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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 27 de setembro de 2024
 

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Mensagem: O TORMENTO DE DEUS
Oswaldo Antunes
Não sei por onde anda Frei Mateus Rocha O.P. Mas está sempre perto, muito perto de mim, em um livrinho publicado em 1969, contendo quatro ensaios, os três primeiros sobre Dostoievski e o último sobre aspectos do ateísmo contemporâneo. Foi a primeira vez que vi um religioso dizer como é difícil acreditar em Deus: “A existência de Deus não é evidente. Entre pressentir e afirmar vai uma distância enorme: quase a mesma que há entre o instinto e a razão”.
E prossegue: se Deus não é evidente, é possível negar sua existência. Santo Tomás de Aquino afirmava que “o espírito humano é capaz de um conhecimento objetivo, propriamente cientifico, que atinge a verdade das coisas sem precisar recorrer a Deus (...) os fenômenos físicos são explicados pelas ciências da natureza e os morais pelas ciências humanas”. E se Deus é cientificamente inútil e moralmente impossível, a inteligência, por si só, pode concluir que Deus não existe.


Mas o coração é maior do que a inteligência, diz ele. Aliás, na mesma linha de pensamento, Pascal dizia que é o coração que sente Deus, e não a razão. E o educador Rubem Braga afirma que “Deus existe para tranqüilizar a saudade”. Porque saudade não é uma melancolia sem conseqüências. É o sentimento ativo, ligado ao nosso principio de vida no mundo e, por conseqüência, sentimento que pode imprimir novos rumos à vida interior e ao espírito, moldando o futuro e a esperança.

Essas verdades superam as aparências, brotam constantemente da nossa in-consciência. Verdades, aliás, que nem sempre ouvimos dos que pregam (muitas vezes querem impor) a religiosidade. Por que os bispos, padres, rabinos e pastores não se compenetram, quando falam, que as razões para não crer em Deus, por serem menos profundas, aparentemente são mais fortes? Porque sempre procuram justificar erros passados, como a pena de talião ou a inquisição, sem reconhecê-los publicamente como formas perversas de negação de Deus? Por que não deixar de lado a vaidade intelectual e reconhecer que somente o amor constrói para a eternidade?

É da necessidade do coração, da insuficiência da razão, do desgoverno de nossas vidas e dos erros ou maus exemplos de quem ensina que nasce o Tormento de Deus. Por isso Dostoievski foi um profeta. Sem ser teólogo ou moralista, debruçou-se sobre o futuro e anunciou à humanidade a existência de forças que tornam inquieto o coração do homem. Ele próprio foi, segundo André Suares, “o coração mais profundo, a maior consciência do mundo moderno”.

Meu apreço a frei Mateus Rocha, O.P., esteja onde estiver no mundo ou na profundeza de Deus.

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