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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 5 de maio de 2024
 

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Mensagem: PODE UM HOMEM MATAR ESPOSA E FILHA? * Marcelo Eduardo Freitas No decorrer desta semana, em razão dos acontecimentos que a marcaram, talvez impelido por um certo arroubo de criticidade, resolvi revisitar alguns textos do filósofo grego Epícuro, particularmente quando de seu dilema lógico sobre o problema do mal, mais conhecido como “o paradoxo de Epícuro”. Em síntese, pude me deparar com a perplexidade do discípulo de Platão sobre a questão da existência do mal. O grande filósofo grego registrou de forma perturbadora aquilo que, a seu sentir, representava um certo antagonismo: ´Ou Deus quer abolir o mal e não pode; ou ele pode e não quer. Se ele quer, mas não pode, ele é impotente. Se ele pode, mas não quer, ele é mal. Se Deus pode abolir o mal e realmente quer fazê-lo, por que existe mal no mundo?´ Não raras vezes, ouvi dizer que o mal não pode vencer o mal. Só o bem pode fazê-lo. Contudo, parece que a corrente do bem tem ficado enfraquecida. Trago à reflexão o tormentoso tema que me angustiou nos últimos dias: Sem ter para onde fugir, moradores do leste da cidade síria de Aleppo estão pedindo permissão a religiosos para que pais possam matar as filhas, mulheres e irmãs antes que elas sejam capturadas e estupradas pelas forças do regime de Bashar al-Assad, da milícia libanesa do Hezbollah ou do Irã. Uma trégua deveria ter permitido a saída de moradores da cidade. Mas com a retomada dos bombardeios na última quarta-feira, a retirada de seres humanos indefesos foi suspensa. O desespero aumenta e, isolados por terra, miseráveis da área cercada enviam apelos dramáticos pelas redes sociais. Um conhecido líder religioso que fugiu da Síria, Muhammad Al-Yaqoubi, afirmou que estava recebendo consultas de Aleppo, incluindo algumas inquietantes: “Pode um homem matar sua mulher, filha ou irmã antes que ela seja estuprada pelas forças de Assad, na frente dele?” Visivelmente, ultrapassamos todos os limites da racionalidade e descambamos para o lado de uma perturbadora e estridente descrença. O livre arbítrio parece soar como um erro de programação. Sob qualquer perspectiva, sob quaisquer aspectos que se queira observar, é inaceitável imaginar a possibilidade de que, cidadãos, mesmo num quadro tétrico de guerra, tenham que ceifar a vida de pessoas próximas, como uma forma de “preservação da pureza”. Não dá para não se comover com a dor do próximo! De tão amarga a questão, é difícil até mesmo imaginar sobre os limites do que seriamos capaz de fazer. Segundo a ONU e outras organizações internacionais, crimes de guerra e contra a humanidade vêm sendo perpetrados na Síria por todos os lados e de forma desenfreada. Para se ter uma dimensão, o número de mortos passa das 250 mil pessoas, sendo mais da metade de civis. Outras 130 mil pessoas teriam sido detidas pelas forças de segurança do governo. Mais de quatro milhões de sírios já teriam buscado refúgio no exterior para fugir dos combates, com a maioria destes tomando abrigo no vizinho Líbano. A Human Rights Watch, uma organização de defesa dos direitos humanos, chegou a afirmar que o caso do país está ´entre os piores do mundo´. Padre Antônio Vieira, em seus sermões, dizia que “o bem ou é presente, ou passado, ou futuro: se é presente, causa gosto; se é passado, causa saudade; se é futuro, causa desejo”. É preciso, então, que desejemos, como nunca, a odisséia do bem. Ao tempo em que se avizinha o natal, sentar-se à mesa farta sem refletir sobre a desgraça alheia parece ecoar como uma provocação. A pior forma de covardia é testar o poder na fraqueza dos outros. Não sem razão, José Saramago dizia que “é evidente: a maldade, a crueldade, são inventos da razão humana, da sua capacidade para mentir, para destruir”. Olhar para os céus, assim, atribuindo as mazelas da criatura ao Criador é bater abaixo da linha do intelecto! Bem sabemos que não é fácil viver a vida. Para que esse barco, contudo, possa fazer a travessia do grande mar existencial, não sem dificuldades, é preciso compreender que vale a pena ser o herói de sua própria história. Só depende de nossas ações. O futuro não pode ser previsto, mas pode ser modelado a partir do que fazemos agora, nesse momento que, não sem razão, se chama “presente”. É a nossa habilidade de inventar e construir o futuro que nos dá esperança para fazermos do mundo algo melhor. Boas ações geram outras boas ações. O amor tem o poder de irradiar e contagiar o mundo. A oração opera milagres. Que possamos celebrar o nascimento do Cristo direcionando nosso olhar àqueles que sofrem. Não espere a hora da morte para lembrar o que precisa ser feito. É tempo de reflexão! (*) Delegado de Polícia Federal e Professor da Academia Nacional de Polícia

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