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Mensagem: O VELHO JOÃO MAURÍCIO Lembro-me tanto do velho João Maurício. Como ele soube povoar de sonhos a minha infância, com tantos fatos inesquecíveis... Ele me viu crescer naquela rua Cel. Celestino, rua antiga, escura e mal calçada. Havia um casarão antigo na esquina, de assoalho de tábuas largas, portas altas desajeitadas e janelas entreliçadas, retrato da habilidade dos marcineiros daquela época. Tinha, também um sótão com sacadinha que era a minha tentação. Nessa casa eu conheci o João Maurício, muito moço ainda, feliz e alegre, ao lado de D. Nenzita, um amor de criatura, formando juntos, um casal perfeito. Eu corria pela casa adentro (crianças não têm cerimônias), ia procurar o João e lá no ´quartão´ eu o encontrava, entretido, com o seu cigarro no canto da boca, apreciando as frutas do ´Pequi´ (era um sítio próximo da cidade). Este ´quartão´ tinha de tudo: um balcão alto de madeira grosseira, cheinho de fumo de rolo e rapaduras meladas, impregnando o ambiente de um cheirinho gostoso de frutas bem maduras, cheirando ao mofo, pois naquele tempo, ainda chovia em Montes Claros. Enormes cachos de bananas roxa-mulata, caturras tão bonitas. Montões de mangas rosa, umbú, sapatinha, limas, laranjas, melancias, enchiam os cantos daquele ´quartão´ adorável... Lá eu tinha entrada franca, pois eu era amiga íntima de sua sobrinha Yedda, que também o adorava. Ela dizia-me: Vamos a casa do tio Joãozinho? - e ele advinhando o que queríamos, enchia nossas mãos das frutas deliciosas do ´Pequi´, recanto inesquecível. Muitas vezes, que saudade, D. Nenzita convidava-me para almoçar e como eu delirava com a expectativa de um gordo arroz com carne, picadinho de quiabo com angú e frango ao molho pardo. Talvez ela nem se lembre mais que tantas vezes deu-me esta alegria! Criança nunca esquece das coisas boas, das lembranças queridas que um dia fizeram sua infância. João Maurício tinha um carinho todo especial para comigo. Passava as mãos nos meus cabelos e chamava-me ´menina bonita´. Dava-me frutas e cobria-me de atenções... criança gosta de ser notada, criança gosta de se sentir ´gente´. Eu era uma menina precoce e muito curiosa e ele passava horas conversando comigo. Contava-me estórias tão bonitas, mostrava-me suas gaiolas de dois e três andares, verdadeiros castelos dos passarinhos, onde as fêmeas escondidinhas, num compartimento escurecido por uma flanela, chocavam os ovos selecionados. E numa doçura tamanha, contava-se, também as peripécias de suas caçadas e pescarias. Outras vezes, pegando da concertina tocava para mim, grande honra! Eu ficava numa felicidade muito grande, pois desde pequena gostava de música e de cantar. D. Nenzita dizia, ainda me lembro: ´- Oh João, você não tem mesmo o que fazer... sanfona a esta hora?´. Hoje vejo as gaiolas cheias de pássaros, penduradas nas janelas do sobrado, no beco da Faculdade. Os tempos mudaram. A casa é outra e os pássaros não são os mesmos e as gaiolas, também são outras... A rua Cel. Celestino, já não é a mesma, perdeu aquele encanto, aquela simplicidade. Está sofisticada. O casarão, para minha tristeza, há muito desapareceu com o seu sótão, foi demolido. Tudo passou. Mas você João, ficou para sempre na minha lembrança... Jamais esquecerei de que quando em pequena, você me fez sentir ´gente´ - Você ajudou-me a ´crescer´...
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