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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 28 de abril de 2024


Dário Cotrim    [email protected]
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Por Dário Cotrim - 29/7/2015 11:36:20

O VELHO MERCADO

Dário Teixeira cotrim

Muitas das nossas cidades no Norte de Minas tiveram a sua origem de um ponto de pouso para o descanso das tropas. Normalmente, era nestes pontos de pouso que surgiam os primeiros aglomerados de negociantes (os mascates), criando em algum lugar sombreado, um tablado coberto de palhas que logo depois era transformado num gigantesco barracão-de-feira. Então, o barracão-de-feira trazia pessoas de outras plagas e, em pouco tempo, formava ali um pequenino povoado.
O tropeiro, sem dúvida, era a figura mais importante da época da colonização. Assim, o tropeiro estabelecia o seu comércio de secos e molhados dentro do barracão-de-feira. Com o comércio em ascensão criava-se de imediato uma Casa de Oração, que depois os fies transformava-a em numa Capela. Essa capela sempre tinha como padroeira o santo de devoção de um habitante importe do lugar, ou, então, a data festiva mais popular da religiosidade do povo. O pouso dos tropeiros de Povoado passava-se a Vila, em virtude do Mercado, da Igreja, da Cadeia e do Cartório Civil.
O povoado de Montes Claros de Formigas, em nada, foi diferente dos demais povoados brasileiros. Quando ainda era a Vila de Formigas, ela já tinha o seu mercado e uma feira livre que agregavam pessoas de vários lugares do Norte de Minas. Entretanto, só no ano de 1899, no dia três de setembro é que foi inaugurado, oficialmente, o primeiro Mercado Municipal de Montes Claros. Por ser uma construção de importância inquestionável, estiveram presentes no dia de sua inauguração as seguintes autoridades: Simeão Ribeiro dos Santos, presidente da Câmara de Vereadores e Agente Executivo do Município; doutor Antônio Augusto Veloso que foi convidado para ser o padrinho da obra e o padre Lúcio Antunes de Souza, que era o vigário de freguesia de Montes Claros, este abençoou as instalações recém construídas como mandava o figurino. Numa linda crônica de Ruth Tupinambá Graça, nós podemos visualizar o mercado de Montes Claros da seguinte maneira: “Os bruaqueiros, com enorme variedade de mercadorias, iam com suas mercadorias, chegando desde a madrugada e enchendo o mercado”.
Sabe-se que a construção do Mercado Municipal, na parte alta da cidade, não tivera o apoio necessário da população residente na parte baixa. Em consequência dessa situação, contam as más línguas que essa construção trouxe muitos aborrecimentos para os moradores da parte baixa da cidade. Nesse sentido, o historiador doutor Hermes de Paula registrou em seu magnífico livro “Montes Claros, sua história, sua gente e seus costumes” o desabafo do velho comerciante Silvio Teixeira, assim que ocorreu o desmoronado do lado esquerdo da construção. Disse o velho Silvio Teixeira naquela oportunidade: “– Que formidável! Coisa boa!”.
Infelizmente, o velho Mercado Municipal de Montes Claros foi demolido no ano de 1970, quando no mesmo espaço de tempo foi construiu um novo Mercado Municipal de Montes Claros nas proximidades da Praça de Esportes. Parece-nos desnecessário ressaltar, mas foi um duro golpe para a memória da cidade de Montes Claros. Com a posse do prefeito, doutor Luiz Tadeu Leite, em 1983, o Mercado Municipal da Praça de Esportes foi desativado para se ocupar nas novas instalações na Avenida Sanitária. Hoje, o mercado de Montes Claros está na parte baixa da cidade como tanto queria o saudoso comerciante Silvio Teixeira.
Um pequeno retrospecto histórico sobre as construções dos velhos mercados de Montes Claros nos seria de grande utilidade. Quem sabe, assim, o povo possa entender a infelicidade de “Rebello” na demolição do velho mercado e, do “Athayde”, o menoscabar da história de Montes Claros na construção do Shopping Popular.


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Por Dario Cotrim - 28/11/2014 19:15:12
MONTES CLAROS NO CENÁRIO CULTURAL

Dário Teixeira Cotrim
Academia Montesclarense de Letras de do IHGMC

Montes Claros é a “Cidade da Arte e da Cultura”, isso no dizer do saudoso confrade, o dramaturgo Reginauro Silva. E ele tinha razão quando assim afirmava, haja vista a presença dos intelectuais Darcy Ribeiro e Cyro dos Anjos na Academia Brasileira de Letras. Aliás, a literatura montes-clarense não se resume somente nestes dois “monstros” da literatura brasileira, há, ainda, uma gama enorme de pessoas que honram e enobrecem as letras e a história antiga da nossa aldeia. Para ilustrar o que dissemos registramos aqui com subido orgulho os nomes de Hermes de Paula, Cândido Canela, Urbino Vianna, Nelson Vianna, Simeão Ribeiro Pires, Olyntho da Silveira, João Valle Maurício, Henrique de Oliva Brasil entre outros in memoriam. Por outro lado, os trabalhos memoráveis dos escritores Wanderlino Arruda, Yvonne de Oliveira Silveira, Petrônio Braz, Felicidade Tupinambá Graça, Manoel Hygino dos Santos, Haroldo Lívio e tantos outros ilustres estudiosos, fizeram e fazem da história de Montes Claros uma das mais belas e bem interessantes das cidades mineiras, quiçá, brasileiras.

Na verdade, essa relação de nomes ilustres não encerra por aqui...

Em vista disso, disse com muita propriedade a centenária escritora Yvonne Silveira sobre o tema então proposto: “E como são felizes as cidades que possuem um filho que ama e admira o seu passado, conseguindo perpetuá-la na História”.

A produção de livros em Montes Claros revela que a sua efervescência literária está em plena ebulição, pois se publicam, anualmente, mais de uma centena de livros com gêneros diversificados, somente no mercado editorial local. Hoje, acontece no atelier da artista plástica, Felicidade Patrocínio o “Clube de Leitura”, com análise de obras literárias de autores montes-clarenses e norte-mineiros. Também acontece ali o “Escambo de Livros” onde os visitantes podem adquirir livros, novos e usados, por preços simbólicos, ou a troca de livros seus por outros livros em exposição. O interesse maior do evento é a circulação dos livros para a melhor utilização dos mesmos entre os leitores.

A cidade de Montes Claros atualmente conta com várias Academias de Letras. Vejamos: Academia Montesclarense de Letras - AML, Academia de Letras, Ciências e Artes do São Francisco - ACLECIA, Academia Feminina de Letras de Montes Claros - AFLMC, Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas - AMLENM e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros - IHGMC. Em tempos passados foi criado por Luís Carlos Novaes e Manoel de Oliveira (Tio Manoel) a Academia Juvenil de Letras - ACAJUL e, em estado adormecido, encontra-se agora a Associação dos Poetas Populares e Repentistas do Norte de Minas - APPRNM. Com objetivos idênticos os grupos “As Amigas da Cultura” e a “Confraria da Prosa” fazem, brilhantemente, um trabalho de grande importância na valorização e na preservação das nossas tradições e dos nossos costumes.

Também faz parte do meio cultural de Montes Claros o Corredor Cultural “Padre Dudu“. Nele está localizado o prédio da Secretaria Municipal de Cultura e o Museu Regional de Montes Claros, este que é administrado pela Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes. Em tal ponto do entorno da Praça da Matriz encontra-se vários casarões e outras edificações antigas que representam o inicio da criação da cidade, todos catalogados no arquivo do Patrimônio Público Municipal sob a responsabilidade de Raquel Mendonça. No prédio do Centro Cultural “Hermes de Paula” localiza-se a Biblioteca Pública Municipal “Antônio Teixeira de Carvalho”, com um acervo de mais de quarenta e cinco mil volumes. Infelizmente, os nossos governantes nada fazem para supri-la de novos livros, principalmente de obras literárias de autores da terra, de móveis descentes, informatizando-a para melhor atender os seus inúmeros usuários. Também é no mesmo prédio do Centro Cultural que acontece o Salão Nacional de Poesia – PSIU POÉTICO, evento que já faz parte do calendário cultural da cidade. Do mesmo modo, as fitas multicoloridas das Festas de Agosto (marujadas, caboclinhas e catopés) oferecem aos visitantes um painel de beleza inconfundível na apresentação e representação simbólica e artística durante as comemorações das tradicionais festas religiosas (Divino Espírito Santo, Nossa Senhora do Rosário e São Benedito). Trata-se de uma tradição enraizada nos costumes do nosso povo e fortalecida a cada ano que passa pelo Festival Folclórico de Montes Claros, que é organizado pela Prefeitura Municipal. As dezenas de grupos de serestas, com destaque para os de “João Chaves” e “João Valle Maurício”, encantam-nos sob a luz prateada das noites enluaradas na Praça da Matriz. O Grupo Banzé é uma referência internacional da cultura mineira em vários países do mundo.

Na história da pintura montes-clarense alguns nomes sobressaem para o mundo das artes plásticas. Vejamos: Konstantin Christoff, Godofredo Guedes, Ray Colares e Yara Tupinambá. Com a mesma distinção de Honra ao Mérito, o quadrinista Marcelo Eduardo Lelis de Oliveira e o desenhista Samuel de Souza Figueira enobrecem os valores culturais de nossa gente. Por tudo isso e por muito mais, podemos afirmar categoricamente que Montes Claros é a “Cidade da Arte e da Cultura”.

Dário Teixeira Cotrim – historiador IHGMG/IHGMC


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Por Dário Cotrim - 2/7/2013 11:45:02
ANIVERSÁRIO DE MONTES CLAROS

Dário Teixeira Cotrim
do IHGMC


NO SÉCULO XVII, as Entradas, depois as Bandeiras, empreenderam grandes expedições na esperança de atingir, pelos íngremes caminhos do sertão, as regiões da Serra do Sabarabuçu, pois dizia a lenda da existência de muitas pedras verdes naquele local. Eram as famosas esmeraldas.

Em vista disso, iniciava a povoação no interior do país com a vinda da expedição de Fernão Dias Paes, Matias Cardoso de Almeida e do seu cunhado Antônio Gonçalves Figueira.

Foi também uma consequência das invasões dos paulistas e baianos que o pequeno povoado de Montes Claros das Formigas aconteceu. Pois, já havia por aqui algumas vilas e muitas povoações em toda região do Jequitinhonha e no rio Pardo, quando Antônio Gonçalves Figueira, retornando da guerra dos sete anos, no nordeste brasileiro, resolveu fincar raízes nas margens do rio Vieira, na bacia do rio Verde Grande, criando em seguida a fazenda dos Montes Claros. Isso se deu em decorrência do Alvará de 12 de abril de 1707, para a criação da sesmaria de Figueiras, que tinha uma légua de largura por três léguas de comprimento.

Entretanto, a vila de Montes Claros das Formigas e, posterior cidade de Montes Claros, teve o seu início quando o alferes José Lopes de Carvalho comprou a fazenda de Antônio Gonçalves Figueira – Fazenda dos Montes Claros – e logo em seguida iniciou ali alguns benefícios. A reconstrução da capela de São José e de Nossa Senhora da Conceição; a construção de uma nova sede – Casa de dona Eva Bárbara Teixeira - pois naquela época a fazenda de Montes Claros encontrava-se totalmente abandonada. Por certo que a gestação de nossa cidade se iniciava no ano de 1769, exatamente quando José Lopes de Carvalho requeria autorização para a construção da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição e São José e que se tornou vila no ano de 1831, conforme cita a lei de 13 de outubro deste mesmo ano, e anotação a seguir: A Regência em nome do Imperador, o Senhor Dom Pedro Segundo, há por bem sancionar e mandar que execute a seguinte Resolução da Assembléia Geral Legislativa tomada sobre outra do Conselho Geral da Província de Minas Gerais. Artigo primeiro: Ficam criadas vilas na Província de Minas Gerais nas seguintes povoações. Cláusula nona: a povoação de Formiga na Comarca de Serro Frio, compreendendo seu termo, a capela do mesmo nome a do Bonfim, e Contenda e as freguesias da Barra do rio das Velhas e Morrinhos. Artigo Segundo: Em cada uma das vilas do artigo antecedente, fica criado uma Câmara Municipal com a mesma autoridade e atribuições da do Termo que faz parte, dois juízes ordinários e um de Órfãos quando ainda não os terão.

No período que vai de 1831 até o ano 1857 a vila de Montes Claros de Formigas teve a sua Câmara de Vereadores e Intendente. Por isso só, já lhe bastava para comemorar o seu aniversário no dia 13 de outubro.

Todavia, com a Lei Provincial de número 802, de três de julho de 1857, no seu artigo primeiro determina: “Fica elevada a categoria de cidade a Vila de Montes Claros de Formigas com a denominação de Cidade de Montes Claros”. Assim, sendo, no ano de 1957 foi comemorado o seu primeiro centenário, ficando definitivamente registrado nos anais da história de Montes Claros como sendo o dia três de julho a data de seu natalício. Acredito que a data de 13 de outubro não seria menos importante, mas é preciso preservar a tradição e os bons costumes, portanto fica a nossa cidade de Montes Claros, neste três de julho, muito mais bonita e mais jovem ainda. Viva! Montes Claros!



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Por Dário Cotrim - 20/3/2013 12:54:58
O CASO MÉRCIA NAKASHIMA

Dário Teixeira Cotrim
IHGMC

O julgamento do ex-policial aposentado, Mizael Bispo de Souza, durou tão somente quatro dias no fórum de Guarulhos, em São Paulo. Nesta oportunidade, a justiça brasileira deu um exemplo de bom comportamento, isso não obstante o tumulto dos três patetas – os seus advogados de defesa – que, na ânsia de promover a defesa do acusado, apenas contribuíram, unicamente, para a sua condenação. Aliás, o réu durante o seu depoimento não passou para os jurados, em nenhum momento, um álibi ou um testemunho consistente que comprovasse a sua inocência, muito pelo contrário, tudo que foi dito e falado era munição para a promotoria publica. Em vista disso, o resultado dos trabalhos, que foram transmitidos pela televisão em tempo real, concluiu-se na condenação do réu em vinte anos de reclusão pelo assassinato da jovem Mércia Nakashima.

O crime aconteceu no dia 23 de maio de 2010, tendo como vítima a advogada Mércia Mikie Nakashima, de 28 anos, que foi executada dentro do seu carro e, posteriormente, lançada, com o seu carro, nas águas da represa de Nazaré Paulista. Foi um crime premeditado, de modo cruel e violento, onde o assassino arrebatado pela coléra interrompeu a vida da jovem Mércia, sua ex-namorada, para sempre. A dor da perda e o sofrimento dos parentes e amigos parecem não ter fim. Não se pode entender porque tanta barbaridade contra uma pessoa indefesa, dócil e, acima de tudo, amorosa por natureza.

