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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 7 de maio de 2024
 

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Mensagem: Prezados editores: Recebi um e-mail muito interessante de um radialista e médico aposentado, montes-clarense, radicado em São Paulo, que penso merece ser publicado aqui. MEU DEUS! ´NADA SE PERDE, TUDO SE TRANSFORMA...´ Prezada Mara Luiza. Acabo de receber e-mail remetido pela Maria das Graças Freitas, de Montes Claros, cujo anexo é “Um Passeio Fantástico” de Maria Luíza Silveira Teles, que imagino ser você, com o endereço que tenho em meu arquivo. Incontinenti li seu relato magnífico que despertou em mim saudades amortecidas pelo tempo e pela distância, mas que, de repente, me tomaram o corpo e a alma (melhor, o espírito). Foi como um vulcão adormecido por anos e que, de repente, entra em erupção. Passei a acompanhá-la na madrugada tépida de Montes Claros e fui, ainda que desatualizado, rememorando pessoas, lugares e vozes. Desatualizado, porque quando aí estava vivendo nos idos de 1950— bem jovem! — me não lembro de ter conhecido o “Cristal”... Uma choperia? Casa de louças? Recanto para repouso e leitura? Não consigo me lembrar... Aliás, corrijo, ninguém pode se lembrar do que não conheceu. Naquele tempo certamente não havia O que mais me emocionou foi o que você viu e ouviu na Praça da Matriz. Nesse ponto, me entreguei por inteiro à sua narrativa e fui relembrando nomes, rostos, sorrisos, vozes... A gente vive e pensa que tudo passa... Tudo passa no hoje mas permanece gravado aparentemente no cérebro... Lembrei-me, quase às lágrimas, de nomes que cintilaram na minha infância e juventude. À medida que você citava as personagens, elas desfilavam no palco de minhas recordações. Pedro Santos (hoje seríamos colegas, não apenas conterrâneos), alto e magro, simples, comunicativo, caridoso... Raros encontros na Farmácia Sta. Terezinha quando ele visitava o Dr. Sinval Nogueira. O Dr. Plínio Ribeiro, meio careca, atencioso, mas contido, morando numa casa com uma varanda que dava para a Rua Padre Augusto... Dr. Simeão Ribeiro, ex-prefeito, rosto grande, bigode espesso, sério e simpático (que visitou minha vó Idalina na Vila Clarindo Lopes), o Dr. Alpheu de Quadros, pneumologista, cuja casa na Rua Dr. Santos eu sempre admirei. A última vez que o vi foi nas Festas de Agosto (1989?) que ele assistia sentado numa cadeira de rodas. Sempre me pareceu, a mim, menino, um homem distinto, de fino trato (como se dizia) e, se não me engano, dado ao uso da gravata borboleta. Um médico importante, que atendeu à nossa gente durante a Gripe Espanhola, foi o Dr. João Alves, que conheci através pela fala de minha mãe e da placa da Praça que tem seu nome e de meu amigo ( que há tempos não vejo) o João Leopoldo Alves França. O Cel. Antonio dos Anjos cuja existência me foi comunicada pela placa da Rua que leva seu nome. Filomeno Ribeiro... fazendeiro? Figura importante da cidade. Vi-o pouquíssimas vezes. Estatura média para baixa, bigode cheio e proeminente... Morava na rua em que estava a Rádio ZYD-7, onde atuei (Cel. Antonio dos Anjos? Aqui, os que foram se encontram). Ah, o Cândido Canela!... Arguto, inteligente, de riso luminoso; de uma franqueza que às vezes beirava à grosseria. Mas, era o jeito do mineiro autêntico que certamente não dava guarida a mentiras e não levava desaforo para casa. Lembro-me da inauguração da ZYD-7, de sua anedotas gostosamente típicas do sertão. E junto, com ele, a dupla Augusto e ... (não lembro), que cantavam a legítima música sertaneja, acompanhada de um ou dois violões. E o Reivaldo, seu filho? Colega do Instituto Norte-Mineiro, sempre alinhado no trajar, com os cabelos brilhantes, um dândi, sempre educado e de postura impecável. Outros nomes são citados, mas lamentavelmente não os conheci... ainda. Nelson Vianna... Era alto, corpulento, pele do rosto marcada, de coturnos e chapéu branco, resoluto, impunha respeito e até certo temor, a mim, menino simples do Roxo Verde. Minha mãe estranhava a placa que ele pôs na entrada de sua casa (S. Francisco com D. Pedro II), em que estabelecera o horário de atendimento das pessoas que por algum motivo lhe quisessem falar. Dr. João Luiz de Almeida, pai do Joãozinho e da madrinha na formatura do ginásio... (Formatura de ginásio? Pois é, a coisa era séria e festiva. E a Admissão ao Ginásio? Não