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montesclaros.com - Ano 25 - quinta-feira, 28 de novembro de 2024
 

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Mensagem: São infindáveis os dramas humanos, insondáveis nas suas motivações e causas. Retornei a M. Claros por breves dias, e quis revisitar alguns lugares muito familiares. Andei há pouco pelo calcadão alto da Avenida Sanitária, ali pelos fundos da Santa Casa até a esquina da Avenida Mestra Fininha, mãe de Darcy, amizade nossa em Brasília e no Rio. O trecho está escuro e a vegetação pede cuidados, poda e limpeza. Os postes clamam por lâmpadas que inibam a atração de certos tipos que, vi, afugentam frequência mais qualificada, como das famílias fugindo da forte canícula. Andei sem pressa e plano, na esperança de encontrar o natural brilho da vida., quando a noite envia sua aragem. Vi pessoas muito tatuadas, de aspecto esquivo, sugestivo de conduta resvalante. Senti cheiros, e não foram os melhores. Parece que o trecho está submetido a uma governança turva, esquiva, repito. Não localizei o que esperava encontrar - casais felizes, paz de crianças brincando, mãos entrelaçadas, vida em flor. Algo ali dispersa, e é uma pena, para uma cidade que tem tão poucos lugares aonde se possa ir, com alguma segurança. Foi quando, desistindo de reencontrar belas e ainda recentes lembranças de noites felizes, aonde todos compareciam sem medo, onde as virtudes não se deixavam tanger pelo medo, ia me retirando...quando vi...uma mãe. Mulher volumosa, sentada num dos bancos, com criança ao lado, menina de seus dois anos. Ia comemorar, ruminei - aqui, como desejável em qualquer lugar público, é possível trazer crianças. Mas, o detalhe se impôs. A criança cobria a boca e o nariz com uma máscara médica. Retornei. São insondáveis, e infindáveis, os dramas humanos. A mãe, disse-me ela, é de Patos de Minas e, com a filha sonolenta e com a máscara sobre a boca, descansava no calçadão. Daqui a duas horas, ou três, rumarão para a rodoviária, de volta à cidade de origem. A fillhinha tem câncer. Faz tratamento em M. Claros, de mês em mês. Patos não tem hospital de referência para estes casos. O calçadao - mal cuidado e algo escuro, por onde perambulam vultos não encorajadores - é o oásis de quem descansa da áspera jornada - trazer à cidade estrangeira a esperança de cura. ‘Per aspera ad astra’, recordei antiga sentença que ouvia do Padre Quirino - Pelos caminhos ásperos, aos astros. Ou seu equivalente: `Per crucem ad lucem´. Pela Cruz, a Luz. Foi assim que o calcadão, tristonho para mim nesta noite, recuperou sua dignidade. Deixou inundar-se da luz que a estrela distante envia sem medo de contaminar-se no pântano que a reflete.

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