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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 23 de setembro de 2024
 

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Mensagem: Rixa entre “Estrepes” e “Pelados” Ruth Tupinambá Graça A nossa cidade foi durante muito tempo, rigorosamente dividida em duas partes. Não era uma divisão projetada por engenheiros ou agrimensores, numa divisão exata, com planta caprichosamente desenhada em papel próprio com as devidas separações em quinhões através dos teodolitos, judicialmente aprovadas, nem tão pouco, pela Administração Municipal ou Estadual. Nada disto. Era simplesmente uma divisão feita por dois partidos políticos importantes da nossa cidade: Partido de Baixo e Partido de Cima com seus apelidos:”Estrepes” e “Pelados”. O de Cima com seu chefe deputado Dr. Honorato Alves que morava na parte superior da cidade. O de Baixo chefiado pelo Deputado Dr. Camilo Prates que morava na parte baixo, ou seja, na Praça da Matriz hoje Dr. Chaves. Os moradores da parte de cima pertenciam politicamente ao grupo dos “Pelados” e os da parte de baixo ao grupo dos “Estrepes”. Era uma rixa tremenda. Os de cima não toleravam os de baixo. Eram prepotentes julgavam-se superiores e os de baixo, por sua vez, pertencendo á famílias tradicionais , gente que estudou em Diamantina (centro mais civilizado naquela época ) professores, doutores, coronéis julgavam-se “donos do pedaço”. Acontecimentos políticos e sociais com graves conseqüências,vinganças e até mortes prejudicavam as famílias. Tudo era dividido ostensivamente: um rapaz do lado de cima não podia namorar com uma moça do lado de baixo, nem tão pouco freqüentar qualquer acontecimento social, político ou religioso dos de baixo e vice-versa. O único lugar freqüentado pelos dois partidos era o Mercado Municipal (hoje infelizmente demolido) portanto ninguém se espantava ou se admirava quando, de repente, surgia uma discussão, uma briga e até tiros.Era a intolerância e impertinência , era o choque entre os Estrepes e os Pelados. Em virtude destas proibições aconteceram muitos casos de fugas (em altas horas) de “donzelas” da sociedade para encontros desejados e proibidos. Certa vez dois jovens de famílias tradicionais da nossa cidade, se apaixonaram. Ela era uma garota linda no esplendor dos seus 18 anos, morena de olhos verdes uma cabeleira loira que emoldurava um rosto perfeito. Ele também um jovem bonito, educado e que correspondia o seu amor na mesma medida. Seu único defeito era pertencer a partido contrário. Certa noite eles apaixonados (Cupido não brinca em serviço) deram uma escapulida e se encontraram ás escondidas. Mas mentira tem pernas curtas e o romance foi descoberto e o inocente encontro tornou-se um escândalo. A proibição foi cerrada. O pai da jovem sentindo-se traído e humilhado perante o partido e a sociedade e como os conselhos e proibições não convenciam a jovem enamorada, resolveu castigá-la dando-lhe uma grande surra. O romance do apaixonado casal não teve um final feliz. No dia seguinte foi uma tragédia em sua casa. Todos choravam A jovem desesperada, revoltada com a injustiça do partido, a intolerância e maldade do pai impedida de ver o seu amor, achou que a única solução da sua vida era a morte, o suicídio. E assim o fez. Ingeriu uma grande quantidade de soda caustica que a levou a morte rápida. Foi um caso extremamente doloroso e que abalou toda a cidade. Mas este drama não serviu de lição para os fanáticos políticos (política é uma praga) a intolerância entre os partidos políticos ainda perdurou por muitos anos. O tempo passou e este triste acontecimento foi como um sonho, ou pesadelo, e hoje ninguém mais se lembra destas histórias e das rixas políticas de cidade pequena. A cidade cresceu. Novas gerações surgiram mais evoluídas mais civilizadas. Aqueles políticos antigos morreram e a política tomou novos rumos. O progresso chegou trazendo nova cultura influenciada por novos Alunos de Faculdades, formados, professores (que naquele tempo eram mais valorizados) escritores, poetas e sonhadores... A fatal animosidade e o coronelismo desapareceram e a civilização veio transformando a “Princesa do Sertão” em “Rainha do Norte de Minas”, onde há lugar para todos os montesclarenses e forasteiros (que aqui são recebidos como filhos) e aqui se enriquecem, numa convivência “quase tranqüila” todos trabalhando, acumulando riquezas, agindo com o coração, amando e respeitando esta terra abençoada exaltando sua música,sua cultura, seu folclore... As duas partes se uniram finalmente formando uma grande e forte corrente, cujos elos envolventes, prendem e enfeitiça a quem desta cidade se aproxima. (N. da Redação: Ruth Tupinambá Graça, de 94 anos, é atualmente a mais importante memorialista de M. Claros. Nasceu aqui, viveu aqui, e conta as histórias da cidade com uma leveza que a distingue de todos, ao mesmo tempo em que é reconhecida pelo rigor e pela qualidade da sua memória. Mantém-se extraordinariamente ativa, viajando por toda parte, cuidando de filhos, netos e bisnetos, sem descuidar dos escritos que invariavelmente contemplam a sua cidade de criança, um burgo de não mais que 3 mil habitantes, no início do século passado. É merecidamente reverenciada por muitos como a Cora Coralina de Montes Claros, pelo alto, limpo e espontâneo lirismo de suas narrativas).

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