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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 29 de março de 2024
 

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Mensagem: Montes Claros Com a chave na ignição da memória Alberto Sena O acervo de fotos antigas iniciado por Dona Dorzinha – Maria das Dores Gomes Guimarães – e levado adiante pelo filho dela, Wagner Gomes, é sem dúvida de grande importância. Principalmente para mim. Por que? Simples, porque a cada foto exposta me leva a pôr na ignição da memória a respectiva chave pretérita. Cada foto tem uma chave diferente. Ao me deparar com essa fotografia da Rua Doutor Veloso, fundos do Cine São Luís, logo acionei a chave própria e abri um dos escaninhos da década de 60. Estava tudo lá. Bem guardado. Inclusive lembranças dos filmes vistos e revistos. Era um cine pequeno, menor que o cine Coronel Ribeiro e menor, mais ainda, do que o cine Fátima. Mas passava cada filme! Perscrutando a foto com o olhar tipo Alain Delon, os olhos grudam nas paredes do Clube Montes Claros onde noites foram passadas e repassadas no escurinho da pista de dança. Naquela época – só os românticos vão entender isso – o gostoso era dançar coladinho. Tenho comigo uma intrigante suspeição, a pedra de toque do esfriamento do calor humano de hoje em dia começou a partir de quando os casais passaram a dançar separados. Baseado nas experiências do filósofo Anes Otrebla, é possível presumir isso. Porque se antes o contato era corpo a corpo, depois que os casais passaram a dançar separados foi literalmente cortado o cordão umbilical. E deu no que deu. Hoje o contato é virtual. E ponha virtual nisso. Vivemos os tempos glaciais do Poquémon Go. O que tem de gente tropeçando na rua ou caindo em cada buraco, está no “og nomeuqop”. Quem viveu a época documentada pela foto, se vai recordar de que em frente ao clube, na porta de um prédio, era a trincheira de Gerinha Português, Cici Santamaria, Waltinho Fernandes, Fernando Arrupiado, Saulo Wanderley, Marco Antônio Rocha, Marco Aurélio Rocha e outros mais. A turma fazia a diferença. Salvo engano, todos eles nascidos no pós-guerra. Ainda baseado nas filosofadas de Otrebla, a geração nascida até 1949 é bem diferente da que veio na década de 50. Aquela sofreu forte influência da Juventude Transviada estimulada pela rebeldia de James Dean e de filmes como “Amor Sublime Amor”. Mas ao mesmo tempo era uma geração romântica. Gerinha Português, qual galinho garnisé, e a turma dele viviam uma briga nem tão surda contra outro chefe de turma Gerinha, o Malandro, dos Morrinhos, famoso por jogar capoeira. Quando circulava a notícia de que haveria embate entre uma turma e outra, crescia dentro da gente uma expectativa nervosa e ao mesmo tempo um sentimento de torcida para que eles se enfrentassem mesmo a fim de mudar a rotina da cidade. Mas nunca presenciei nem soube se realmente eles chegaram às vias de fato. No prédio do Clube Montes Claros, onde o carteado era jogado e infelicitou a vida de muitos perdedores, havia do lado da Rua Presidente Vargas um cômodo onde funcionava a sapataria de Sebastião, Tião Boi chamado. O Tião era personagem interessante. Se ele não existisse, seria necessário criá-lo. Enquanto punha meia sola nos sapatos, às vezes com a boca cheia de pregos e ia cuspindo um após pregar o outro na sola de couro dos sapatos, ele punha para fora a sabedoria intrínseca ao técnico estrategista em futebol de salão, hoje futsal. A sapataria era frequentada pela juventude da época, em meio ao cheiro de chulé de sapatos masculinos e femininos. Só duma coisa Tião não gostava de falar nem de ouvir. Aliás, duas. Bastava pronunciar a denominação “jia” (anuro leptodactilideo) para ele ficar com o corpo quase todo empolado. Tinha ojeriza só de ouvir falar jia. A outra, bastava a simples menção com os dedos insinuando que ia fazer-lhe cócegas dos lados das costelas. Tião só faltava morrer de cócegas. Virava fera. Mas o gostoso mesmo era comer filé a cubana no restaurante Mangueirinha, tarde da noite, depois de vividas todas as pelejas noturnas. O Mangueirinha ficava – ou ainda fica? – na Rua Padre Augusto quase com Rua Afonso Pena. Tomando a direção contrária a dos personagens da foto, era só entrar à direita logo depois do Clube Montes Claros para “tirar a barriga da miséria” no Mangueirinha. Como o próprio nome diz, lá havia uma mangueira, manga comum. Uma delícia. As mangas. E a comida, claro. Como dizia no início deste texto, indubitavelmente uma foto desse tipo é da maior importância. Quem concorda comigo que levante o dedo.

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