Receba as notícias do montesclaros.com pelo WhatsApp
montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 20 de setembro de 2024
 

Este espaço é para você aprimorar a notícia, completando-a.

Clique aqui para exibir os comentários


 

Os dados aqui preenchidos serão exibidos.
Todos os campos são obrigatórios

Mensagem: A lenda da Iara Nas margens do rio São Francisco corre, por tradição oral, a lenda da Iara, que personifica as seduções e os perigos do rio. História surpreendente, que se conta ainda hoje, passados muitos e muitos séculos, e que se projeta nos espíritos menos crédulos no campo enigmático da lenda. Mas, como lenda, é das mais belas do vale do grande rio, o Opará dos aborígines, entre tantas outras que o cárcere do tempo vai consumindo com a avidez dos vendavais, que tudo destroem. Em tempos remotos, na parte média do extenso curso do caudaloso rio, no alto de um rochedo de pedras calcárias de prisca idade, que ainda ali está desafiando os séculos e a fúria das águas, localizado no interior agreste de Pindorama, na margem direita do rio, vivia a tribo guerreira dos xacriabás, da grande nação tapuia. A taba localizava-se sobre o rochedo, onde se erguia a oca do murumuxaua, a Oeste da ocaruçu. Não muito longe dali, para o Sul, rio acima, menos de um dia de viagem pela mata densa, vivia o pagé da tribo, a quem atribuíam poderes sobrenaturais, capazes de amainar as iras de Tupã, o trovão. Eram os xacriabás ágeis canoeiros e excelentes nadadores. Em suas frágeis igaras ou nas fortes igaraçus, que flutuavam sobre as águas como a palmeira de Tamandaré, desafiavam as águas do grande rio. Nas guerras, que eram uma constante em suas vidas, quase sempre contra os temíveis caiapós, exímios flecheiros e denodados guerreiros que dominavam a margem oposta do rio, destacavam-se pela ferocidade nos combates, a que se acrescentava o domínio quase absoluto das águas: nadavam como peixes. Vivia ali um jovem guerreiro, de nome Pirajara, capaz de esticar o arco de Ulisses com uma flecha de Apolo, agílimo no manejo da tangapema e tão destro quanto Peri no uso da azagaia, que era profundamente triste. Afligia-o a infelicidade de ter perdido a noiva. Itaoera – este o seu nome – havia morrido afogada nas águas do rio, apesar de ter sido ela, como seus irmãos de taba, excelente nadadora e o guainumbi tinha levado sua alma para o outro mundo. A perda irreparável era para o guerreiro mais dolorida que um golpe de tacape ou um profundo ferimento de uma certeira flecha caiapó nos embates da guerra. Intensamente angustiado, o jovem guerreiro ouviu, quando a obscuridade da noite começava a encobrir a terra e a jacy-caboaçu despontava no horizonte, o canto terno da U’yara, que vinha do rio. Sabia ele, porque lhe tinha sido dito pelo murumuxaua, em uma reunião do moacaretá, ser perigoso aproximar-se do rio quando cantava a U’yara. Mas, no rio estava o corpo de Itaoera. Todos na tribo sabiam que o guerreiro que fosse ilaqueado pelo canto da U’yara seria por ela arrastado para o fundo das águas e não mais retornaria à superfície. Pirajara, apesar da convicção aculturada da tribo, afastou-se vagarosamente da fogueira que ardia em frente à oca de seus pais e dirigiu-se enlevado para a margem do rio, conduzido pelo canto sedutor. Era a coara-cyàra e o rio estava em sua vazante máxima. No alto de uma pedra que aflorava das águas em frente ao rochedo, estava a U’yara, uma encantadora e jovem mulher, sentada com seus longos e mádidos cabelos verdes, como se feitos de delicados pecíolos de algas oscilárias, cobrindo-lhe o corpo nu. Seus rúbidos lábios, ainda úmidos, traziam o vermelho da açucena. Os olhos castanhos, protegidos por grandes cílios, refletiam a luz leitosa que jacy-caboaçu despejava sobre as águas. Os braços estendidos em oferecimento de carinho, com a graciosa cauda guardada sob as águas. Ela, em um gesto rápido, pleno de feminilidade, jogou para trás os longos cabelos, deixando à mostra o colo e dois alvos e lindos seios. Seu rosto tão belo quanto o de Itaoera. Diante do oferente gesto da U’yara, o bravo guerreiro atirou-se nas águas, nadando até a pedra. Realizada com sua ob-repção, a U’yara abraçou-o, um abraço de encantamento, e ele não viu, nem sentiu, quando juntos mergulharam em demanda à larga e espaçosa oca de pedras localizada no centro do rochedo, sob as águas do rio, de prodigiosa beleza natural, e ali vivem felizes longe das tribulações do mundo exterior, enquanto a lenda perdurar na lembrança dos homens.

Preencha os campos abaixo
Seu nome:
E-mail:
Cidade/UF: /
Comentário:

Trocar letras
Digite as letras que aparecem na imagem acima