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Mensagem: DEPARTAMENTOS DO BANCO NO PAÍS<br>(Viagem de numerário para a Capital)<br> <br>HAROLDO LÍVIO*<br> Nada como uma viagem de numerário para espantar a rotina. Se, de um lado, havia o sacrifício de uma viagem em condições árduas para Espinosa, com mais de 600 quilômetros de lama ou poeira, no percurso de ida e volta, por outro lado, havia a confortável viagem para Belo Horizonte, por via aérea, no DC-3 da Real Aerovias, em vôo que durava pouco mais de uma hora, de pista a pista. Para o candidato fazer jus à indicação, obviamente, a administração adotava o critério de exigir o pré-requisito de já haver o funcionário adquirido milhagem na estrada de terra. Nesse caso, quem roeu os ossos é que merecia, depois, o prêmio de saborear o filé à Chateaubriand.<br> Em nossa agência, localizada em cidade-pólo de região afastada dos grandes centros, registrava-se, freqüentemente, excesso de caixa que tinha de ser recolhido à coirmã de Belo Horizonte. Essa viagem era uma festa. Eu me recordo muito bem de que, em nosso quadro de pessoal, havia expressivo número de jovens auxiliares de escrita admitidos em concurso de 1.962. Quase todos eles, Laércio, Lineu, Washington, Edgar, Helton e outros de que não me lembro, neste momento, tinham família na Capital, principalmente tinham ali noivas e namoradas saudosas de seus pares. Essa rapaziada viajava de trem de ferro, para namorar, e invejava os eleitos dos deuses que eram escalados para voar até a Capital de Minas Gerais.<br> E tinham toda razão de invejar porque o desencargo dessa missão oficial tinha para os condutores de numerário o mesmo sabor de um feriadão nas areias de Copacabana. Ora, a Belo Horizonte de quarenta e muitos anos atrás ainda era a Cidade Vergel cantada e decantada em prosa e verso pelos poetas mineiros. Então, dava gosto levar dinheiro do Banco para a Capital. Primeiramente, pelo ar que se respirava nas vias públicas, fortemente carregado da suave fragrância das árvores. Aquele perfume exalando de magnólia, madressilva, dama-da-noite, todas essas essências de uma cidade artificial que era um verdadeiro jardim, deixava o visitante inebriado. Não havia shopping center, nem motel, nem self-service. Nem se cogitava de Mineirão e Palácio das Artes. Havia suntuosos cinemas, havia o chope que não havia nas cidades do interior, havia a Camponesa, na Goitacases, havia o Tip-Top, o Pingüim, o Alpino, a Gruta Okey, a Cantina do Ângelo, o Mocó da Iaiá, o Restaurante Califórnia que servia uma deliciosa lagosta. Naquele tempo, a ajuda de custo para a viagem de numerário permitia esses requintes de cozinha e bodega.<br> E havia os endereços confidenciais e misteriosos muito bem recomendados pelos mosqueteiros da noite belo-horizontina; na Rua dos Pampas, na Rua Mariana e em outros logradouros públicos por demais conhecidos dos boêmios e noctívagos, que pagavam para dançar no Montanhês Dancing, que na época era atração turística. Os rapazes, obrigatoriamente de paletó e gravata, assistiam ao desfile de beldades, no “footing” da Afonso Pena, entre Rio de Janeiro e Bahia, no lado direito de quem sobe a avenida. Convencionava-se que o lado direito da avenida nada tinha a ver com o lado esquerdo. Este era da pesada. Sempre existiu a turma da pesada, mas não havia essa pivetada de hoje, apenas algum raro vigarista ou batedor de carteira já fichado na polícia. Gente, esse Belô já foi um céu aberto.<br> Nossa romântica Capital tem até uma valsa com seu nome, antigamente muito tocada no rádio pelo acordeonista Antenógenes Silva. Hoje, esta belíssima peça musical parece já ter caído no esquecimento da população da megalópole. Agora, deve ser música restrita aos sexagenários e demais idosos, aposentados, pensionistas e assemelhados. Fiz algumas dessas viagens, com milhagem adquirida na rota da poeira e da lama, e tenho marcantes recordações, como sempre me lembro com saudades dos ótimos amigos que tenho na Casa. Em umas dessas viagens, não encontramos vaga para o retorno, no vôo do dia seguinte, sexta-feira. O colega de viagem propôs que voltássemos de trem, imediatamente, porém, conseguimos telefonar para o gerente Jacy Muylaert Reis, um carioca boa praça, e ele autorizou a volta para o primeiro vôo de segunda-feira.<br> Nunca me esquecerei, passe o tempo que passar, dessa excursão inesquecível, que fez do serviço uma fonte de prazer. Para nós, encantados com os encantos da Capital das Alterosas, foi como um fim-de-semana em Paris.<br>Ex-funci. de 1958/1976 em M. Claros, Metr. Barro Preto e Centro BH (SEFUN).
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