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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 24 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Universidade Grande Sertão

Manoel Hygino dos Santos (Jornal Hoje em Dia, 20/01/2007)

No próximo ano, comemora-se o centenário de nascimento de um dos maiores escritores brasileiros, por sinal nascido em Minas e na boca do sertão. Para não poucos, Guimarães Rosa, como ficcionista, supera o notável Machado de Assis, uma de nossas glórias.<br>Assim sendo, não pode ser uma celebração como outra, principalmente para os que mourejam nesta parte do grande território. Há de se fazer algo memorável, como as circunstâncias impõem. Somente uma única vez acontece um fato dessa dimensão e, como evento, deve ser registrado.<br>Rosa levou aos mais distantes lugares do planeta a palavra de Minas, sentimentos arraigados secularmente às gerações que aqui habitaram e se formaram, tradições, história, cultura, todo esse peculiar caldo que faz de Minas o que é, e que decorre de fatores múltiplos. Catrumanos ou não, são generosos, bravos, infalíveis e ajudaram a construir uma gente especial numa terra única, castigada pelo sol forte e por longas estiagens, as secas.<br>O mundo criado por Rosa é o mundo sertão mineiro, de que Euclides deixou registros perenes, mas incompletos e não suficientemente definidos. Não era esse o propósito, resumido nas reportagens sobre Canudos para o Estadão. Não fez ficção, não construiu o mundo, a um só tento fantástico, mas também autêntico, pitoresco, que Rosa - e o nome é da flor e de cor - legou “ad perpetuam rei memoriam.”<br>Muitos falaram desse sertão antes dele, escritores imensos, mas nenhum atingiu o nível de perfeição narrativa do homem de Cordisburgo. Daí a preocupação que os mineiros sentem por uma comemoração nacional, brasileira, digna, pelos cem anos de Rosa, a mais viva, lúcida e fiel voz do regionalismo deste pedaço do Brasil.<br>Através da Secretaria de Estado da Educação, procurei informar-me se há uma comissão pela elaboração de uma programação para a efeméride. Não obtive resposta. Talvez haja uma agenda em nível nacional, da qual tampouco tenho conhecimento.<br>E sabê-lo julgo conveniente. Porque há também uma postulação de quase uma dezena de anos para se dar o nome de Universidade do Grande Sertão à Universidade de Montes Claros, a Unimontes, que presta à pátria de Rosa os mais relevantes serviços à cultura e à inteligência. A proposta objetiva vincula a instituição, e toda universidade deve ser casa de humanismo, devotada à cultura da região.<br>Mais do que homenagear o admirável escritor, que lançou ao mundo afora a cultura do sertão, sobretudo do nosso, o que se pretende é vincular de maneira permanente, eterna, a universidade pública à essência de nossa cultura.<br>Recentemente, consumou-se o projeto “Noites do Sertão”, em que duas dezenas de municípios do Norte de Minas e do Vale do Jequitinhonha foram visitados por dezenas de brasileiros. Eles conheceram a intimidade do Grande Sertão, que ninguém melhor do que Rosa soube descrever, com os seus moradores, seus bichos, plantas, suas cousas, costumes e música.<br>Na excursão, ficou constatado, de forma vívida e categórica, que a cultura da região permanece fiel ao passado, fincada nos valores de que partiu. Para um grande jornalista local, o nome Universidade do Grande Sertão, se adotado, ajuntará, reunirá as prudentes partes cordiais que seguem dispersas por este acampamento de bravura, modéstia, dissimulação e recolhimento, de solidão.

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