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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 24 de novembro de 2024
 

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Mensagem: O poeta e o pequizeiro Alberto Sena* Movido pela lembrança de Manoel Hygino sobre os cem anos de Cândido Canela, conterrâneo de Montes Claros, e aproveitando que estamos em final da safra de pequi, homenageio o nosso maior poeta e, ao mesmo tempo, enalteço nele, grande defensor do pequizeiro, as propriedades deste maravilhoso fruto do cerrado. Em cem gramas da polpa do pequi, segundo o não menos centenário médico montesclarense, Hermes de Paula, há cerca de 200 mil Unidades Internacionais de vitamina “A”, que, a rigor, é a responsável por colocar o nosso esqueleto em pé. Se vivo fosse o nosso poeta, que conhecia muito de perto o linguajar do sertanejo norte-mineiro, estaria orgulhoso de ver na grande imprensa manchetes como a que publicou o Hoje em Dia de domingo, 21 de fevereiro: “Pequi do Norte de Minas já é exportado”. Cândido Canela, assim como outras personalidades de Montes Claros – Luiz de Paula, Darcy Ribeiro, João de Paula, Reivaldo Canela, Vicente Souto, Teo Azevedo, Beto Guedes, só para citar alguns – foi grande defensor do pequi e muito lutou para conseguir uma lei que proibisse o abate de pequizeiro no território nacional. Na época, o nosso poeta brigava com as armas que dispunha pelo pequizeiro e pelo consumo do pequi, em virtude das suas qualidades alimentícias – o pequi é, em realidade, rico complexo vitamínico – e o seu grito ia além dos contornos dos montes claros por meio de esporádicas matérias publicadas até mesmo no jornal O Globo. Mas ficava nisso. É que o pequi não tinha “poder econômico”. Mas fazia parte da dieta do sertanejo. O pobre se alimentava mal durante os meses que antecediam a safra de pequi, e tirava a barriga da miséria durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, quando, em companhia da família, rumavam para o mato a fim de catar pequi. Eu disse “catar pequi”, porque pequi quando está pronto para o consumo, cai. No pé, o fruto ainda está verde. Foi aos poucos, a partir da década de 1970, que o pequi começou a alcançar o mercado belo-horizontino, quando iniciamos séries anuais de reportagens publicadas no jornal Estado de Minas. Todo ano, até meados da década de 1990, os leitores saboreavam o gosto de pequi em reportagens impressas. Mas foi antes, na década de 1980, que, movido pelas reportagens, a Superintendência do então Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) editou uma portaria proibindo o abate de pequizeiro no território nacional (hoje já não é portaria, mas lei), fazendo questão de telefonar de Brasília para dizer: “estamos assinando uma portaria proibindo a derrubada de pequizeiros em todo o País, tendo em vista as suas reportagens”. Naquela época, alguns companheiros de redação costumavam gracejar, dizendo: “para quê falar de pequi se não tem valor econômico expressivo?” Não tinha. Aos poucos adquiriu, mesmo porque os feirantes do Mercado Central, ao lerem as reportagens, passaram a encomendar pequi. E foi então que o delicioso fruto (quem não gosta detesta até o cheiro, mas quem gosta não fica sem roer dúzias toda safra) começou a ganhar até as ruas de Belo Horizonte, vendido pelos camelôs. Tanto tempo depois, hoje o pequi já está sendo exportado para Estados Unidos, Itália e Portugal. Virou até tema de prato do chef Claude Troisgros, que enalteceu as qualidades do pequi e ainda nos deu, a nós brasileiros, uma cutucada: “vocês exploram pouco as delícias do cerrado”, em seu português com sotaque francês. Aos defensores do pequizeiro vivos, digo: vamos vencendo a batalha. Claro, se o pequizeiro fosse originário não do cerrado, mas das terras norte-americanas, hoje o pequi seria uma espécie de Coca Cola vendido no mundo inteiro. Aos defensores do pequizeiro já falecidos, os precursores como Cândido Canela, Hermes de Paula, Darcy Ribeiro e os demais, as nossas homenagens de “roedores profissionais”, com o perdão da inevitável, mas educadamente contida, eructação. Jornalista/ [email protected]

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