Antes do julgamento era o baiano Mizael um homem arrogante, polêmico e extremamente perigoso que desafiava a justiça sem nenhum constrangimento ou medo. Mas, durante o julgamento o réu Mizael Bispo de Souza permaneceu na sala do júri compenetrado, piedoso e contrito de seus crimes e de suas mazelas. Nesta oportunidade ele aparentava um patife pesaroso e covarde. Já na sequencia dos debates e depois do resultado final do julgamento, o assassino Mizael tornou-se um homem impotente, o lixo dos lixos, um perigosíssimo monstro na vestidura de uma pele do cordeiro. Condenado a duas décadas de reclusão, certamente que terá todo o tempo necessário para refletir sobre o mal que cometeu no dia 23 de maio de 2010, ao assassinar a sua ex- namorada.

Possivelmente que essa lição de Guarulhos sirva de exemplo para os que arquitetam situações similares. Aliás, o que não falta neste país é gente desocupada que vive o tempo todo a imaginar como roubar, como assassinar e como traficar drogas sem a repreensão da lei. Ora, tudo isso acontece porque a impunidade ainda reina soberana no meio da sociedade em que vivemos. Na verdade, o assassino Mizael é apenas fruto da incompetência dos legisladores brasileiros que, no anseio de sancionar leis que os beneficiam – pois os meliantes estão exatamente no Congresso Nacional – aprovam leis brandas e sem resultados eficazes. Desta forma podemos afirmar que a impunidade cria “monstros” do tipo de Bruno (ex-goleiro do Flamengo) e Mizael, o algoz da jovem Mércia Nakashima.


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Por Dário Cotrim - 20/3/2013 12:53:34
Cidade barulhenta

Dário Teixeira Cotrim
IHGMC

Montes Claros é uma cidade barulhenta. Não podemos nos furtar dessa verdade. Durante o dia há um barulho infernal no trânsito com o aumento repentino de novos carros e de milhares de motos nos últimos tempos. É impossível para os pedestres a travessia das ruas e praças. Os atropelamentos no trânsito sempre acontecem a cada momento e em tempo reduzido. Entretanto, o montes-clarense vai vivendo os perigos do dia a dia com sabedoria e muita paciência.
Por outro lado, as noites que deveriam ser para o descanso da população tornam-se um inferno na verdadeira concepção da palavra. Não há respeito com a Lei do Silêncio entre os empresários, especialmente de bares, que não se adaptam com isolamento os seus espaços em beneficio dos artistas e das pessoas. Na usura em ganhar, mais e mais, esses empresários de bares nunca fazem os investimentos necessários em suas casas de show para diminuir o barulho ali produzido. Aliás, eles pouco se importam com os seus visinhos, com os hospitais ou similares das redondezas. Neste caso, o papel do vereador deve ser o de legislar em favor da coletividade e nunca de uma única classe empresarial. Além disso, este é o momento propício para a população avaliar o trabalho dos vereadores de nossa cidade e dá-lhes o tratamento devido nas próximas eleições.
A cidade de Montes Claros precisa de silêncio! A Polícia Militar vem realizando as ações de combate à poluição sonora, com as apreensões de carros de som e a devida prisão de seus proprietários. É um trabalho digno da gloriosa Polícia Militar do Estado de Minas Gerais. Nota-se que a poluição sonora das “usinas do som” é o ato mais inoportuno do desrespeito ao ser humano e a toda a sociedade em que vivemos. Não se pode e nem se deve tolerar a fonte poluidora do som automotivo de um veiculo qualquer. As penalidades devem ser rígidas, pois só assim os infratores pensam duas vezes antes de cometer o crime.
A classe artística de Montes Claros reclama de espaços condizentes com o trabalho que será ali apresentado. As boates com isolamento de som, teatros e bares nestas mesmas condições são as aspirações de todos os artífices da música. Um espaço inadequado apenas distorce a imagem do artista e, certamente não é isso que ele deseja para ilustrar o seu portfólio. O respeito durante a apresentação de um show deve ser mútuo, pois só assim será benéfico para as partes.
Nesta oportunidade nós congratulamos e parabenizamos a equipe policial composta pelo Sargento Carley e os Cabos Fabiano Charlei e Carrara pelo excelente trabalho preventivo realizado na cidade para barrar os abusos cometidos pelas “usinas do som”. É sem dúvida alguma um trabalho sério de combate ao crime, onde todos os montes-clarenses agradecem e enaltecem o brilho e a competência da gloriosa Polícia Militar de Minas Gerais que é o maior orgulho do povo mineiro.


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Por Dário Cotrim - 28/2/2013 09:50:48
Dia internacional da mulher

Dário Cotrim

Por que o dia oito de março? Pois bem, tudo aconteceu quando houve a rebelião das mulheres-operárias em uma das fábricas de tecidos na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos. O fato se deu no dia oito de março de 1857. As mulheres-operárias estavam reivindicando das empresas melhores salários, igualdade na carga diária de trabalho (pois as fábricas exigiam delas até 16 horas de trabalho por dia) e tratamento digno e respeitoso no seu ambiente de trabalho. Por isso, as mulheres-operárias uniram-se num só grito para pressionar os empresários americanos e sensibilizá-los com as suas autênticas reivindicações. Entretanto, nada disso adiantou, nem mesmo uma simples mudança para que pudesse alterar o desagradável quadro de degradação que elas vinham sofrendo, isso aconteceu.
Mas, inconformados com as constantes manifestações, os empresários iniciaram uma ofensiva contra as mulheres-operárias. Elas foram reprimidas com violência em virtude de suas intolerâncias. Em algumas fábricas verificaram diversas cenas de brutalidades contra as indefesas tecelãs. Em uma dessas repreensões, elas foram encarceradas dentro de um compartimento onde ocorrera um grave incêndio, supostamente criminoso, causando aproximadamente a morte de 130 bravas tecelãs. Todas elas morreram carbonizadas, vítimas da crueldade humana, sem precedentes na história universal. Era o terror que assolava os pátios das fábricas, ameaçando também as outras mulheres-operárias de tal barbaridade.
O tempo dá um avanço no seu próprio eixo. Meio século depois. Durante uma conferência realizada na Dinamarca, no ano de 1910, em memória a mais de uma centena de vítimas do grande incêndio nos Estados Unidos, ficou decidido que o dia oito de março passaria a ser comemorado como sendo o miraculoso Dia Internacional da Mulher. Mas, devido as burocracias da imprestabilidade das leis, foi necessário esperar mais outro meio século para que a ONU – Organização das Nações Unidas viesse a cumprir a lei que criava o Dia Internacional da Mulher.
Agora, os fatos acontecidos naquele fatídico dia estão vivamente mais presentes na memória de cada povo. As Mulheres, em todas as ocasiões vão conquistando o seu próprio espaço. Nomeadas em importantes cargos nas grandes empresas, sempre elas exercem com extrema competência e com responsabilidade inquestionável. Mesmo assim, é preciso eliminar de uma vez por todas os preconceitos e também a desvalorização profissional que existem, por vezes, contra a Mulher. Não podemos considerar um avanço social a criação da Lei Maria da Penha, mas ela existe para coibir a violência que ainda se pratica contra a Mulher indefesa. Fatos totalmente inadmissíveis para os tempos de hoje.
Não obstante a tragédia passada, a data de oito de março deve ser lembrada com bastante alegria. Isso não apenas para comemorar a grande vitória das mulheres operárias, mas para que a população possa realizar conferências, debates e reuniões com o objetivo único de valorizar, com decência e com respeito, o trabalho da minoria que na verdade se torna uma grande maioria. O que faz da maioria uma singela minoria é o silêncio, pois ele cria um vazio fúnebre e faz de tudo esquecer. O Dia Internacional da Mulher deve ser lembrado todos os “santos” dias e não tão somente neste oito de março. Hoje, felizmente, já há uma proporcionalidade direta no conceito feminino, e não feminista, da Mulher: quanto mais fora do seu mundo, mais para dentro de si mesmo elas se encontram. Não se quer dizer com isso do avanço sobre outros espaços senão a conquista do seu próprio espaço, alocado num mundo moderno e muito mais humano. Disse Malherbe: "Deus que se arrependeu de ter feito o homem nunca se arrependeu de ter feito a mulher". Parabéns mulheres!
Dário Teixeira Cotrim
do IHGMC


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Por Dário Cotrim - 14/2/2013 17:31:54
Brejo das almas

Dário Teixeira Cotrim
Academia Montesclarense de Letras

Aconteceu em novembro de 1963, a noite de autógrafo do livro “Brejo das Almas” escrito por duas mãos: Olyntho Alves da Silveira e Yvonne de Oliveira Silveira. O evento foi realizado no auditório do Conservatório Lourenço Fernandez, onde o padre Joaquim dos Santos Macedo “perante um auditório seleto e numerosíssimo, cujo discurso de saudação recebeu vivos aplausos”, fez a apresentação da obra literária. Também, naquela oportunidade falou o jovem advogado Afonso Prates Correa em nome do grande jornalista Newton Prates.
O livro “Brejo das Almas” trata-se de uma coletânea de crônicas sobre a cidade de Francisco Sá, desde a sua fundação, com destaque especial para a descrição sobre a vida pregressa de seus moradores, do mais simples deles ao mais graduado, sempre com o objetivo de valorizar aqueles que ajudaram na formação da cidade. “Não é um livro de história propriamente dita de Brejo das Almas, como poderia sugerir o nome, hoje mudado para Francisco Sá. Dado, porém, à sua preferência para batismo do nosso livro, julgamo-nos no dever de apresentar uma das versões por nós conhecidas sobre os primitivos e remotos dados históricos do Município. Desta, descrevemos acontecimentos e tipos locais, nas crônicas adiante”.
O estilo clássico do escritor Olyntho da Silveira é, por demais, conhecido dos meios literários. Culto, inteligente e sabedor das coisas de sua terra ele produziu outros livros no mesmo segmento deste. Entretanto, neste caso a parceria de sua esposa Yvonne Silveira foi de inquestionável importância para que o livro “Brejo das Almas” merecesse todos os elogios da sociedade cultural de Montes Claros. Aliás, os autores da obra são duas “feras” de igual prestigio nas Academias de Letras e nos Institutos Históricos.
Nota-se que, além de historiador Olyntho da Silveira era um sonetista completo. Por essa razão algumas crônicas de “Brejo das Almas” trazem no seu bojo versos poéticos do autor. Sobre o velho coqueiro ele disse: “muito da nossa história em si se enfeixa/ porque você bem viu, qual um templário/ quando habitado foi esse lendário/ torrão, que a gente quer e jamais deixa”.
Livros de Olyntho Silveira: “O Filho da Enfermeira”, “Minha Terra e a Nossa História”, “Velho Brejo das Almas”, “Cantos Chorados – Versos”, “Postais Versificados”, “Sonetos e Ouros Poemas” e “Cantos e Desencantos”. Os livros de Yvonne de Oliveira Silveira: “Cantar de Amiga”, “Montes Claros de Ontem e de Hoje” e “Folclore para Crianças”, esses dois últimos foram escritos em parceria com Zezé Colares. Era o casal – Olyntho e Yvonne – membros da Academia Montesclarense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, além de outras entidades afins. O livro “Brejo das Almas” tem na capa desenho da autora Yvonne de Oliveira Silveira.


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Por Dário Cotrim - 7/10/2011 19:08:04
DOUVILLE EM MONTES CLAROS

João Batista Douville, viajante e naturalista francês, que esteve na Vila de Montes Claros das Formigas, no ano de 1836, conforme disse o pesquisador George Gardner, no seu livro “Viagem ao Interior do Brasil”. Ainda disse Gardner que o Dr. Douville esteve por algum tempo alojado na casa do padre Antônio Gonçalves Chaves, que era vereador da vila naquela oportunidade.
Na Enciclopédia e Dicionário Internacional, volume VI, na página 3.745, encontramos registrada a seguinte informação: “DOUVILLE, João Batista. Viajante e naturalista francês, n. em Hambye (Mancha) em 1749 e m. em Formigas (Brasil) em 1835. Percorreu primeiro a Europa, a Ásia e a América do Sul, depois dirigiu-se à África em 1827, e em 1832 publicou a Voyage au Congo et dans L’intérieur L’África Equinoxiale, descrição de suas pretensas descobertas. Por isto recebeu a medalha de ouro da Sociedade de Geografia de Paris e foi eleito membro honorário do Royal Geográphical Society de Londres. Infelizmente para Douville chegou a provar-se que ele se atribuía a honra de descobertas feitas pelos portugueses e sobre as quais ele tinha tido documentos inéditos”. A sua viagem ao interior africano e a sua estadia no Porto de Moçamedes, levou Portugal a pensar sério sobre a ocupação do Brasil.
Nas informações colhidas por George Gardner sobre a presença de Douvelli com o padre Antônio Gonçalves Chaves, há de se notar que o povo de Formigas não acreditava que se tratava do verdadeiro Douvelli, pois tinha os moradores a desconfiança de suas ações como médico. “O vigário, bem como outras pessoas inteligentes de Formigas, suspeitavam-no de embusteiro, concluindo que não era o verdadeiro Douville, que se dizia ter viajado na África, mas outra pessoa que obtivera fraudulentamente a posse de seus papéis”.
Sabe-se que o Dr. Douville foi fazer um atendimento médico a um enfermo, numa fazenda perto do Rio São Francisco. Não logrando êxito de cura, pois o paciente veio a falecer, a família então lhe negou o pagamento de duzentos mil-réis, conforme havia anteriormente combinado. O Dr. Douville insistiu em receber o dinheiro, o que foi feito pelos herdeiros do morto. Entretanto, quando ele desceu para embarcar numa canoa às margens do velho Chico, foi surpreendido por um jagunço a mando dos filhos do finado fazendeiro, que o assassinou e ainda restituiu a quantia paga e roubou-lhe todos os seus pertences.
Nas pesquisas que fizemos a respeito de Douville, entendemos que se tratava realmente do verdadeiro João Baptista Douville, pois há registros de sua passagem por aqui. Entretanto, encontramos outros assinalamentos de que teria visitado a América do Sul antes mesmo de sua viagem ao continente africano. Vejamos o que diz a Enciclopédia Britânica de W. M. Jackson: “Douville percorreu primeiro a Europa, a Ásia e a América do Sul, depois dirigiu-se à África em 1827”, Se assim aconteceu, ele teria vindo ao Brasil por duas oportunidades. A primeira vez antes de 1827 e a segunda vez em 1835, ano de sua morte. Nota-se que não foi em 1836, como afirmou o pesquisador George Gardner. Vejamos: “Em 1836 ele visitou Formigas e viveu algum tempo em casa do vigário fazendo-se passar como Dr. Douville”. Aliás, este ano de 1836 foi a data da visita do pesquisador Gardner à cidade de Montes Claros e não do Dr. Douville.


