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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 3 de dezembro de 2024
 

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Mensagem: Mandaram Pirulito tomar banhoooo Alberto Sena Mergulho no baú de relembranças e apanho lá no fundo o grito dos meninos que recebiam das mãos de dona Maria, da Expedição do “O Jornal de Montes Claros”, e das mãos de Zé Branco, a edição do dia quentinha, ainda com a tinta fresca e a plenos pulmões gritavam correndo pela rua: “Jornal de Montes Claros de hooooje”. Eles saíam para todos os lados. Uns seguiam correndo a Rua Dr. Santos pela esquerda e outros pela direita e ganhavam o centro de Montes Claros gritando repetidas vezes: “Jornal de Montes Claros de hoooooje”. A cena era semelhante à algazarra que crianças promovem quando termina a aula na escola. E num piscar de olhos a edição se esgotava. O JMC tinha o que o leitor gostava de ler. Tinha a “Coluna do Secretário”; tinha “Fatos e Personagens”; tinha a “Coluna Cock-Tail” e tinha também “Rua da Amargura”. Era um jornal vibrante, com notas sociais, de esportes e de ocorrências policiais, exercia forte influência política na cidade, e como disse noutro dia, neste mesmo espaço, contribuiu, decisivamente, para que Montes Claros alcançasse o grau de desenvolvimento de hoje. Mas os meninos de então, como dizia Waldyr Senna Batista, a propósito da festa virtual que promovo com todas as personagens vivas e falecidas, os que fizeram a lenda do jornal, “... eram crianças e se tornaram adultos e atualmente me reconhecem na rua e conversam comigo como se eu fosse computador para armazenar na memória aquela cambada toda”. Era incrível! Inda mais quando eles saíam pelas ruas gritando a manchete daquele dia. Como da vez em que o capitão Pedro Ivo veio da capital especialmente para apurar o assassinato do fazendeiro Olímpio Campos, líder político em São João da Ponte, e de prestígio em Montes Claros. Ele fazia discurso em riba dum palanque, numa noite, e foi abatido, se não me engano, com três tiros. O pistoleiro fugiu “em desabalada carreira”. O caso ganhou repercussão nacional. A polícia local não parecia em condição de apurar o assassinato. Veio então o capitão Pedro Ivo, a mando da Secretaria de Estado da Segurança da capital. Este repórter que “vos fala” estava na Delegacia de Polícia, na Rua Dr. Veloso. Folheava o “livro de queixas” debruçado sobre a mesa. O capitão Pedro Ivo abriu a porta do delegado é ordenou ao sargento de plantão, gritando: __ Sargento, manda “Pirulito” tomar banho. O capitão não me conhecia, ainda, não sabia que eu era repórter do “Mais Lido”. Havia circulado a informação de que a polícia prendera um suspeito de apelido “Pirulito”. Mas na Delegacia ninguém confirmava nada, até que o capitão abriu a porta e deu a ordem ao sargento. Sem querer, ele confirmou para mim a notícia. Como naquele momento não havia mais ninguém na recepção além de mim e o sargento, não tive dúvida: corri para a Redação do jornal a fim de dar a notícia em primeira mão. Naquele dia, princípio de noite, os pequenos vendedores saíram em disparada, gritando: “Jornal de Montes Claros de hoooooje”, e logo em seguida, a manchete, furo de reportagem nacional: “Mandaram Pirulito tomar banhoooo”. Repórter, além do mais, precisa contar com a sorte, estar no lugar e na hora certos. Só assim, hoje em dia, é possível dar um furo de reportagem, porque a imprensa escrita, enquanto não busca (e se buscar encontra) um diferencial, circula no dia seguinte depois que tudo já foi lido na internet, ouvido no rádio e visto na TV. Reflexão e análise do fato talvez sejam caminhos sensatos para a imprensa escrita, se não quiser cair na desdita, e cada dia se tornar mais perecível, mais do que legume, verdura e fruta na Pedra da Ceasa ou na barraca da feira. (Alberto Sena é de Montes Claros (MG). Começou no Jornalismo aos 17 anos, na Redação do “O Jornal de Montes Claros”. Foi de repórter até editor no Jornal “Estado de Minas” nas editorias de Agropecuária, Meio Ambiente, Abastecimento e Economia. Trabalhou no “Hoje em Dia” e na “Gazeta Mercantil”. É Prêmio Esso de Jornalismo (Direitos Humanos) e Prêmio Fenaj de Jornalismo (Meio Ambiente). Como repórter, rodou o mundo. Fez duas vezes a pé o Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha).

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