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montesclaros.com - Ano 25 - quarta-feira, 18 de setembro de 2024
 

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Mensagem: DAS RECORDAÇÕES....

Alguém chegou a dizer que a vida é feita de pequenos nadas e o poeta Manoel de Barros afiançou: as coisas que não servem para nada têm grande importância.
Fragmentos da minha infância nos românticos anos 50, instantes do cotidiano bucólico, flashes de imagens e memórias de sons. No desfile das recordações surgem o impostado locutor Eron Domingues (cobra implantada pelo sistema) transmitindo pelas ondas galenas do rádio o Repórter Esso, o atentado da rua Toneleros, a condenação do inocente Tenente Bandeira.
A novela O Direito de Nascer, o gingle de o petróleo é nosso e a chatura de ouvir as vozes de Marlene e Emilinha disputando tronos de rainha. O maiô Catalina, as divinas coxas de Marta Rocha e o frenético solo de bateria de Sinatra em O Homem do Braço de Ouro. O Fla-Flu, a voz e a beleza de Sarita Montiel, a pose encorpada e chique de Evita Perón.
Os discursos amacarronados do pau mandado do Pentágono Getúlio Vargas, as revistas pornográficas de Carlos Zéfiro impressas no mimeógrafo, as maravilhosas crônicas de Rachel de Queiroz na Revista O Cruzeiro, o útil almanaque Biotônico Fontoura, a brochura O Coyote e as fotos peladona de Luz Del Fuego e sua jibóia, na fatídica ilha das mil e uma noites tropicais.
As gravuras em nanquim de Gustavo Doré ilustrando as páginas de A Divina Comédia, os poemas de Tagore, a leitura de As Estâncias de Dzian de Blavasthsk, os metafísicos manuscritos das Leis de Nodim, os apócrifos e as cartas de Paulo Apóstolo à Rufo de Tostosa, os livros teosóficos da biblioteca do meu pai.
Alice nos País das Maravilhas e o trote do cavalo Rocinante, a imortalidade de Fédon de Platão, a beleza descritiva do Germinal de Zola.
O estofamento de couro em vermelho-fogo do Impala 1955, o rabo do Cadilac Rabo de Peixe, a beleza romântica das linhas do Belair e a manivela do Ford Bigode os bondes românticos sobre os trilhos de um Belo Horizonte rococó em suas linhas simétricas de Aarão Reis e a Igreja da Pampulha de Niemeyer, com suas linhas curvas.
Cavaleiros de terno e chapéu de palhinha, damas com blusa de crepe de chine e jóias de coco e ouro. Rescendiam a perfume Nuit de Noel ou ao sensual Lorigan.
O glamour em óculos Ray-Ban dos socialites na pérgula do Copacabana Pálace a felicidade de minha avó Bella em assistir o Congresso Eucarístico no Rio, a minha Kodak caixa metálica, lente plena.
As borbulhas do guaraná champanhe da Antarctica no canudinho de palha, o Colt Cavalinho do meu avô, as alpargatas Roda, a galocha de borracha e o meu presente importante de um sapato bico fino furadinho marrom e branco, estilo cáften. A bicicleta sueca o clique charmoso do isqueiro Ronson, o bloco de papel de cartas com a gravura de Bem-me-quer, Mal-me-quer, o texto e a voz de Felippe Prates em Jerônimo, O Herói do Sertão.
Os bilros, a renda em arte, o indefectível xale preto e o cigarro de zabumba branca de minha bisavó Maria Rosa aceso na sua crise asmática.
O relógio Tissot Militar do meu pai, a caneta Parker 51 pena folheada a ouro e o couro de amolar a navalha Solinger do meu bisavô. A moda dos óculos modelo Ronaldo, a Lurdinha e a Capa Preta de Tenório Cavalcanti a mística do PDT. A caixinha do sorvete Esquibon, o tubo de papel metalizado do Chocolate Kaufman.
O aparelho telefônico de baquelita preta da Siemens ao listrado tecido da camisa Prist, o lança perfume de Rodoro metal, o arroto produzido pela ingestão da Coca-Cola, a maciez e a permanência do sabor das balas Toffe a cara de cachaça de Araci de Almeida cantando Conversa de Botequim, de Noel Rosa.
A dramaticidade passional de Gardel, a cara de mal de Gregório guarda-costas de Vargas, o marketing teológico de Marcelino Pão e Vinho, o trapézio do Circo Burney, a Winchester Papo-Amarelo do detetive Perpétuo, as contas brancas do colar do Babalorixá Joãozinho da Gomeia, o altar de purificação do gongá de Mãe Menininha de Cantois.
Os enlatados épicos: A última Carroça, o Último dos Moicanos ao romantismo de Um bonde Chamado Desejo, o topete de James Dean e os seios de Marylin Monroe em Os Desajustados. A boca orgástica e a barriga sensual da novata Brigite Bardot, o ar de inocente de Vivian Leigh e o bigode canastrão de Clark Gable em E O Vento Levou.
Os desfiles da Bangu, o perfume Coty, as calças Roebucks, cabelo à Príncipe Danilo um Martini com azeitona tomado escondido, um bolachão de acetato 78rpms tocando Cauby Peixoto...Conceição/ eu me lembro muito bem/ vivia no morro a sonhar/ com coisas que o morro não tem/ foi então/ que lá em cima apareceu/ alguém que lhe disse a sorrir/ que, descendo à cidade, ela iria subir/ se subiu/ ninguém sabe, ninguém viu/ pois hoje o seu nome mudou/ e estranho caminho pisou/ só eu sei/ que tentando a subida desceu/ e agora daria um milhão/ para ser outra vez/ Conceição!

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