; pulsava em 1.6 na escala de Eros!<br>Tornamo-nos escravos de qualquer emprego, cada loja que abre as suas portas na comunidade representa a sobrevivência de muitas famílias e o recolhimento de impostos.<br>Violaram a nossa aldeia! Saudade é palavra que só existe no nosso dicionário e agora com a alma ferida, lembramos aquela época de altivez, de famílias desfilando impecavelmente trajadas pelos corredores deste cinema, nos domingos e feriados. Da mistura exótica de aromas de colônias e perfumes importados.<br>Naquelas confortáveis poltronas, iniciaram-se muitos romances de amor, que, culminaram na formação de muitas de nossas famílias. Vimos também amores que se desfizeram, e aqui nessas mesmas poltronas trazíamos durante a semana e no discreto escurinho da tarde, as mariposas da noite.<br> Filhas de Vênus, doces anjos do pecado tiradas das suas alcovas nos lupanares tropicais onde exerciam a arte do amor luxúria e, movidos pelo ´Amore Ânimo,´ assistirmos os épicos, sob os olhares críticos da nossa sociedade rurícola (entretanto, necessária).<br>Daqui desse mesmo saguão de entrada, vimos o empreendedor empresário Lezinho Lafetá que, solícito, respondia, ao telefone, aos que perguntavam se o filme do dia era bom: o filme é bom mesmo! É da “Vinte têaga Centurí Fêoxis” <br> Raphael Reys<br>

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