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montesclaros.com - Ano 25 - quinta-feira, 26 de setembro de 2024
 

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Mensagem: MESTRE BENVINDO

Certo como dois e dois são quatro, assim era o mestre Benvindo. Bom homem no modelo antigo, habitante e cidadão da valente São João da Ponte, gente vinda do Condado. Embora uma fortaleza de pessoa e de palavra era um ser temente à ira divina!
Nascido no tempo das brabezas quando homem que era macho usava uma garrucha 380, munição não faltava, um canivete Corneta no currião, um naco de palha tenra no bolso traseiro da calça, para o paieiro com fumo sergipano, e na bainha um bom facão Kolynos, preparado para dar pano no lombo de vagabundo.
Honesto ao extremo, penhor da palavra dada, a sua valia era o fio do bigode. Trabalhou duro de sol a sol por toda uma vida na roça, ajuntou dinheiro, ficou rico com propriedades e nos comércios. Adulto e casado com dona Noélia, tinham padaria, pensão, comércio, bar na cidade. Uma grande criação de porcos na fazenda, um caminhão Internacional cara chata, com o qual transportava porcos, bois e fazia frete por contrato. Como tinha o temperamento súbito e roncante, se expressava de forma emocional e epidérmica. Quando falava, parecia um trovão a derrubar a casa!
Certa tarde, transportava uma porcada no caminhão, quando ouviu um estalo e o carro parou. Pediu ao Benvininho para descer e verificar o que acontecera. Benvininho logo falou: o semi-eixo quebrou! Irritado, mestre Benvindo saiu da boléia com o 38 em punho e vociferou para o caminhão como um ente: Vira um homem para eu encher sua boca de bala!
Quando o estresse o pegava, ou a fronteira da sua razão batia em algum costado de moralidade, mestre Benvindo se recolhia à sua torre de marfim, o salão do seu boteco com portas fechadas e luz apagada. Não sem antes levar uma boa garrafa de Insinuante, para amolecer o quengo. Instruía aos de casa para não atender à porta do bar.
Passada a tempestade, mestre Benvindo voltava aos afazeres com o seu atávico curraleiro, seus dogmas e preconceitos de homem da roça. Não entendia a modernidade do mundo, pois fora criado campesino e sertanejo. Era um forte! Todos os que o cercavam sabiam que ele não despachava para o bispo. Sua missa era de corpo presente. Em alto e bom som!
Certa noite mergulhado em sua bistunta, a garrafa de Insinuante quase no fim, portas e janelas fechadas, candeeiro apagado, só se ouvia o estalido dos lábios sorvendo a boa pinga e o barulho de algum animal noturno. Súbito alguém bateu à porta do bar com grande voz e estardalhaço!
O chegante tanto batia como gritava e os entes de dentro, em silêncio. Dona Noélia já incomodada foi pedir ao mestre Benvindo que atendesse. Podia ser alguma urgência! Benvindo colocou as alpercatas no escuro, pois o querosene do candeeiro já se esgotara, arrolhou a garrafa e se dirigiu à porta.
No trajeto, meteu o cano do osso da canela na quina de madeira do caixão de cereais. Logo saiu o primeiro impropério e a primeira danação! De dentro do bar, encolhido de dor fez a pergunta: Quem é que chama com esse barulho danado!
O interlocutor pigarreando respondeu: “Geraldo do Condado que vem avisar que o seu compadre João morreu”!”“ Morreu de que?”“ suicidou!”“ suicidou como?” “ tomou formicida” “ e qual foi à marca do formicida?” “ Tatu!” “ quem pé que mandou esse F.D.P. tomar logo Tatu. Tatu não alisa!” “ Podia ter dado um tiro no quengo! Já que sabia que Tatu não alisa e ia tomar, deveria ter deixado querosene para a lamparina de quem fosse avisar os amigos!”
E estamos conversados mais uma vez!

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