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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 26 de novembro de 2024
 

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Mensagem: (Do livro ´Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos´ - Parte 41)

ROTARY – UMA DÁDIVA OFERECIDA
AO MUNDO

Eles eram quatro, eram quatro homens modestos, falando uma linguagem nova para o mundo. E se reuniram certo dia para um encontro histórico. Seus primeiros passos, os primeiros passos que foram dados, perdidos ficaram na indevassabilidade dos tempos mais remotos. No princípio era o medo, era a desconfiança, a maldade feroz do homem primitivo. Eram os primitivos instintos de defesa e de luta indispensáveis à sobrevivência em um mundo inóspito, no qual o homem, desarmado pela natureza, enfrentava condições de vida terrivelmente hostis.
A partir, portanto, do homem primitivo e quase fera, do homem sozinho e nômade, que se apoiava na União tribal, evoluindo para o clã, através da união pelo sangue e pela adoração dos mesmos totens, a partir, pois, de quando a paisagem do mundo oferecia múltiplos arquipélagos humanos antagonizados pelo medo, pela desconfiança, e pela brutalidade, desde então, e sempre, o homem se sentia um ser a que faltava algo, e esse algo era a associação com seu semelhante, a qual pouco a pouco veio sendo alcançada, na longa caminhada de séculos e milênios, pela formação dos aglomerados e a seguir das nações, das urbes, dos Estados, das Federações, das Ligas e da ONU, na antevisão do sonho de Wendel Wilkie, na procura idealística de UM MUNDO SÓ.
Foi longo o itinerário através do tempo e do aprimoramento até que pudessem aqueles quatro homens se reunir na sala nº 711, de uma casa modesta, na cidade de Chicago. A casa, por um desses fenômenos que se creditam ao acaso, possuía o nome significativo de BUILDING UNITY, Edifício da União ou, em tradução também aceita, Edifício da Unidade ou da Universalidade. Singela era a sala, modestos os seus ocupantes: um vendedor de carvão (que ali tinha seu escritório), um alfaiate, um engenheiro de minas e um advogado que viera da província. Este último, de nome Paul Harris, fora o inspirador da reunião. A data: 23 de fevereiro de 1905.
Naquele dia tomou corpo um pensamento generoso e altruístico, que evoluiu através dos tempos e cuja cristalização, na forma de clube de serviço, haveria de revelar-se profundamente fecundo para a humanidade. Naquele dia nasceu o primeiro Rotary Club. Seus componentes, hoje nomes históricos, foram Silvestre Shiele, o carvoeiro; Hiram Shorey, o alfaiate; Gustavus Loher, o engenheiro; e Paul Harris, que modestamente recusou a presidência, em favor de Silvestre Shiele, que se tornou o primeiro presidente de um Rotary Club.
É certo, e o próprio Paul Harris o afirma em seu livro “The Rotarian Age”, que os seus fundadores, por mais que acreditassem em Rotary, não vislumbraram, naqueles primeiros tempos, o estupendo futuro de Rotary e a influência profunda que viria a exercer no mundo.
Em primeiro lugar, com Rotary nasceu o clube de serviço, um novo tipo de associação até então desconhecido e que a partir daí fez escola e em sua esteira surgiram dezenas de organizações da mesma família, devotadas, por diversas formas, à desinteressada prestação de serviços, como Lion’s, Orbis e outros.
Pelo convívio dos primeiros rotarianos e pelo conhecimento das atividades profissionais de cada um, alargou-se o campo de conhecimento de todos, ao mesmo tempo em que entre eles se consolidava o sentimento de companheirismo. Cedo verificaram que sua organização passara a representar uma força que não devia deter-se em si mesma, mas que requeria fosse canalizada no sentido da prestação de benefícios, nascendo assim, organizadamente, as quatro grandes avenidas através das quais Rotary atua na realização de seu ideal de desenvolver o companheirismo, de aproximar os profissionais de todo o mundo, de melhorar a comunidade e de reconhecer o mérito de toda a ocupação útil.
Ao comemorar-se mais um aniversário de Rotary, e ao bosquejar, de minha parte, em palavras ligeiras, as origens e finalidades de Rotary, sou possuído da convicção de que simples palavras não conseguem traduzir tudo o que é Rotary em sua explendente realidade. Rotary não pode ser descrito, por mais que se busquem e se rebusquem as palavras. Rotary estará sempre acima de nosso poder de expressão. Para bem conhecê-lo é necessário que se viva Rotary. É na vivência do dia-a-dia rotário, na participação constante da torrente de calor humano que flui através de Rotary – só assim se pode alcançar toda a sua grandiosidade, toda a sua magia. Há exemplos sem conta desse poder quase miraculoso de Rotary.
Certa vez, era eu Governador do Distrito 458, e visitava oficialmente um clube. Estávamos na assembléia de executivos e eu lançara a pergunta que costumava fazer para estimular a participação de todos.
“Como vai o clube?” Foi a minha pergunta.
As respostas vieram de vários lados e em dado momento, quando alguém punha em realce o companheirismo existente no clube, um dos presentes observou, prendendo a atenção geral:
“Rotary é engraçado. Às vezes conhecemos uma pessoa por longos e longos anos, sem nos simpatizarmos com ela, como no caso que vou contar-lhes. Eu sou escrivão da Coletoria, prosseguiu, e devo atender indistintamente a todos os contribuintes, mas aquele cidadão de tal forma me desagradava que sempre me esquivava de atendê-lo e por último chegava às vezes a escapulir-me da repartição, quando ele apontava ao longe, vindo em direção a Coletoria. Um dia esse cidadão foi proposto para sócio do clube. Tive um drama de consciência. Em verdade eu nada tinha de real para apontar contra ele, mas nossos anjos-da-guarda não se entendiam, como diz o povo. Afinal, para não ser injusto, votei a favor dele, rezando para que outros o recusassem. Mas ele foi aceito e veio para o clube. A princípio ficamos distanciados um do outro, depois passamos a trocar cumprimentos e mais adiante a conversar nos jantares, nos encontros de rua e em reuniões sociais. E assim fomos descobrindo nossas afinidades e nos tornamos amigos. Hoje, no dia em que ele não vem à Coletoria ou à minha casa, eu vou visitá-lo em seu trabalho ou na residência. O convívio e o espírito rotário destruíram a barreira que nos separava”.
Este caso é típico de Rotary. Espero um dia levá-lo a uma Conferência e ao acabar de contá-lo pedirei aos dois protagonistas que se levantem e o confirmem. E se abracem.

(continuará, nos próximos dias, até a publicação de todo o livro, que acaba de ser lançado em edição artesanal de apenas 10 volumes. As partes já publicadas podem ser lidas na seção Colunistas - Luiz de Paula)

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