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Mensagem: RECORDAR É VIVER – REMINISÊNCIAS DO VELHO BREJO - 1 Enoque Alves Rodrigues Buscava nas reminiscências de meu passado algo que pudesse relatar neste valioso espaço, sem que lançasse mão dos originais do livro que escrevi “Fatos e Personagens do Antigo Brejo das Almas”, composto de 58 episódios encartados em 320 páginas, o qual ainda se encontra nos originais por não entender oportuna sua publicação agora, quando ao acessar minha caixa de entrada de e-mails:[email protected], deparei-me com linda missiva do conterrâneo Waldemar P Dias Reis, a qual se refere ao “Fatos e Personagens do Antigo Brejo das Almas - 2”, publicado neste MontesClaros.com do dia 27/03/2010, por remeter-me a episódios de minha infância que se encontravam de certa forma adormecidos no recôndito do ser. Assim sendo peço vênia para que seja aqui publicada na integra, sobre a qual farei alguns comentários a guisa de recordação. Antes, porém, agradeço ao querido Waldemar, a quem certamente conheci em infância apesar de não nos lembrarmos, pelas palavras cordiais e incentivadoras, mais principalmente, pela riqueza de pormenores nelas contidas, fruto, evidentemente natural de uma mente privilegiada, apesar de ser o querido Waldemar, um ano mais velho que eu, o que me deixa, de um lado feliz por ele e do outro lado, com uma ´pitadinha de inveja´, por eu não poder dispor de uma mente assim. Ei-la: ´Meu caro Enoque: Sou um grande admirador de suas crônicas e contos, desde a pouco tempo, quando descobri o montesclaros.com – a partir daí tenho visto tal site, diariamente. Você escreve e pontua muito bem. Fico ansioso para ver suas crônicas, sempre que entro no site. Parabéns, você é um colunista convidado muito interessante. Acho que não o conheço pessoalmente, mas sou seu conterrâneo e devo ser também seu contemporâneo. Nasci em 1952. Você deve de ter conhecido os meus pais – Santo Lagoa (Santos Dias dos Reis) e Dona Antonia de Santo – Fazenda Vista Alegre – no Mangal. Sou irmão de Zé dos Reis, Lau, Tina, Dadim e outros que você não deve se lembrar. (1) Enoque: Conheci seus pais, Caro Waldemar, e várias vezes estive no Mangal, na Fazenda Vista Alegre. Lembro-me de seu irmão Zé dos Reis. Vim para São Paulo muito novo, em 1969 com apenas 16 anos. Morei próximo a estação da Luz, na rua Augusta e na região da Bela Vista, até 1983. Daí me mudei para Jundiaí, continuei a trabalhar na Capital, até que me mudei para Limeira-SP – em 1997, onde moro atualmente. Uma a duas vezes por ano, sempre vou visitar meus parentes na minha querida terra natal – Brejo das almas e região. Com relação ao seu conto, abaixo – conheci pessoalmente os seus avós. Eu era um dos mensageiros de minha mãe, que duas vezes por mês – ou até uma vez por semana, ia à casa de minha avó – Marcolina, de minha tia Dina/Teotônio e de tio Dô (Rodofino) – na região denominada Furado D’antas ou Furado do Mel, – levar melado de cana, rapadura, tijolo de cidra, batida de melado – e, outras vezes, levava laranja, manga rosa, uma manta de carne de sol – sempre com um bilhete ou carta expressando a saudade de minha mãe. (2) Enoque: Recordo-me de todas estas pessoas mencionadas por você, querido Waldemar. Creio ter palmilhado todo o solo dessa região quando criança. Algumas vezes minha mãe ia junto – lá pelos idos de 1962/1966, numa viagem longa, mas que não era mais que 12 Km – montados em bons cavalos. Ela tinha um cião – não sei se é assim que se escreve, mas era uma sela para senhoras montar no cavalo. A estrada, caminho para a casa de minha avó, passava do lado da casa do Sr. Liberato, daí a minha mãe parava para conversar um pouco com a Sra. sua avó. A Tina – minha irmã, era muito amiga de uma sua tia que não me lembro o nome. A parada sempre durava mais de duas horas e, normalmente éramos servidos com delicioso café com biscoitos fritos, bolos de fubá, queijo e requeijão. (3) Enoque: Lembro-me, perfeitamente, Caro Waldemar, como se fosse hoje, de sua avó, a Dona Marcolina “proseando” com a minha, Dona Justina, na maioria das vezes em frente a casa da Fazenda “Terra Branca”de meu avô, Sr. Liberato, enquanto o gado pastava lá na pequena serra. A minha tia de quem sua irmã, apesar de aquela época ser tão jovem, era muito amiga, é a tia “Nira”, filha mais velha de meus avós. Tia Nira, hoje com quase 90 anos, vive em Capitão Enéas, com sua irmã, minha tia “Nana”. Era costume de nossa região e família àquela época não deixar que a visita fosse embora sem que antes se tomasse café com biscoitos, broas, queijos, etc. Meus avós, e toda a sua família, como adventistas daqueles tempos, não tomavam café devido a cafeína. Eles utilizavam como café sementes de “fedegoso”, e às vezes batatas ou milho, que uma vez torrados, davam quase que o mesmo sabor do café. Eram vegetarianos radicais. Não comiam carne de nenhuma natureza. Eu era um menino e ficava observado o Sr. Liberato – de barbas brancas e longas – lendo a bíblia com um outro Sr., também de barba. Eles eram Adventistas do sétimo dia. Foi aí que tomei conhecimento de que existiam outras religiões. (4) Enoque: Quanta saudade me vem n’alma estas suas lembranças de meu avô, querido Waldemar! Como você consegue se lembrar de tantos detalhes assim? O outro senhor de barba ao qual você se refere chamava-se Laudelino. Não tinha nenhum parentesco, pelo menos que eu saiba, com os familiares de meu avô. Era um “irmão” adventista e vivia com eles. Não obstante serem ambos da mesma religião, divergiam entre si sobre a interpretação de alguns conceitos que concatenavam. Lembro-me, com saudades, de muitas “pelejas” que varavam noites e mais noites, daqueles dois luminares dos adventistas, nos cafundós dos sertões das alterosas. Uma dessas memoráveis “pelejas”, sobre a qual devido ao elevado grau de importância, pois “mexiam com o Criador”, na concepção deles, foi quando em 1969 o homem finalmente chegou à Lua. O irmão Laudelino, assim o chamávamos, defendia, ardorosamente, que isso era mentira. Que Deus jamais permitiria ao homem “pisar” sobre uma Obra Sua. Que tudo aquilo era falácia. Pura invenção desse pessoal que “está ai dentro do rádio” (lá não tinha televisão) para nos enganar... Já o meu avô, Sr. Liberato, “defendia a tese” de que o homem havia ido sim à Lua. Que ele não tinha nenhuma dúvida. Mas se o homem “pisou na Lua” foi porque Deus quis e com toda certeza estes astronautas serão derrubados de lá. Ai ele citava um trecho da Bíblia que nos deixava a todos de cabelos em pé. Isaias Capitulo 14, versículo 14, que dizia assim: “e subirás acima das mais altas nuvens e sereis semelhantes ao Altíssimo. Contudo, jogado serás ao inferno, no mais profundo abismo”. Imaginemos hoje, meu caro Waldemar, como a minha pobre cabeça de menino de seis anos naquela época poderia processar tudo aquilo. O “pior de tudo” é que como eu sempre estava do lado do meu avô, tinha que concordar com sua tese que naquelas alturas definia um “Deus montando suas armadilhas na Lua, há 400 mil quilômetros de altura, para uma vez lá cima, joga-los cá em baixo”!!! A verdade é que eu comentava isso e sorria, sem parar. Minha mãe contava que os senhores seus avós promoviam uma grande festa, uma vez por ano, que durava uma semana – e falava das cabanas e dos cânticos religiosos. Dizia que era sempre muito bonito, mas eu não me lembro, deveria ser muito pequeno. (5) Enoque: as festas das cabanas eram realmente algo que fugia aos costumes de outras famílias, não adventistas. Eram muitos bonitas. Não tenho noticia de que ainda hoje existam em algum lugar do Brasil. Creio que não. Tenho imensa saudade daqueles tempos em que eu era o mensageiro de minha mãe. Na maioria das vezes eu ia sozinho. Ia bem cedo, sempre aos sábados – as vezes dormia na casa de minha avó ou na casa de minha tia Dina e voltava no domingo, pois tinha medo de voltar durante a tarde, por causa da mata densa e alta que escurecia a estrada. Certa vez fui de bicicleta – um velha bicicleta que meu pai comprou para a comunidade de meus irmãos, que – a muito custo convenci a todos que “não consegui pegar o cavalo” – que eu iria na casa de minha avó, somente se fosse na bicicleta. Foi o maior erro que pratiquei. Eu mais carregava/empurrava a bicicleta do que fui montado nela. Na descida de uma curva, a bicicleta foi para um lado, eu fui para o outro e as rapaduras ralaram pelas as pedras da estrada. Eu também chequei todo ralado na casa de minha avó. Bom. Foi só para relembrar um pouco de minha infância pelas bandas de minha querida terra. Aliás, nossa, pois segundo o seu relato – abaixo, a estrada de que você fala é o meio de caminho para a casa de minha saudosa avó. (6) Enoque: Exatamente. É o mesmo caminho. As pessoas de que você fala – seu tio Júlio, Sinhozão (Sr. Jacil), Maria de Guida, dona Quinó e outras, eu também tive a oportunidade de conhecer e conviver nesse tempo. (7) Enoque: Meu querido tio Julio e minha doce e adorada tia Cota, que eram donos da Fazenda “Minas Novas”, que fazia divisa com a Fazenda “Terra Branca”, de meus avós, através do rio, se mudaram depois para Buritizeiro e hoje vivem no Céu. A Cana Brava, a serra da Masseira (ou maceira), a Fazenda Vaca Morta, Tabua, o Mangal, são lugares que não saem de minha mente, apesar dos 41 anos que vivo fora de lá. É por isso que acho que temos muitas coisas em comum e, que terei imenso prazer em conhecê-lo melhor. Fico a sua disposição e aguardo um contato seu. Um grande abraço. Waldemar P. Dias Reis´ Um grande e cordial abraço, querido Waldemar. Muito Obrigado pela atenção e por acompanhar minhas crônicas. Alô “brejeiros”. Aquele abraço... Semana que vem falaremos mais. Enoque Alves Rodrigues Vide foto de meus avós em meu blog:http://enoquerodrigues.blogspot.com/2010/05/recordar-e-viver-reminisencias-do-velho.html
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