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Mensagem: AINDA OS ROMÂNTICOS<br>Raphael Reys <br> A vida é feita de pequenos nada, e bem disse Laisse: As coisas deveriam ser inesquecíveis.<br> E falando em lembranças varo a blindagem do racional e mergulho em portais da minha infância campesina. Vejo-me tomando guaraná Brotinho com canudo de palha no bar de Nelson Vilas Boas, enquanto acompanhava as dissertações intelectuais do professor Pedro Santana, com cadeira cativa no estabelecimento saboreando a sua Pilsen casco verde. Meninos usavam quedes e tinham um relógio Tissot Militar. Caçávamos escondido usando uma Flaubert 22’, e soltávamos araras na Praça Coronel Ribeiro, enquanto Mundinho Atleta já discursava como General Armado da Inteligência Montesclarense, usando como palanque o beiral das Casas Ramos e Cia.<br>Quem mandava na cidade era o meu padrinho Deba de Freitas, com a sua grande pança, balançando ao caminhar, a calça de casimira bem larga.<br>Tomávamos banhos nus no rio do Melo, degustávamos sorvete em taça de alumínio, no Montanhês. Vestidos de terno branco batíamos retrato no estúdio de Coriolano Guedes. Fazíamos estilingue com tiras de borracha vermelha, extraída de câmara de ar de pneu de bicicleta sueca. Falávamos da morte de Carmem Miranda, da festa do Centenário, do crime de Sacopã, dos óculos modelo Ronaldo, das meias espuma de nylon, da transição da baquelita para o plástico, da passeata dos alunos do Instituto Norte Mineiro contra o governador Juscelino. O dândi professor Márcio, usava paletó de veludo e calçava sapatos Scatamachia de verniz.<br>Brincávamos de jogar finca na lama e de quilar bolofô. Dançávamos roda com as meninas de antanho cantando: Fui no Totoró beber água e não achei..<br>Comentávamos sobre os soberbos seios de Jane Mansefield, a voz de Sarita Montiel, a nudez de Luz Del Fuego, o cavalo branco de Roy Rogers, o tango de Gardel, a morte de Chico Viola, o grito de Tarzan e o florete do Zorro.<br> James Dean filmava Juventude Transviada e o anjo metafísico Aline Mendonça, bem magrinha e pequena, já mostrava a sua forca, brigando e enfrentando na mão qualquer menino que a desafiasse nas salas de aula, ou no recreio. Nariz empinado e mão aberta para o tapa conclusivo. Batia no meio das fuças.<br>Cantávamos Saçaricando no carnaval do Clube Montes Claros, fantasiados de Mandarim, com um calor de quarenta graus debaixo da fantasia de cetim, ou tafetá, e o vapor do lança perfume.<br> Bebia-se Cinzano Rossi, às margens dos rios da cidade. Dim canga cantava <br>Maria Helena no Cabaré de João Pena, enquanto Zé da Mata embriagado tomava a sua última dose de White Horse. Havia a briga das rainhas do rádio, e o maior sucesso era ouvir a novela Direito de Nascer, e os comentários sobre o crime de João Tijolo.<br>O luxo era ouvir o piano de Dulce Sarmento, e a felicidade lermos por empréstimo os clássicos da biblioteca Universal da advogada Juracy Felix. A Divina Comédia e os diálogos de Platão: Fedon e O Banquete em capa de couro e papel de bíblia.<br> Zim Bolão já fazia caçarola italiana e o chique era freqüentar a Leiteria Celeste e saborear os divinos salgados feitos por Dona Zení. A cidade polulava das turmas. A trinca do Gabilera, do Odorico, do Alto Severo, dos Sesé, da Malhada, a de Tatá.<br>Eram tempos da passarela de ilusão do Municipal, de confetes mágicos, de serpentinas coloridas, do Rodo de metal, de dona Afra Bechara, fantasiada de baiana e desfilando no carnaval de rua, do baticum da Boneca de Leonel, do petróleo é nosso (que fazia nascer cabelo) da penicilina que curava até defunto; dos amores calientes de Oscar Gabriel e de sua cadilac rabo de peixe, da vacina contra a gripe asiática. Estreptomicina PO.<br>Era o fim do romantismo!<br> Raphael Reys<br>
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