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Por Dário Cotrim - 7/10/2011 19:03:06
ESCOLA PÚBLICA

Dário Teixeira Cotrim

Naquela época, por volta dos anos cinqüentas, nós íamos para a escola com a tabuada e o á-bê-cê. A tabuada era preciso ser decorada. Teríamos que saber de cor todas as operações da matemática. O á-bê-cê, por sua vez, abria-nos uma estrada infinita para o conhecimento das palavras e, consequentemente, para a elaboração dos textos literários. Sabíamos da existência de Casimiro da Abreu e do seu livro “As Primaveras”, da existência de Castro Alves e dos seus belíssimos poemas, de Monteiro Lobato e de suas criações literárias para os pequeninos. A escola era pública era admirada e os seus professores eram respeitados.
Entretanto, tendo em vista os inúmeros vereadores, prefeitos, deputados (estaduais e federais), governadores, senadores e até mesmo um presidente petista, todos eles analfabetos de pai e mãe, fizeram da Escola Pública um covil de traficantes, onde os alunos compram e vendem drogas. Infeliz daquele professor que ousar denunciar para a Polícia os desmandos de seus alunos à luz do dia. Sabe-se, no entanto, que tudo que acontece nas escolas tem a concordância da classe política e dos pais de família. Sempre que há uma denuncia, o professor é verdadeiramente massacrado, quando não pelo aluno infrator, pelos pais irresponsáveis e protegidos pela justiça. A impunidade gera a cada dia mais violência. Todos sabem disso, menos os responsáveis pela nossa segurança.
Como se não bastasse tudo isso, ainda foi criado à famigerada Associação dos Direitos Humanos, que tem por finalidade o de proteger tão somente os assaltantes e os traficantes que semeiam horror e desassossego à população. Pode-se dizer que a Escola Pública existe para beneficiar marginais. As professoras, apavoradas com o que está acontecendo no interior das escolas, não conseguem mais organizar o material necessário para ministrar as suas aulas. A Lei é clara: nenhum professor pode encostar a mão no aluno, mas o aluno pode e deve espancar o professor com socos e pontapés, ou até mesmo com arma de fogo, como já está acontecendo nos dias de hoje. A mídia tem divulgado os abusos dos alunos e quando os pais são informados desses abusos eles culpam os professores e os agridem com palavrões de baixo calão e agressões fisicas.
Aliás, a primeira educação deveria ser a do berço. Esta não existe mais. Nenhum pai quer ter o cuidado necessário de orientar os seus filhos no caminho do bem, ficando essa tarefa para os traficantes de drogas e o ônus para os professores da Escola Pública. E o pior, os alunos sabem que nada acontecem com eles. Dito e feito!
Que saudade que tenho dos tempos que não voltam mais. Da tabuada, da palmatória, dos castigos escolares, do á-bê-cê e da primeira cartilha. Que saudade que tenho dos professores do primário e do ginasial. No recreio a gente brincava de jogar finca, de bola de gude, de peteca, de ciranda e de cantar roda. Com certeza nós éramos felizes. Hoje, não se brinca mais com essas coisas de menino. O tempo do recreio é destinado para vender ou comprar drogas. A polícia sabe e faz o seu papel prendendo os maus alunos, mas a justiça, cega e burra, os libertam em nome de uma classe política que em hora alguma tem compromisso com a decência e com a honradez das pessoas. (Presidente do IHGMC


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Por Dário Cotrim - 22/9/2011 19:13:39
A CASA DA TORRE

Dário Teixeira Cotrim
Presidente do IHGMC

Eu e a minha família fizemos uma viagem inesquecível pelo tempo de outrora. Visitamos o nordeste brasileiro, desde a encantadora cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, até a mística cidade de Salvador, na Bahia. Entretanto, não foram as praias do Porto de Galinhas (Pernambuco) e nem tampouco as dunas de areias da cidade de Natal (Rio Grande do Norte) as atrações que mais atraíram a nossa imaginação. Na verdade, quando chegamos a Mata de São João – Bahia, que avistamos as belas ruínas do Castelo dos D’Ávilas, foi como se a gente retornasse o tempo a mais de quatro séculos. As ruínas do Castelo são realmente de uma boniteza indescritível.
Pode-se dizer que o belíssimo Castelo da Torre, do jovem Garcia D’Ávila, é simplesmente admirável! Conta a nossa história que foi no ano de 1521 que Garcia veio para o Brasil em companhia do primeiro governador geral, Tomé de Souza, por determinação do rei de Portugal, D. João. Aqui, Garcia D’Ávila exerceu a função de almoxarife, tendo recebido como adiantamento dos seus serviços prestados à coroa algumas cabeças de gado. Em seguida recebeu ainda algumas léguas de terras no litoral norte, e foi aí que ele escolheu a Colina de Tatuapara para construir o seu Castelo, em pedras portuguesas, com diversos compartimentos. As suas paredes de pedras são largas o que denuncia a importância da construção para aquela época.
Sabe-se que o Castelo foi utilizado por muito tempo como residência oficial dos D’Ávilas. Em virtude de sua posição privilegiada e estratégica, ele passou a ser usado como base militar cumprindo assim a nobre missão de enviar mensagens a longa distância. Construída de maneira que lembra o estilo medieval, a Casa da Torre foi edificada em três etapas, a saber: a primeira iniciada em 1551 e concluída em 1640; a segunda de 1660 a 1676 e finalmente a terceira etapa de 1680 a 1716.
Quando conquistamos os primeiros cem metros de uma íngreme rampa, calçada de pedras sem nivelamento e avistamos o grandioso Cruzeiro da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, num descampado plano e com vista para o mar, a nossa primeira impressão era de que estávamos numa época bem fora da nossa realidade. A lembrança dos colonizadores portugueses, dos fazendeiros e dos criadores de gado na margem do rio São Francisco, dos mineradores e de todas as formas de entradas e bandeiras no solo do sertão brasileiro haveriam de iniciar naquele momento.
Hoje o Castelo de Garcia D’Ávila, depois de 460 anos de existência, está tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, na condição de monumento histórico da mais alta importância para a história da gente brasileira. Além da emoção de conhecer de perto este suntuoso Castelo dos D’Ávilas, confessamos com muito orgulho que a maior emoção ainda foi ver o nosso neto, Arthur Rodrigues Cotrim, com apenas três anos de idade, correr animadamente em busca do Castelo como se ali estivessem guardadas todas as lembranças do mundo. Poucos sabem, mas a Casa da Torre (Garcia D’Ávila) e a Casa da Ponte (Antônio Guedes de Brito) foram de grande importância para a formação histórica da cidade de Montes Claros.


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Por Dário Cotrim - 13/5/2010 11:54:27
SOBRE CÂNDIDO CANELA

Dário Teixeira Cotrim
Presidente do IHGMC

No dia 1º de janeiro de 1963 foi publicado, no saudoso jornal Gazeta do Norte, de Montes Claros, um conto de Cândido Canela intitulado “O Trágico Fim de uma Estátua”, onde o poeta conta a história de uma linda jovem – Mercesinha - que era casada com um homem de posses e já bastante idoso – Manoel Maria da Conceição. Com a morte do marido ela mando que se fizesse uma estátua de madeira do finado, colocando-a no canto da sala de estar, para cultuar-lhe a lembrança. Tempos depois, Mercesinha casa-se, em segunda núpcias, com um jovem rapaz. Certa vez, quando o seu novo amado retorna de uma longa viagem, antes mesmo de sua chegada, dona Mercesinha mandou que a preta Isabel estraçalhasse a machadada a pobre estátua, colocando as suas achas no fogão de lenha para fazer o café ao gosto do seu novo amante: “aquele que iria ser, como fora, o prenúncio de abraços apertados e de ardentes beijos de amor”. Este texto deveria ser publicado no livro “Grito do Sertão”, mas ainda permanece engavetado.
O poeta Cândido Canela publicou apenas dois livros: “Lírica e Humor do Sertão” (1950), que teve a apresentação do montes-clarense Manoel Higyno dos Santos e “Rebenta Boi” (1958), com apresentação do próprio autor. Mesmo assim, ele nos deixou alguns livros inéditos. Além do livro “Grito do Sertão”, consta de sua bibliografia outros títulos: “Rios dos Buracos” (versos), “Margô” (novelas), “Mãe da Lua” (versos), “Angélica” (crônicas), “Quando as estrelas choram” (poemas líricos) e “Roteiro da Vida” (trovas). Sobre este último, com notícias na Antologia Poética da Academia Montes-clarense de Letras, nós citamos aqui algumas de suas trovas: “Aquela flor fenecida/ Que tu beijaste – viveu/ É que teus beijos dão vida/ A tudo quanto morreu”. “Teu rosto tem o macio/ Dos jambos doces – maduros,/ Teus olhos são as estrelas/ Dos meus caminhos escuros”. “Dizem que o sonho nos fala/ Do que pensamos velando./ Por isso, amor, quando durmo/ Sonho sempre te beijando”. “Eu não troco minha vida/ Pela vida de ninguém./ Sou pobre, não tenho nada/ Mas, tenho tudo: meu bem”. “Riqueza é deitar-se à noite/ De um dia inteiro cansado./ É ver-se o raiar da aurora/ Dormindo do mesmo lado”. e “Os teus cabelos parecem/ Banhados da escuridão./ Das noites de tempestades/ Sem lua, do meu sertão”.
Filomena Alencar Monteiro Prates publicou no Diário de Montes Claros, do dia 17 de julho de 1983, o seguinte depoimento: “Algum tempo depois, vindo certa manhã para o meu trabalho, fui apresentada por meu marido a um senhor que naquele momento fazia por indicação médica seu passeio matinal. Era o próprio Cândido Canela em pessoa. Foi um encontro breve, mas que me deixou feliz, por poder fazer constar na minha lista de poetas, o imortal criador de Rebenta Boi”.
Nasceu Cândido Simões Canela na cidade de Montes Claros, no dia 22 de agosto de 1910. Filho de Antônio Canela e de dona Luzia Simões Canela. Concluiu o curso primário na sua terra natal, na Escola Normal de Montes Claros, no ano de 1929. Exerceu a profissão de comerciário e, depois, empregou-se como escrevente de cartório quando finalmente, no dia primeiro de julho de 1960 foi nomeado para o cargo de Tabelião do 1º Oficio de Notas do Termo de Montes Claros. Foi eleito vereador para a Câmara Municipal de Montes Claros no período de 1963 a 1967. Contista e poeta filiado à escola de Catulo da Paixão Cearense. Morreu Cândido Canela no dia sete de março de 1993.


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Por Dário Cotrim - 11/3/2010 15:44:32
“COCK-TAIL” DE LAZINHO PIMENTA

Dário Teixeira Cotrim

A edição do jornal Gazeta do Norte, do dia nove de dezembro de 1955, publicava a programação do Cine Coronel Ribeiro – o filme O Vale dos Reis, estrelando Robert Taylor, Eleanor Parker e Carlos Thompson – e o Cine Nova Olinda – com o seriado Atirar para Matar, com Monte Hale – também iniciava, naquela mesma data, as publicações do Cock-Tail do saudoso colunista social Lazinho Pimenta. Com as suas crônicas sociais a nossa cidade tornava-se mais rica em todos os aspectos. Nas minhas pesquisas sobre o passado glorioso de Montes Claros, e atendendo o que determina o Estatuto do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, temos encontrado nos arquivos e nas gavetas, abandonadas na solidão dos tempos, preciosas informações sobre a formação da vida política, econômica e social da cidade. Lazinho Pimenta é, sem sombra de dúvida, uma preciosidade literária a ser estudada com minudência.
Para registro e conhecimento de todos os montes-clarenses, vamos transcrever para cá, na integra, a primeira crônica publicada do saudoso confrade Lazinho Pimenta. Nota-se que a escrita de Lazinho é direta e leve. Ele tinha o poder de conquistar os seus leitores pelas palavras, haja vista o conteúdo de informações e os entretenimentos que existiam nos seus textos. Os Bailes das Debutantes do Norte de Minas, sempre documentados pelo Foto Rilson, aconteciam no Automóvel Clube de Montes Claros. Eram eventos que valorizavam e o seu povo e as suas tradições. Com as publicações do Cock-Tail, de Lazinho Pimenta, a sociedade montes-clarense gozava de prestigio social sem precedentes e do respeito político em todo Estado de Minas Gerais. Uma lacuna social que certamente nunca será preenchida.
COCK-TAIL Lazinho Pimenta
Amigo Leitor: você talvez nem leia esta crônica. Preocupado com as necessidades e atribulações da trepidante vida moderna, vai achar que o que aqui está escrito são futilidades, e que não lhes interessa saber se o fulano casou ou se o cicrano aniversariou.
Entretanto, a crônica social tornou-se em pouco tempo uma coqueluche nos principais jornais do mundo inteiro. E se atentarmos para o fato de que o leitor distante de sua terra sente a necessidade de estar sempre a par das atividades do grand monde de sua cidade, a crônica social torna-se assim uma necessidade. E neste meu primeiro contacto com você, através das páginas amigas do mais velho e tradicional órgão da imprensa local, posso garantir que nestas despretensiosas, alegres, ligeiras e às vezes excitantes notas que bi semanalmente farei chegar até você. Seus olhos sempre curiosos de perguntas e convictos de ilusórias certezas serão plenamente correspondidos.
E para começar, anunciamos que o casal Carlos Domiciano e Amélia Domiciano Saraiva, aconteceu dia 29 de novembro, em sua confortável residência com uma festa elegante e bonita, por ocasião do matrimônio de sua dileta filha Maria Aparecida com o distinto moço Bolívar Batista da Silva.
Figuras representativas da nossa sociedade compareceram, sendo servida aos convidados uma lauta mesa de finos doces e salgados, segui8do de um animadíssimo baile que se prolongou até a madrugada.
Uniram-se pelos sagrados laços matrimoniais o jovem José Figueiredo Veloso com a graciosa senhorita Maria do Carmo Silva.
Conforme consta dos registros históricos da Revista Montes Claros em Foco, número 27, de dezembro de 1964, o Automóvel Clube de Montes Claros foi inaugurado nesta época com o VI Baile das Debutantes do Norte de Minas, coordenado por Lazinho Pimenta. Dentre as 41 debutantes destacava a beleza da jovem Marilene de Oliveira Mourão (a mais aplaudida), que foi, inclusive, a capa da Revista. Lazinho: muitas saudades. Marilene: os nossos parabéns!


