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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 20 de setembro de 2024
 

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Mensagem: (Do livro ´Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos´ - Parte 26) DEZ ANOS DEPOIS Dez anos depois de receber meu diploma de perito-contador, matriculei-me na Faculdade de Direito de Niterói. Éramos 665 inscritos no vestibular. Obtive o 2º lugar, porque preferi o idioma francês ao inglês, sabendo embora que a banca examinadora de francês não admitia nota acima de 7. A minha nota, na prova de francês, foi 7. A moça que obteve o primeiro lugar, de nome Ingborg, preferiu o inglês. O pai dela era professor da Faculdade e examinador das provas de inglês. Ela obteve nota 10. Perdeu para mim nas outras matérias. Mas com essa diferença de 3 pontos ultrapassou a soma de minhas notas. No final do curso, em 1957, obtive as maiores notas da Faculdade. Primeiro lugar. Tenho as minhas notas e as da Ingborg, no final do curso. São as seguintes: classificação final INGBORG : 6- 7- 8-7-9- 8 = 45 no curso de Direito LUIZ : 5-10-8-8-8-10 = 49 Ela também se colocou entre os primeiros. A diaba da moça era competente. A amizade com os colegas do curso de admissão vem persistindo por toda a vida. Tenho o retrato do grupo. Hoje, infelizmente, poucos deles ainda vivem. O Ubaldino Assis, o do Luiz catibiribis, teve de interromper os estudos antes de mim, pelo mesmo motivo que me obrigou a fazê-lo um ano depois. Reencontramo-nos no curso de contabilidade, e no curso de Direito, no Rio. Ele especializou-se em direito comercial e tornou-se o mais brilhante profissional nessa área em todo o Norte de Minas. O Olympio formou-se em direito, em Belo Horizonte, onde constituiu família e faleceu já idoso, como juiz do trabalho, no gozo do mais alto conceito na capital do Estado. O primo Antônio concluiu o curso de Ciências e Letras como primeiro da turma. E foi trabalhar na Prefeitura. Era Chefe do Serviço da Fazenda. Casou-se com uma boa moça, professora de piano. Ele também era músico. E poeta talentoso. Deixou um livro com sonetos dignos de figurar em antologias nacionais. Registro, neste final de capítulo, um episódio que aconteceu comigo quando fui fazer o vestibular. Dei a ele o título abaixo. ESTAVA ATRASADO Foi no dia 5 de janeiro de 1953. Saltei do ônibus e perguntei ao guarda junto à sinaleira onde ficava a Faculdade de Direito. Ele me respondeu: “O senhor está em frente a ela. Corra. Já deram o sinal. O senhor está atrasado.” Agradeci e avancei, galgando as escadas quase correndo, pois eu estava realmente atrasado. Mais do que ele pensava. Meu atraso era de 15 anos ... UMA RAZÃO PARA CRIAR ESCOLAS De todas as vivências de meus tempos de estudante, uma lembrança ficou, marcada por profundo sofrimento. Foi no início do ano de 1934, no dia em que eu deveria embarcar de volta a Montes Claros, para as aulas do 4º ano ginasial, cuja matrícula o meu primo Antônio fizera para mim. Roupas lavadas e passadas, mala arrumada, tudo encaminhado, mas dependendo de um balanço que meu pai estava dando em seus compromissos para verificar se havia a possibilidade de pagar ao Colégio as três parcelas de duzentos mil reis em março, junho e setembro. Era um total de seiscentos mil reis, para cobrir todo o ano. Na ocasião um trabalhador braçal ganhava cinco mil reis por dia, ou cento e cinqüenta mil reis por mês. No total seriam 4 salários mínimos, correspondentes a 544,00 reais de hoje. Infelizmente meu pai não pôde assumir o compromisso. Estávamos ainda na ressaca da depressão de 1929. Por aí se avalia até onde chegara a nossa pobreza. Eu devia apanhar o trem das 17:45, para o pernoite em Corinto e prosseguimento no outro dia para Montes Claros. A viagem gorou. No pronunciamento que fiz no dia 27 de maio de 1988, na inauguração do CENTRO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL LUIZ DE PAULA, do SENAI, eu disse o seguinte: “Montes Claros está recebendo hoje a Escola do SENAI. Ela chega para marcar presença efetiva no desenvolvimento da região, para atuar, dia após dia, de agora em diante, pelos tempos afora, na formação profissional de filhos de trabalhadores de todas as categorias profissionais. Ela irá atender justamente à faixa da população cuja juventude encontra as maiores barreiras na busca de um lugar na vida. É principalmente para esses jovens que se voltará esta Escola, para ampliar os horizontes de cada um deles, para alargar suas perspectivas de uma vida melhor e mais útil, mais participativa, mais produtiva e mais digna. Como empresário e como cidadão, sinto a mais legítima satisfação por estar participando, neste momento, da inauguração de uma escola dessa qualidade, de uma escola genuinamente inspirada e integrada na promoção do bem social. De início ela irá atender a 100 alunos, mas quando estiverem funcionando todas as séries, completar-se-á a sua capacidade que é a de matricular 300 alunos em especializações adequadas às atividades produtivas da região. Dadas as circunstâncias, numa ocasião jubilosa como esta, em que as emoções transbordam, talvez seja-me permitido dizer que a parte que me coube no empreendimento, muito pequena e modesta em relação ao todo, nasceu do pranto de um estudante pobre, no dia em que soube que teria de deixar a escola, por falta de recursos para pagar as mensalidades. Ele era o primeiro de sua turma, e o pai, ao dar-lhe a desalentadora notícia, era a imagem viva da tristeza. O jovem, para amenizar a mágoa paterna, malgrado o impacto da notícia, foi capaz de aparentar naturalidade e dizer: “não tem importância, meu pai, as coisas vão melhorar e a gente voltará, mais adiante”. Mas à noite, a sós, sem conseguir conciliar o sono, ensopou de pranto o seu travesseiro. Neste momento, nesta inauguração, sejam os nossos votos de que haja cada vez mais escolas para os muitos estudantes pobres desde nosso vasto País”. Na inauguração da ESCOLA DO SENAI, que levei para Várzea da Palma e que recebeu o nome de meu pai – C T JOAQUIM DE PAULA FERREIRA, eu disse, na inauguração: “Várzea da Palma dá hoje, portanto, mais um passo à frente. Um capítulo novo se abre com a inauguração da escola do SENAI. Ela veio para ficar e crescer com a comunidade. E traz uma característica de especial significação e que me agrada sobremaneira. É que ela é uma escola para atender preferentemente trabalhadores e filhos de trabalhadores. É uma escola voltada, portanto, para uma faixa da população que encontra muitas dificuldades na busca de um lugar na vida. Ela vem, portanto, aplainar caminhos, abrir portas para o futuro”. Foi com esse mesmo propósito, de tornar o ensino acessível a todos, em comunidades do interior, no Norte do Estado, que criei a Fundação Educacional Luiz de Paula, através da qual investi trabalho e recursos próprios na implantação de seis colégios, e na criação da primeira escola de nível superior do Norte de Minas – a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras – FAFIL. Sem qualquer retorno de ordem material, mas visando tornar o ensino acessível ao estudante norte-mineiro, em todos os níveis. Termino com estas palavras do velho parente JOVEM VELOSO, poeta que nunca foi à escola: “A lembrança nunca esquecida, os trabalhos do homem que ficam na vida”. (continuará, nos próximos dias, até a publicação de todo o livro, que acaba de ser lançado em edição artesanal de apenas 10 volumes. As partes já publicadas podem ser lidas na seção Colunistas - Luiz de Paula)

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