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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 24 de setembro de 2024
 

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Mensagem: Peço licença para compartilhar com os leitores do mural, cinco artigos que escrevi sobre os carnavais do passado em Montes Claros. Este é o primeiro. Velhos Carnavais. (I) “Hoje não tem dança não tem mais menina de trança nem cheiro de lança no ar. Hoje não tem frevo, tem gente que passa com medo e na praça ninguém pra cantar. Me lembro tanto e é tão grande a saudade...” (Edu Lobo) O carnaval está chegando. Haverá desfile na nossa cidade? Não sei. O carnaval competitivo nunca foi o meu estilo. Houve um tempo diferente. Como teria sido antes de mim? Vejo na parede da sala uma foto de Montes-clarenses, no início do século passado, festejando o carnaval...em cima de um carro de boi. Com certeza era divertido. Pergunto à minha mãe: “ Como era o carnaval na sua juventude.?” “Eu não brincava, mas saía para ver os blocos. Eram muito bonitos.” Pego o livro de meu pai e acho informações valiosas. Na primeira metade do século XX, era mesmo tempo dos blocos, com destaque para o de Ari de Oliveira, de nome original: “Mulher Engraçada e Adorada”. Vejo que foram carnavais melhores que os da minha infância, com Zé Pereira, carros alegóricos, abertura com foliões à cavalo, músicas compostas pelo pessoal da terra. Enquanto isso, em Diamantina, minha tia Léo brincava num intrudo inofensivo, jogando perfumes guardados em cascas de ovos parafinadas. Já faço idéia de como era. Mas, quero falar sobre os carnavais que vivi. Começo pelo início dos 50, tempo em que parecia haver um complô no Brasil para que todos brincassem. O cinema brasileiro lança uma série de chanchadas promovendo a folia. Os compositores apresentam suas marchinhas, sambas e marcha ranchos que são tocadas sem parar nas emissoras de rádio. E ainda editam revistas com as letras das músicas, para que todos as soubessem de cor nos três dias. No sábado, véspera do carnaval, Hermes de Paula chega em casa trazendo confete, serpentina, máscaras e lança perfumes. À tarde, no laboratório, prepara seu “Sangue do Diabo” para aumentar nossa alegria. Dona Fina dá os últimos retoques nas fantasias dos seus filhos mais velhos que vão “pular” carnaval no Clube Montes Claros. Ela gosta de enfeitá-los, sendo que, no ano anterior, sua filha Valéria ganha o concurso de fantasia, vestida de Dama Espanhola. Os dois mais novos ainda vão esperar alguns anos para irem ao clube. Mas, divertem-se com o que acontece nas ruas. Á tardinha, já estão prontos, ouvidos atentos aguardando o som dos clarins anunciando a chegada do tríduo momesco. De repente... Tararararararara...Tara rara... A melodia, mais tarde aproveitada como comercial da Coca Cola, causa arrepios. Quem se lembra? “No carnaval vou beber, Coca Cola...” O som vem de longe, da Justino Câmara, de onde sai a única escola de samba da cidade, liderada por Vavá Alfaiate. Agora, ouvimos a bateria. Evoé, foliões! “Ô abre alas, que eu quero passar...” Atravessam toda a praça e vão subindo. “ Já estão chegando!”, grita Joana , de prontidão na porta da casa. Corremos para a rua. À frente, dona Afra, ou melhor, Madame Bichara, impecavelmente vestida de baiana. Saia branca, rendada e rodada. Turbante na cabeça. Dança, roda, gira, acena para o povo que lota as ruas. Ao passarem por nossa casa, entram! Meu coração dispara. Após rápida visita ao nosso quintal, seguem pela rua Simeão Ribeiro. Atrás da escola, passam dois blocos e os “caretas” avulsos, numa animação contagiante. Ouvem-se apitos e gritos de alegria. Impossível resistir. Só entramos quando o jantar está servido. Às oito horas saímos para o “footing”. As vitrines das lojas estão iluminadas e os bares abertos. Seguro na mão de minha mãe, com receio de perder-me na multidão. Meus olhos estão fascinados com o colorido das fantasias. Vejo odaliscas, piratas, ciganas, ou pessoas em roupas de cetim, de cores variadas. E máscaras. Muitas máscaras. Algumas são bonitas, preferidas pelas mulheres. Os homens gostam das engraçadas, com grandes bigodes ou narigudas. Serpentinas e confetes cortam o ar. O cheiro de lança inebria a todos. Muitos estão à espera do início do baile no clube. Enquanto aguardam, brincam nas ruas. Ás nove horas estamos de volta. Dr. Hermes e Dona Fina vão ao clube. Dia seguinte, à tarde, Joana leva-me para o baile na sede do Cassimiro de Abreu, em frente à nossa casa. Tudo que vejo é uma muralha de pessoas pulando. Impossível entrar. Resolvemos o problema brincando no coradouro do quintal, cantando: “ Ai, ai, ai dona cegonha...” Ano seguinte, mais animação. É que mudamos para a rua Dr. Veloso, onde moram mais crianças. Todas as tardes há batalhas de confete na calçada. Noto o aumento de carros circulando, com todos cantando, batendo caixas, jogando serpentinas ao passar por nós que retribuímos com confetes, cantando o que cantam: “ É ou não é, piada de salão...” Esse era o carnaval daquele tempo: sem competição, sem arquibancadas, sem decoração. Mas, com alegria. Carnaval espontâneo, autenticamente “de rua”. Parecia que seria sempre assim. De repente, em 65, tudo muda. Faço uma pausa e sigo cantando: “Confete, pedacinho colorido de saudade, ai, ai, ai ai. ...”

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