sei se é do seu tempo...) Foi lá no Instituto que conheci o inteligente Wanderlino Arruda, quando estudávamos francês... Naquele tempo o francês era o inglês de hoje, até a Segunda Guerra.... Vieram os bispos... Deles, só me lembra um que me crismou aí pelos anos de 1939... mais ou menos. São imagens esfumadas, coloridas de pontos vermelhos-róseos das vestes do celebrante. A Praça da Matriz estava em reforma... Anos depois, estivemos sob a égide do D. Antonio de Almeida Morais Júnior, que causou muita polêmica na cidade ao empreender a mudança do Cemitério Velho para o que passou a se chamar Cemitério Novo (hoje, já superado). D. Antonio era inteligentíssimo, orador alto coturno, fecundo e fluente, que prendia a atenção de quantos o ouvissem. Uma das suas frases que guardei indelevemente, foi quando, no palco Rádio (antigo Cine Montes Claros), logo a pós a Segundo Guerra, em meio a seu discurso, pôs a mão esquerda na cabeça para firmar seu ........ e disse, alto e bom som: “Se a União Soviética é a maravilha que diz ser, que abra suas cortinas de ferro e mostre a todos nós esse paraíso”. Vagamente me lembro do último bispo, D. Geraldo Magela que, se não me engano, era nascido em nossa terra e que vi, à distância, “en passant”, quando duma visita que fiz a Montes Claros (que nome bonito de cidade, hein?). A idade nos faz valorizar pequenas coisas que nos pareciam comuns como simplesmente uma pincelada no quadro da nova vida. E os Padres? De um não esqueço, conheci-o desde minha infância mais remota: Padre Marcus... Van In? Essas duas palavrinhas finais me encabulavam por incompreensíveis. Apenas, para mim, significavam que ele era estrangeiro seja pelo nome, seja principalmente pelo sotaque meio germânico nos sermões dominicais da Matriz. A seu lado, o Monsenhor Osmar, risonho, nortista de boa cepa, dirigente do Ginásio... Episcopal? Não me lembro. Agora, uma recordação muito particular que você desconhece: Da. Miquita, zeladora do Santuário Bom Jesus, que promovia as festas em frente ao Santuário (terra pura), com as barraquinhas, e o final com a bênção do Santíssimo... Foi meu primeiro contato com fogos de artifício em profusão... Vibrava, com alegria e medo, quando me deixavam segurar um foguete (desses do Marcianinho Fogueteiro, lembra?) e conseguia soltá-lo... Mas em meio a tanto estrondo não conseguia, para minha frustração, saber qual era o meu... No Santuário, com João, filho da Da. Miquita, eu pedia para participar dos dobres de finados (naquele tempo as igrejas tocavam os sinos plangentemente para lembrar a todos, fiéis e infiés, que esta vida é passageira e que é preciso pensar na outra, no além...) Gostava tanto de tanger o sino, que insistia com o João para que deixasse eu tocar mais, passando por cima das pausas silenciosas que ele estabelecera... Se dependesse de mim, eu só pararia quando minha mão e braço magros e frágeis cedessem ao cansaço e à dor... Já próximo ao final, Maria Luíza, você citou médicos. Havia poucos médicos naquela época. Antes dos médicos, às vezes era levado a uma consulta relâmpago com o farmacêutico Mário Versiani... Era uma dorzinha, uma febrícula, um resfriado, ou a receita dum lombrigueiro... Quando o Dr. Paulo Nogueira chegou à cidade, para meu avô Clarindo Lopes foi um acontecimento relevante objeto de comentários. Minha mãe gostou do atendimento. E repetia que ele, ao final dum explicação, dizia: “Não é isso?” Depois, o irmão dele, Dr. Sinval Nogueira, proprietário da Farmácia Sta. Terezinha, onde trabalhei como datilógrafo e auxiliar da contadora Maria Inês Versiani. Saltando alguns anos, bem à frente, houve um médico amigo de infância, Aderbal de Andrade, que além de médico era pintor e, se não me engano, poeta... Ele pontilha as melhores recordações de minha infância. Dr. Áflio Mendes de Aguiar e sua postura elegante, sempre bem vestido, discreto e bom orador. E passemos ao Godofredo Guedes, o Godô! Sensibilidade à flor da pele, conhecimentos práticos aprofundados da música popular e a erudita romântica como Chopin. Ainda, adolescente, à noite, indo para casa, parava na “garagem” de sua casa, que era o salão de pintar placas, caminhões e, principalmente (seu orgulho) cenas de Montes Claros e seus arredores. Foi ele um dos que despertaram em mim o gosto pela música erudita de piano, cantarolando as valsas de Chopin, enquanto parava de pintar, uma lata de tinta na mão esquerda e