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Por Dário Cotrim - 26/2/2010 21:41:19
DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Dário Teixeira Cotrim

Por que o dia oito de março? Pois bem, tudo aconteceu quando houve a rebelião das mulheres-operárias em uma das fábricas de tecidos na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos. O fato se deu no dia oito de março de 1857. As mulheres-operárias estavam reivindicando das empresas melhores salários, igualdade na carga diária de trabalho (pois as fábricas exigiam delas até 16 horas de trabalho por dia) e tratamento digno e respeitoso no seu ambiente de trabalho. Por isso, as mulheres-operárias uniram-se num só grito para pressionar os empresários americanos e sensibilizá-los com as suas autênticas reivindicações. Entretanto, nada disso adiantou, nem mesmo uma simples mudança para que pudesse alterar o desagradável quadro de degradação que elas vinham sofrendo isso aconteceu.
Mas, inconformados com as constantes manifestações, os empresários iniciaram uma ofensiva contra as mulheres-operárias. Elas foram reprimidas com violência em virtude de suas intolerâncias. Em algumas fábricas verificaram diversas cenas de brutalidades contra as indefesas tecelãs. Em uma dessas repreensões, elas foram encarceradas dentro de um compartimento onde ocorrera um grave incêndio, supostamente criminoso, causando aproximadamente a morte de 130 bravas tecelãs. Todas elas morreram carbonizadas, vítimas da crueldade humana, sem precedentes na história universal. Era o terror que assolava os pátios das fábricas, ameaçando também as outras mulheres-operárias de tal barbaridade.
O tempo dá um avanço no seu próprio eixo. Meio século depois, durante uma conferência realizada na Dinamarca, no ano de 1910, em memória a mais de uma centena de vítimas do grande incêndio nos Estados Unidos, ficou decidido que o dia oito de março passaria a ser comemorado como sendo o miraculoso Dia Internacional da Mulher. Mas, devido as burocracias da imprestabilidade das leis, foi necessário esperar mais outro meio século para que a ONU – Organização das Nações Unidas viesse a cumprir a lei que criava o Dia Internacional da Mulher.
Agora, os fatos acontecidos naquele fatídico dia estão vivamente mais presentes na memória de cada povo. As Mulheres, em todas as ocasiões vão conquistando o seu próprio espaço. Nomeadas em importantes cargos nas grandes empresas, sempre elas exercem com extrema competência e com responsabilidade inquestionável. Mesmo assim, é preciso eliminar de uma vez por todas os preconceitos e também a desvalorização profissional que existem, por vezes, contra a Mulher. Não podemos considerar um avanço social a criação da Lei Maria da Penha, mas ela existe para coibir a violência que ainda se pratica contra a Mulher indefesa. Fatos totalmente inadmissíveis para os tempos de hoje.
Não obstante a tragédia passada, a data de oito de março deve ser lembrada com bastante alegria. Isso não apenas para comemorar a grande vitória das mulheres operárias, mas para que a população possa realizar conferências, debates e reuniões com o objetivo único de valorizar, com decência e com respeito, o trabalho da minoria que na verdade se torna uma grande maioria. O que faz da maioria uma singela minoria é o silêncio, pois ele cria um vazio fúnebre e faz de tudo esquecer. O Dia Internacional da Mulher deve ser lembrado todos os “santos” dias e não tão somente neste oito de março. Hoje, felizmente, já há uma proporcionalidade direta no conceito feminino, e não feminista, da Mulher: quanto mais fora do seu mundo, mais para dentro de si mesmo elas se encontram. Não se quer dizer com isso do avanço sobre outros espaços senão a conquista do seu próprio espaço, alocado num mundo moderno e muito mais humano. Disse Malherbe: Deus que se arrependeu de ter feito o homem nunca se arrependeu de ter feito a mulher. Parabéns mulheres!

Dário Teixeira Cotrim
Presidente do IHGMC


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Por Dário Cotrim - 5/2/2010 10:57:48
BANDEIRANTES NO NORTE DE MINAS

Dário Teixeira Cotrim

A lembrança que se tem dos bandeirantes paulistas era que eles eram bandidos sanguinários, saqueadores de propriedades e preadores de índios. Para tanto fora necessário, como convinha, convertê-los em símbolo nacional para que a sua imagem não estivesse ameaçada pelo descaso público. Entretanto, desde que se fez deles símbolos nacionais, dir-se-iam que eles tornaram-se os heróis da pátria. Devemos concluir daí que assim aconteceu com Tiradentes, o nosso Joaquim José da Silva Xavier, depois de longos estudos realizados pelos ilustres historiadores do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais. Também o bandeirante Antônio Gonçalves Figueira não gozava de boa reputação, haja vista que ele era um exímio preador de índios, tornando-os em escravos e vendendo-os para os senhores de engenhos e para os exploradores das minas auríferas. O tempo passou. Hoje, o sertanista Antônio Gonçalves Figueira é considerado, com justa importância, o fundador da cidade de Montes Claros e conseqüentemente é lembrado como sendo o herói da nossa cidade.
Sobre este aspecto, é preciso desde logo notar que muitos bandeirantes foram considerados os homens temíveis. No principio do século dezessete, os jesuítas combatiam o trabalho dos bandeirantes alegando duas razões imediatas: primeiro pela falta de uma religiosidade, pois não havia a participação de padres durante as excursões das bandeiras e, como é fácil intuir, eram os bandeirantes os homens sem fé. E, por outro lado, as incursões sertanistas constituíam ameaças políticas para o império. Nota-se que as Entradas, com os mesmos objetivos, tinham presentes à figura dos padres, assim como aconteceu com a expedição de Francisco Bruzza de Espinosa que teve a presença do padre João de Aspicueta Navarro. Com o advento da colonização do território brasileiro, os cunhados Mathias Cardoso de Almeida e Antônio Gonçalves Figueira deixaram para os de hoje um exemplo de prosperidade, patriotismo e trabalho na construção das vilas de Morrinhos (atual cidade de Matias Cardoso) e Montes Claros das Formigas (atual cidade de Montes Claros). Pode ser que não sejam eles os responsáveis diretos no desenvolvimento do sertão norte-mineiro, mas não há como distanciá-los de tudo do que aqui ainda existe. Ao passo que os outros bandeirantes que estiveram na nossa região, somente queriam explorar as riquezas da terra e transportar essas riquezas em bruacas para alhures.
Mesmo tendo abandonado a fazenda dos Montes Claros, o sertanista Antônio Gonçalves Figueira deixou nela os alicerces para a criação de uma vila próspera. Era, por assim dizer, a fazenda dos Montes Claros o entroncamento das estradas por onde passavam as tropas e as boiadas. Também essas estradas foram utilizadas para o transporte dos diamantes, tornando-a Estrada Real pelo Caminho do São Francisco. Dos colonos, já se vê, que eles necessitavam de escravos. Capistrano de Abreu dizia que “a primeira coisa que [os colonos] pretendem adquirir são escravos para neles lhes fazerem suas fazendas”. Pois bem, apesar dessa clara compreensão histórica, o sertanista Antônio Gonçalves Figueira optou por prear índios e vendê-los como escravos aos colonos.

Dário Teixeira Cotrim - Presidente do IHGMC


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Por Dário Cotrim - 27/1/2010 10:04:18
UMA HISTÓRIA DE AMOR EM MONTES CLAROS

Dário Teixeira Cotrim

“Enquanto isso ocorria em Maracás, um dos mais belos e mais felizes recantos da Chapada Diamantina, o atribulado sertanista percorria as ruas de Montes Claros, batendo de porta em porta à procura de Mariana, a mais bela mulher sertaneja de todos os tempos.
O desespero conduzia-o pelo caminho da esperança.
Quantas vezes não passou, sem saber, pela mesma rua por onde passara a bela sertaneja?
Montes Claros achava-se nessa época apinhada de famintos de todas as bandas, das mais distantes regiões baianas assolada pela seca. O sertanista passava silenciosamente entre as levas e encravadas todos os rostos de mulheres, procurando entre elas aquela que fora berganhada nas margens do rio Gurutuba, o rio maldito, por um muar, na hora mais extremada da infeliz família que vivera tantos anos nas faldas do morro mais rico do sertão!
Os famintos que enchiam às ruas e as praças não compreendiam a grande dor do sertanista na sua peregrinação sem precedentes, dolorosa e desesperada.
Tanto andou pelas ruas e várias vezes perguntou aos moradores pela mulher que amava que acabou sendo considerado por eles como um louco comum. No entanto, só ele, apunhalado no mais puro amor, no seu primeiro e único amor, sabia que não era um demente vulgar, mas um perseguido pelo destino!
No último desespero, quando se propunha a si mesmo a abandonar a cidade de Montes Claros e voltar à vila do Brejo Grande e deixar-se morrer na furna da Mangabeira, na mais tremenda escuridão, ou procurar num dos caldeirões de bocas hiantes a sua eterna jazida, um tropeiro lhe informara que vira um senhor de grande e ajaezada cavalhada, seguindo a derrota de Condeúba, em companhia de uma jovem mulher tão bela, tão encantadora que as flores silvestres murchavam à sua passagem, desoladas de ciúmes...
Que conte agora o sertanista o dialogo que tivera com o tropeiro informantes:
E o tropeiro falou:
- A montaria da bela sertaneja era recamada de prata; ia vestida num roupão de linho branco, bordado de cassa rendada e parecia uma autentica princesa ou fada; um chapéu de abas pendentes contra os raios solares cobria-lhe o rosto perfumado e parte dos cabelos negros, cujas tranças longas se cruzavam sobre o colo; uma mula rua de alto preço, de passos curtos e cadenciados, sentia-se satisfeita em conduzi-la através das estradas largas; a arriata, um belo selim forrado de couro da Rússia, era uma obra de lavor, com peitoral e rabixo ornamentados de incrustações de prata em relevo; tinha na mão direita um finíssimo chicote de couro de anta com corrente de ouro de lei... Nunca vi, para falar a verdade, mulher tão bonita e montaria tão cara...
Impaciente, encolerizado com tal descrição, perguntei-lhe ao tropeiro:
- Que rumo seguiu? Há quanto tempo por aqui passou?
E o miserável, indiferente, porque nunca amou disse:
- Vai por duas semanas, se tanto. A tropa passou de vereda pela cidade – de Montes Claros – aos primeiros clarões da manhã e o cavalo madrinha não levava cincerro para não despertar a população e os flagelados que dormiam pelas praças e pelas ruas; o chefe da tropa, um tipo de homem forte e queimado, viajava ao lado da bela sertaneja...
- Que rumo seguiu? É o que me interessa...
- Calma, moço, se quer chegar ao fim. Sei lá, ao certo que rumo seguiu?
- Diga pelo amor de Deus?!
- Tomara a estrada de Condeúba...
Como outras vezes não esperei por mais informações e rumei para o Condeúba onde cenas dantescas se passavam”. (Texto do livro “Estradas e Cardos”, de M. M. de Freitas).

Colaboração de Dário Teixeira Cotrim – Presidente de Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.



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Por Dário Cotrim - 23/8/2009 22:57:56
RASPUTIN DE MANOEL HYGINO

Dário Teixeira Cotrim

Lembrando-nos do grande escritor sertanista Euclides da Cunha, o livro Rasputin: último ato da tragédia Românov, de Manoel Hygino dos Santos, tem seqüência numa frase muito familiar: “O russo é, antes de tudo, um místico”. O livro de Manoel Hygino foi editado na cidade de Belo Horizonte no ano de 1970. Na verdade, este livro é um cuidadoso e exuberante estudo – erudito – sobre a bela e vitoriosa trajetória do monge Grigori Rasputin, que foi assassinado no ano de 1916 e era um dos personagens mais enigmáticos do período que antecedeu a Revolução Russa de 1917.
O livro de Manoel Hygino tem uma escrita suave e de fácil entendimento, isso não obstante os mistérios que envolveram a vida do monge Grigori Rasputin. Nos relatos nota-se que Rasputin era uma mistura de homem santo com o charlatanismo que, sem ter formalmente nenhum cargo no governo imperial russo, exerceu uma enorme influência na última fase de vida da dinastia Romanov. Manoel Hygino soube explorar com competência e sabedoria todas as virtudes e todos os defeitos do monge Rasputin, o que nós procuramos não nomeá-los em vista do espaço minguado desta despretensiosa crônica literária. Aliás, Rasputin, o último ato da tragédia Românov “pode ser inserida entre as mais importantes pesquisas realizadas em nosso meio, não apenas sobre o legendário mujique siberiano, mas ainda sobre a própria história da Rússia”.
Por outro lado, temos notícias de vários livros que versam sobre o mesmo tema: o monge Grigori Rasputin. Wilson Colin, por exemplo, escreveu Rasputin, and the fall of the Romanovs, também o escritor alemão Heiz Liepman contribuiu com o excelente trabalho de pesquisa: Rasputin and the fall of imperial Rússia. Para completar a trilogia dos grandes autores que escreveram sobre a saga do monge Rasputin, citemos o nome de Michael Andreas Helmuth Ende, ele que escreveu o livro Raspoutine et le crépuscule de la monarchie em Russie. O nosso conterrâneo Manoel Hygino está entre os melhores estetas do mundo com a sua influente obra: Rasputin, o último ato da tragédia Românov.
Manoel Hygino nasceu na cidade de Montes Claros, terra natal de Arthur Lobo e Cyro dos Anjos, onde acrescentamos ainda os nomes de Darcy Ribeiro, Simeão Ribeiro Pires e João Valle Maurício, mas hoje ele vive na belíssima cidade de Belo Horizonte. Manoel Hygino é jornalista do Hoje em Dia – e dos bons – e escritor já consagrado pela sucessão de livros já publicados. Ele é membro efetivo da Academia Mineira de Letras e sócio correspondente da Academia Montesclarense de Letras. Tem publicado, entre outros, os seguintes livros: Vozes da Terra (1948), Considerações sobre Hamlet (1965), Governo e Comunicação (1971) Hippies – Protesto ou Modismo (1978), Sangue em Jonestown, uma tragédia na Guiana (1979), No rastro da Subversão (1991), Darcy Ribeiro, o Ateu (1999), Notícias Via Postal (2002) e Tu és Pedro Nava – um crime que ficou sem castigo.
Na bibliografia montes-clarense consta que no ano de 1950 o confrade Manoel Hygino, então diretor da Editora Revista Esfinge, já prefaciava livros. Era o mestre apresentando os outros mestres. Pois bem, o histórico livro de cordel: Lírica e Humor do Sertão, do saudoso poeta Cândido Canela, já trazia nas suas primeiras páginas a marca da competência e o deleite da arte literária do escritor Manoel Hygino. André Maurois dizia que “poucos são os que tiveram uma oportunidade de alcançar a felicidade – e muito menos ainda os que aproveitaram essa oportunidade”. Certamente que o mestre Manoel Hygino dos Santos, que viveu alguns anos nesta “terra da arte e da cultura”, sabe como ninguém carregar na sacola da vida a sabedoria da escrita. O livro Rasputin, o último ato da tragédia Românov será, sem sombra de dúvida, o passaporte valioso para o seu ingresso na eternidade das letras. Obrigado mestre!


