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Mensagem: MOLIN ROUGE CURRALEIRO<br><br> Transcorria o romântico ano de 1952, na tradicional e não ordeira Montes Claros, do coronelismo, da poeira e da lama. <br>As três maiores atracões da cidade, de então, eram a feira do Mercado Municipal, aos sábados, a zona boêmia, com mais de duas mil profissionais da noite, e o Cassino Minas Gerais, empreendimento modernista, tendo encerrado a jogatina por decreto federal do General Dutra, mantinha, entretanto, o glamour da casa, agora administrada pelo empresário João Pena. <br>A bem da verdade, a nossa cidade era a capital dos prostíbulos e do carteado. As atividades noturnas do chamado ‘Cassino “(Cabaré de João Pena), notadamente a prostituição no local, só encerrou as atividades em 1956, antes das comemorações do Centenário da cidade. A jogatina foi mantida na clandestinidade. <br> Crianças ainda, tinham notícias das festas do então “Cassino’, das damas da noite, das estrelas da cama, do luxo, do pano verde e, principalmente, de certo show de strip-tease, executado rusticamente por uma conhecida loura fogoió, que ao que constava, lá pelas tantas, tirava a roupa no palco.<br> Curiosos, reuníamos na Praça Coronel Ribeiro e, liderados por Walter Coutinho, o mais arrojado do grupo, formamos um comando para, de alguma forma, ter acesso ao que acontecia no interior do cassino no horário do show. Corríamos atrás dos momentos felizes da nossa infância que, no dizer de Rachel de Queiroz, é como catapora. Não dá duas vezes.<br> As cinco da matina estavam todos prontos para a Operação Voyeur. Descíamos na quietude da Rua Doutor Santos e, lá chegando, amontoávamos caixotes de madeira, fazendo uma plataforma para termos acesso à abertura de ventilação e, dali, vermos a loura dançando nua. Da turma faziam parte Zé Carlos e Paulinho Priquitin, o irmão de Odorico, Wagner e Chiquinho, Nano Cândido, e muitos outros que a lembrança me trai.<br> Chegávamos pela Rua Lafetá (onde hoje é a Padaria Globo), toda coberta de areia, cheia de seixos polidos, pequenas moitas, e um pequeno curso de água perene. Escondíamos atrás das moitas, enquanto os caixotes eram amontoados pelos mais velhos. Eles sempre subiam primeiro e, quando chegava a nossa vez, algum habituê do cassino passava e nos enxotava aos gritos. Era um tremendo corre-corres evitavam sermos identificados, o que, se acontecesse, seria lastimável, pois os pais não perdoariam aquela ousadia.<br>O que mais ficou marcado na minha lembrança foi à cena final da noitada, que às vezes íamos assistir, escondido atrás das moitas. O “Cassino”, ao ser lavado, com as mesas na rua, todos ainda bebendo, homens de terno, e as mulheres em vestidos e saias rodados, estilo garota do Alceu, feitos com tecidos Bangu de florzinhas e listrados Nova América, cintos largos de couro, com grandes fivelas, brincos argola gigante, tipo balangandã, pulseiras em coco e ouro, à moda da época, e apertados vestidos tomara-que-caia.<br>Voltávamos para casa ainda escuro e comentando a semelhança das mulheres noturnas com as atrizes e cantoras da época, as fortunas que se dilaceravam no pano verde, as triangulações amorosas entre cáftens, damas da noite, e clientes. Notícias dos crimes ali cometidos, os incidentes entre valentes da época. Era tudo uma grande aventura nas nossas cabeças de meninos.<br>Muitas vezes, ao irmos embora, sentíamos o cheiro de lança perfume Rodhia, usado pelos freqüentadores que tomavam porre no lenço de bolso, e a fragrância inebriante trazida pela aragem das cálidas manhãs de nossas infâncias. <br>Assistíamos, sem o saber, ao fim da era romântica...
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