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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 24 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Cabe poesia triste, de um poeta-menino, romântico, para a alma alegre de Nice?<br>(Álvares de Azevedo morreu aos 21 anos. É o gênio da poesia brasileira e esta, creio que sim, pode ser sua mais bela página:)<br><br>´Lembrança de morrer <br><br>No more! o never more!<br>SHELLEY.<br><br>Quando em meu peito rebentar-se a fibra<br>Que o espírito enlaça à dor vivente,<br>Não derramem por mim nem uma lágrima<br>Em pálpebra demente.<br><br>E nem desfolhem na matéria impura<br>A flor do vale que adormece ao vento:<br>Não quero que uma nota de alegria<br>Se cale por meu triste passamento.<br><br>Eu deixo a vida como deixa o tédio<br>Do deserto, o poento caminheiro<br>— Como as horas de um longo pesadelo<br>Que se desfaz ao dobre de um sineiro;<br><br>Como o desterro de minh`alma errante,<br>Onde fogo insensato a consumia:<br>Só levo uma saudade — é desses tempos<br>Que amorosa ilusão embelecia.<br><br>Só levo uma saudade — é dessas sombras<br>Que eu sentia velar nas noites minhas...<br>De ti, ó minha mãe, pobre coitada<br>Que por minha tristeza te definhas!<br><br>De meu pai... de meus únicos amigos,<br>Poucos — bem poucos — e que não zombavam<br>Quando, em noite de febre endoudecido,<br>Minhas pálidas crenças duvidavam.<br><br>Se uma lágrima as pálpebras me inunda,<br>Se um suspiro nos seios treme ainda<br>É pela virgem que sonhei... que nunca<br>Aos lábios me encostou a face linda!<br><br>Só tu à mocidade sonhadora<br>Do pálido poeta deste flores...<br>Se viveu, foi por ti! e de esperança<br>De na vida gozar de teus amores.<br><br>Beijarei a verdade santa e nua,<br>Verei cristalizar-se o sonho amigo....<br>Ó minha virgem dos errantes sonhos,<br>Filha do céu, eu vou amar contigo!<br><br>Descansem o meu leito solitário <br>Na floresta dos homens esquecida, <br>À sombra de uma cruz, e escrevam nela: <br>Foi poeta - sonhou - e amou na vida. <br><br>Sombras do vale, noites da montanha<br>Que minh`alma cantou e amava tanto,<br>Protegei o meu corpo abandonado,<br>E no silêncio derramai-lhe canto!<br><br>Mas quando preludia ave d`aurora<br>E quando à meia-noite o céu repousa,<br>Arvoredos do bosque, abri os ramos...<br>Deixai a lua prantear-me a lousa!´

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