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Por Dário Cotrim - 17/7/2009 20:15:46
A HISTÓRIA DA FAMÍLIA VERSIANI

Dário Teixeira Cotrim

A História da Família Versiani, com notas de Rui Veloso Versiani dos Anjos publicadas no ano de 1944, na cidade de Belo Horizonte, forma um documentário de extrema importância para a história genealógica de Montes Claros. Os apontamentos retratados neste livro foram coletados do Arquivo Público da cidade de Diamantina e em arquivos particulares como bem explica o seu autor. O livro narra com extrema fidelidade a empolgante história da vida do velho guarda-livros da Real Extração de Diamantes, o capitão João Antônio Maria Versiani, representante máximo da família Versiani no Brasil. Também neste livro é narrada a opulência e a decadência da fazenda Santo Elói, fazenda esta fundada pelo capitão Pedro José Versiani, no município de Bocaiúva. Naquela época a cidade de Bocaiúva tinha o nome de Curato de Nosso Senhor do Bonfim de Macaúbas em homenagem ao glorioso Senhor do Bonfim.
Num dos mais emocionantes registros do livro está, sem dúvida, a narrativa do naturalista francês, Augusto de Saint-Hilaire, no seu brilhante documentário Viagens pelas províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais, quando por volta do ano de 1817, ele esteve visitando a fazenda Santo Elói após deixar a fazenda do Ribeirão. Dizia o naturalista Saint-Hilaire, naquela oportunidade, que “levava uma carta de recomendação para o proprietário de Santo Elói, o senhor capitão Pedro José Versiani” e concluía dizendo que “ninguém me recebeu com maior cordialidade do que ele, e passei o dia em sua casa”. Aliás, a hospitalidade era uma constante na vida dos Versiani.
O livro A História da Família Versiani tem uma narrativa bem simples, não obstante haver nele uma preocupação criteriosa com os detalhes da época. Por menos que se queira, o problema do critério avulta. Por isso, nota-se que o seu organizador Rui Veloso Versiani dos Anjos não se contentava tão somente em registrar os descendentes do capitão Pedro José Versiani, mas outras ramificações de igual valor. Nesse rumo encontramos um capítulo inteiro dedicado ao doutor Carlos José Versiani. Também fala-nos o autor do livro dos Cata-pretas do doutor Carlos José Versiani os que tinham parentesco com o desembargador João Fernandes de Oliveira “o contratador dos diamantes que era rico como um nabado, poderoso como um príncipe e no seu tempo era o vassalo mais rico do rei de Portugal”. Ainda assim, fala-nos o autor do livro do desembargador Veloso e do tronco da família Versiani dos Anjos destacando-se neste capítulo o coronel Antônio dos Anjos e os seus descendentes.
Na verdade o livro de Rui Veloso Versiani dos Anjos é uma preciosidade. Um arquivo vivo da história de Montes Claros, haja vista que a família dos Versiani foi uma das primeiras que habitaram o antigo arraial de Nossa Senhora da Conceição e São José de Formigas (Montes Claros). Entretanto, o mais impressionante deste livro encontra-se no apêndice, quando ali está documentada a descendência do doutor Pedro Versiani, os Versiani Maurício, os Versiani Ataíde, os filhos de Bento Luiz Veloso, os filhos de Antônio Augustinho Veloso e as informações sobre o coronel Gregório José Veloso. Ainda consta do apêndice os bens deixados pelo capitão Pedro José Versiani, que havia falecido no dia 24 de setembro de 1854, na fazenda Santo Elói, de sua propriedade.
Com a publicação do livro A História da Família Versiani, ganham os leigos, os estudiosos da história de Montes Claros e mesmo os membros da família Versiani, aqueles que são interessados em se informar um pouco mais sobre a sua origem familiar. Certamente que outros livros serão publicados, talvez com o incentivo e o apoio da Academia Montesclarense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros para que a história de nossa terra seja preservada em sua plenitude.

Academia Montesclarense de Letras
Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros


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Por Dário Cotrim - 13/5/2009 20:15:45
A FAMÍLIA COTRIM

Dário Teixeira Cotrim

A origem dos Cotrins no Brasil aponta para Portugal. Os Cotrins da Europa são, até hoje uma grande família e a sua história de lá pra cá remonta ao século XIV (Martim Cotrim, nobre português que é citado nos velhos alfarrábios portugueses no ano de 1383). Antes, disso, há notícias de ser esta família originária da Inglaterra tendo passado para Portugal no século XV, nas pessoas de dois irmãos, Jaime Coterel Cotrim e Heitor Coterel Cotrim. Foram ambos fidalgos da Casa do Rei D. Afonso V, tendo o primeiro exercido o cargo de monteiro-mor do Infante D.Henrique, Duque de Viseu, e o segundo que foi pajem-de-lança daquele monarca.

Em Portugal, no município de Ferreira do Zêzere, da freguesia de Dornes, está localizado no Souto do Ereira o mais antigo solar da família dos Cotrins. Ali morou o Fidalgo Lopo Martim Canas Cotrim, de quem descendem provavelmente 90% dos Cotrins que hoje existem em todo mundo, com especial incidência nos países de língua portuguesa. Dos Cotrins de Ferreira do Zêzere saíram alguns para o Brasil, por exemplo: Filipe de Matos Cotrim, sargento-mór que subiu o rio Amazonas por volta de 1637. Entretanto, nada consta que Felipe teria ficado no Brasil e que por aqui constituísse uma família. Acredita-se que ele veio a serviço e que logo depois teria voltado a sua terra de origem.

Nota-se que os Cotrins que vieram para o Brasil são, na sua quase totalidade, descendentes de duas linhas assim mapeadas: da Bahia (Isaias Manoel Cotrim, Dário Teixeira Cotrim) e do Rio de Janeiro (Márcio Cotrim, René Cotrim).

A primeira linha do mapeamento vem da Bahia e refere-se aos Cotrins vindos de Portugal no início do século XVIII que se instalaram no alto sertão baiano (Caetité, Guanambi, Rio das Contas, Livramento, Brumado, Caculé, etc.). Foi a que aparentemente mais se proliferou. Da Chapada Diamantina deslocaram-se para São Paulo (Pitangueiras, Batatais, São José do Rio Preto, etc.). Há registros na Carta – que eu tenho uma cópia em meu arquivo particular – de Benedito Egas José de Carvalho Cotrim, datada de 2 de dezembro de 1752, que o primeiro “Cotrim” que chegou aqui no sertão baiano foi o seu irmão Antônio Xavier de Carvalho Cotrim, de quem somos os seus descendentes. Em companhia de Antônio veio o seu irmão Bernardo Diogo José de Carvalho Cotrim que ficou na cidade de Caetité. Os dois uniram-se aos Teixeira, Brito e Gondim e foram os maiores proprietários de terras na região da Chapada Diamantina e na bacia do alto rio das Rãs.

A segunda, mais nobre em teres e haveres possivelmente, refere-se aos Cotrins vindos também de Portugal, mas em época posterior e que, a princípio, se instalaram na cidade do Rio de Janeiro com grande incidência na região de Itatiaia, onde se uniram à família do Visconde de Itaboraí. Desta ramificação temos o vereador Cotrim Neto e escritor Márcio Cotrim (Márcio hoje reside em Brasília-DF). Márcio é sobrinho de Álvarus Cotrim, saudoso cronista carioca que foi um grande colaborador da Revista Ele & Ela. Cotrim Neto, por sua vez, mereceu uma belíssima crônica do montes-clarense Teófilo Pires publicada no seu livro “O Nome do Dia – Comentários Radiofônicos”, datado de 1955.

Existem outras linhas desta família ainda em fase de estudos. Destas, a mais evidente é a dos Gurjão (ou Grojão) Cotrim, um dos fundadores de Moji-Mirim, cidade do interior paulista e outra é dos Cotrim do Maranhão. Era comum aos baianos buscarem o interior paulista para iniciar ali uma vida nova. Com a nossa família não foi diferente. Buscamos novos eldorados e os encontramos aqui mesmo em terras mineiras. Por isso, somos apelidados de baiano-cansados. Para esta acolhedora cidade dos montes claros o primeiro Cotrim que aqui chegou foi o senhor Isaias Manoel Cotrim com a sua numerosa prole, no ano de 1962. Hoje a sua descendência está composta de seus filhos, sobrinhos, primos, netos e bisnetos.



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Por Dário Cotrim - 13/5/2009 20:14:27
OLYNTHO ALVES DA SILVEIRA

Dário Teixeira Cotrim

O Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros está de luto. Também de luto está a nossa augusta Academia Montesclarense de Letras. Aliás, todos nós estamos de luto. Morreu o acadêmico das letras Olyntho Alves da Silveira. Quase centenário. Lúcido e falante e na medida do que podia ainda participava das reuniões histórico-literário nas entidades que ele pertencia. Montes Claros inteira hoje chora a despedida de Olyntho da Silveira. O nosso confrade, doutor Wanderlino Arruda, presidente do IHGMC, na sua oração de despedida não conteve, pronunciou as suas palavras de elogio fúnebre profundamente emocionado. Disse-nos que “evocar-lhe a memória é um grato dever de todos nós”.

A dor de perder um ente querido é dor dolorida. Recentemente perdi o meu saudoso e inesquecível Pai. Somente uma semana separou a viagem do meu querido Pai (Ezequias Manoel Cotrim) da viagem do ilustre escritor Olyntho da Silveira. Portanto, eu sei muito bem o que está sentindo, neste momento difícil, a nossa confreira Yvonne Silveira e todos os seus familiares e amigos.

O confrade Olyntho da Silveira nasceu no Brejo das Almas (cidade de Francisco Sá/MG) no dia 25 de agosto de 1909. Ele era filho de Jacinto Alves da Silveira e de dona Maria Luíza de Araújo Silveira. Foi fazendeiro, comerciante (uma farmácia que lhe deu mais de sessenta afilhados), funcionário público, delegado de Polícia e delegado do Censo de 1940. Também era um homem político. Chefe do gabinete da Prefeitura Municipal de Francisco Sá e vice-prefeito municipal. Casou-se com a professora Yvonne de Oliveira Silveira com que escreveu o livro “Brejo das Almas”. Ainda escreveu outros livros: “O Filho da Enfermeira”, “Minha Terra e a Nossa História”, “Velho Brejo das Almas”, “Cantos Chorados”. Também constam de sua bibliografia os seguintes livros: “Cantos e Desencantos”, “Postais Versificados”, “Francisco Sá – Cinquentão”. Olyntho colaborou nos jornais de Belo Horizonte: A Tribuna e o Diário (Católico). Do Rio de Janeiro ele publicou na Revista Excelsior. Em Montes Claros publicou na Gazeta do Norte, O Operário, O Jornal de Montes Claros, o Diário de Montes Claros, o Jornal de Notícias e a Revista Montes Claros em Foco.

Olyntho era também membro do Elos Clube de Montes Claros e pertencia a Academia Municipalista de Letras do Estado de Minas Gerais. Em Montes Claros ele pertenceu a Academia Montesclarense de Letras, onde fundou a Cadeira número 15 que tem como patrono o doutor João José Alves. Eleito para o biênio de 1978/1980, exerceu com brilhantismo o cargo de presidente da entidade. Durante a sua gestão a Comissão Organizadora da Revista (Yvonne de Oliveira Silveira, Olyntho Alves da Silveira e José Prudêncio de Macedo) lançou a primeira Antologia da Academia Montesclarense de Letras.

No Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros ele ocupou a cadeira de número 50, que tem como patrono o jornalista Jair Oliveira. Participou da primeira Revista do Instituto com o texto “Lágrimas pelo Comendador”. No momento da despedida ainda falou o seu conterrâneo Antônio Soares Dias traçando-lhe o perfil de grande cidadão, cujas virtudes cívicas, cujo caráter puro e cuja dignidade inquebrantável lhe deram, na história da literatura montesclarense, um lugar proeminente. Em toda a sua existência ele soube, sempre, ser um exemplo conspícuo de dignidade e de sabedoria. E, finalmente nos dizia ele: “quando cair a noite nos meus olhos/ e eu não puder ouvir-te o chamamento/ é que transpus já todos os escolhos/ do mar da vida, mar de sofrimento (...) meu passaporte não será de volta/ pois neste jogo não se ganha a vaza/ mas fica-se tranqüilo, sem revolta”.

Academia Montesclarense de Letras
Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros


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Por Dário Cotrim - 24/4/2009 09:55:12
JOÃO SOARES DA SILVA
(João Gordo)
Dário Teixeira Cotrim

A verdadeira história literária de Montes Claros ainda continua adormecida. È verdade. Pois, em virtude de fatos ocorridos na política local, durante o início da década de trinta, Montes Claros perdeu um dos mais completo poeta de todos os tempos: João Soares da Silva, conhecido carinhosamente pelo nome de João Gordo.
O Poeta João Soares da Silva nasceu na cidade de Montes Claros no dia 22 (vinte e dois) de agosto de 1903. Ele era filho de Luiz Gonçalves da Silva e de dona Gabriela Soares Ferreira. Iniciou os seus estudos de primeiras letras no Grupo Escolar Gonçalves Chaves. O menino João Gordo desde muito cedo demonstrava tendências para a literatura (poesias, teatro e literatura de cordel). Gostava muito de ler poemas dos autores românticos, principalmente os poemas de Casimiro de Abreu, Olavo Bilac, Gonçalves Dias e Castro Alves, conforme atestam essas influências nas suas primeiras produções literárias, em particular nos livros “Cantilenas”, “Auras Matutinas” e “Tempestade de Amor”. Além da vocação literária, o poeta gostava e prestava a sua colaboração nos jornais da época. Em vista disso, contribuiu com forte determinação na fundação de dois pequenos jornais humorísticos da cidade.
João Soares ainda foi consultor da União Operária e Patriótica de Montes Claros. Ele não chegou a publicar os seus livros, mas deixou vários deles encadernados com a família. Entretanto, na Biblioteca Pública Municipal “Antônio Teixeira de Carvalho” (Doutor Santos) existem cinco exemplares de sua produção. São eles: “A Flor Desastrada” (Teatro - 1922); “Lúcio, o filho do sertão”, romance de costumes sertanejos, produzido no ano de 1922; “Tempestade de Amor” (Poemas – 1922); “Cantilenas” (Poemas – 1923) e “Auras Matutinas” (Poemas – 1923). Ainda consta a existência de mais outros livros de sua autoria. São eles: “Flores do Campo”, Páginas Sertanejas”, “Flores Murchas”, “Nas asas do Cupido”, “Alvorecer” e “Violas e Cantadores”. O poeta João Soares da Silva morreu no final da noite do dia 6 de fevereiro de 1930, assassinado durante o tiroteio conhecido por “Tocaia dos Bugres”, em frente da residência de dona Tiburtina Alves.
Não é, talvez, muito fácil não gostar de seus textos. Isso implica na forma utilizada pelo autor, que explorou com exaustão o soneto clássico e, também, a rima e a aliteração. Noutro aspecto, sem perder de vista a beleza da forma e do conteúdo, mais fácil ainda é viajar na imaginação de seus versos sem nunca deixar de manifestar o sentido humano das suas palavras.
Foi nesta ordem de valores que a Secretaria Municipal de Cultura aprovou a escolha de seus livros para inaugurar o pequeno mostruário de obras raras da Biblioteca Pública Municipal. Nesta oportunidade a direção da Biblioteca Pública Municipal convida a todos para visitarem o Mostruário Permanente de Livros Raros.


