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Mensagem: Preservar o patrimônio,Manoel Hygino dos Santos (Jornal Hoje em Dia, 18/01/2007)Tem-se despertado e alertado, recentemente com mais ênfase, sobre a preservação de nossos patrimônios: vegetal, animal, mineral, histórico, cultural, arquitetônico. Não falta o quê preservar, notando-se já interesse por zelar pelo que temos.<br>Na praça da matriz de minha cidade, por exemplo, há o sobrado dos Oliveiras (ou dos Prates), que mereceu bela crônica de Haroldo Lívio, em dezembro. A manutenção de imóveis antigos é dispendiosa e os herdeiros quase nunca têm condições de defendê-los da ação do tempo e das intempéries, quando não dos vândalos.<br>Ao poder público cabe, assim, cuidar dessas construções como o referido sobrado, erguido em local histórico da cidade. Foi o que fez a administração pública do município, graças ao prefeito Athos Avelino Pereira, que não quis que o casarão falecesse por generalizada falência de órgãos, no que encontrou estímulo do secretário João Rodrigues, da Cultura.<br>Para se avaliar a importância da medida, bastaria lembrar, como o fez o cronista, que a mansão, de dois pavimentos, serviu de inspiração ao grande ficcionista brasileiro, Cyro dos Anjos, localizando ali o cenário de seu romance “A menina do sobrado”.<br>Se o livro de Cyro, da ABL, permanece como uma das obras de ficção mais queridas do público, mercê do estro de um autor de primeira água, não se poderia permitir que o imóvel simplesmente se arruinasse, quando se aproximam os 150 anos de sua construção.<br>O segundo andar era residência; o térreo serviu de estabelecimento comercial e sediou a “Gazeta do Norte”, jornal que lutou bravamente pelas melhores causas da cidade, do município e da região, e no qual comecei a publicar mal traçadas linhas, em tempos imemoriais.<br>Com extensa história, o sobrado, na Vila de Montes Claros de Formigas, no perímetro urbano, foi erguido pelo coronel José Rodrigues Prates. Como era de norma, para fazê-lo requereu licença à Câmara Municipal em sessão de 16 de julho de 1856, não no local inicialmente projetado, mas de todo modo em logradouro privilegiado.<br>Nélson Vianna, nascido em Curvelo, engenheiro formado em Ouro Preto, descreveu o imóvel como o viu nas dezenas de anos radicado na cidade: “É solar altaneiro, imponente, de estilo colonial”. Em certa crônica, recamada de recordações de coisas dos tempos idos, publicada há anos passados, o deputado Milton Prates afirmava que aquela respeitável mansão representava um marco na história montesclarense.<br>De fato, não só foi ela construída na época da transição do povoado de Vila de Formigas para a cidade de Montes Claros, como em seus salões se realizaram tertúlias e se celebraram datas íntimas, com festivais de elevada espiritualidade. E o cronista Newton Prates, também como Milton, descendente do criador do sobrado, escreveu que “outrora, por noites enluaradas, dali saíam as encantadoras serenatas que iam espalhar a harmonia das velhas e eternas modinhas pelas ruas adormecidas de antanho”.<br>Por tantos e numerosos outros títulos, cumpriria preservar o sobrado em nome do passado e do futuro. Dir-se-á que, mesmo com todas estas nuances, é uma construção relativamente simples nas linhas e nos espaços. Mas no que tange a patrimônio, há a Carta de Veneza, que define: “A noção de monumento histórico estende-se não só às grandes criações mas às obras modestas que adquirem com o tempo significado cultural”.
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