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Mensagem: Além da Festa - I Tião Martins Montes Claros é surpreendente, pela paixão sem limites que mobiliza as pessoas nascidas naquela terra de elevadas temperaturas, tanto nas ruas quanto no coração do povo. Mas a surpresa não termina aí. Em que outro lugar de Minas surgiria iniciativa tão rica quanto a de promover uma festa para quem teve o privilégio de nascer, há 60 anos ou mais, na terra de Dona Tiburtina? (Registre-se aqui, entre parênteses, que Minas precisa conhecer melhor a história de Dona Tiburtina. Mas chamá-la de «Joana DÁrc da Aliança Liberal» ou de «Anita Garibaldi do Vale do São Francisco» é injetar na História forte dose de exagero. Fechem os parênteses). Saibam que Montes Claros surpreende até na forma de elaborar o convite, pois não se limita às informações habituais de que, no dia 15 de novembro, a cidade reunirá cantores, músicos, cineastas e jornalistas e promoverá shows, apresentações diversas e projeções de imagens e vídeos herdados dos anos 50 e 60, a era de ouro da turma. (Outra parada, com parênteses. O comunicado omite, sabe-se lá por quê, a notícia de que Márcia Yellow, embora tenha nascido bem depois, morre de saudades daquele tempo e vai documentar cada segundo da festa, mesmo que a obriguem a entrar como penetra. E, se não a segurarem, cairá no bolero e no tango até o dia amanhecer). E vem agora a maior das surpresas. Como a coordenação do projeto foi entregue ao sociólogo Geraldo Maurício, que as pessoas conhecem como Nenzão (alguém sabe a razão do apelido?), esse profissional habituado a interpretar atitudes, expectativas e medos das pessoas e das sociedades escreveu brilhante ensaio (mini-ensaio, na verdade) sobre o significado mais profundo da festa. Ou do que vai além da festa. Segundo ele, a certa altura da vida, homens e mulheres de mais idade se entregam às recordações da juventude e retornam a lugares conhecidos, buscando reviver situações do passado. Esse comportamento de fuga, mais freqüente após a perda dos pais ou parentes próximos, é manifestação típica de uma crise da idade adulta, em face da idéia da morte, intrusa que todos queremos expulsar da festa da vida. Se o presente - desconhecido, imprevisível e solitário - tornou-se desagradável e corrompido por alto grau de perigo, «é natural que se busque nas lembranças de tempos anteriores um referencial para reprisar acontecimentos bons». Mas, adverte o mestre, nas viagens pelo tempo, «quando se descobre que o passado não mais existe ou as situações não são as mesmas», é grande a possibilidade de frustração. Assim se explica o sentido mais profundo do encontro em Montes Claros. Trata-se de desafio a pessoas que hoje se sentem ou vivem como prisioneiras de passado que nem existiu. Se, durante a viagem no tempo, descobrirem que nem tudo era como lembram, poderão assumir a consciência de que sua história atual é mais rica, real e aberta para o futuro. E terão a certeza de que podem comandar seu destino, em lugar de viver como turistas acidentais, que cumprem apenas um roteiro de lembranças. Este é o desafio ou promessa que o autor resume em frase dramaticamente simples: «Deitar âncora no aqui e no agora é o único mecanismo de retomada da realidade». Dá vontade de ter nascido ou vivido em Montes Claros
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