o pincel na outra. Sorria contente e falava das belas melodias, como as valsas de Ernesto Nazaeth e cantarolava suas própria composições. Godô, em Montes Claros, na década de 1950, fez um piano e o colocou em exposição na vitrina da Casa Ramos. Era seu orgulho, entre outros. Anos depois, exultante de alegria, me contava com seu contagiante sorriso que o Beto Guedes havia gravado sua “Casinha de Palha”... Konstantin Christoff, também médico, conheci-o pessoalmente três anos antes de falecer (há pouco tempo). Recebeu-me muito cordial na sua casa dentro duma mata natural, e falou-me de arte e de que, atualmente, preferia a música erudita menos preferida de todos (romântica como a de Chopin e Schumann). Queria ouvir música mais moderna. Ofereceu-me um livro, que eu já possuía, “Introdução à Música do Século XX”. Mas o dele é especial, pois contém sua dedicatória simples e sua assinatura. Soube da existência do Konstantin quando conheci pessoalmente o escritor brasileiro e montesclarense, Manoel Hygino dos Santos, por volta de 1948, quando ganhei um prêmio de sua revista ESFINGE, editada em Belo Horizone. Foi outro amigo incentivador que me levou a aprofundar os estudos , principalmente da música de da literaltura. Na época o Konstantin ilustrou com desenhos seu pimeiro livro (“de juventude”, como diz o Manoel) “Vozes da Terra” que ainda guardo com zelo e carinho, pois representa uma fase borbulhante de minha vida. A partir daí, além de médico, Konstantin tornou-se conceiturado pintor. Depois, Maria Luíza, você fala de Natércio França, pai do amigo João Leopoldo. Natércio era pessoa corretíssima. Conheci-o quando gerenciava agência de Companha Aérea (Aerovias Brasil?). Nos últimos anos de vida, era espírita convicto e, como sempre, pessoa proba, educada, de conduta irretocável. Natércio me lembra a pessoa de Tiburtina, que não conheci, avó de meu amigo João Leopoldo, que me deu um livro que narra a verdadeira história de que ela participou quando da vida de Melo Viana a Montes Claros. Agora me recordo de Dulce Sarmento, inspetora de ensino, pianista e professora de piano, que morava num sobrado da Rua Justino Câmara. Dulce era inteligente, irrequieta, atenciosa, rápida no raciocínio e nas ações. Lembro-me de que, começando a me interessar pela musica erudita, enquanto ouvia com ela o safoneiro Geraldo .......(?) no auditório da ZYD-7 em homenagem a gradas autoridades de Minas (inclusive de Belo Horizonte), fiz uma observação de que talvez fosse mais adequado que se tocasse música mais requintada, como a clássica. A Dulce, sem pestanejar, dirigiu-se de imediato ao jovem adolescente que eu era, e disse algo como: “Valdir, nossa música popular é boa e rica e pode ser tocada em qualquer lugar, por mais sofisticado que seja.” Foi minha primeira lição de nacionalismo e patriotismo de que jamais esqueci. Às voltas com programas da ZYD-7 onde cantava e fazia locução, resolvi aprender música e para isso, tomei lições com o flautista Osvaldo Lagoeiro, originário de Januária. Depois, admirador de Chopin, quis estudar piano. Dulce Sarmento era, praticamente a única professora de piano de Montes Claros. Depois veio a Profa. Marina Fernandez, filha do compositor Oscar Lorenzo Fernandez. Como iniciante, nem sabia de sua presença em Montes Claros. A Dulce Sarmento estava sobrecarregada em suas múltiplas atividades. Por isso, soube do Joaquim Calixto Assis Rodriges, gerente do Banco... (Mineiro da Produção?) que lecionava, já que tinha bons conhecimentos de piano. Procurei-o (mesmo sem ter piano, que eu nem podia comprar). Conclusão ele lecionava piano uma vez por semana e ainda me cedeu seu piano (mais antigo – tinha um mais novo) para eu estudar. Então fiz um curso com aulas e estudo a domicílio com o Calixto. Depois disso, ingresso no Banco do Brasil, vinda para São Paulo “para estudar música e fazer um curso universitário” e aqui estou até hoje morrendo de saudades pelo gostoso passado que vivi em Montes Claros e pelos sonhos que sonhei e alguns dos quais consegui realizar. O mais, é a vida que transcorre enquanto passamos para outras dimensões. Agradeço-lhe, Maria Luiza, pelo despertar de minha fonte de recordações, há muito tempo paralisada desativada. Até breve. Valdir Lopes de Figueiredo. P.S. - Desculpe-me, Maria Luiza, pela verborragia. Mas não pude me conter diante de sua crônica.

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