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montesclaros.com - Ano 25 - quinta-feira, 28 de março de 2024
 

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Mensagem: DONA PEQUENA E O POSTE DE FERRO (Para Roberto Lima, pela lembrança) Alberto Sena Dona Pequena, como o epíteto sugere, era de baixa estatura. Devia ter um metro e meio de altura. Parecia velhinha, velhinha. Mas não devia ser erada, nós meninos é que achávamos ser ela muito antiga, quiçá, uma bruxa daquelas montadas em vassoura de piaçava. Mas nem tão bruxa ela era a coitada. Dona Pequena morava com uma filha adotiva – ou era neta? – uma menina ainda adolescente, na esquina das ruas Doutor Veloso e Corrêa Machado, em Montes Claros da década de 60. Na época, por vários motivos que daqui a pouco serão do conhecimento de todos, ela era famosa no pedaço. Fama gerada pelo azedume das reações dela. Do adulto mais antigo à criança ao abandonar a mamadeira, ninguém ignorava a nossa personagem. Em frente da casa de dona Pequena havia um poste de ferro antigo, sem nenhuma serventia. A não ser para infernizar a vida dela e o porquê quem aguardar um pouco irá saber. O poste devia ter sido esquecido após a substituição por postes de cimento daquela época. O poste de ferro era, enfim, um suplício para dona Pequena. Evidentemente, na época menino nenhum tinha essa compreensão do quanto o poste indigitado infernizava a vida da mulher. Não que representasse para ela perigo de cair sobre a casa. Nada disso. Menos ainda por culpa do poste em si, estático ali na esquina preto feito breu. A meninada encapetada descobriu, bastava bater no poste com uma pedra para extrair dele um som metálico e dona Pequena, incomodada, nervosa, cuspindo impropérios saía na porta com os cabelos brancos em pé. Havia no quintal dela duas ou três goiabeiras. Goiabas vermelhas e brancas. As goiabeiras também ajudavam a preencher os dias de dona Pequena porque volta e meia um menino trepava no muro para apanhar goiaba. E a velhinha rodava a baiana. Soltava xingamentos deliciosos a três por dois para regozijo dos meninos. Naquela época, na Rua Corrêa Machado havia um campo de futebol. Era do time do União, que dera origem ao Cassimiro de Abreu eterno rival do Ateneu. Quando a família mudou-se para aquela rua, o campo já começava a ser desativado, porque o Cassimiro de Abreu construíra um estádio no Bairro Todos os Santos. Mas algumas partidas de futebol eram jogadas ali. Lembro-me bem de jogadores como Marcelino, ex-Atlético Mineiro; o irmão dele, Moedeferro; Bispo e o irmão Bonga, Hélio Guimarães, Felipe Gabrich e outros. De vez em quando a bola ultrapassava o muro e caía dentro do quintal de dona Pequena. Ela, além de não devolver a bola, esbravejava como gente grande. Afora essas partidas de adultos, o campo ficava a maior parte do tempo por nossa conta. Nas férias escolares então, o dia inteirinho a meninada ali jogava as famosas peladas. Arremessava tampa de cera Parquetina um para o outro, a longa distância. A tampa traçava no ar curva quase ao rés do chão e subia até as mãos do parceiro. Uma gostosa brincadeira. Era um paraíso lúdico o campo. Só o abandonávamos para irmos à matinê das duas horas no Cine Coronel Ribeiro, na praça do mesmo nome. Mas ao passarmos pela porta da casa de dona Pequena, inevitavelmente, tínhamos de arrancar do poste de ferro três sons metálico, pelo simples prazer, se se pode dizer assim, de incomodar a velhinha e ouvir os xingamentos dela. Até que ela saísse na porta, a meninada já estava longe dando gargalhadas. Os irmãos Roberto e Ronaldo, que moravam na mesma rua, mas um pouco mais distante da casa de dona Pequena, além de outros pivetes como Osmar, Eustáquio, Dedinho e os demais, todos eram cúmplices na tarefa cruel de incomodar dona Pequena. O mister fazia parte do mundo infantil ou pré-adolescente da meninada de então. É bom dizer, esses pecados já receberam há muito tempo a absolvição.

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