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montesclaros.com - Ano 25 - quinta-feira, 19 de setembro de 2024
 

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Mensagem: A lição dos morubixabas

Waldyr Senna Batista

Sábios eram os morubixabas do velho PSD ( partido social democrático), que dominaram a cena política do Brasil na vigência da constituição de 1946, até o partido deles ser dissolvido, em 1965, junto com os demais então existentes, por ato do regime militar. Eles só se reuniam para aprovar medidas importantes depois de as terem resolvido com antecedência. As reuniões definitivas eram apenas homologatórias. Com isso, evitava-se o que aconteceu em Montes Claros nesta semana, em que os dirigentes partidários indicaram candidatos a prefeito e passaram a bater cabeça com cabeça na garimpagem de nomes para vice-prefeito.
O ex-prefeito Jairo Ataíde, em cujo DNA político há sinais do velho PSD, mostrou que não aprendeu a lição de seus ancestrais. Ele tem o domínio absoluto sobre o DEM ( ex-PFL ) e, por vias indiretas, também do PSDB. Apesar dessa situação privilegiada, abriu mão de se candidatar, em favor do deputado Rui Muniz, reservando-se a prerrogativa de indicar o vice, que viria do partido presidido por sua mulher, a deputada Ana Maria.
Mas, na hora de apresentar o nome, quem disse que ele o tinha ? Consta até que a direção do PSDB teria demorado a aprovar a coligação anunciada, porque ignorava o papel que lhe cabia. Se isso é verdade, fica evidenciado que o deputado Jairo Ataíde, o grande derrotado no processo, mostrou que não aprendeu a lição em que eram mestres seus antepassados, ou esqueceu-se de antes combinar com os vizinhos de partido.
Dos dois outros partidos que lançaram candidato, até agora apenas o PPS, pelo qual o prefeito Athos Avelino vai disputar a reeleição, aprovou chapa completa: Sued Botelho, atual vice, foi confirmado pelo PT. No PMDB o impasse prolongou-se durante a semana em que se buscou nome para compor a chapa do deputado Luiz Tadeu.
Entre as várias explicações para essa situação, a mais citada é a de que ninguém se candidata a vice, ele é convidado e transformado em moeda de troca. A pessoa escolhida tem de agregar votos e pertencer a partido que disponha de tempo de rádio e tevê. Outro complicador: em Montes Claros, pelo menos, os partidos estão desfalcados de nomes que se equiparem aos dos titulares das chapas, para a eventualidade de substituição. Essa deficiência advém da forma personalística com que se formam os grupos políticos. Aqui, cada legenda tem um dono, geralmente um deputado, cuja atuação desestimula o surgimento de novas lideranças.
Essa dificuldade, em passado recente, deu origem a um episódio no mínimo curioso. Foi quando da segunda campanha que disputou, ainda pelo PMDB, o hoje prefeito Athos Avelino. Seu nome foi homologado e lhe cabia indicar o companheiro de chapa, preferencialmente de outro partido. E como não se viabilizara a coligação pretendida, a solução foi partir para a chama “chapa puro sangue”, em que ambos os candidatos pertencem à mesma legenda. Mesmo assim o nome não surgia, tendo sido necessário lançar mão do fichário de inscritos no partido. Entre algumas centenas de nomes, três ou quatro foram selecionados, entre eles o da musicista Antonieta Silva e Silvério, que aceitou a incumbência.
Nos idos de 1962, episódio semelhante se registrou, porém ilustrativo da conveniência de se adotar as decisões antes das reuniões. Neste, o diretório do PSD reuniu-se na casa do seu principal chefe, Hildeberto Alves de Freitas ( Deba), na rua Altino de Freitas, para decidir sobre o apoio ao capitão Enéas Mineiro de Souza, ex-prefeito da cidade e novamente candidato. A coligação foi aprovada, ficando para os pessedistas a indicação do vice. Depois de breve discussão, alguém sugeriu o nome do empresário Luiz de Paula, que até então não disputara cargo eletivo. Por isso mesmo punha-se em dúvida se ele aceitaria o encargo. Um dos participantes ofereceu-se para manter contato com o indicado, que “casualmente” foi localizado a poucos metros dali, jantando no restaurante Valério ( rua Simeão Ribeiro). Ele aceitou o convite, não sem antes afetar grande surpresa...
Detalhe importante: naquela época não havia vinculação de voto do prefeito com o vice. O resultado foi que, apesar da derrota do capitão Enéas, Luiz de Paula tornou-se o vice de Pedro Santos.

(Waldyr Senna é o mais antigo e categorizado analista de política em Montes Claros. Durante décadas, assinou a ´Coluna do Secretário´, n ´O Jornal de M. Claros´, publicação antológica que editava na companhia de Oswaldo Antunes. É mestre reverenciado de uma geração de jornalistas mineiros, com vasto conhecimento de política e da história política contemporânea do Brasil).

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