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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 18 de maio de 2024
 

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Mensagem: Uma consciência nacional

Manoel Hygino - Jornal ´´Hoje em Dia´´

Desde que surgiu a idéia do dia da “Consciência Negra”, fiz reparos. Meditemos sobre o assunto. Em 9 de janeiro de 2003, sancionou-se a lei 10.639, que incluiu o artigo “79-B”, na Lei nº 9.394/96, (Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional). Tornava-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares. Fixava-se o dia 20 de novembro como “Dia Nacional da Consciência Negra”.
Penso que todos os dias devem ser da Consciência Negra, como deveriam ser da Consciência Branca, Azul, Amarela ou Vermelha. Cumpre ensinar ao povo, a partir da infância e da adolescência, sobre a valiosíssima contribuição do negro na formação de nosso povo, sob todos os aspectos. Mais importante é que os professores procurassem incutir no menino ou no jovem que entrava no ensino médio o realce e alta significação do negro na formação do Brasil.
O ex-ministro Arnaldo Sussekind foi claro: “Pensou-se na Educação do provo brasileiro, inclusive no conteúdo programático escolar, o estudo da História da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, buscando-se resgatar a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política do país”.
Substantivo abstrato, consciência não tem cor. É o sentimento que o homem tem de si próprio, da sua existência. Assim, a designação “consciência negra” não é a mais própria em âmbito geral. Porque o que interessa, no caso, é a consciência que os homens e mulheres de outra raça e cor tenham do negro.
O negro terá de medir os seus valores, proclamá-los, assumir conhecimento de si mesmo, enquanto os demais deverão vê-lo em sua grandeza como ser humano nascido à imagem e semelhança de Deus, segundo o ensinamento cristão com igualdade de direitos e responsável quanto a seus deveres.
A consciência é do homem, qualquer que seja sua cor, raça, etnia. Vieira, com bravura, defendeu a igualdade das raças. Em 1633, no Sermão XIV do Rosário, onde se encontra a descrição do que era um engenho de açúcar ou “doce inferno”, Vieira abriu campanha em favor do negro escravizado.
Num dos Sermões, o sacerdote dos dois mundos observa que a felicidade e a miséria se acham no mesmo teatro. “Os Senhores poucos, os escravos muitos; os senhores rompendo galas, os escravos despidos, e nus; os senhores nadando em ouro, e prata; os escravos carregados de ferros...” e assim por diante.
Que diferença há entre brancos e pretos? Os corpos não nascem, e morrem, igualmente? Não respiram o mesmo ar? Não os cobre o mesmo céu? Não os esquenta o mesmo sol? “Sem a escravidão – dizem – não poderíamos ter açúcar. Pois bem: se não conseguimos tê-lo senão à custa de crimes, devemos saber privar-nos, renunciando a uma mercadoria manchada com o sangue de nossos irmão”. Em seguida, perguntava: “Que teologia há ou pode haver justifique a desumanidade e sevícia dos exorbitantes castigos com que os escravos são maltratados?...”
A Lei Áurea não libertou efetivamente os escravos, embora os suplícios a que eram submetidos fossem abolidos. Assim como a independência brasileira que continua sendo construída no esforço de cada cidadão, noite e dia. A libertação do negro é também um processo de construção, que demandará tempo. Antes de tudo, acima de tudo, é necessária a formação de uma consciência em torno do problema: conscientização do negro e conscientização do branco.
Em todo caso, vale a iniciativa do “Dia da Consciência Negra”. Adverte que somos uma nação múltipla, com homens de muitas origens, buscando um fim com um, um único desiderato. Todo dia é do cidadão deste país, sem discriminação de qualquer natureza. O que se há de querer é que a data não seja apenas mais um feriado, como decidiram alguns municípios brasileiros. Penso, como Sussekind, que a data, didaticamente instituída, se transformou em assunto de discussão que desvirtuou os objetivos educacionais e feriu o Direito.

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