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Por Dário Cotrim - 18/4/2009 17:59:00
A DOCE FILHA DO JUIZ


Dário Teixeira Cotrim

Terminei a leitura do livro “A Doce Filha do Juiz”, de Alberto Deodato. Um belíssimo romance que trata com minudência os costumes e as tradições do povo sertanejo. Não obstante a existência da vila de São José do Gorutuba, a dramatização aconteceu na imaginária cidade de Gorutuba (acredita-se ser a cidade de Rio Pardo de Minas), no século passado, quando o autor era Promotor de Justiça na comarca daquela cidade. No livro ele cita o rio Preto, informando-nos que o mesmo corre paralelo a uma ruazinha da cidade onde os tropeiros arranchavam-se para o descanso das longas viagens. Ali os tropeiros falavam dos causos acontecidos nas veredas do grande sertão de João Guimarães Rosa. Falavam “das assombrações do Urucuya, do phantasma da cruz do Ribeirão, das sezões do Jequitahy e da tentação da cabocla brejeira que mora no Rancho, á beira de um riacho, p’ra lá da ponte velha, cujos olhos pretos pegam que nem visgo e os beijos sabem a sapoti”. Então, não seria o famoso Rancho da Lua aqui mesmo no Brejo das Almas? Não. Não sei!
Dr. Alberto Deodato Maria Barreto nasceu no ano de 1896, em Maroim, Estado de Sergipe. Formou-se em Direito pela Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro, em 1919. Foi promotor de Justiça na cidade de Pouso Alto e, também, na centenária cidade de Rio Pardo de Minas. Publicou, entre outros, os seguintes livros: "Senzalas" (contos - 1919); "Canaviais" (contos - 1921) e a "Doce Filha do Juiz" (romance - 1929). O seu livro "Canaviais” recebeu o primeiro prêmio da Academia Brasileira de Letras e o romance “A Doce Filha do Juiz”, também mereceu uma menção honrosa da mesma Academia de Letras. Também publicou três peças para o teatro: “Flor Tapuia” (opereta-1919), “A Pensão de Nicota” (comédia-1920) e “Um Bacharel em Apuros” (comédia-1924).
Repito, é um belíssimo romance o livro “A Doce Filha do Juiz”. Descreve o autor a história da jovem Maria Helena que tinha “no jambo das faces, na jaboticaba dos olhos e na pitanga da boca”. Além do mais a formosura do corpo junta-lhe a beleza da alma. Lembra-nos a descrição do ilustre acadêmico José de Alencar sobre a sua doce e bela Iracema, “a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira”. Esta visão de Alberto Deodato em valorizar os encantos da mulher e com pinceladas sobre as inspirações telúricas nos ambientes humílimos, avultou ainda mais os seus conhecimentos sobre a região norte-mineira, mostrando-nos e, também para alhures, o que há de melhor na literatura regionalista mineira. Não lhe bastasse fantasiar nomes de pessoas e de lugares para que ficasse no anonimato o drama amoroso da bela Maria Helena com o jovem João Lúcio. Foi por isso mesmo que o autor procurou fazer uma adaptação da linguagem ao tema, com descrições aos aspectos da vida real dos demais personagens, e sem prejuízo aos fatos que rodeiam a essência da história.
O povo de Rio Pardo de Minas – ou da imaginária Gorutuba do poeta – tem um carinho muito especial por Alberto Deodato. Residimos por mais de quatro anos naquela encantadora cidade, oportunidade que tivemos de ouvir dos mais velhos as histórias emocionantes dos bons tempos que o doutor Deodato esteve ali como Promotor de Justiça. Mais de uma vez o confrade do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, o doutor Paulo Costa nos contava, embevecido de orgulho, essa empolgante história de amor. De outras vezes, ouvimos com atenção redobrada do ilustre cônego Newton Caetano d’Ângelis essa mesma história de amor. Ora, certamente que há um suave e doce mistério em tudo isso. Ainda fazem parte de sua bibliografia os seguintes livros: “Manual de Ciências das Finanças” e “Políticos e outros bichos domésticos” que são duas excelentes obras do autor de grande sucesso nos meios acadêmicos. Finalizando, expresso aqui o que disse o mestre Deodato e repetido pelo historiador doutor Simeão Ribeiro Pires: “O Brasil é um Gorutuba muito grande...”.

Academia Montesclarense de Letras
Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros


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Por Dário Cotrim - 9/4/2009 11:44:32
CYRO E DARCY: FILHOS ILUSTRES

Dário Teixeira Cotrim

“Montes Claros é a cidade da arte e da cultura”, disso nós não temos dúvidas. Entretanto, até hoje perdura entre os nossos críticos a discussão sobre qual o melhor dos escritores montes-clarenses: Darcy Ribeiro ou Cyro dos Anjos. Certamente que será difícil de responder, até porque os seus estilos são completamente diferentes, não obstante eles terem produzidos livros da mais alta qualidade o que mereceram galgar postos de destaques em todas as associações literárias por onde passaram. Enquanto Darcy pesquisava a origem do povo brasileiro, vivendo entre os índios e deliciando de seus costumes e cultuando de suas tradições, Cyro escrevia romance e reminiscências, uma escrita amena e de leitura agradável. Os dois são filhos ilustres de Montes Claros, souberam representar a arte e a cultura de nossa terra em terras estranhas. O que é mais importante!
Também os dois foram membros da Academia Brasileira de Letras. Cyro dos Anjos foi o quarto ocupante da Cadeira nº. 24. Eleito no dia 1º de abril de 1969, na sucessão do poeta Manoel Bandeira, ele foi recebido pelo amigo acadêmico Aurélio Buarque de Holanda no dia 21 de outubro de 1969. Tempos depois, em oito de outubro de 1992 o professor Darcy Ribeiro foi eleito para a Cadeira nº. 11, que tem como patrono o poeta Fagundes Varela. Darcy foi recebido com honras acadêmicas por Cândido Mendes no dia 15 de abril de 1993. Para a cidade de Montes Claros esses fatos representam hoje o ápice da literatura montes-clarense a nível nacional. Ambos eram tipos de optimistas incuráveis, porque acreditavam na educação pública com justiça social.
Cyro Versiani dos Anjos fez jornalismo, foi professor, cronista, romancista, ensaísta e memorialista. Nasceu aqui (Montes Claros/MG) no dia 5 de outubro de 1906. Era o 13º dos quatorze filhos do casal Antônio dos Anjos e dona Carlota Versiani dos Anjos. Cyro iniciou os seus estudos na cidade em que nasceu e depois foi residir na bela Belo Horizonte onde estudou humanidades. Também na capital mineira ele fez o curso de Direito, tendo se formado em 1932, pela Universidade de Minas Gerais.
Darcy Ribeiro era filho de Reginaldo Ribeiro dos Santos e de dona Josefina Augusta da Silveira. Ele também nasceu em Montes Claros onde fez os estudos fundamental e secundário no Grupo Escolar Gonçalves Chaves e no Ginásio Episcopal de Montes Claros. Notabilizou-se fundamentalmente por trabalhos desenvolvidos nas áreas de educação, sociologia e antropologia tendo sido, ao lado do amigo a quem o admirava muito, o doutor Anísio Teixeira, um dos responsáveis pela criação da Universidade de Brasília, elaborada no início dos anos 60, ficando também na história desta instituição ao ser o seu primeiro reitor. Também foi o idealizador da Universidade Estadual do Norte Fluminense.
A bibliografia de Cyro e Darcy é imensa e bastante interessante. Citaremos algumas de suas obras apenas para relembrar o caríssimo leitor da importância desses nomes para a literatura montes-clarense e mineira. Cyro dos Anjos – Romances: O amanuense Belmiro (1937), Abdias (1945) e Montanha (1956). Ensaio: A Criação Literária (1954). Memórias: Explorações no Tempo (1963) e A Menina do Sobrado (1979). Poesia - Poemas Coronários (1964). Darcy Ribeiro – Romances: Maíra (1976), O mulo (1981), Utopia selvagem (1982) e Migo (1988).
A nossa Academia Montesclarense de Letras tem a honra e a felicidade de constar em seus registros os nomes de Cyro dos Anjos e Darcy Ribeiro como sócios da entidade. Também o nosso Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros incluiu na lista dos patronos os nomes de Cyro dos Anjos e Darcy Ribeiro.


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Por Dário Cotrim - 1/4/2009 23:15:09
OLYNTHO ALVES DA SILVEIRA

Dário Teixeira Cotrim

O Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros está de luto. Também de luto está a nossa augusta Academia Montesclarense de Letras. Aliás, todos nós estamos de luto. Morreu o acadêmico das letras Olyntho Alves da Silveira. Quase centenário. Lúcido e falante e na medida do que podia ainda participava das reuniões histórico-literário nas entidades que ele pertencia. Montes Claros inteira hoje chora a despedida de Olyntho da Silveira. O nosso confrade, doutor Wanderlino Arruda, presidente do IHGMC, na sua oração de despedida não conteve, pronunciou as suas palavras de elogio fúnebre profundamente emocionado. Disse-nos que “evocar-lhe a memória é um grato dever de todos nós”.
A dor de perder um ente querido é dor dolorida. Recentemente perdi o meu saudoso e inesquecível Pai. Somente uma semana separou a viagem do meu querido Pai (Ezequias Manoel Cotrim) da viagem do ilustre escritor Olyntho da Silveira. Portanto, eu sei muito bem o que está sentindo, neste momento difícil, a nossa confreira Yvonne Silveira e todos os seus familiares e amigos.
O confrade Olyntho da Silveira nasceu no Brejo das Almas (cidade de Francisco Sá/MG) no dia 25 de agosto de 1909. Ele era filho de Jacinto Alves da Silveira e de dona Maria Luíza de Araújo Silveira. Foi fazendeiro, comerciante (uma farmácia que lhe deu mais de sessenta afilhados), funcionário público, delegado de Polícia e delegado do Censo de 1940. Também era um homem político. Chefe do gabinete da Prefeitura Municipal de Francisco Sá e vice-prefeito municipal. Casou-se com a professora Yvonne de Oliveira Silveira com que escreveu o livro “Brejo das Almas”. Ainda escreveu outros livros: “O Filho da Enfermeira”, “Minha Terra e a Nossa História”, “Velho Brejo das Almas”, “Cantos Chorados”. Também constam de sua bibliografia os seguintes livros: “Cantos e Desencantos”, “Postais Versificados”, “Francisco Sá – Cinquentão”. Olyntho colaborou nos jornais de Belo Horizonte: A Tribuna e o Diário (Católico). Do Rio de Janeiro ele publicou na Revista Excelsior. Em Montes Claros publicou na Gazeta do Norte, O Operário, O Jornal de Montes Claros, o Diário de Montes Claros, o Jornal de Notícias e a Revista Montes Claros em Foco.
Olyntho era membro do Elos Clube de Montes Claros e pertencia a Academia Municipalista de Letras do Estado de Minas Gerais. Em Montes Claros ele pertenceu a Academia Montesclarense de Letras, onde fundou a Cadeira número 15 que tem como patrono o doutor João José Alves. Eleito para o biênio de 1978/1980, exerceu com brilhantismo o cargo de presidente da entidade. Durante a sua gestão a Comissão Organizadora da Revista (Yvonne de Oliveira Silveira, Olyntho Alves da Silveira e José Prudêncio de Macedo) lança a primeira Antologia da Academia Montesclarense de Letras.
No Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros ele ocupou a cadeira de número 50, que tem como patrono o jornalista Jair Oliveira. Participou da primeira Revista do Instituto com o texto “Lágrimas pelo Comendador”. Ainda falou o seu conterrâneo Antônio Soares Dias sobre Olyntho da Silveira, traçando-lhe o perfil de grande cidadão, cujas virtudes cívicas, cujo caráter puro e cuja dignidade inquebrantável lhe deram, na história da literatura montesclarense, um lugar proeminente. Em toda a sua existência ele soube, sempre, ser um exemplo conspícuo de dignidade e de sabedoria. E, finalmente nos dizia ele: “quando cair a noite nos meus olhos/ e eu não puder ouvir-te o chamamento/ é que transpus já todos os escolhos/ do mar da vida, mar de sofrimento (...) meu passaporte não será de volta/ pois neste jogo não se ganha a vaza/ mas fica-se tranqüilo, sem revolta”.


