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Mensagem: Uma viagem que seria outra Alberto Sena “Eu não estava, mas estavam: Joe, Cássio, Picolino, Tinim, Ademir, Buteco, Lidê e mais uma dúzia da nossa turma (Joe há de lembrar mais nomes), indo de Belo Horizonte para Montes Claros. “O propósito era curioso: Edgar Pereira, então candidato a deputado, alugou um dos vagões do trem para seus ‘eleitores’ montesclarenses. E lá se foi a rapaziada para o sertão. “Lá pelas 7 da noite, o trem parou em Sete Lagoas. A turma já estava ambientada no vagão-restaurante, a tomar umas e outras jogando baralho. O chefe do trem veio organizar a fuzarca e pediu que eles interrompessem a farra para darem início ao serviço do jantar. “Claro que a solicitação não foi atendida. Um policial na plataforma da estação interpelou o Lidê e o Buteco para que parassem a confusão. Joe, de enxerido, gritou pra um deles: “quê que tá rolando aí, bicho?” “O policial achou que era para ele, berrou de lá: “não tem nenhum bicho aqui não”, e recolheu o rapaz para a delegacia. “O trem prosseguiu sem o mano (no sentido lato, não no sentido paulista da palavra). Joe se lembrou de um advogado amigo do meu pai, pediu a uma pessoa na delegacia que tentasse se comunicar com ele e a pessoa, gentilmente, o fez, tirando Joe detrás das grades muitas horas depois. “No trem que havia seguido com os mancebos, mais um incidente de percurso. Pela algazarra, baderna, bebida e baralho, todos os companheiros de viagem de Joe foram expulsos do trem em Curvelo. “Enquanto isso, Joe, sem saber de nada, foi, de carona em carona, até chegar a Montes Claros. “Qual foi sua surpresa ao chegar à casa de Buteco, onde supostamente estaria sua mala? Ninguém havia chegado ainda a Montes Claros, o que acabou acontecendo na noite do dia da eleição. “Resultado: não dava mais pra votar, nem aqueles que votariam mesmo no Edgar Pereira. Ele perdeu vários votos, mas a rapaziada ganhou uma história e tanto pra contar depois”. Como o leitor atento deve ter notado, a narrativa não é minha. É do amigo Murilo Antunes, grande poeta, letrista, publicitário nas horas vagas. Como tratou de registrar logo no início da narração, ele não participou de nada. Joe quem contou tudo depois, o que foi corroborado pelos demais. Mas eu tenho leve suspeição quanto ao fato de Murilo não ter ou ter participado da fuzarca. Para contar tudo com essa riqueza de detalhes, acho que ele tirou foi o cotovelo da reta. “Eita” turma danada! Foi o que disse logo depois receber a mensagem. Se se pensar bem, cada um de nós tem uma história vivida no trem de passageiros. Carmen Lúcia Antunes, que viveu uma vida ali na Rua Bocaiúva, todo dia via o trem passar porque a linha férrea dava para os fundos do quintal da casa dela. E ela diz que se lembra muito bem, como se tudo estivesse acontecendo neste momento, o pai dela, Sr. Jonas, comprava uma cabine de trem e ali toda a família viajava no conforto para a capital. Eu mesmo, quando morei na Rua São Francisco, com mais ou menos dez anos, o quintal de casa dava fundos para a linha férrea. Com os meus irmãos e irmãs fazíamos a mesma coisa. Quando vinha o trem corríamos para os fundos do quintal e lá ficávamos acenando para quem chegava. Quando alguém da família viajava e sabíamos que chegaria naquele dia, então a festa era maior. Acontecia de o trem parar antes de chegar à estação, e então ali mesmo pai ou um dos irmãos apeava e logo estava desfazendo as malas em casa. O trem de passageiros nos traz recordações. O apito só já abre a tampa do baú. As passagens são muitas. Idas e vindas. Acredito que, mais dia menos dia, o governo federal investirá pesado em ferrovia a fim de aliviar o transporte de automóveis. As rodovias estão como estão. As fábricas cospem carros e as concessionárias vendem na base de prestações de 90 meses e por isso as ruas estão abarrotadas. Repare: em 100 carros nas ruas, mais de 90 são ocupados por só uma pessoa, o condutor. Daqui a pouco estaremos todos fadados a ficarmos dentro dos carros, parados, no meio das ruas congestionadas, principalmente nas grandes cidades. Os trens, ao contrário dos carros, são mais práticos, confortáveis e econômicos. E com a grande vantagem para os nossos dias: não poluem o ambiente com monóxido de carbono e coisas tais.
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