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Por Dário Cotrim - 25/2/2009 16:48:10
ESTAMOS FINANCIANDO AS DROGAS

Dário Teixeira Cotrim

De cada dez centavos que é dado aos pedintes nos semáforos de Montes Claros, 90% desse dinheiro vai para o crime organizado. Estamos financiando as drogas e o crime organizado em nossa cidade. Os jornais dizem isso todos os dias. Por outro lado, os traficantes agradecem aos cidadãos de bom coração, os que têm comiseração dos falsos ‘aleijados’ e das ‘crianças delinqüentes’ que atuam em pontos estratégicos da cidade. Essas crianças crescem ganhando dinheiro fácil, quando chegam à idade adulta aderem ao mundo do crime, assaltando, matando, estuprando, prostituindo, traficando e cometendo pequenos furtos. Então, para eles, será preciso praticar atos ilícitos para que possam continuar sustentando os malditos vícios, aqueles que nós mesmos os incentivamos que adquirissem ainda na infância da vida.
Com a benevolência nossa estamos construindo assassinos que poderão fazer com as nossas famílias o mesmo que fizeram Alexandre Nardonni e Ana Carolina Jatobá com a menina Isabela Nardonni, jogando-a do prédio em que moravam. Também o que Lindemberg Alves fez com a sua namorada Eloá Cristina Pimental, que assassinou-a com vários tiros depois de tê-la seqüestrada. O triunfo do inferno é quando o povo honra o ladrão, o incompetente, o corrupto, o mentiroso, o preguiçoso. Este é o preço da nossa irresponsabilidade. Disse Silva Alvarenga que a “moeda despendida ou tarda ou nunca volta”, mas quando ela volta vem acompanhada da desgraça e não sabemos em que porto irá atracar a maldita desgraça.
Quando se oferece a uma criança uma moeda de dez centavos, também lhe é oferecida uma péssima oportunidade para a sua delinqüência. Muitas vezes a próxima vítima é a própria pessoa que lhe dá na mão uma simples moeda. A moeda existe para o troco e não para as esmolas. O Brasil é hoje um país onde o programa social do governo federal é o mais abastado de recursos. Entretanto, não se aplica devidamente esse dinheiro em benefício do povo. O que acontece é a compra de dignidade humana. Assim, o povo deixa de ser gente e passa a ser um objeto de manipulação dos maus políticos. Quem promete mais tem mais votos. A fome é uma conseqüência do desemprego e por isso gera os pequenos furtos. Caso houvesse empregos não seria necessário o ‘bolsa família’. Aliás, sabemos muito bem que o ‘bolsa família’ existe para delinqüir e não para saciar o desejo dos esfomeados.
Sem um programa social sério que venha a contemplar as camadas sociais mais necessitadas, a violência agiganta-se contra os homens bons. Enquanto isso, o governo federal vai empurrando a nação para um buraco negro, que poderá no futuro acabar numa tragédia sem precedentes. Entendemos que o desvio do dinheiro público já é o bastante para produzir pequenas quadrilhas. Quadrilhas essas que podem tornar-se organizações bem organizadas. Hoje já convivemos como o PCC (Primeiro Comando da Capital) em São Paulo e o CV (Comando Vermelho) do Rio de Janeiro.
Crianças não precisam de moedas, crianças precisam de amor. Crianças não precisam de esmolas, crianças precisam de escolas. Crianças não precisam de trabalho, crianças precisam de brinquedos. Só amor, escola e brinquedos é que serão necessários para dotarem as crianças de dignidade. Para o combate à fome, que é uma tragédia em nosso país, existem as ONG’s espalhadas em todo território nacional e também o programa do ‘bolsa família’. Antes de dá um dinheirinho para alguém é salutar que se pense duas vezes. Será que este é o caminho correto? Estou agindo com sinceridade? Finalmente eu entendo que o prazer não tem começo e a tristeza não tem fim.

Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
Academia Montesclarense de Letras


39983
Por Dário Cotrim - 23/10/2008 09:51:46
O POETA REIVALDO CANELA

Dário Teixeira Cotrim

Montes Claros chora copiosamente a morte do poeta e acadêmico Reivaldo Simões de Souza Canela. Aliás, todos nós choramos a morte do amigo e companheiro Reivaldo Canela. Jurista de renome, acadêmico bem conceituado, orador de largos recursos, sabia manejar as palavras com facilidade, era um dos mais eminentes filhos de Montes Claros, tanto pelo seu talento como pela sua cultura de que sobejamente deu provas na efervescência dos prélios culturais em que tomou parte e que empolgava os confrades, amigos e companheiros. A Academia Montesclarense de Letras e o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros ficaram muito mais pobres, mas muito mais pobres mesmo, de crenças e sabenças, com a partida inesperada do nosso ilustre poeta Reivaldo Canela que nasceu para a pugna literária, e bravamente a ela se atirou.
A quem morrer sabe que a morte nem é morte senão uma passagem para o lado misterioso da vida eterna. O outro lado onde hoje estão os nossos saudosos confrades João Vale Maurício, Adherbal Murta de Almeida, Simeão Ribeiro Pires, Arthur Jardim de Castro Gomes, José Prudêncio de Macedo, Patrício Guerra, Godofredo Guedes, José Gonçalves de Ulhôa, Ângelo Soares Neto, Cyro dos Anjos, Darcy Ribeiro, Cândido Canela – o pai do nosso Reivaldo – e tantos outros que, sem nenhum aviso sequer, passaram a morar na eternidade do tempo. É necessário, porém, superar o plano das aporias mergulhado nas palavras do poeta Alphonsus de Guimaraens, onde ele dizia que “a morte vem de manso, em dia incerto, e fecha os olhos dos que têm mais sono...”. E é por isso mesmo que não há, inegavelmente, fenômeno mais sagrado do que o mistério da morte. E o poeta Reivaldo Canela sabia muito bem disso.
Na Academia Montesclarense de Letras o nosso confrade Reivaldo Canela ascendeu o posto de presidente, o mais elevado desta agremiação, tendo ocasião de revelar o seu espírito literário, a sua incansável vontade de colaborar nas letras montes-clarense e o seu alto senso em bem dirigir os trabalhos acadêmicos de uma plêiade de escritores em benefício de uma coletividade. A sua poesia – em destaque o soneto – é uma das melhores, pois tem um estilo fiel à tradição, mostrando a sua intimidade com os clássicos. Além do mais o poeta era um estudioso inveterado. Eram apreciáveis os seus conhecimentos não só jurídicos como os das letras clássicas. Porque, na verdade, construir sonetos não é privilégio de muitos, senão de pouquíssimos mesmo. Entretanto, ele escrevia sonetos e publicava as suas crônicas semanalmente no Suplemento Mulher do Jornal de Notícias. Todavia, muitas de suas produções têm um sentido encômio e são cheias de um lirismo admirável. Reivaldo publicou somente um livro. Um belíssimo livro de reminiscências intitulado de “O Menino Pescador”, mas o bastante para eternizar-se nos meios acadêmicos, uma vez que as críticas em crônicas lhe conferem todos os atributos necessários para o seu ingresso nos pórticos das letras.
A Cadeira 21 do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, que tem como patrono o ilustre poeta-cordelista Cândido Canela e a Cadeira 40 da Academia Montesclarense de Letras, que tem como patrono o ex-ministro da viação, doutor Francisco Sá, estarão vagas com a morte do confrade Reivaldo Canela. Não obstante os propósitos de uma reflexão mais aprofundada sobre os mistérios da vida/morte, é que nós temos a certeza que o confrade Reivaldo Canela cumpriu a sua tarefa aqui na terra, com talento, com dignidade e com honestidade. Certamente que outras atribuições ele terá que desempenhar no espaço celestial, até porque não foi por acaso que o Criador o chamou, ainda tão cedo, para junto de si. Assim como o seu pai, o poeta Cândido Canela, o nosso confrade Reivaldo Canela vai, também, deixar para a posteridade um nome honrado que agora rebrilha a tradição de seus ancestrais.


38203
Por Dário Cotrim - 2/9/2008 07:44:56
TEÓFILO PIRES – O NOME DO DIA

Dário Teixeira Cotrim

Os comentários radiofônicos, principalmente sobre o futebol e nos bastidores da política, eram assuntos indispensáveis aos nossos ouvidos em tempos de copa do mundo e das eleições para prefeito, governador e presidente. O rádio, uma caixinha misteriosa, falava com a gente como se gente ela fosse. E ela falava de todos os modos e de todas as maneiras, principalmente sobre tudo o que acontecia no universo da terra. O povo maravilhado com a novidade falante se acomodava respeitosamente à frente do pequeno aparelho de rádio para ouvir o saudoso Reporter-Esso, os animados programas musicais de Luiz de Carvalho e Paulo Moreno Show. Todos esses da Rádio Globo do Rio de Janeiro. Ah, se ainda me lembro das novelas de rádio?... o Sombra, Jerônimo, o Herói do Sertão e o Direito de Nascer. Eram esses tempos, tempos inesquecíveis!
Mas, muito distante de Coração de Jesus, um filho querido da terra é convidado para apresentar um programa de opiniões na Rádio Guarani, prefixo PRH6, de Belo Horizonte. Tinha esse programa o nome de O Nome do Dia. Era o doutor Teófilo Ribeiro Pires. A cada dia ele lia uma crônica de sua autoria sobre pessoas influentes na sociedade mineira e carioca. Teófilo Pires representava com orgulho e dedicação o povo sertanejo do Norte de Minas na capital do Estado de Minas Gerais. Para ilustrarmos esta nossa crônica, destacamos uma de suas belíssimas crônicas: O Vereador Alberto Bittencourt Cotrim Netto. Era Cotrim Netto um meu aparentado, e ele quisera um dia homenagear os atletas brasileiros com uma estátua de bronze para cada um deles dentro do Estádio Mário Filho (Maracanã). O primeiro homenageado escolhido seria o formosíssimo Ademar Ferreira da Silva, que tinha sido campeão mundial de salto triplo nos jogos olímpicos de Helsinque.
Era um projeto totalmente demagogo. Teófilo Pires tomando conhecimento do fato pela imprensa, tratou logo de criticar a idéia perdulária do vereador carioca. Resultado, o infeliz projeto do meu aparentado morreu no fundo de uma velha gaveta de mesa da Câmara Municipal Carioca. Disse Teófilo ao vereador: “se o seu intento é apenas dar o que falar, já nos ocupamos demasiadamente de sua pessoa e o seu nome pronunciamos hoje, em frente a este microfone, Vereador Cotrim Netto, o nome do dia!”
Teófilo Ribeiro Pires nasceu no dia 29 de março de 1916, na cidade de Coração de Jesus (antiga Inconfidência). Ele era filho do coronel Luiz Antônio Pires e de dona Maria Ribeiro Pires. No Grupo Escolar Gonçalves Chaves ele fez o curso primário e depois foi residir em Belo Horizonte onde continuou com os estudos. Na capital mineira ele concluiu o curso secundário e ingressou na Faculdade de Medicina de Universidade de Minas Gerais. Foi Deputado à Assembléia Legislativa de Minas Gerais e diretor da Rádio Guarani e Mineira. O Nome do Dia: Comentários Radiofônicos é também o nome do seu livro de crônicas. Nele expressa ternura à sua mãe numa linda dedicatória. Vejamos: “Minha mãe: teu filho procurou, inutilmente, palavras suficientemente belas e expressivas para dizer dos teus méritos e agradecer a Deus a inefável graça de poder, ainda, estreitar nos braços o anjo divino que lhe deu a vida, cultivou o cérebro e formou o coração. É tua, minha mãe, inteiramente tua, a homenagem deste livro. Teófilo”. Disse o jornalista Jair Silva que “todas as vezes que peguei no livro a voz de Teófilo Pires apareceu, bem viva na minha memória. Teófilo Pires merece a boa voz que o destino lhe deu. Escrevendo ou improvisando, ele é sempre um dos grandes do microfone. Não diz tudo o que sabe – eis aí sua prudência. E sabe tu7do o que diz, por seu um homem esclarecido”.
O Nome do Dia livro de crônicas do acadêmico Teófilo Ribeiro Pires ao longo dos anos sempre foi considerada uma obra de valor inestimável para a literatura montes-clarense. O Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros criou a Cadeira de número 94, que tem como patrono o ilustre montes-clarense Teófilo Ribeiro Pires e é ocupado pelo doutor Luiz Pires Filho.


37109
Por Dário Cotrim - 21/7/2008 17:52:48
OS BORÓS DA FÁBRICA DE TECIDOS

Houve época em que era permitida a emissão de cédulas de mil-réis para suprir a necessidade da moeda corrente no país. O Tesouro Nacional, a Caixa de Conversão, a Caixa de Estabilização e o Banco do Brasil emitiram cédulas próprias até o inicio do padrão Cruzeiro (1942). No período do Brasil Colonial o costume de usar vales em substituição ao troco de cobre tornou-se um fato corriqueiro. Foram as chamadas Emissões Emergenciais. A história do dinheiro no Norte de Minas Gerais inicia na cidade de Diamantina. As primeiras cédulas, em Minas Gerais, apareceram no ano de 1833 e foram consideradas de valores legítimos nas transações denominadas de Troco de Cobre.
Depois que a Família Real aportou por aqui foi criado o Banco do Brasil. Em vista disso a primeira emissão de cédulas brasileiras aconteceu no ano de 1810, que eram impressas na Inglaterra. A apresentação gráfica dessas cédulas lembrava a da libra inglesa. Com a proliferação dos Bancos no território brasileiro, também as emissões de cédulas ganhavam fôlego incontrolável. A numismática brasileira é uma das mais ricas do mundo, devido a sua diversidade de valores monetários criada pelo governo do Império.
Historicamente o Norte de Minas figura como um reduto primitivo onde as emissões de cédulas aconteceram com legalidade. A mais antiga das cédulas emitidas no Norte de Minas pertencia á Câmara Municipal de Rio Pardo de Minas. Eram os vales, ou borós, impressos sob a responsabilidade do poder público municipal e que teve pouca duração. Também a Empresa Granjas Reunidas da Matarazzo (Bocaiúva) emitiu o seu dinheiro o que aconteceu com a anuência do Império do Brasil.
Entretanto o que mais interessa para a história econômica e monetária de Montes Claros são os ditos borós. Estes começaram a circular no quarto quartel de 1800 sob a responsabilidade da Fabrica de Tecido Companhia Montes Claros que emitiu cédulas de $500 reis e de 2$000 réis. Esse dinheiro possuía as seguintes características: eram cédulas uniface, pois somente no anverso que elas apresentavam a cor café com leite com os seus valores impressos em tinta vermelha. Também a Fabrica de Tecidos Rodrigues Soares, Bittencourt, Velozzo & Comp., lançava outras cédulas no comércio de Montes Claros: foram cédulas de 1$000 e de 2$000 réis com duas estampas distintas. Tinham elas a cor acinzentada com os valores destacados em azul e com o verso na cor verde.
Algumas dessas cédulas foram entregues ao historiador Simeão Ribeiro com rígidas recomendações conforme correspondência transcrita abaixo:
Prezado Simeão Ribeiro,
Estas cédulas me foram oferecidas pelo bondoso farmacêutico Mário Versiani Veloso, tão admirador e amigo de nossa terra, que me obrigou procurar colocá-las, e nenhuma outra pessoa poderia encontrar que pudesse obrigá-las e preservá-las de impiedosa destruição. Elas bem definem uma época e o valor de uma geração de nossos antepassados. Creio que os signatários dos vales da Fábrica de Tecidos anexos, sejam do seu conhecimento, exceção talvez de Bittencourt, meu avô materno que foi sócio da Fabrica de Tecidos do Cedro e gerente da mesma durante vários anos. No fim do Império foi agraciado com a comenda da Ordem da Rosa e com o título de Barão de Gorutuba. Retirando-se da sociedade, adquiriu a Fazenda Campo Grande, da atual cidade de Juramento, e depois de sua morte [foi] vendida para Manuel Batista Braga, recém chegado do estado da Bahia. Por esta região passava a chamada estrada baiana, por onde transmigravam grande parte dos nortistas em busca de terras rurais férteis e frescas a ali que possuíam estas condições. Também lá onde ainda existe bom número de Quadros e Sás se encontra a origem de meu avô.
Um abraço do amigo e admirador
Montes Claros 14 de junho de 1980.
Alpheu Quadros

As associações numismáticas têm acelerado as suas pesquisas no sentido de complementar os catálogos de Cédulas, Moedas e Medalhas, acatando, assim, pedido de inúmeros associados existentes por todo o território nacional. Temos procurado fazer, também, este papel. A cada garimpada bem sucedida, vem representar uma conquista de inegável valor para o meio numismático brasileiro. Por isso, as cédulas da Fábrica de Tecidos de Montes Claros passam a fazer parte da numismática, aguçando a curiosidade de colecionadores e dos estudiosos em economia.


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Por Dário Cotrim - 21/7/2008 17:47:32
MONTES CLAROS E A COLUNA PRESTES

Durante a passagem da Coluna Presta no sertão baiano e pelo cerrado do Norte de Minas Gerais, a cidade de Montes Claros sofreu sérias influências com o episódio dos revoltosos. A guisa de ilustração, citaremos a seguir quatro situações com que o montes-clarense enfrentou, como explica o acadêmico doutor Nelson Vianna, a arrogância e a brutalidade dos homens que deveriam combater os rebeldes e não a população ordeira da cidade. Entretanto, o grosso da Coluna Prestes sequer chegou perto daqui, haja vista que o seu comando (Luis Carlos Prestes e Miguel Costa) preferiu o caminho de Taiobeiras com rumo ao Estado da Bahia. Mesmo assim, muitas dessas histórias, às vezes trágicas e às vezes cômicas, foram contadas tendo por referência os ataques dos revoltosos, principalmente contra o homem pacífico do campo. Vejamos:

20 de abril de 1926 – Chega à cidade de Montes Claros um forte continente da Polícia Militar, que deverá seguir para o Norte a fim de combater os revoltosos. O comandante agiu nesta cidade, arbitraria e violentamente, requisitando animais, inclusive arreados, gêneros e até dinheiro, na única agência bancária, a do Banco da Lavoura, recém-instalada em Montes Claros. No dia da feira, sábado, quando o movimento comercial era mais intenso, e os feirantes se entregavam desprevenidos às suas atividades, o capitão-comandante mandou bloquear diversas ruas da cidade, tomando indiscriminadamente os animais dos roceiros que, ante a força, não tinha outra solução senão conformar-se. Estabeleceu-se o pânico entre os pacatos camponeses que, assim, ficaram sem as suas montarias e animais de carga. Espalhou-se a notícia por toda a zona e, em conseqüência, veio um longo período em que a cidade permaneceu sem abastecimento de gênero de toda sorte, para a alimentação, o qual, na época, só era feito pela gente do campo. (Efemérides Montes-clarenses – Nelson Vianna)

1 de maio de 1926 – Chega a Montes Claros o 2º Esquadrão do 15º Regimento da Cavalaria, com sede na Vila Militar, no Rio de Janeiro, sob o comando do capitão João Francisco da Silva, a fim de seguir para o Norte ao encontro dos revoltosos. (Efemérides Montes-clarenses – Nelson Vianna)

14 de maio de 1926 – Entra na cidade de Montes Claros a 3ª Companhia do 3º Batalhão da Polícia Baiana, sob o comando do tenente Clementino de Cerqueira e Silva que, desde 11 de dezembro de 1925, vem combatendo os revoltosos que invadiram os Estados do Piauí, Pernambuco, Bahia e Minas Gerais. Essa tropa baiana, completamente esfarrapada, sem receber vencimentos há mais de cinco meses, manteve-se pacífica, respeitadora e bem disciplinada dentro da cidade, não molestando de modo algum a população local que, condoída da situação de penúria dos soldados, promoveu meios de minorar o sofrimento e desconforto por que passavam. Era a prova de agradecimento dos montes-clarenses, já bastante escarmentados pelo procedimento de outras tropas que por aqui transitaram, deixando péssima impressão de sua indesejável passagem pela cidade. (Efemérides Montes-clarenses – Nelson Vianna)

18 de maio de 1926 – Sob o comando do coronel Alexandre Fontoura passaram por Montes Claros a 5º e o 9º Regimento de Cavalaria, das forças federais, com destino ao Estado da Bahia onde devem combater os revoltosos. (Efemérides Montes-clarenses – Nelson Vianna).

Para melhores esclarecimentos, a pedido do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, estamos concluindo o livro “O Laço Húngaro”, onde já registramos a passagem da Coluna Prestas pelo sertão baiano e também pelo cerrado norte-mineiro.


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Por Dário Cotrim - 20/6/2008 12:15:43
MONTES CLAROS SESQUICENTENÁRIA

Dário Teixeira Cotrim*


Por Alvará de 12 de abril de 1707 foi concedido ao jovem preador de índios, Antônio Gonçalves Figueira, uma Carta de Sesmarias á margem do rio Vieira, onde ele criou a fazenda dos Montes Claros depois de uma frustrada experiência com os investimentos feitos na propriedade de Brejo Grande. Aqui fora montado um ponto de pouso onde os primeiros vaqueiros pudessem aliviar o cansaço das intermináveis jornadas de tanger o gado. Durante algum tempo os agregados da fazenda Montes Claros recebiam e despachavam o gado para a zona de mineração. Houve uma época em que os negócios andavam muito bem e por isso necessário se fez abrir uma estrada para Pitangui, para a distribuição dos produtos. Com a invasão dos currais de gado no vale do rio São Francisco, praticamente o jovem Antônio Gonçalves Figueira fora a falência, e desanimado com os resultados negativos de seus negócios retornou-se para a Vila de Santos, na província de São Paulo, onde exerceu ali o cargo de vereador municipal.

A estrada para Pitangui era conhecida por Estrada das Boiadas. Em pouco tempo iniciava-se às suas margens um pequeno aglomerado de casas residenciais que ficou conhecido pelo nome de Cruzeiro. Eram algumas dezenas de casinhas de sapê todas elas tendo a parte frontal pintadas com o barro da tabatinga. Neste pequeno povoado existia uma pequena capela onde o padre Teotônio Gomes de Azevedo dizia missa todos os domingos. Cruzeiro ficava muito próximo à antiga sede da fazenda dos Montes Claros. Devido a uma peste de varíola que dizimou mais da metade da população daquele pequeno povoado, inclusive o padre Teotônio Gomes de Azevedo, vigário que cuidava das almas ali existentes, o resto dos moradores foi para as adjacências da sede da fazenda. Antes, porém, José Lopes de Carvalho já havia solicitado uma licença para a imediata construção de uma pequena capela (iniciada em 18 de junho de 1769) e, posteriormente autorizava aos seus servos a construção de uma nova sede da fazenda (a Casa de dona Eva Bárbara Teixeira da Carvalho).

Assim nascia a Vila de Montes Claros de Formigas. E isto se concretizou posteriormente com a assinatura da lei de 13 de outubro de 1831, por Francisco de Lima e Silva, que criava a Vila de Montes Claros de Formigas, tornando-se independente do distrito de Serro. Não houve nenhuma comemoração neste dia, apenas reuniões políticas definindo os rumos dos acontecimentos. Um sem números de pessoas as mais influentes com o poder político manifestava com o intuito de organizar as papeladas que deveriam sacramentar de uma vez por todas a autonomia da vila. A Vila de Montes Claros de Formigas iniciava os seus primeiros passos. Ainda não eram passos firmes, mas já era o bastante para obter vida própria. Na véspera do dia 13, nos canteiros das sinuosas e empoeiradas ruazinhas da vila, morriam tristes flores à medida que outras iam nascendo para saudar um novo tempo.

Um ano e três dias depois, exatamente na data de 16 de outubro de 1832, era instalado festivamente o município de Montes Claros de Formigas, com Câmara Municipal, Cadeia Pública e o Pelourinho. A primeira Câmara Municipal de Montes Claros de Formigas era composta pelos seguintes vereadores: José Pinheiro Neves (presidente) Lourenço Vieira de Azevedo Coutinho, Luis de Araújo Abreu, Antônio Xavier de Mendonça, Francisco Vaz Mourão e Joaquim José Marques. Neste dia a folia tomou conta das poucas ruas do vilarejo, fogos de artifícios estouravam pelos ares e os coloridos bolões subiam aos céus para saudar o novo amanhecer. Era a vila de Montes Claros de Formigas uma filha nobre que trazia no seio o vigor da juventude. A sua alma da menina-moça desmanchava em felicidades com o primeiro albor do dia seguinte onde à esperança envolvia as pessoas sem mágoas e sem contestação.

Nas comemorações das Bodas de Prata, por determinação da Lei provincial de número 802, de três de julho de 1857, o senhor Joaquim Delfino Ribeiro da Cruz, oficial da Ordem da Rosa e vice-presidente da província de Minas Gerais presenteava a vila com o seguinte artigo: “Fica elevada a categoria de Cidade a vila de Montes Claros de Formigas coma a denominação de Cidade de Montes Claros”. Um século depois, foi comemorado o seu Centenário. Naquela ocasião, por solicitação do prefeito municipal, todas as casas da zona urbana foram repintadas com o branco da tabatinga o que levou o poeta Luiz de Paula Ferreira a compor uma linda canção:

Montes Claros, vovó centenária
tu estas tão bonita de vestido novo
vê tuas ruas, vê tuas igrejas
olha só a alegria do povo!
Eu relembro teu nobre passado
de lutas e glórias e tantas belezas,
teu luar, tuas serenatas
e o labor de teus filhos criando riquezas.

Agora estamos comemorando o sesquicentenário da cidade. Nesta terça-feira Montes Claros adormece melancolicamente envolvido numa distribuição indiscriminada de ‘medalhas’ onde serão homenageadas algumas centenas de pessoas, dentre os quais aqueles que participaram do seu desenvolvimento político, social e cultural. Pela importância do evento, esperava-se mais envolvimento da sociedade, não obstante o trabalho sério e competente do Secretário João Rodrigues, também o poder público ficou omisso em certas ocasiões. O que seria um evento genuinamente cultural teve a interferência da política, quer somente existe para bajulações e promessas.

*Dário Teixeira Cotrim é historiador e articulista político. Membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, sócio fundador do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, membro efetivo da Academia Montes-clarense de Letras.


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Por Dário Cotrim - 19/6/2008 18:23:02
O VELHO URBINO VIANNA

Dário Teixeira Cotrim

Era um dos mais constantes nas conversas da José Olímpio, o que sempre trazia boatos, o que sabia de coisas do passado, o que conhecia homens e fatos da nossa história com detalhes e informações absolutamente exatas. Fora amigo de Capristano de Abreu, e aí estava a grande arma que usava nas contendas sobre sertanistas. O erudito Urbino Vianna nos dera um livro de bóia erudição histórica sobre as penetrações baianas como bandeirantes. Nunca o ouvi falar de sua obra tida como de primeira qualidade no que dizia respeito à vida colonial, ao surto expansionista dos começos da nossa formação. Mas, o Urbino, bom de conversa, era o que nos contava fatos da sua província, do seu sertão, o que nos falava do patriarcalismo, da sua infância, da política local, do velho Luiz Vianna, de José Marcelino, de Seabra, dos chefes do seu tempo e das intrigas e peripécias dos choques partidários. Nesse sentido conversa de Urbino não cansava. Era uma reportagem, ao natural, de uma vida quase morta. O homem pobre que tudo tinha botava nos livros, fazia ginásticas tremendas para poder comprar o livro que lhe enchia às vistas. Dizem que até os cobres que trazia para o almoço, guardava para completar a quantidade necessária a uma aquisição no livreiro. Vivia Urbino nas livrarias. A sua viagem pelas ruas da cidade era sempre um correr de sebos a sebos, de livrarias a livrarias. Tinha crédito por toda a parte. Quando recebia os minguados vencimentos, saía a pagar dívidas pelos quatro cantos da cidade. Era esta a sua vida. Quando encontrava uma roda feita, caía em cima para contar casos. Às vezes não agradava, mas não perdia cliente por isso. No outro dia aparecia o mesmo, sem mágoas, todo alegre, todo ancho de suas novidades. Não eram o forte de Urbino os boatos sobre a ávida atual. Era ótimo nos mexericos de um passado que fosse muito remoto. Contar o processo do Luiz Viana era uma das suas boas peças.

Soube na morte do bom velho no sábado de carnaval. Tinha estado conosco, não havia muitos dias. A venda dos seus livros muito amados andava a sangrar-lhe como uma ferida aberta. Vendera a razão de ser da sua vida, para liquidar uma dívida, para pagar os restos da casa onde morava, lá vivera Urbino Viana fazendo a sua biblioteca, na paz do subúrbio, com a imagem de Capristano. Como seu mestre tutelar. Teve um enterro de seis pessoas, na tarde de sol, com as lágrimas da família. Contaram-me que, antes de morrer, abriu os olhos e chamou um parente. O velho Urbino queria saber se os Russos já havia entrado em Berlim. Se tivesse mentido para o bom velho, afirmando a notícia que ele esperava como a grande notícia da sua vida, morreria com uma grande vitória. Este homem que não triunfou que foi sempre uma sombra pelos corredores da fama, tinha, nos últimos tempos de sua vida, um entusiasmo de todas as horas. Era a confiança na derrota do fascismo. Urbino, nos dias terríveis das marchas de Hitler e Mussolini, era sempre um homem que não desesperava. Sempre o encontrei com uma notícia de rádio que só ele escutava, com vitórias de que só ele tinha notícia. Morreu antes do grande dia. É pena que não tivesse ficado para a festa da liberdade. Dizia ele, a Castilho, o seu amigo Castilho, que tinha uma garrafa de champagne para o dia da grande vitória. Castilho não acreditava na garrafa de champagne. Era mais uma conversa como as notícias do rádio do velho.

Agora já não o temos para as conversas e os boatos. Os russos estão à porta de Berlim. Urbino podia ter feito mais força e mostraria a Castilho que tinha o seu bom vinho guardado para maior regozijo de todos nós.

Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros




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Avay Miranda
Iara Tribuzi
Iara Tribuzzi
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Manoel Hygino
Afonso Cláudio
Alberto Sena
Augusto Vieira
Avay Miranda
Carmen Netto
Dário Cotrim
Dário Teixeira Cotrim
Davidson Caldeira
Edes Barbosa
Efemérides - Nelson Vianna
Enoque Alves
Flavio Pinto
Genival Tourinho
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Haroldo Lívio
Haroldo Santos
Haroldo Tourinho Filho
Hoje em Dia
Iara Tribuzzi
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Isaías Caldeira Brant
Isaías Caldeira Veloso
Ivana Rebello
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